CAP 26
Maria C.M. Ferri
2 semanas depois
— O que você acha? — Disse encarando o teto.
— Sobre? — Liam disse e eu pude sentir seu olhar sobre mim.
— Sobre ir nessa viagem — Falei me sentando na cama, o encarando — Não sei o que é, mas estou com um mal pressentimento — Cocei a nuca
— Para com isso — Disse dando tapinhas na minha perna — Não vai acontecer nada. O que poderia acontecer afinal? — Disse se levantando da cama para pegar o celular que estava tocando.
— Não quer ouvir minha lista? Tenho um zilhão de possibilidades — Ele riu e atendeu a chamada.
Claro que não vai acontecer nada. Eu só estou... Paranóica, é isso.
— Quem era? — Perguntei ao sair de meus pensamentos e ver que ele me encarava.
— Bobagem — Deu de ombros.
— O que você está esperando para podermos ir? Eu te colocar a coleira? — Disse um tanto sem paciência. Já se passaram duas horas desde que eu cheguei aqui e nada de sairmos.
— Uii! Que brava — Ele riu — Já estou indo tomar banho — Correu em direção ao banheiro do quarto.
— Se demorar, te arranco aí de dentro — Ameacei antes que a porta de fechasse.
*
— Já falou com ela hoje? — Liam perguntou enquanto caminhavamos em direção a joalheria na qual eu estava indo buscar o presente de aniversário da Marina.
— Não — Disse tristonha — Quando fui procurar por ela a Lívia já a tinha arrastando pro salão, SPA e sei lá mais o quê — Revirei os olhos
— Não fique aborrecida — Disse pondo a mão sobre meu ombro — Vocês vão ter um tempo
— Hum — Murmurei sem nenhuma animação
A cada dia que passava eu tinha mais certeza de que a Lívia estava fazendo o possível para afastar a Marina de mim, era sempre um "Filha, preciso que me ajude com isso", "Filha preciso que me acompanhe naquilo" e tudo justamente quando estávamos juntas. Já estava claro pra mim que ela nunca aceitaria nossa relação e só estava evitando dizer com todas as letras, apenas para evitar uma briga com a filha.
Liam e eu entramos na joalheria e depois de falar com a atendente e pedir minha encomenda, a mostrei ao Liam quando a mesma voltou.
— O que acha? — Disse com a caixa de veludo aberta.
— Cecília... É lindo — Disse admirado.
— Mandei fazer especialmente pra ela. — Fechei a caixa, com um sorriso que eu imaginava ser o mais bobo que já havia dado na vida, era o que eu julgava pela forma que o Liam me encarava.
— Você está tão apaixonada, isso é tão fofo — Tentei desfazer o sorriso
— Para com isso. — Podia sentir meu rosto esquentar.
— Você fica tão linda com vergonha — Liam riu chamando atenção das pessoas a nossa volta, apenas desviei o olhar delas — Espero que vocês se casem, porquê se não, juro que vou te lembrar desse momento pra sempre.
— Agradeço ao favor — Falei sem mais. Pagamos e fomos embora.
*
— O que você vai vestir? — Valentina perguntou enquanto dava voltas na cadeira giratória pelo quarto do Liam.
— Você quer parar de girar? — Disse ficando tonta só de olhar para ela
— Não quer experimentar? Quanto mais você roda, mais quer rodar — Disse dando uma última volta e parando a cadeira — agora está tudo girando, parece até que vou flutuar — Pressionou as mãos na cabeça, para mante - lá parada
— Estou bem aqui na cama, obrigada — Falei ajeitando os travesseiros atrás de mim
— O que aconteceu com ela? — Liam perguntou ao entrar com uma bandeja em mãos — Girou demais? — Riu
— Pensei que fosse comer tudo no caminho — Reclamei — Sim, ela se empolgou — Bati ao lado da cama pra que ele se sentasse
— Você é uma esfomeada — Bateu na minha mão quando a enchi de biscoitos
— Estou nervosa, ansiosa. Não consigo parar de pensar que daqui a umas poucas horas vou vê - lá — Enfiei um biscoito na boca — Só trocamos umas mensagens o dia... Todo — Falei de boca cheia.
— Nunca vi você tão apegada a alguém — Observou — Tudo isso é saudades? — Disse bebendo suco
— Cara, essa cadeira é incrível! — Valentina falou antes de mim — Me empresta? — veio se arrastando na cadeira até próximo da cama, onde estávamos.
— Pode vir aqui com a desculpa de que quer me ver só pra usar a cadeira — Liam disse rindo
— Venho ver você também, não sinta ciúmes — Bateu de leve na perna dele — Agora Cecília, precisamos ir — Se levantou.
— Sabe o que parece? — Ambos me encararam — Que eu e a Marina vamos nos casar. Ficamos longe uma da outra o dia todo e só vamos nos ver na hora marcada — Reclamei me levantando — E nem na minha própria casa eu posso ir até que ela saia de lá "com seu vestido branco" — Disse fazendo aspas
— Mas que mulher dramática — Liam disse e Valentina riu
— Diz isso porquê não é você — Rebati
— Vai, vai e não esquece do presente — Ele falou abanando a mão para que fossemos embora
— O que você comprou? Posso ver? — Valentina perguntou
— Te conto no caminho — A puxei para irmos — Liam, não se atrase! — Avisei
*
— São as moças mais belas que já vi — Mônica, a mãe da Valentina disse assim que nos viu depois de prontas, horas depois de chegarmos
— Até parece! — Valentina falou
— Eu disse que ela está linda, mas ela parece que fica tímida com elogios — Ri
— Acho que é isso mesmo — Mônica disse — O que é uma bobagem..
— Mãe...
— Não vamos discutir sobre isso — Disse encerrando o assunto — Que tal uma foto, sim?
Saiu da sala dando as costas para nós e voltando segundos depois com uma câmera
— Prefiro uma destas ao celular — Disse como se respondesse a uma pergunta, que aposto que estava evidente em nossos rostos.
Fizemos poses, caretas, rimos e nos divertimos além de nos preocupar com as fotos, mas tenho certeza de que ficaram ótimas, as espontâneas são as melhores.
Mônica nos levou de carro até o local onde seria a festa de aniversário da Marina. Fomos os poucos minutos de distância conversando sobre coisas diversas, estávamos próximas de chegar e eu conseguia sentir quão acelerado meu coração estava, apenas com a expectativa de vê - lá. Acho que se tudo ficasse em silêncio, o único som presente seria as batidas frenéticas do meu coração acelerado.
— Cecília... Terra chamando — Valentina estralava os dedos bem próximo do meu rosto, me assustei e acabei empurrando sua mão para longe.
— Desculpe — Disse logo que voltei a mim — Eu estava... pensando
— Percebi — Riu — Vamos — Abriu a porta ao seu lado, descendo do carro.
Nos despedimos da Mônica e entramos. O local era amplo — Dois andares — Havia um espaço a minha esquerda, com um bolo de quatro andares e outras coisas. Havia balões dourados por toda parte — nos dois andares — Nas escadas que davam acesso ao segundo andar, tapete vermelho.
A Lívia realmente levava jeito para organizar festas de qualidade. Eu observava tudo, mas queria mesmo ver a aniversariante.
Avistei o meu pai e fui até ele, Valentina ficou tirando fotos pro Instagram e quase não notou que eu saí de perto dela.
— Você está belíssima! — Ele disse ao me ver e eu dei a famosa "voltinha" meu vestido azul escuro de alcinhas era longo e desenhava bem o meu corpo.
No início me recusei a vesti - ló, não estava acostumada com coisas tão coladas, mas depois da Valentina e a Hannah quase me obrigarem a considerar, eu acabei percebendo que ele era bem bonito e ficava bem em mim.
— Você está ótimo — Disse o abraçando
"Onde ela está?" A pergunta se formou na minha cabeça, mas antes que eu pudesse dizer, Lívia apareceu
— Você está linda — Ela disse, parecia sincera
— Estou tão acostumada a te ver sempre arrumada que você parece a mesma — Mas desta vez ela estava com um coque alto e arrumado, diferente dos longos e sedosos cabelos soltos que ela sempre usava, um vestido cor de prata brilhante que ia até seus joelhos e um salto alto da mesma cor — O que não deixa de ser bela — Continuei a dizer
Eu podia não confiar e gostar muito da Lívia, mas não podia negar o quão linda ela é. E o quão assustador era que as vezes nós nos parecíamos demais. O que acabou me fazendo lembrar da foto — supostamente da Lívia — que encontrei no livro no escritório de casa, senti um arrepio correr por todo o corpo.
Ela sorriu para mim, entrelaçando o braço ao do meu pai.
— Quero te apresentar alguém — Disse para ele
— Tudo bem Cecília? — Ele tocou meu ombro
— Sim — Disse no automático — Está tudo bem, vou ficar com meus amigos — Ele sorriu, acenando com a cabeça e saiu ao lado da Lívia.
Eles até pareciam um belo casal. Pareciam.
— Onde você estava gata? — Liam perguntou ao me ver, finalmente os encontrei depois de algum tempo.
— Estava procurando por vocês — Disse me sentando ao lado deles a mesa — Onde estão o James e a Hannah? — Perguntei e ambos se encararam — O que foi?
— Ainda não chegaram — Valentina respondeu
— Só acho que eu tenho uma teoria — Disse abaixando o tom de voz
— Então desembucha — Falei
— Vocês estão aí — Hannah disse antes que o Liam pudesse abrir a boca — Quase não achamos vocês.
