CAP 15
Marina Bittencourt
Desde o dia em que eu acabei descobrindo que a Cecília sente ciúmes de mim nada mais foi como antes, sinto que agora não sou a única que pode estar tendo sentimentos uma pela outra, mas mesmo assim não tenho idéia do que fazer agora. Eu deveria falar com ela? Ou simplesmente fingir que nada aconteceu? E se ela perguntar o que eu pretendia fazer naquele dia se nossos pais não tivessem chegado? E se eu tivesse feito, será que teria me arrependido? Não! Como poderia me arrepender de beija - lá?
Fico imaginando como deve ser sentir aqueles lábios contra os meus. Se vou conseguir parar assim que começar a toca - los, se vou conseguir pensar em qualquer outra coisa que não seja em nós.
— No que você está pensando? — Hannah diz batendo palmas bem na frente do meu rosto — Estou te chamando a horas — Diz e eu nego com a cabeça
— Até parece — Digo e ela me encara em expectativa — O que é?
— Você não respondeu a minha pergunta — Me levantei do sofá em que estávamos sentadas. Na sexta é aniversário da Hannah e eu prometi ajudar ela com os preparativos
— Temos coisas para fazer, não temos tempo para ficar jogando conversa fora — Disse dando alguns passos a frente, até que escuto ela me chamar e eu me viro para encara - lá
— Essas coisas podem esperar — Deu leves tapinhas no sofá — Quero saber o que está te incomodando
— Odeio o fato de você me conhecer tão bem — digo me sentando ao seu lado
— É uma pena — Disse dando de ombros — Mas então, conta logo!
— E-eu....
— E seja direta — ela me interrompe
— Está bem — Digo passando a mão pelos meus cabelos — Euachoquegostodacecilia — digo tão rápido que nem sei se ela conseguiu entender
— Você, Cecília, o quê? — Perguntou rindo — Está nervosa... espera! VOCÊ GOSTA DELA? EU SABIA!! — Disse tão alto que até às pessoas de outra cidade poderiam ouvir
— Fale baixo! — A repreendi — E foi isso que eu disse, acho que gosto dela — Falei sem jeito, ainda é difícil dizer em voz alta
— Se eu tivesse apostado estaria milionária agora — Diz e eu a encaro — Então eu fiz muito bem em convidar ela para a festa. Eu sabia que tinha algo rolando entre vocês duas, por que não me contou antes? Me sinto traída! — Cruzou os braços
— Nós não temos nada, tá bom? Mas depois que ela disse que sentiu ciúmes de mim tudo mudou, tudo....
— Pareceu se esclarecer — Ela completou meu raciocínio e eu assenti — E agora, o que você vai fazer? Pedir ela em namoro? Noivado? Ah! Você pode fazer uma serenata — Falava realmente empolgada
— O quê? Não! Nada de serenatas ou pedidos seja lá do que for — Digo negando com a cabeça. A Hannah tem cada idéia louca — Mas eu não sei o que fazer — Digo e ela da um sorriso
— Não se preocupe, eu tenho uma idéia. — ótimo, nada bom saí da cabeça dela
— Hannah...
— Não se preocupe, sua amiga cúpido cuidará de tudo, ninguém vai suspeitar de nada e ainda vai ajudar a animar a festa. Mas vou logo avisando — A encarei atenta — Quero ser madrinha do casamento — Disse e eu lhe dei um tapa no braço. Só espero que essa idéia dela não me traga problemas ou arrependimentos
— Sabe o que você pode fazer para me ajudar agora? — Falei e ela me encarou atenta — Queria um Milk-shake de chocolate com pasta de amendoim. Consigo até sentir o gosto na boca só de pensar e já tem tempo que eu quero um desses. Faz esse favor pra sua amiga vai? — Pedi juntando as mãos próximo ao rosto e fazendo um biquinho. A mesma apenas negou com a cabeça
— O que eu não faço por você? — Disse em seguida
*
A semana logo passou praticamente correndo e já era sexta. Durante os dias anteriores eu e a Hannah cuidamos de tudo para a festa, afinal eram seus 18 anos e temos que comemorar em grande estilo. O único problema é que os pais da Hannah não vão estar com ela nesse dia, que no caso é hoje, pois como na maioria das vezes eles estão ocupados demais com viagens de trabalho. O que significa que a Hannah está chateada e talvez possa fazer alguma besteira, é o que quase sempre acontece. Mas eu prometi estar do lado dela e vou cumprir. Preciso cuidar para que essa doida não apronte nada que possa botar sua vida em risco.
