CAP 18
Marina Bittencourt
Se antes eu tinha qualquer dúvida por menor que fosse sobre o que eu sinto pela Cecília depois da noite de ontem eu não tenho mais nenhuma. Consigo me lembrar de cada mínimo detalhe, de cada olhar, cada sorriso trocado, cada um dos beijos.
Fiquei imaginando como seria e me surpreendi por ter sido muito melhor do que minha imaginação conseguiu alcançar. Já estive apaixonada antes, mas dessa vez o sentimento consegue ser ao mesmo tempo tão semelhante e tão diferente. Mais forte. Meu coração dispara, sinto um frio na barriga, uma felicidade interna tão grande quanto a externa e um enjôo tão repentino que me faz levantar da cama o mais rápido que consigo e ir até o banheiro.
Depois de por tudo pra fora sinto uma fraqueza no corpo. Escovo os dentes e volto para a cama. Pego meu celular e ligo para Hannah.
— É, não estou me sentindo nada bem. — Digo depois de avisar que não vou poder ir até a casa dela, como havíamos combinado.
— E o que você está sentindo? — Pude notar preocupação em sua voz
— Um enjôo terrível e uma daquelas tonturas de sempre — Digo me acomodando melhor na cama, sinto meu corpo sonolento
— Você não acha que...
— O quê? — Parou simplesmente de falar
— Vou até sua casa, assim a gente conversa melhor. O que você acha? — Sabia que ela tinha suspeitas, talvez a mesma que eu tinha, mas não queria pensar nisso, como tenho feito a muito tempo.
— Tudo bem, não vou a lugar algum mesmo que eu queria. Estarei te esperando aqui — Bocejo — Caso eu não durma.
Encerramos a ligação e eu comecei a pensar. E se a Hannah tiver as mesmas suspeitas que eu tenho? Sinto meu coração disparar mais forte só de pensar na possibilidade, lágrimas escorrem dos meus olhos. Não quero que seja real, não agora. Não quando descubro estar apaixonada e nem ter começado a desfrutar do sentimento. A Cecília nunca me aceitaria assim. Nunca me aceitaria se eu estivesse grávida do Nicolas. Nunca.
Meus pensamentos se encerram quando alguém bate na porta. Seco minhas lágrimas e me sento na cama, digo para que entre. Seja lá quem for. Sorri ao ver que era minha mãe.
— Você está bem? Não desceu para tomar café — Se sentou na cama, parecia preocupada
— Estou bem. Só um pouco indisposta — Tentei sorrir
— Você anda tão diferente — Tocou meu rosto
— Não sou a única — Disse após um tempo e ela tirou sua mão do meu rosto e se sentou ao meu lado, encarando qualquer coisa á frente
— Você não confia mais em mim, não é? — Perguntou de repente. Estávamos a um tempo em silêncio, cada uma pensando no que aquela conversa que mal começou, poderia levar.
— Não sei o que te responder — Olhei para ela que ainda não me encarava — Gostaria de dizer que confio, mas não sei se isso seria totalmente verdade — Voltei meu olhar para as minhas mãos — As coisas entre nós não são mais as mesmas e nem acho que possam ser de novo.
— Queria poder responder a todas as suas perguntas, sei que não são poucas — Senti seu olhar sobre mim e resolvi olhar em seus olhos — Mas há coisas que nem sempre podemos entender, quanto mais outras pessoas. Existem coisas que não devem ser reveladas até estarem resolvidas. O que eu não conto a você ainda é um segredo, mas não por muito tempo — Pegou uma de minhas mãos e uniu as suas — E eu espero que você possa me entender. Assim como eu vou entender você, quando o seu segredo não for mais tão segredo assim — Apertou minha mão de leve e depois de solta - lá me puxou para um abraço.