Só aí percebi que o James estava com ela
— Vocês vieram juntos? — Valentina perguntou enquanto eu processava
— Ou estavam juntos? — Liam disse arqueando as sobrancelhas. Hannah encarou James
— O quê? A gente se esbarrou aqui na entrada — James disse se sentando — E a comida, já estão servindo? — Desconversou batendo os dedos na mesa
Ficamos jogando conversa fora, de vez em quando Liam tentava extrair algo do James ou da Hannah que comprovasse sua teoria, eu estava mais preocupada em ver a Marina e saber o motivo de tanta demora pra prestar atenção em sinais ou qualquer outra coisa que fosse em relação a outro alguém.
Quando ela finalmente apareceu foi simplesmente ofuscada por flashes e pessoas que pareceram brotar do nada.
Fiquei apenas ali, sentada, observando o que dava para observar. Não queria ter que interromper meu momento com ela pra que outra pessoa pudesse falar com ela, então preferi esperar até que todos já tivessem dado seus parabéns.
Cerca do que pareceu ser uma hora depois finalmente pude vê - lá sem que tivesse uma multidão em volta dela. Fui com nossos amigos — Fiquei mais afastada — quando chegamos perto e eles foram parabeniza - lá.
Percebi seu olhar procurar por algo. Procurar por mim.
Fiquei apenas parada, observando. A observando. Ela estava ainda mais linda, se é que era possível, usava um vestido longo dourado com brilho, seus cabelos estavam mais cheios, ainda ondulados, mas com um belo volume, seus lábios pintados de vermelho. Eu queria muito poder beija - lá naquele momento.
— Sei que nada é perfeito, mas... Você parece perfeita pra mim — Disse próxima a ela, mal me lembro de piscar e muito menos de caminhar até tão próximo dela. Ela sorriu — Já disse o quanto gosto quando sorri? É o mais belo que já vi
— Não vai querer me fazer chorar não é? — Ela disse sorrindo.
— Não — Sorri e a puxei para perto, para um abraço — Feliz aniversário, amor — Disse próxima ao seu ouvido
— Estou feliz que esteja aqui — Me apertou mais
— Queria muito beijar você agora — Disse passando a mão por suas costas — Não sabe o quanto estou me controlando —
Esperava que ninguém nos interrompesse naquele momento.
— Posso imaginar, já que não é a única — Disse me soltando as poucos — Você está linda — Me observou de baixo á cima
— Não me olhe assim — Disse envergonhada, segurando sua mão
— Ou o quê? — Disse me provocando, chegando mais perto
— Filha! Pode vir aqui por favor?! — Eu sabia que ela queria ter feito isso assim que me aproximei da Marina
— Vai lá — Inclinei para o lado com a cabeça
— Não demoro, tá? — Assenti — Quero ficar com você antes que tenha que ir, já não basta o dia inteiro que ficamos separadas —Me deu um beijo rápido no rosto e foi em direção onde estava a Lívia.
E eu fiquei ali, sozinha. De novo.
*
Horas mais tarde quando alguns dos convidados já haviam ido embora e ficaram apenas os mais próximos, algumas pessoas se juntaram para dançar. Eu não levava jeito e apenas fiquei observando meus amigos se divertirem.
Agora tocava uma música lenta quando ela entrou no meu campo de visão, sorrindo para mim. Apenas continuei sentada, onde estava. A encarando.
— Me concede essa honra? — Estendeu a mão pra mim e eu aceitei
Caminhamos até um canto mais afastado, como se quisessemos privacidade.
— Não está chateada, está? — Ela perguntou pousando suas mãos em minha cintura.
— Não posso ficar chateada com você — Falei após um suspiro, envolvendo meus braços em volta de seu pescoço.
— Eu só queria ter passado esse dia com você — Confessou — Não estou dizendo que foi ruim, mas seria melhor se fosse apenas nós duas — Esclareceu
— Não sei se percebeu, mas ainda não te dei meu presente — Sorri
— Não tem importância — Deu de ombros
— Você não entendeu — Cheguei mais perto, ficando próxima de seu ouvido — Quero te dar o presente agora — Disse
— A-agora? — Parou de dançar — Mas você não tem que viajar?
— Tenho, mas também tenho algumas horas ainda antes de ir — Disse a soltando — Mas se não quer passar esse tempo comigo... Tudo bem.
— Claro que eu quero — Se apressou em dizer —
— Então vamos antes que alguém dê por nossa falta — Disse unindo sua mão a minha.
E com alguém eu queria dizer, Lívia, mas ela não precisava saber disso.
— Vamos assim? Escondido? — Perguntou quando começamos a caminhar
— Vão fazer muitas perguntas se avisarmos — Disse apenas.
Em 30 minutos chegamos em casa, o trânsito estava livre devido ao horário da madrugada e não foi difícil achar um táxi.
— O presente está lá em cima, posso ir buscar caso você se importe em subir — Disse antes de chegar ao degrau
— Não, eu vou com você. — Respondeu e começamos a subir as escadas — Espera! — Segurou minha mão, a encarei — Quero te dizer uma coisa
— O que foi, amor? — Acariciei seu rosto, com as costas da mão, preocupada com seu tom de voz.
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