Ainda faltavam algumas horas para a festa então eu resolvi vir em casa para me arrumar, na verdade eu ainda estava deitada na cama desde que cheguei da casa dela, durante a semana eu senti muito sono, mas não tive tempo para dormir muito, agora acho que o cansaço da semana veio de uma só vez e agora tudo que eu mais quero é dormir, talvez só fechar os olhos para descansar não seja uma má idéia, vai ser rapidinho e logo eu levanto. Me aconchego mais na cama e fecho os olhos apenas para descansar um pouco, mas sinto eles pesarem e fica difícil de resistir e não cair no sono de imediato.
*
Sinto uma mão macia passar por entre meus cabelos, me remexo um pouco na cama, sorriu sem ao menos me dar conta por causa do carinho e abro os olhos lentamente. Meu sorriso se alarga quando vejo que era a Cecília, dona das mãos macias e ela me encara sem jeito e puxa a mão para perto de si, quando percebe meu olhar sobre ela.
— Achei que fosse dormir para sempre — Disse se levantando da cama na qual estava sentada — Bati na porta umas mil vezes e nada de você responder, cheguei a pensar que estava desacordada — Ela se preocupou comigo? Interessante. Analisei, enquanto a encarava.
— E o que você veio fazer aqui? — Perguntei calma me sentando na cama e passando a mão por meus cabelos para ajeitar
— Queria saber se vai a festa com a gente — a encarei confusa — Bom, os meus amigos também vão, já que a Hannah convidou todo mundo e já que a Valentina está aqui em casa, vamos juntas e quis saber se você viria também
— Claro, vou com vocês. Você e a Valentina são muito amigas? Você nunca me apresentou ela, só a conheço de vista — E se a Cecília gostar da Valentina? por um instante isso se passou pela minha cabeça
— Ótimo! — Disse animada — Ah e...claro, apresento vocês, nunca fiz antes por falta de oportunidade. Mas hoje sem problemas — Disse e ficamos nos encarando
— Então...eu acho que vou me arrumar — Digo ainda sem quebrar nosso contato entre olhares
— Claro, eu também deveria — Quebrou nosso contato entre olhares e saiu do quarto
*
Não faço a mínima idéia do motivo, mas estou nervosa. Estou me encarando no espelho pela décima vez, passo a mão pelo meu vestido vermelho que vai até o meio das minhas coxas para secar minhas mãos suadas — ou tentar — e passo um batom vermelho, vermelho é realmente uma cor que combina muito comigo.
Saio do meu quarto e vou até o da Cecília que fica um pouco mais a frente, bato na porta por duas vezes seguidas e nenhum sinal dela ou de sua amiga, abro a porta e o quarto está vazio, talvez ela já esteja na sala. Resolvo ir para lá, começo a descer as escadas, mas paro ao ver que ela vinha na minha direção.
Ficamos nos encarando sem dizer uma palavra, acho que nem era preciso. Ela estava linda, belíssima com seu vestido preto e cabelos soltos, seus olhos estavam com um brilho que eu nunca vi antes, mas que realçavam sua beleza a deixando encantadora, sorri sem nem ter um motivo válido, apenas por vê lá ali e ela fez o mesmo.
— Eu acho que se continuarem assim não vamos comer bolo — Com certeza era a Valentina, já que era a única ali além de nós duas
— Claro — Falei descendo as escadas e a Cecília fez o mesmo
— Deixa eu apresentar vocês, Marina, essa é a Valentina Mazza e Valentina essa é Marina Bittencourt. Oficialmente apresentadas — Cecília disse e sorriu de lado
— É um prazer finalmente conhece - lá Valentina — Disse sorrindo
— Igualmente. Agora entendo o motivo da minha amiga ter uma que..quero dizer, um penhasco por... — Dizia me analisando antes de ser interrompida
— Que engraçada você Valentina, muito engraçada. — Cecília disse a interrompendo, mas tenho certeza de que o que a Valentina iria dizer é que a Cecília tem uma queda por mim, sorri com a possibilidade, apesar da mesma ter interrompido a amiga — Vamos logo — Ela disse saindo em disparada na nossa frente
— Tenha certeza de que é recíproco — Disse baixo para que apenas a Valentina ouvisse, ela me encarou surpresa e logo sorriu e bateu leves palmas animada
*
Fui o caminho todo até a casa da Hannah conversando com a Valentina, realmente gostei dela. Bem animada e sempre dizendo coisas que deixavam a Cecília sem graça, o que era lindo de se ver.
