CAP 28
Hannah Mancini
Tudo parecia não passar de um sonho. Um sonho muito maluco e repetitivo. Ou uma droga, na qual eu não conseguia me distanciar e estava oficialmente viciada.
— É bom você sair antes que entrem — Digo sonolenta, batendo no braço do corpo ao meu lado na cama. Ainda estava com tanto sono que minha própria voz parecia distante.
— Me deixa! — Respondeu sem nenhum sinal de preocupação.
— Hannah... Está acordada? — Relutante abri os olhos ao ouvir a voz da Valentina do outro lado da porta do meu quarto
— Sim — Achei ter dito baixo demais já que não veio nenhuma resposta — Sim, estou — Falei um pouco mais alto.
O barulho da maçaneta me fez acordar de verdade, com o susto me sentei na cama e cobri o corpo ao meu lado de modo que ficasse "invisível"
— Vim avisar que o café já está pronto, caso queira tomar café. Eu e o Liam vamos agora, se quiser companhia — Disse entrando no quarto, mas ficando ao lado da porta.
— Claro, já vou descer — Me apressei em dizer. Precisava que ela saísse agora.
— Sabe do James? — Só de ouvir o nome engasguei com a própria saliva — Você está bem? — Ela ameaçou se aproximar, levantei a mão para que ela ficasse onde estava.
— Estou ótima, só me engasguei — Ela assentiu
— Então, viu o James? — Apenas balancei a cabeça, negando — Chamei por ele no quarto em que estava, mas ele nem se quer respondeu —
— Talvez só esteja dormindo — Dei de ombros — Ontem foi bem cansativo pra todos e ainda deve ser cedo
— São 11AM. Vou pedir para o Liam ver se o James não morreu lá dentro — Ameaçou sair
— Não — Falei mais alto do que pretendia — Quero dizer, é bom olhar se está tudo bem, eu vou... Me arrumar pra tomar café — Ela me encarou com dúvida por um tempo, deu de ombros e saiu
— Esperamos você lá embaixo — Ela disse já do lado de fora. Pude finalmente respirar aliviada, até sentir uma mão subir por minha perna.
— James — Falei baixo, mas séria — James, tire já a mão daí — Bati em sua mão que avançava cada vez mais. Tirei o lençol que estava sobre sua cabeça e ele soltou um beijo pra mim — James, estou falando sério. O Liam vai procurar por você e se não te encontrar....
— É bom que não me encontre. Estou cansado de esconder deles que estamos juntos.
— Não estamos juntos — Soou muito mais duro quando eu disse em voz alta, do que quando pensei em dizer, vi decepção em seu olhar. — James... — Tentei falar, mas ele se afastou de mim, se levantando da cama
— Então você quer dizer que todo esse tempo em que estivermos juntos não significou nada? — Era visível sua decepção
— Não foi o que eu disse — Falei o mais baixo possível para que ninguém ouvisse
— Hannah — Colocou sua camisa e se sentou ao meu lado, pegando minha mão — Eu gosto de você, demais, mas não vou ser seu brinquedinho. Se você não quer assumir a gente, assumir o que sente... Eu vou sentir muito, porquê eu realmente quero ficar com você, mas se você não quer eu vou saber respeitar isso — Ele secou uma lágrima que escorreu pelo meu rosto — Ou se você apenas precisar de um tempo, eu espero. É só me avisa, ok? — Assenti. Ele deixou um beijo no meu rosto e se levantou.
— James — O chamei quando estava prestes a sair — Obrigada — Ele deu uma falsa demonstração de sorriso e saiu.
Fiquei o que pareceram horas debaixo do chuveiro, pensando. Mas eu só havia passado dez minutos lá dentro.
Eu não sabia exatamente o que fazer e nem como. Queria estar com o James, gostava dele e de como me tratava. Ele era diferente dos outros caras com quem me relacionei. Quando nos conhecemos era apenas uma implicância que existia entre nós, nada mais. Mas quando tivemos que passar bastante tempo juntos por causa da surpresa da Marina com o pedido pra Cecília, acabamos nos conhecendo e cedendo a um sentimento novo que começou a surgir.
Comecei a perceber que ele realmente estava levando o nosso "caso" para um nível mais alto, era estranho pra mim. Eu estava acostumada com pessoas que nunca levavam um caso comigo pro próximo nível, era sempre eu quem me iludia e sofria depois, então passei a me afastar quando o sentimento começava a crescer. Mas então veio o James.
Sabia que deveria decidir o que fazer logo ou acabaria perdendo ele.
Depois de me arrumar, desci para tomar café com os únicos que eu podia considerar uma família.
Estavam todos a mesa, e o Liam na cadeira do anfitrião.
— Digna do dono da casa — Ri olhando para ele. James estava ao seu lado esquerdo e Valentina ao seu lado direito. Fiquei em dúvida de onde sentar, mas já que estava ao lado do James, seria estranho se passasse para o outro lado da mesa.
Olhei para ele, mas seu olhar estava concentrado no café a sua frente.
— Digna de um rei, você quer dizer — Liam disse bem humorado. — Você é parente da bela adormecida? Porquê o sono é igualzinho
— Você é muito engraçado, sabia disso? — Disse cortando uma fatia de bolo
— James, você está bem? Está calado desde que desceu — Valentina perguntou e todos olhamos para ele.
Esperei que ele fizesse uma cena sobre o "nosso assunto", mas tudo que ele fez foi dar de ombros.
— Estou apenas com dor de cabeça, acho que bebi demais — Deu um sorriso canto
E mais uma vez ele me surpreendendo.
— Só eu acho que....
Liam parou de falar quando a porta da frente foi aberta, a atenção de todos voltaram pra a entrada da sala de jantar para ver quem era.
