Marina Bittencourt

Despertar de uma boa noite de sono com a sensação de aconchego da pessoa que você gosta é uma coisa que eu nunca havia experimentado antes.

Eu estava acordada havia algum tempo, mas me recusava a me mexer e correr o risco de acorda - lá. De fazer com que aquela sensação de tranquilidade se quebrasse. Principalmente depois da noite de ontem.

Eu não contei a verdade para Cecília quando disse que o Sebastian apenas tentou conversar, não queria aborrecer ela, então resolvi não contar. Mas mesmo depois de estar na tranquilidade do nosso aconchego eu não conseguia esquecer. Por mais que tentasse.

Horas antes

Já estava mais do que apertada para ir ao banheiro, depois de me reconciliar com a Hannah da nossa pequena briga dançamos até eu não aguentar mais e bebemos também.

A Cecília estava conversando com a Valentina e o James que já estava bem bêbado pelo pouco tempo em que estávamos ali. Eu achava que por algum motivo ele estava descontando o tanto de bebida em algo que não sabíamos.

A Hannah continuou dançando e eu resolvi ir ao banheiro sozinha mesmo.

Por algum milagre e alívio da minha parte não encontrei com o Sebastian e nem mesmo o vi. Esperava que essa sorte continuasse ao meu lado e para não correr riscos não ficaria por muito mais tempo aqui. Não gosto de brincar com a sorte.

Demorei um pouco na fila do banheiro, e agradeci quando finalmente entrei.
Aquele lado era mais afastando da multidão e por isso mais tranquilo.

Sai do banheiro e comecei a caminhar de volta para a festa quando sinto alguém pressionando fortemente o meu braço, me puxando contra si.

Devido ao susto não emiti nenhum som e nem conseguiria se quisesse depois que uma mão se pressionou contra minha boca. Estava um pouco escuro, por isso não identifiquei quem era, mas a sensação estranha de desconforto que se apossou de mim, me dizia que eu sabia bem.

Depois que meus olhos se acostumaram com o escuro, consegui — infelizmente — ver de quem se tratava.

Tentei lutar para conseguir me livrar de seu agarre, mas foi inútil.

"— Pensei que nunca teríamos um tempo a sós — Disse bem próximo do meu ouvido"

Tentei gritar, mas ele pressionou mais sua mão contra minha boca, com força.

"— Você não quer plateia quer? Eu só quero conversar. — Ele parecia doentio falando daquele jeito"

Fiz o possível para não chorar. Eu queria correr dali o mais rápido possível.

"— Eu vou tirar minha mão agora e você não vai gritar, está bem? — Assenti com relutância"

"— Não quero conversar com você. Não tenho nada para conversar com você — Disparei quando estava parcialmente livre. Sua mão que estava na minha boca passou a segurar firme meu braço"

" — Mas eu tenho algo a dizer, mas se você não quer conversar eu respeito — Fiz menção de sair, mas ele me impediu. Ainda segurando meu braço — Não vamos conversar, mas isso não significa que não podemos fazer outra coisa"

"— Se afaste de mim — Coloquei meu braço livre na frente do corpo a fim de impedir uma aproximação"

"— Não queria que fosse do jeito difícil, carinho. Mas você não me deixa outra escolha. —"

Segurou firme meus dois braços, se aproximando tanto que senti sua respiração quente em meu rosto. Mal conseguia raciocinar, mas uma coisa eu sabia. Sabia que ele não teria o que queria.

Seu hálito fedia puramente a álcool. Senti repulsa quando seus lábios roçaram meu pescoço, numa tentativa falha de me exitar. Mal percebi e seus lábios estavam colados nos meus, sua língua forçava a entrada em minha boca. Virei o rosto bruscamente.

Reuni todas as minhas forças e o chutei no meio das pernas. Ele se curvou contra o corpo, quis correr, mas minhas pernas pareciam falhar. Quando finalmente fiz com que elas funcionassem comecei a correr para longe, mas então senti o peso de seu corpo sobre o meu, me derrubando no chão.

"— Saia de cima de mim — Gritei quando ele virou meu corpo, me fazendo ficar de frente para ele — Me solte seu...

Não consegui completar a frase pela surpresa de quando o peso do corpo de Sebastian saiu de cima do meu. Que foi arremessado para longe com certo esforço, socos foram desferidos e então eu vi o Liam.

Atualmente

Pedi para o Liam não contar nada para Cecília, não valeria a pena e só traria problemas. Relutante, ele aceitou.

Sai de meus pensamentos quando senti seu cheiro e um beijo leve na minha nuca.

— Pensei que fosse dormir pra sempre — Disse de joelhos na cama, se balançando feito criança — Não queria te acordar, mas está bem tarde e eu estou morrendo de fome — Fez careta passando a mão sobre a barriga, ri.

— Não me acordou — Me sentei — Quando você saiu da cama? — Perguntei quando vi que ela estava com sua escova em mãos. O rosto um pouco molhado entre as bochechas e ao redor dos olhos.

— Já tem um tempinho. Você estava tão parada que pensei que estivesse em um sono bem pesado — Se aproximou — Bom dia — Disse me dando um beijo na testa — Pressinto que o dia será ótimo só pelo fato de ter acordado ao seu lado — Sorriu. O sorriso que eu mais gostava.

— Pressinto o mesmo — Me aproximei para beija - lá e ela recuou, ergui as sobrancelhas.

— Amor, estou com fome — Fez bico

— E...? —

— E você não escovou os dentes, claro. — Segurei o riso — Sinto muito, mas "beijo de bafo" só em ficção. Agora vai — Me deu um tapinha na perna — Você não vai querer me ver de mal humor por me deixar com fome. Acredite, é uma versão minha que você não vai querer conhecer.

— Posso aprender a tolerar as piores — Dei um beijo rápido em seu rosto e corri na direção do banheiro.

*

— Finalmente as madames resolveram dar o ar da graça — James disse assim que nos viu entrar para tomar café.

— Jamais privaria você da graciosidade de minha presença — Pisquei para ele e sorri. Todos a mesa riram.

— Quem preparou esse banquete? — Cecília disse ao me lado — Tinha certeza de que nenhum de vocês iria conseguir nem se levantar da cama, quanto mais preparar um café desses. — Disse se servindo com uma fatia de bolo e café.

— Ah, nem me pergunte. Só senti o cheiro de café e meu corpo se levantou contra minha vontade. — Hannah disse — Ainda sinto dor de cabeça — Balançou a cabeça levemente

— Não era pra menos, achou que estava bebendo água? — Provocou

— Ah, cala sua boca! — Hannah se virou para o James, que propositalmente se sentou ao lado dela.

— Então por que você não vem calar, em? — Se aproximou dela.

— Saí daqui! — O empurrou de leve e jogou um pedaço de bolo nele.

— Ei gente, desperdício de comida não né? — Valentina disse — Tá achando que foi fácil fazer tudo isso? — Tomou seu iogurte.

— Você fez isso? — Perguntei

— Nós fizemos — Ela e o Liam disseram em uníssono e bateram as mãos em cumplicidade.

— Hum, dupla imbatível? — Cecília disse

— Quase isso — Liam afirmou. Cecília lançou um olhar desafiador para ele. Ela estava claramente com ciúmes.

— Hum — Deu de ombros — Espero que não se esqueça de seus antigos amigos — Olhou para a xícara quente de café, sem encarar ele.

— Não seja ciumenta — Ele jogou

— Eu? Ciumenta? Ah querido, por acaso não me conhece? — Disse séria e eu ri.

— Eu não sou nada ciumento — James disse

— Como se alguém tivesse te perguntado — Hannah se virou para ele

— Só te poupei de fazer a pergunta. E não, não se preocupe — Segurou a mão dela na altura de seu rosto — Eu não me importo se você for ciumenta — Beijou a mão dela e ela lhe deu um tapa, que se não fosse pelo bom reflexo de James, seria um belo tapa na cara.

E assim seguimos a manhã. Na paz e tranquilidade.

Uma semana depois

— E então, conseguiu? — Perguntei aflita para Hannah, assim que terminaram as aulas.

Estávamos do lado de fora da escola, tivemos que sair antes dos outros.

— Não foi fácil, mas consegui. Afinal o que eu não consigo não é? — Disse convencida

— Estou cercada por pessoas convencidas. — A abracei — Obrigada! Não sei o que seria de mim sem você. — A encarei, saindo do abraço

— Eu sei! Penso a mesma coisa — Riu. — Tem certeza que ela não sabe de nada não é? — Se aproximou de mim como se estivesse contando um segredo. O que de certa forma era. Pelo menos por até mais algumas horas.

— Não. Quero dizer, eu espero que não. — Disse — Você sabe como ela é, percebe tudo tão rápido. E ela sabe que eu estou escondendo alguma coisa.

E eu estava, mas não era nada grave. Na verdade era incrível. Só esperava que nada desse errado.

— Não se preocupe, a Valentina e o Liam vão cuidar pra que ela esteja bem distraída durante todo o dia. — Disse confiante

Eu só queria ficar calma. Mas era quase impossível, a cada suspiro que eu dava era como se a Cecília soubesse o que eu estava pensando. E por falar nela...

— Por que saíram correndo? — Perguntou quando chegou até onde nós estávamos, junto com os outros. — Vocês estão bem estranhas nessa semana — Disse lançando olhares para mim e para Hannah — Na verdade, todos vocês — Acusou - nos

— Nós? — Dissemos juntos

— Você que está pirando — James se pronunciou

— Claro — Lançou um olhar desconfiado para ele — Ei, o que você acha de fazermos alguma coisa hoje? — Segurou uma de minhas mãos e me lançou um olhar sugestivo.

Era tão difícil dizer não para ela, mas eu teria que ser forte.

— Hoje? — Ela assentiu — Hoje não posso — Arqueou as sobrancelhas desconfiada — tenho...

— Sinto muito, mas ela já tinha marcado comigo — Hannah interveio. Lancei um olhar de agradecimento para ela.

— Ah! É mesmo? — Encarou nós duas — Mas o James disse que iria sair com você. Não foi James? — Seu olhar se voltou para ele, na verdade o de todos nós.

— Eu estava apenas brincando — Riu sem humor — Acha que eu iria querer sair com ela? — Apontou para Hannah, que fez menção de dizer algo, mas Cecília foi mais rápida.

— Acho sim. Acho que vocês estão saindo muito ultimamente. Por acaso tem algo para nos contar? — Sorriu travessa.

Suspirei aliviada. Quanto menos ela perguntasse sobre o que estávamos escondendo, melhor.

— Chega dessa conversa — Hannah disse — Vamos Jam... Mari...na. Vamos de uma vez. — Agarrou minha mão.

— Ei! — Protestei — Deixa eu me despedir da minha... Da... Da Cecília. — Puxei minha mão de volta

— Cinco minutos — Ela disse e se afastou com o pessoal.

— Não está chateada não é? — A puxei para perto e coloquei uma mecha de seu cabelo para trás.

— Não — Colocou as mãos em minha cintura — Mas é bom você ter uma boa desculpa para mim mais tarde, sei que está escondendo alguma coisa — Me deu um selinho rápido. — Não vai querer me ver chateada — Deixou um leve tapa na minha bunda e saiu junto com a Valentina e o Liam.

Agora eu podia respirar e fazer o que tinha que fazer antes da noite chegar