CAP 19
Maria C. M. Ferri
Eu estava... Eu nem sei dizer, mas era um misto de sentimentos e emoções tão grande que eu nem sequer sabia como descrever.
Eu não a culpava, nem sequer podia. Como poderia? Mas não posso dizer que não estava chateada, que não estava magoada. Por que eu estava. Muito. Principalmente comigo.
Era minha culpa estar na situação em que estava. Se eu não tivesse dado espaço aos sentimentos isso com certeza não teria acontecido. Não estaria sofrendo por alguém que nunca foi e nem nunca será... Minha.
Era assim que eu ainda me sentia mesmo depois de conversar com a Hannah. Ela me disse coisas que eram realmente verdade. Tudo isso era uma fatalidade infelizmente, mas era a realidade. Se eu realmente gostava da Marina como havia dito a ela, essa era a hora de mostrar que eu estava do lado dela. Não era como se eu fosse assumir um papel, mas que eu estaria ali para apoia - lá.
Eu poderia fazer isso, mas como eu faria em relação aos meus sentimentos? Não poderia simplesmente ignora - los e era certeza que se eu ficasse ao lado dela, esse sentimento cresceria a um ponto que eu não poderia parar, nem se quisesse.
— Então é assim! Começa a namorar e já esquece dos amigos? — Fui desperta pela voz do James — Passou a noite amando ou algo assim não é? Por isso não respondeu nossas mensagens — Continuei sem dizer uma palavra se quer. Não sei pra quê vim a escola hoje.
— James, você quer calar a boca? — Valentina disse — O que aconteceu Cecília? — Perguntou me fazendo encara - lá
— Por que está com essa cara? — Liam perguntou — Não é possível que ela tenha dito não — Negei com a cabeça. Eu queria chorar, mas já estava tão cansada de fazer isso que apenas respirei fundo na tentativa de conter o choro.
— Não. Ela... Ela não me disse um "não" — Falei pela primeira vez no dia — Não teve pedido, pelo qual ela pudesse responder — Desviei do olhar de confusão dos meus amigos — Não pude.
— Como não? O que aconteceu? — Liam perguntou segurando minhas mãos.
— Não foi nada. Eu só não tive coragem, foi isso — Menti
Essa foi a desculpa mais esfarrapada que eu já dei a alguém. Óbvio que eles não caíram nessa, mas não perguntaram mais nada.
As horas durante as aulas pareciam estar se arrastando, quando finalmente acabaram ficamos do lado de fora da escola conversando um pouco. Vários alunos ainda saiam da escola, alguns entrando em seus carros, outros do outro lado da calçada conversando ou como eu, em frente a escola com um grupo de pessoas. Meus amigos tentavam me animar, mas sem susseso. Agora eles conversam entre si e eu mal compreendia o assunto.
Um barulho me chamou atenção, me fazendo voltar a realidade. Era um carro, ele deu a ré e saiu em alta velocidade. Alguém gritou "anotem a placa" "Alguém foi atropelado" — outra pessoa disse. Pessoas começaram a se reunir em volta do atropelado. "Chamem uma ambulância, ela está sangrando" — Alguém disse.
— Uma palavra me chamou atenção. Ela. Senti meu coração disparar, fui na direção da multidão, empurrei pessoas que bloqueavam o caminho. Uma preocupação surgiu em mim. Recuei. Marina.
*
A ambulância logo chegou e ela foi colocada na maca. Meu coração estava acelerado, eu não conseguia raciocinar. Passei o dia evitando ela e qualquer troca de olhares e agora isso. Esse maldito carro... Não posso perde - lá.
— Você vai com ela? — Valentina perguntou. Ela estava tão assustada quanto eu, os meninos e todos que presenciaram a cena
— Vou — Consegui dizer e ela assentiu e eu saí correndo atrás da ambulância que ainda estava perada — Eu vou com ela — Falei recuperado o fôlego
— Você é parente dela? Porquê só os parentes podem acompanhar — Disse o paramédico. E é claro, eu só poderia ir se eu fosse parente da Marina, que merda, mas ele não sabe que eu não sou e quando descobri não fará diferença.
— Claro — Eu disse — Eu sou irmã dela — Sustentei o olhar para parecer convincente e ele me olhou desconfiado — Você não vê meu desespero? Por que eu ficaria desse jeito se não fosse? — Perguntei e ele me deixou entrar
Ela estava deitada na maca, e desacordada desde que a vi.
— Ela vai ficar bem? — Perguntei aflita para outra moça que estava a minha frente
— Não se preocupe, aparentemente não foi nada muito grave — Disse calmamente. Seria verdade ou ela só estava dizendo isso pra que eu não surtasse ali dentro.
— Vai ficar tudo bem — Disse baixo pegando a mão da Marina e unindo a minha — Eu estou aqui.
*
Pov. Narrador
Duas horas já haviam se passado e ainda nada de notícias. Cecília estava aflita e mil pensamentos indesejáveis passavam pela sua cabeça. Se sentia culpada. Culpada por ter se irritado e ignorado a pessoa que ela tanto desejava ter por perto e agora ela não sabia o que aconteceria, se a perderia. Ainda não tinha notícias dela.
Pensou em ligar para Lívia ou para seu pai, mas o que diria? Era melhor esperar alguma notícia e assim não preocuparia ninguém, assim como ela já estava preocupada. Estava com o pensamento longe, mas foi desperta pelo seu celular que vibrava na mochila.
- Oi James - Disse desanimada ao atender a ligação
- E aí gata, como ela está? - perguntou preocupado
- Eu ainda não sei. Desde que chegamos ninguém veio dizer nada - Estava cansada, se aconchegou mais na poltrona em que estava a algum tempo
- E você já avisou a alguém?
- Ainda não - Respondeu - É melhor ter mais informações antes de avisar qualquer coisa
- E se começarem a procurar por vocês? - Perguntou
- Eu já liguei lá pra casa e avisei que a gente vai demorar
- Ok! Ela vai ficar bem, você vai ver. E seja o que for que tenha acontecido entre vocês ontem, conversa com ela. Falamos com ela hoje, antes disso acontecer e ela estava tão mal quanto você - Quando conversaram com a Marina? Se perguntou, mas desistiu de perguntar quando viu a Hannah no seu campo de visão. A mesma a viu e começou a caminhar na direção dela. - Se precisar de algo é só me ligar. Companhia, qualquer coisa - Concordou mesmo que ele não pudesse ver
- Está bem - Se despediram encerrando a ligação
— Cecília! — Hannah disse ao se aproximar — Como ela está? Já tem notícias? — Ela fazia uma pergunta atrás da outra sem nem ao menos respirar. Era nítido que estava preocupada e não era para menos.
— Calma, tá bom?! — Se levantou, ficando de frente para a outra — Eles ainda não disseram nada, então não foi nada grave. Notícia ruim sempre chega rápido — Disse sendo surpreendida por um abraço, ficou imóvel por um momento, ainda reagindo ao abraço, mas logo o retribuiu.
— Eu não posso perde - lá, ela é minha melhor amiga, minha irmã — Hannah dizia entre soluços, quase era impossível ouvir — Eu não vou saber o que fazer se... Se...
— Ei! — Desfez o abraço a encarando — Isso não vai acontecer, está me ouvindo? Ela é forte, não vamos perde - lá — Disse firme, mas nem ela mesma sabia se podia acreditar nisso.
*
Finalmente Cecília conseguiu fazer Hannah se acalmar, já era difícil o suficiente manter o controle dela mesma naquela situação para ainda ter que lidar com o desespero da outra.
— Quanto tempo você ainda vai levar para conversar com ela? — Hannah perguntou quebrando o silêncio.
— Eu te disse que só precisava esfriar a cabeça. Não estava com raiva dela, eu só... — Suspirou — Me senti culpada de alguma forma por gostar dela — Confessou.
— Você sabe que não é a única não é? — Segurou suas mãos firmemente — Ela também gosta de você, por isso te desafiei a beijar ela no jogo de verdade ou consequência e vamos combinar que não foi nenhum desafio na realidade. Estava estampado na sua cara — Soltou as mãos da outra e sorriu.
Cecília estava levemente corada só de pensar na ideia de ter deixado seus sentimentos transparecem.
— Não precisa ficar assim. Acontece que eu sou muito observadora, nem ficou tão na cara assim — Sorriu de lado e Cecília soltou a respiração que nem a mesma se deu conta de ter segurado — Eu já vi minha amiga apaixonada uma vez — Falou quando o silêncio voltava a pairar entre elas. Ficar em silêncio significava pensar e tudo que elas não precisam agora era de pensamentos negativos — Mas não do mesmo jeito que ela está por você, sei que seu sentimento por ela é recíproco. Então eu aconselho que não perca tempo, não é sempre que isso acontece e sabemos que a vida passa, quer a gente queira ou não.
— Eu sei, e você tem razão — Cecília disse depois de um tempo em silêncio — É só que... Eu tenho medo sabe? Eu nunca senti isso por ninguém, mas eu estava disposta a... A assumir isso pra ela, mas aí eu ouvi sobre a gravidez e foi como se fosse um aviso, sei lá, de que não era pra ser, entende? — Hannah assentiu sem dizer nada — Eu não soube como reagir e sei que foi da pior maneira.
— Não tão ruim, era natural que ficasse surpresa. Mas não é como se você fosse ter uma responsabilidade com...
— Esse é o problema — Cecília a interrompeu — O que eu seria? O bebê da Marina precisa de uma família, um pai, uma mãe e não de... De uma adolescente apaixonada — Seus olhos se encheram de lágrimas — Talvez não seja pra ser ou talvez quem sabe quando formos adultas as coisas não mudem? — Secou as lágrimas e sorriu de lado
Hannah abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida quando uma médica chamou pelo nome da Marina. Foram as duas até ela se apresentando.
*
Aos poucos Marina abria os olhos, apesar de uma certa dificuldade, principalmente pela claridade do local em que estava. Sentia uma leve, mas agoniante dor pelo corpo quando se moveu na intenção de levantar.
Estava confusa, mal conseguia se lembrar como foi parar ali, no hospital. Reconheceu. Se lembrava perfeitamente do som alto do pneu do carro, mas o resto era como um borrão em sua mente.
Saiu de seus pensamentos quando a porta foi aberta, olhou na direção da porta e uma bela mulher entrou.
— Sou a médica responsável por você, Elizabeth Carter — Se apresentou
— Suponho que já saiba meu nome — Marina sorriu de lado
— Sim, Marina. Como se sente? Alguma dor? — Perguntou a médica gentilmente já próxima a ela —
— Um pouco, quando me movimento — A mesma assentiu e ajeitou a parte superior da cama para que sua paciente se sentasse e se acomodasse melhor para que ficasse confortável.
— Assim está melhor? — Assentiu Marina — Logo uma enfermeira trará algo para aliviar a dor. Agora eu preciso conversar algo com você — Esperou que a doutora prosseguisse — Você se lembra o que aconteceu antes de chegar aqui? — Perguntou ela e Marina negou com a cabeça. Não se lembrava de praticamente nada.
— Não me lembro muita coisa — Afirmou.
— Eu tenho algo para contar que talvez você não saiba — A olhou atentamente — Você prefere um responsável chegar ou por você tudo bem? —
Ela pensou por um momento. Já sabia sobre o que a outra iria falar ou tinha uma ideia e em hipótese alguma poderia deixar que sua mãe soubesse por alguém que não fosse ela. Seja lá o que tenha acontecido.
— Tudo bem.
— Certo! Marina, você chegou aqui com alguns ferimentos devido ao atropelamento que sofreu, por sorte nada foi quebrado, mas talvez você ainda sinta algumas dores pelo corpo, o que é normal pelo impacto que sofreu — Explicou — Mas há algo que talvez você não saiba...
— Eu sei — A interrompeu.
— Certo — Disse ao pegar a mão de Marina — Quando você chegou estava com um sangramento, ocasionado pelo impacto do carro contra o seu corpo, infelizmente, não pudermos fazer nada. Eu sinto muito. Por ter tão poucas semanas de gravidez era o momento de mais riscos. — Ela estava paralisada, era como se tivesse entrado em transe — Você está bem? Os seus pais sabem? — Elizabeth perguntou, mas não obteve resposta.
A notícia deixou Marina em choque, não estava devastada pela perda, era algo ao qual ela não havia se apegado ainda, mas também não estava aliviada.
Mas deveria? — pensou — Era o que ela queria, que isso não tivesse acontecido. Sentia que era sua culpa. Fui ela quem desejou isso. Era culpa dela. Sua consciência dizia.
— Marina, você...
— Eu estou bem! — Afastou a mão dela da sua — Eu só preciso... processar.
— Claro. Poderá ter alta em alguns dias. Talvez dois ou três. — Ela nada disse — Agora vou conversar com a pessoa que veio com você, avisar que pode te ver, isso se você quiser.
— Tudo bem — Disse antes que ela saísse — E doutora? — A chamou.
— Sim?
— Peço que não comente nada com a minha mãe. Eu mesma quero contar para ela — A mesma assentiu e saiu.
*
Hannah foi acompanhada da doutora Carter que antes conversou com a Marina. A doutora a deixou na porta e recomendou que não deixasse a paciente se alterar. Hannah assentiu e bateu de leve na porta do quarto antes de entrar.
Seus olhos marejaram ao ver a amiga. Ela estava feliz. Feliz por ver que sua amiga estava bem. Marina sorriu para ela, um sorriso fraco e a mesma se aproximou.
— Posso te dar um abraço? — Perguntou secando as lágrimas que haviam caído.
— Se não for me apertar — Assentiu
Se abraçaram. Com delicadeza. Hannah não sabia o quanto de dor a amiga estava sentindo, mas se ela a alertou, então era para ter cuidado. O abraço para Marina foi como um conforto em meio aquele caos.
— É bom ver que você está bem. Aparentemente — Apressou - se em dizer — Apesar dos arranhões — Apontou agora para a testa e os braços da amiga.
— Eu... Eu perdi... O...
Ela não conseguia dizer. Não conseguia dizer em voz alta. Hannah pegou em sua mão, para lembra - lá que estava ali.
— Quer outro abraço? — Perguntou. Não sabia o que dizer para consolar a amiga.
— Por favor...
E então Hannah a abraçou, sem hesitar.
— Não precisa falar sobre isso, não até estar pronta — Hannah disse apertando de leve o abraço.
*
Do lado de fora Cecília não conseguia não ficar nervosa. Estava feliz, feliz por saber que Marina estava a salvo. Era um alívio. Mas sabia que a qualquer momento sua sogra... Corrigindo Sua madrasta, passaria por ali a qualquer momento.
Assim que a notícia de que Marina estava bem chegou, ela não hesitou em ligar para casa e avisar e por azar ou qualquer outra coisa que seja, quem atendeu foi a Lívia, então ela deu a notícia, mas mal conseguiu dizer que a mesma estava bem. Foi só ouvir as palavras: "hospital e Marina" na mesma frase que toda a preocupação e desespero se apossou em Lívia.
— Onde ela está? Onde minha filha está? — Era ela. O coração de Cecília disparou. O olhar delas se encontraram e Lívia foi até ela. — E então? Não fique calada, responda!
Cecília relevou a grosseria, ela estava preocupada, pensou assim.
— Se você tivesse me escutando ao telefone saberia que ela está bem. Fora de perigo — Acrescentou antes da madrasta dizer alguma coisa.
— Eu quero vê - lá. — Disse batendo os pés
— Um por vez. Ordens da médica— acrescentou depois de receber um olhar da outra.
— E quem está com ela? E por que você está aqui? — Perguntou
— A Hannah está com ela e eu estou aqui porque vim com a Marina. — Ela pareceu não se importar, apesar de ter perguntado
— Pois que ela saia. Aposto que já está a muito tempo com a minha filha e eu só acredito que ela está bem quando eu ver com os meus próprios olhos. Me leve até o quarto em que ela está. — Olhou para Cecília e a mesma negou com a cabeça.
— Eu não sei — Disse simplesmente. Sua madrasta bufou e foi em busca de alguém que pudesse leva - lá até a filha.
*
— Então a Cecília está aqui? Por que? — Marina perguntou. Estava mais calma, mas não queria tocar no assunto da perda.
— Sim, ela veio com você. Está muito preocupada — Hannah falou, se ajeitando na cama onde estava sentada ao lado da amiga.
— Me surpreende que queira saber de mim — Disse com um certo ressentimento, apesar de que quando perguntou por ela parecia estar interessada e surpresa.
— Ei! Você sabe que ela gosta de você — Hannah disse e Marina sorriu de lado. — Então não vai deixar ela te ver? Não vai fazer isso vai? — Perguntou
— Não! — Respondeu de imediato — Não sabe o quanto me dói ter ela afastada de mim — Sorriu, ainda um sorriso fraco, mas o mais forte que ela pode dar.
— Então se despeça da minha maravilhosa companhia porquê...
Parou de dizer quando a porta foi aberta, quase arrombada. Era Lívia.
— Meu amor! Como você está? Você está bem? Está com alguma dor? — Perguntava sem parar e andava a passos largos até a filha. Ao ver o quão rápido ela se aproximava Hannah se afastou um pouco da amiga e deu o devido espaço que Lívia não se preocupou em preencher para abraçar a filha.
— Mãe, você está me machucando, sério. — Disse tentando se afastar — MÃE! — quase gritou
— Desculpe.
— Eu estou bem. De verdade. — Disse.
— Mesmo? — Queria ter certeza. A filha era tudo de mais precioso que tinha. As vezes sabia que a sufocava, mas não tinha controle. Quando percebia já estava fazendo. Não sabia o que fazer sem a filha. Não podia pensar em perde - lá.
— Mesmo — Afirmou
— Posso te abraçar de leve? — Sorriu
— Pode — Retribuiu o sorriso. Um sorriso fraco.
Hannah saiu do quarto para dar privacidade a mãe e filha. Sabia como eram ligadas uma a outra. E não levou em conta Lívia ter completamente ignorado sua presença ali. Avistou Cecília e foi até ela.
— Ela está mesmo bem? — Cecília perguntou. Sabia que sim, mas ainda precisava da confirmação daquela que talvez em breve viria a ser sua amiga também.
— Sim. — Sorriu — Queria que pudesse ver, mas duvido que a Lívia saia de lá — Riu
— Não a culpo — Cecília suspirou — É melhor eu ir pra casa. Logo ela vai voltar pra casa também.
— E aí vocês vão conversar — Disse, como se completasse a fala da outra. Cecília apenas assentiu e caminharam juntas até a saída do hospital. Foram algumas horas, mas para Cecília pareceram séculos o tempo que passou ali dentro.
Dias depois
Os dias se seguiram com solidão e saudade. Ambas sentiam falta uma da outra. Cecília decidiu não visitar Marina em nenhum dos dias em que ela ficou no hospital. Não conseguia imaginar ter que tomar coragem para falar tudo o que queria e ser interrompida pela nem tão inesperada chegada da sua madrasta.
Já era quase fim de tarde quando Marina chegou do hospital e decidiu ficar do lado de fora de casa, no jardim. Mesmo contra a vontade da mãe, que enfim cedeu e insistiu para que ela entrasse antes do anoitecer. Queria ficar sozinha, apesar de que não gostava. Pensamentos surgem com mais força quando se está só e em silêncio.
Então Marina ficou ali, sentada. Próxima a árvore que havia no jardim de casa, nunca havia reparado naquela árvore até então. Era alta e ela achava que poderia ser uma macieira, apesar de ainda não ter frutos.
Se distraiu pensando na árvore e não ouviu quando alguém se aproximou e sentou - se ao seu lado. Mas nem precisava olhar para saber quem era. Ela sentia, além de seu perfume. Sentia sua presença.
Cecília a observou antes de se aproximar. Não sabia se seria bem vinda naquele momento e por não ter ido visita - lá no hospital um dia sequer desde que chegou lá. Tomou coragem e caminhou. Sentou - se ao lado dela, sem dizer nada. Não sabia o que dizer, se deveria dizer algo. Marina ainda não havia olhado para ela, mas Cecília sabia que ela já sabia que ela estava ali, então apenas pós sua mão sobre a dela, que estava apoiada na grama. Solitária.
Marina a olhou, não sabia o que fazer em seguida. Então sorriu de lado, para que Cecília soubesse que estava tudo bem entre elas sem ressentimentos mas elas ainda precisavam conversar e sabia disso. Ambas sabiam. Cecília sorriu de volta, um sorriso alegre. Seus olhos marejaram. Entrelaçou sua mão na dela e apertou fortemente. Ambas voltaram seus olhares para a frente, encarando o nada.
Sabiam que não precisavam falar nada agora, saber que uma estava ali para a outra era o suficiente. Estavam juntas. E agora sabiam que o sentimento era maior. Maior do que já foi para qualquer uma das duas em qualquer período de suas não tão longas vidas. Mas estavam prontas para descobrir onde esse sentimento as levaria. Onde quer que fosse, sabiam que estariam juntas.
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