Agora não sei se estou mais confusa ou aliviada por saber que ela realmente tem um segredo que não me conta. Mas seja o que for em breve não será mais, e talvez eu não queria tanto assim que esse dia chegue, talvez as coisas estejam boas como estão. E o que ela quis dizer com: "vou entender você quando seu segredo não for mais segredo"? Será que ela sabe? Mas nem eu mesma sei. Ou talvez ela desconfie. Ela me conhece, sabe que não sou mais a mesma e se caso for mesmo, ela já passou por isso, sabe como é. E se eu me abrisse com ela? Talvez ela pudesse me ajudar.... Não, melhor não. Pelo menos não até eu ter certeza.
— Eu vou entender, mãe — Foi a única coisa que eu disse enquanto ainda nos mantínhamos abraçadas.
*
Hannah não demorou a chegar e quando isso aconteceu eu já estava sozinha, apesar da minha cabeça estar a mil com tantas informações despejadas em cima de mim de uma só vez.
— Você está melhor? — Perguntou se sentando ao meu lado na cama —
— Um pouco — Sorri fraco — O que foi? — Perguntei quando olhei para ela que me encarava. Havia uma pergunta lá, em seus olhos.
— É que — Hesitou antes de continuar, talvez pensando melhor nas palavras que queria dizer — E se você estiver grávida? — Perguntou de uma vez, sentindo meus olhos marejarem neguei com a cabeça e senti o reconfortante abraço da minha amiga.
— Não sei o que fazer — Disse chorando — Só de pensar na... Na possibilidade, eu... — A encarei
— Seja o que for, você esteja ou não esteja e quais quer que forem as consequências que estão por vir, saiba que eu vou estar aqui — Sorriu para mim — Vou estar com você — A abracei novamente. Aquela era a única sensação mais próxima da calmaria que eu tive o dia inteiro.
Não sabia o que fazer e só de pensar eu sentia vontade de sumir. Eu não queria um bebê. Não agora. E tudo que eu queria agora era não ter que pensar nisso e não ter que pensar em, como quem eu mais queria estaria cada vez mais distante de mim. E pensando sobre as coisas que me rodavam, adormeci.
*
Não demorou para a semana se iniciar e depois de passar boa parte do dia pensando no que fazer a seguir, estava eu no banheiro do meu quarto esperando os malditos 5 minutos para saber se eu teria ou não um real problema.
Do lado de fora Hannah perguntava a cada segundo qual era o resultado e entre um e outro a minha resposta era sempre a mesma "nada ainda" e eu conseguia ouvir ela voltar a andar de um lado para o outro enquanto eu batia freneticamente o pé direito na intenção de me acalmar.
Resolvi não ir a escola hoje, era a última coisa na qual eu pensava para ser sincera. Assim que voltou de lá Hannah me trouxe o teste para fazer de uma vez e arrancar todas as dúvidas. Eu só não sabia se ficaria aliviada ou devastada depois de ver o resultado.
Passado o tempo, peguei o resultado, mas não conseguia olhar. Talvez eu não quisesse. Sai do banheiro e dei de cara com a Hannah roendo as unhas, ela arqueou as sobrancelhas como quem dizia — E então? — simplesmente estiquei o braço.
— Não consigo olhar — Minha voz saiu quase em um sussurro. Ela pegou o teste e depois de fazer suspense simplesmente disse:
— Grávida. Deu positivo —
Deu um passo para trás e senti meu coração acelerar. Não era felicidade, eu estava desesperada. Eu já havia me preparado para que esse fosse um ou o mais provável resultado. Mas o que eu não pensei em tantas outras coisas era que a Cecília estaria ali, na minha porta, na hora exata em que a Hannah diria o resultado. Naquele momento senti uma dor absurda no coração, a mesma dor que eu vi nos olhos dela.
— Grávida? — Ela disse para si mesma, sem acreditar. Nesse momento Hannah percebeu a sua presença e entendeu o motivo do desespero estampado em meu rosto. Ficando um pouco afastada ela apenas observou o que veio a seguir.