— Bom dia! Espero que estejam todos vestidos — Marina disse rindo, enquanto entrava carregando duas caixas que cobriam sua visão
— Mais respeito por favor — Disse e ela colocou as caixas na mesa
— Está de muito bom humor pra alguém que está com a namorada em outro país — Liam alfinetou
— Tive um ótimo "até logo" como recompensa — Ela falou piscando para ele e rimos — Mas isso não significa que eu não esteja com saudades, por isso vim tomar café com vocês, meus amigos maravilhosos — Se sentou ao lado da Valentina
— Por isso está com esse cachecol descombinando tudo — Eu disse
— Quem olha pra Cecília não diz que ela é tão agressiva assim — Valentina observou
— Aquela carinha de anjo engana todo mundo — Liam falou tomando seu café
— James, você está bem? Está tão calado — Marina se dirigiu a ele
— Dor de cabeça — Disse apenas. — Ninguém vai mesmo perguntar sobre as caixas? — Ele apontou
— São da Hannah — Marina disse com a boca cheia
— Minhas? — Estranhei
— Tem o seu nome nelas — Ela disse — Estavam na sala — Acrescentou
Fui até às caixas que estavam em cima da mesa e peguei um envelope que estava sobre, com o meu nome na frente e abri.
Minha única vontade ao ler aquelas palavras destinadas a mim foi de colocar fogo no que quer que tinham naquelas caixas.
— Hannah, você está bem? — Marina perguntou se aproximando.
— Só...perdi a fome. — Me afastei da mesa — Alguém pode jogar isso fora pra mim? — Aprontei para as caixas.
— O que é? — Valentina perguntou
— Lixo! — Disse caminhando em direção a saída.
Eu precisava ficar sozinha.
*
Meia hora depois escuto passos próximos a mim, quem quer que fosse queria que eu soubesse que estava ali.
— Não quero conversar — Adiantei
Encarando as flores ao meu redor, nem me dei ao trabalho de olhar para trás.
— Não precisamos conversar, mas acho que não quer ficar sozinha. Não totalmente — Uma alegria involuntária me invadiu ao ouvir a voz dele — A Marina me disse que você estaria aqui — Ele disse quando o encarei, se sentando ao meu lado na grama.
— Ela é uma fofoqueira — Reclamei
— Ela é sua amiga — Ele disse batendo seu ombro contra o meu
— Ela é. E mais — Passei a mão pela grama. Não queria encara - ló — Vai ficar aqui até quando? — Quis saber
— Até você decidir que está pronta — Ele entrelaçou nossas mãos. Encarei o ato. Elas pareciam encaixar perfeitamente.
— Você não precisa ficar — Disse tentando segurar as lágrimas
— Eu quero — Sua mão livre foi de encontro ao meu queixo, me fazendo encara - ló.
A distância entre nós foi quebrada quando ele se aproximou, tocando suavemente meu rosto, roçando nossos narizes.
Era bom. Mais do que eu queria admitir. Sentir o calor dele, saber que estava ali, comigo.
Mas eu não podia me deixar levar. Não posso magoa - ló, não mais do que já fiz.
Seus lábios estavam tão próximos dos meus que minha maior vontade era beijar ele, até que o ar fosse necessário.
— Quer saber o que me fez vir aqui não é? — Disse me afastando, seria melhor assim.
— Não nego que estou curioso — Se sentou ao meu lado novamente, evitando meu olhar, mas vi que ele estava chateado — Mas não precisa falar se não quiser
— Não quero, mas preciso desabafar. Se quiser ouvir — Sorri de lado, olhando para ele
— Estou aqui — Apertou minha mão que ainda estava unida a sua.
— Você já percebeu que meus pais nunca estão em casa? — Ele assentiu — Eles são diplomatas, então sempre foi assim, desde que me lembro — Respirei fundo — São poucas as lembranças de infância que tenho deles. Antes eu chorava até pegar no sono, porquê eu nunca conseguia dormir de outra forma. Eu evitava comer, pra poder ficar doente e ver se eles vinham me ver — Neguei com a cabeça — Eu era uma criança tola e carente.
— Não se pode culpar você. Você era uma criança, era normal sentir falta deles — Disse acariciando meu rosto
— É, pode ser. Mas não adiantava muita coisa. Quando cresci eles passaram a vir mais vezes, eu fingia não dar muita importância, mas eu só faltava pular de alegria quando eles não estavam vendo — Ri sem humor —
— E com quem você ficava, se eles não estavam? — Olhei para ele
— Eu tinha uma babá — Revelei — Eu gostava dela, mas a dois anos ela faleceu e a lista de pessoas que me deixam só faz crescer — Ele me puxou para um abraço e eu aproveitei — Eu estou bem.
— Quero que saiba que estou aqui e que não vou deixar você, a não ser que me mande embora — Riu e eu lhe dei um tapa no braço
— Não quero fazer isso — Me afastei do abraço
— Então as caixas eram presentes deles? — Assenti
— São seus pedidos de desculpas pela ausência, igual a esse jardim. Eu gostava de brincar aqui, com eles — Afundei os pés descalços na grama — Mas depois ficou bem solitário — Dei de ombros — E não fez mais efeito como antes
— Percebi
— Se eles não me querem, por quê vou querer os presentes deles? Exceto esse — Me referi ao jardim — Ainda gosto daqui
— Eu quero você — Senti meu coração errar as batidas — Sei que você tem medos e inseguranças, mas eu quero que saiba que eu estou aqui e eu quero você mesmo assim — Eu nada disse, apenas o abracei
Com a cabeça em seu peito pude perfeitamente ouvir as batidas de seu coração, sentindo uma estranha sensação de paz e segurança ao estar em seus braços.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro