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CAP 21

Marina Bittencourt


— Você tem certeza? — Cecília me perguntou se sentando ao meu lado — Por que.... Por que teria uma foto da Lívia criança aqui?

Eu sabia que ela não estava acreditando em mim, nem eu estava. Mas seja quem for aquela criança, ela é muito, muito parecida com a minha mãe.

— Eu não sei — Disse deixando a foto um pouco de lado — Nem sei porque disse isso, mas é que ela se parece muito, até demais. Quando vi essa foto — A segurei mais firme — Foi como se eu tivesse esbarrado em alguma foto da minha mãe em casa. Você não acredita em mim não é? — Era visível

— Não é que eu não acredite em você, mas você entende que é algo... Inacreditável demais. Se é a Lívia mesmo por que teria uma foto dela aqui? Isso não faz sentido.

— Eu sei, não faz mesmo. Eu devo ter me enganado. — Disse entregando a foto pra ela.

— Você disse... Que na sua casa tem fotos da Lívia, como essa. — Assenti — Poderíamos ir lá. Comparar. — Deu de ombros

— Pode ser. — Falei sem muita vontade.

— Ei... — Tocou meu rosto — Eu acredito em você. Se você disse que pode ser ela, vamos investigar. Tipo detetives. —  Piscou e sorriu travessa — Ótimas detetives, porque, seja o que for — Segurou minhas mãos — Nós vamos descobrir.

— Está bem! — Concordei

— Agora falta um sorriso — Sorriu — Assim — Neguei com a cabeça — Vai — Choramingou — Não me obrigue usar minha arma secreta — Ameaçou e eu dei de ombros.

Quando menos esperei ela estava em cima de mim, fazendo cócegas em minha barriga, me obrigando a rir. Rir tanto até que minha barriga começou a doer e o ar começou a faltar.

— Pa- Pa- ra. Já Che- ga. — Ela parou — Satisfeita? — Falei recuperando o ar

— Um pouco. Não gosto nada de chegar a esse ponto, mas você me obrigou. — Fingiu inocência

— Até parece.

*

O dia passou tão rápido que eu mal tive tempo de pensar. A verdade é que não é fácil pensar quando a Cecília está por perto, na realidade fica bem impossível.

A cada dia que passa meu sentimento por ela só cresce. Coisa que eu achei que não fosse possível. Parece clichê, mas é a mais pura verdade. Eu nunca gostei tanto de alguém como gosto dela.

Talvez eu esteja tão apaixonada que mal consiga notar o que está ao meu redor, qualquer coisa que não seja ela ou nós fica em segundo plano.

Saio de meus pensamentos quando sinto algo — que eu julgo ser o pé de alguém — bater na minha perna por debaixo da mesa. Olho para frente e vejo a Cecília negar com a cabeça. Ela sorri e depois diz:

— É verdade. — Diz concordando com algo que alguém tenha dito, eu suponho.

Fazia tempo que não jantavamos todos juntos. Como... Uma família.

— E como vai a escola? — Ricardo pergunta lançando olhares alternados para mim e para Cecília.

— Bem! — Respondemos juntas. Nos olhamos e sorrimos.

— Ótimo! — Pousou o talher sobre o prato — E os namoros? — Perguntou de repente

Eu não esperava por uma pergunta dessas, na verdade acho que nenhuma de nós ali, pois acabei engasgando com a comida, Cecília com o suco e minha mãe pareceu deixar cair, ou largou de propósito o talher da mão, fazendo com que o mesmo se chocasse com o prato e fizesse um barulho que chamou bastante atenção.

— Namoros? — Minha mãe disse com um daqueles olhares que faz você pensar em tudo de errado que já fez na vida.

— Falei algo errado? — Ricardo falou com inocência

— Não — Disse depois de me recuperar e minha mãe me encarou. Por tempo demais

— Qual o problema? — Ricardo falou quebrando nosso contato — As meninas são jovens, precisam se divertir. Namorar não tem nada demais, com tanto que elas tenham cuidado e fiquem com uma pessoa que realmente gostem — Disse olhando para nós e depois para minha mãe.

Eu e Cecília nos entreolhamos. Ela sorriu para mim e voltou o olhar para o prato. Como será que eles reagiram se soubessem o que sentimos uma pela outra? 

— Ainda acho cedo demais, não se sabe da intenção dos outros — Minha mãe disse

— Mãe não seja careta. Não seria a primeira vez em que eu estaria em um relacionamento com alguém — Inevitavelmente olhei para Cecília que parecia despreocupada com toda aquela conversa, já que era a única que ainda comia e não dizia uma palavra, apenas observava o desenrolar das coisas.

— Vamos mudar de assunto. — Ricardo disse pegando a mão da minha mãe em cima da mesa e unindo a sua, fazendo com que a atenção dela se voltasse para ele, ao invés de mim. — Você quer contar ou eu conto? — Ela deu permissão para que ele prosseguisse. — Marcamos a data do casamento — Disse ele contente. Minhas sobrancelhas se ergueram automaticamente e Cecília parou de comer e os encarou.

Ela não gostou nada da notícia, deduzi. 

— Parabéns — Eu disse sincera para eles. Eles pareciam felizes e isso era o que importava. Encarei a Cecília e a mesma estava pensativa.

— E quando vai ser? — Ela disse depois de um tempo. Eles pareceram aliviados após o interesse dela, mas eu sabia que ela só estava tentando não criar uma discussão.

*

Já era tarde quando acordei com um telefonema da Hannah, ela parece que sabe quando estou dormindo e resolve me ligar só para me acordar. Disse que já sabia de uma festa onde todos poderíamos ir, perguntei onde e ela não quis dizer. Fiquei intrigada, pois qual seria o motivo para ela não querer me contar?

Deixei pra lá quando escutei a Cecília me chamar. Tínhamos combinado de ir até a minha casa hoje, antes da festa para ver umas fotos da minha mãe e tirar a dúvida sobre a foto daquela garotinha.

Eu ainda pensava a respeito disso. Não conseguia entender a lógica, se é que tinha uma. Um zilhão de motivos e teorias passavam pela minha cabeça a respeito disso, mas nada parecia fazer sentido depois de um tempo.

— A sua casa é bem grande — Cecília observou quando entramos — Vocês moravam aqui sozinhas? — Tranquei a porta e peguei as chaves.

— Sim — Respondi e caminhei ao seu lado em direção ao escritório — Mas antes morávamos com os meus avós. Minha mãe não quis se mudar depois que eles morreram, mesmo a casa ficando bem vazia. — Continuei e entramos no escritório

— Eu sinto muito — Sorri fraco e fechei a porta

— Já faz tempo. A gente acaba... Aprendendo a conviver com a perda.

— Tem bastante foto por aqui — Observou mudando de assunto — Desde a entrada.

— Sim. Eles eram fotógrafos — Caminhei até a mesa e pegando um porta retrato que havia em cima dela, com uma foto de nós quatro nela — Não perdiam um momento. Nem um espirro. — Ri ao lembrar e entreguei a foto para a Cecília ver

— Não se parecem com a Lívia — Ela disse ainda observando a foto

— Nem teria como — Ela me entregou o porta retrato com o senho franzido — Eles eram os pais adotivos dela — Expliquei

— Sério? — Disse surpresa — Cada dia que passa eu me surpreendo mais.

— É — Coloquei o porta retrato de volta no lugar

— O meu pai também — Disse de repente e eu a encarei confusa — Ele também é adotado, acho que por isso o meu avô não tem tanto amor por ele, as vezes acho que ele se arrepende. — Exclareceu

— Você acha? — Me aproximei dela — Não tive uma boa impressão dele quando o vi pela primeira vez.

— Ele causa esse efeito — Riu — Você ouviu isso? —

— O quê? — Perguntei sem entender a encarando

— A batida que o meu coração faz quando você se aproxima assim — Disse pegando minha mão e colocando ao lado esquerdo do seu peito, onde senti seu forte batimento cardíaco. Gargalhei

— Bem veloz — Disse ainda rindo, ela me puxou de leve colando nossos corpos.

Seus lábios roçaram os meus, fechei os olhos.

— Adoro seu cheiro — Beijou meu pescoço

— É mesmo? — Provoquei, ainda de olhos fechados

— Uhum — Murmurou — Seu longo cabelo macio enrolado na minha mão — Puxou de leve meu cabelo

— E o quê mais? — Aproximei mais nossos corpos, sentindo sua respiração quente. Ela riu

— Gosto de como me sinto segura e a vontade com você — Afastou meu cabelo do rosto — Do seu sorriso — Sorri — E de quando me beija.

Aproximei meu rosto do seu para beija - lá, mas recuei quando escutei a porta da frente ser destrancada.

— Tem alguém aqui — Cecília disse, ela também ouviu

— A única pessoa que tem a chave além de mim é a minha mãe. O que será que ela faz aqui? —

— Que tal ficar e perguntar pra ela? — Ironizou

— Engraçadinha! Vem! — A puxei para se esconder quando ouvi os passos próximos ao escritório.

— Atrás do sofá? Sério? — Falou quando me agachei o máximo que pude atrás dele, que ficava a uma distância segura da porta.

— Que outra alternativa temos? — Sussurei — Anda, não quer que ela te veja não é? — A puxei e a porta se abriu.

Seja o que for que minha mãe estava fazendo ali eu não poderia saber, não podia correr o risco de espionar e ela acabar me pegando no flagra e não podia perguntar. Não se não podia dizer o motivo que me fez ir até lá e ficar escondida.

Cecília e eu nos encaramos, tentando adivinhar o que minha mãe estava fazendo ali, mas seja o que for tinha a ver com algo que ela pegou ou guardou na gaveta da mesa, era o que o som que se fazia na sala denunciava.

*

Depois que ela foi embora, fui até a gaveta e ela estava trancada, o que só me deixava mais curiosa para saber o que tinha ou teria ali.

Já era quase 7PM quando a Hannah chegou para nos buscar para a tal festa da pessoa misteriosa.

Estava com um vestidinho preto que ia até acima do joelho, um pequeno decote na frente, salto baixo prata e meus cabelos estavam soltos, na minha boca um batom cor vinho.

Como possivelmente voltaríamos tarde, todos iriam dormir na casa da Hannah. Valentina, Liam e James já estavam no carro quando Cecília e eu chegamos. Hannah estava no volante.

Conversamos o caminho todo, todos bem animados, mas eu tinha uma leve impressão de que não iria gostar de algo. Tentei dispensar essa sensação, mas sem sucesso. E só quando chegamos que me dei conta do que não iria gostar.

— Que merda é essa Hannah? —

Quase me surpreendi com o meu tom de voz alto. Todos olharam para mim e depois para ela, surpresos, e assim como eu esperando uma resposta ou o motivo pelo meu descontentamento que não era nada mais, nada menos do que justo.

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