— Cecília, eu.... — Fez um sinal com a mão para que eu me calasse.
— Você não me deve explicações — Disse depois de um tempo — Você não me deve nada! Eu é que fui uma estúpida de... — Sorriu sem humor. As lágrimas começaram a espalhar - se pelo seu rosto, eu queria ir até ela e abraça - lá. Era minha intenção quando dei um passo para frente e ela se afastou — Eu não deveria ter vindo aqui — Negou com a cabeça —
— Cecília, por favor....
— Eu não quero ouvir! Eu já disse, você não me deve explicações do que faz da sua vida. Só não devia sair beijando as pessoas e nem dando sinais de que gosta se... Seus sentimentos já são de outra pessoa — Neguei com a cabeça e tentei me aproximar dela novamente, sem êxito — Isso dói — Disse em um sussurro e eu pude ver tristeza em seu olhar e o que mais me doía era que a culpa da tristeza dela era minha. — Eu estou bem — Sorriu forçado — Não é culpa sua. É minha! — Saiu do quarto e eu apressei os passos para ir atrás dela, mas fui impedida pela Hannah.
— Eu vou. — Disse sorrindo de lado — Vou conversar com ela — Neguei com a cabeça e ela continuou — Vocês conversam quando ela estiver mais calma e você também — assim saindo do quarto logo em seguida.
Eu queria desaparecer, esquecer tudo. Não podia ficar ali parada, mas também não tinha nada em mente. Acabei decidindo apenas sair de casa, precisava de ar fresco. Ao passar pelo quarto da Cecília pude ouvir a voz da Hannah, pensei em parar e ouvir, mas talvez não gostasse do que poderia escutar. Então preferi seguir meu caminho e sair de casa o quanto antes.
Sentada sozinha na cafeteria que foi onde eu a vi pela primeira vez e a odiei de imediato eu pensava agora o quanto que gostar de alguém nem sempre é fácil. Muitas vezes é tão dolorido que te faz pensar se não seria melhor não gostar de ninguém nunca mais. Nem todo mundo tem a sorte de encontrar a pessoa que faz seu coração acelerar e viver feliz para sempre. Há sempre desafios, coisas e pessoas que as afastam. E se não forem fortes o suficiente tudo desaba. Se o sentimento não for forte o suficiente... Eu deveria esquece - lá, seria o melhor a se fazer. Agora não sou só eu, querendo ou não tenho um alguém comigo agora e pensar nisso me fez pensar no Nicolas. Eu deveria contar para ele? Claro, com certeza. Talvez minha vida não fosse mais a mesma depois daquele dia. Talvez tudo estivesse destinado a mudar de agora em diante.
*
Consegui assistir todas as aulas no dia seguinte sem passar mal. Resolvi ir para a escola. Afinal não adiantaria de nada não ir e já estava resolvido que assim que eu voltasse para casa iria conversar com o Nicolas e contar tudo e ainda tinha a minha mãe, suspeitas ela já tinha, mas certeza ainda não.
As aulas já haviam se encerrado e todos indo embora. Não vi a Hannah o dia inteiro, acho que ela nem veio pra escola hoje. A verdade é que minha cabeça estava tão lotada que eu mal conseguia raciocinar.
Sai da escola como vários alunos estavam fazendo, olhei para os lados antes de ir para o outro lado da rua. Caminhei em direção ao outro lado, mas sem querer meus olhos se cravaram na Cecília e eu não consegui desviar o olhar, mesmo que ela nem se quer me olhasse. Senti meus olhos marejarem por lembrar do que aconteceu no dia anterior, talvez nós nunca fossemos nem sequer amigas. Um som me chamou atenção me fazendo desviar o olhar dela e voltar minha atenção para a realidade. Foi tudo tão rápido que mal me lembro. Um carro. Uma pancada forte contra o meu corpo e tudo escureceu...
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