Assim que entramos na casa da Hannah, me separei das meninas e fui atrás dela. A encontrei conversando com alguns amigos dela, acenei quando ela olhou na minha direção e ela fez um gesto com a mão para que eu fosse até lá, revirei os olhos pelo simples fato de que se eu quisesse ir até lá falar com uma certa pessoa em particular que estava perto dela, eu teria simplesmente ido.
— Não posso dar os parabéns a minha amiga sozinha? — Perguntei para ela depois de cumprimentar as pessoas que estavam por perto — Feliz aniversário, você sabe que eu te amo não é? — A abracei
— Eu sei — Disse ainda no abraço e nos afastamos quando um ser, no qual eu estava ignorando desde que eu cheguei aqui pigarreou
— Eu também quero um abraço desses — Disse Sebastian, esse cara é um mala, não larga do meu pé nunca. Parece que não sabe ouvir um não e olha que eu já disse de mil e umas maneiras
— Por acaso é seu aniversário? — Falei o encarando a contra gosto
— Não, mas não precisa disso pra se ganhar um abraço, precisa? — Se aproximou de mim e eu dei um passo para trás
— Precisa, comigo precisa sim — Disse cruzando os braços — Por que você não vai dar uma volta em? Procurar alguém que ature a sua companhia — Disse já sem paciência
— Não precisa falar assim Ma...
— Vai Sebastian, antes que piore pra você — Hannah disse e ele se foi
— Finalmente, estava vendo a hora de voar no pescoço dele — Disse entre dentes e ela riu — Você está uma gata, sabia? — ela deu uma voltinha fazendo seu vestido azul, belíssimo “flutuar” no ar
— Eu sempre fui — Disse e rimos. Mais pessoas começaram a chegar e ela precisou ir cumprimenta - los. Comecei a sentir uma leve tontura, pensei em ir até o lado de fora da casa, mas não gostava da ideia de ter que parar para falar com ninguém, resolvi subir para o quarto da Hannah, ela não se importaria e evitava qualquer pessoa de ficar no meu pé perguntando o que estava acontecendo
Cheguei no quarto da Hannah e fechei a porta, agora a tontura pareceu piorar, sentia que a qualquer momento poderia desmaiar. Fui até a cama da Hannah que estava próxima e me sentei, respirei fundo, mas parecia que não ia passar tão cedo, então resolvi deitar um pouco. Não era a primeira vez que eu me sentia assim. Mas o que quer que seja não quero pensar sobre agora, até porquê um sono absurdo pareceu tomar conta de mim e tudo que eu queria era fechar meus olhos.
*
Acordei ouvindo uma barulheira, o que me fez lembrar de que ainda estava na casa da Hannah e no aniversário dela.
— A HANNAH! — Falei em voz alta me sentando na cama. Acabei dormindo e esqueci completamente dela e da festa. Nem sei quando tempo eu passei aqui dentro.
Fui até o banheiro para olhar o meu estado e não estava ruim, só o meu cabelo que estava um pouco fora do lugar, parece que eu nem me mexi enquanto dormia.
Sai do quarto e dei um passo para trás quando percebi que a música estava bastante alta, o que não era de surpreender, afinal era uma festa, mas do quarto não parecia tão alta quanto agora, do lado de fora. Por um instante a música parou e as pessoas vaiaram, era a Hannah anunciando que começaria um jogo. O jogo de verdade ou consequência. Neguei com a cabeça quando ouvi ela dizer isso, não sei como me surpreendo, era óbvio que ela faria uma dessas.
Apressei os passos e gritei para que me esperasse quando a roda estava sendo formada.
— Espera! — Disse interrompendo a Hannah que iria explicar as regras do jogo — Não podiam começar sem mim não é? — Olhei rapidamente para ela sorrindo e quando desviei de seu olhar, fui de encontro com o da Cecília que estava bem a minha frente e me encarava. Desviei o olhar e Hannah logo me lançou um olhar rápido e travesso. Agora já sei o que ela quis dizer com "sua amiga cúpido cuidará de tudo, ninguém vai suspeitar" ao pensar nisso, senti meu coração disparar fortemente.
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