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CAP 12

Maria C.M. Ferri

Depois de passar boa parte da tarde de ontem com a Marina atrás de um documento para o meu pai, coisa que eu sei que foi armação dele para que eu e a Marina nos aproximassemos eu percebi que estamos bem melhores do que a algum tempo atrás. Não acho mais a companhia dela desagradável e consigo até me soltar quando ela está por perto, talvez sejamos boas amigas enfim algum dia.

Estava me arrumando para ir a casa da Valentina passar o dia, na verdade eu ainda iria esperar por ela já que ela se ofereceu para me buscar. Peguei minhas coisas e desci para a sala, ainda estava cedo - o que significa que estou evoluindo em não me atrasar - então pensei em assistir algo qualquer na televisão para passar o tempo. A campainha tocou e eu me levantei do sofá para abrir a porta, hoje é sábado e meu pai deu folga a todos os empregados e eu estava sozinha em casa, já que a Lívia e a Marina saíram a um tempo, sabe - se lá para onde. Fiquei curiosa para saber onde a Marina iria, mas sendo com a mãe dela então não deveria ser para nenhum lugar interessante.

— E eu achando que tinha me arrumado cedo. — Disse ao abrir a porta, mas não era a Valentina quem estava lá — Hum, você é a...? — Perguntei, mas ela não me era estranha, seu rosto me era familiar -

— Oi, sou a Hannah, amiga da Marina, ela está? — Perguntou simpática. Claro, amiga da Marina, estão sempre pra cima e pra baixo na escola. Me surpreendeu que ela tenha sido simpática já que ela parecia ser um tanto metida, digamos assim perante aos olhos -

— Sou a Cecília —Disse me apresentando — Entra! — Disse dando espaço para que ela passasse e a mesma agradeceu — A Marina não está, saiu com a... Lívia — Disse e ela assentiu — Não devem demorar, você quer esperar? — Perguntei apontando para o sofá -

— Pode ser, mas você está de saída? — Perguntou antes de se sentar -

— Sim, mas digamos que eu tenha me adiantado um pouco — Disse rindo — Então sem problemas, te faço companhia até ela chegar -

— Tem certeza? — Perguntou e eu assenti. Logo um silêncio se instalou entre nós, estava começando a ficar incomodada -

— Você parece simpática. — Disse quebrando o silêncio, tá eu não levo jeito com essas coisas, sou péssima, mas ao menos estou tentando — Digo, não era essa a impressão que eu tinha sobre você. — Disse e ela me olhou curiosa -

— É mesmo? — Perguntou divertida — E qual era a impressão que você tinha de mim? Engraçada? Inteligente? — Disse e eu até pensei em mentir quando fosse lhe responder, mas acontece que eu sou péssima nisso, então disse a verdade de uma vez -

— Não, sem querer que se ofenda eu achava você metida, sabe? Meio antipática. — Disse e ela me encarou surpresa — Mas como eu disse: não se ofenda. Só nessa nossa pequena conversa já percebi que você não é assim — Disse e a expressão dela suavizou -

— Fico feliz que não pense mais de mim assim. — Disse — E você parece interessante — Disse meio que me analisando -

— Se isso for bom eu agradeço — Disse sem jeito -

— Não fique sem graça, isso não é ruim. — Disse sorrindo — Você gosta de festas? — Perguntou -

— Não muito. Você gosta? — Perguntei -

— Ah! e como gosto — Disse animada — Mas eu sei de uma que você vai gostar bastante, vou fazer você mudar sua opinião sobre festas — Disse e eu neguei com a cabeça -

— Duvido muito — Disse e ela arqueou as sobrancelhas -

— Isso me parece um desafio — Disse intrigada com um sorrisinho no canto do rosto — E digamos que eu não sou do tipo que gosta de perder -

— Mas nem tudo é como a gente gosta. — Disse e ela concordou -

— Verdade. E a Marina? — Perguntou e eu a encarei confusa -

— O que tem ela?

— Vocês são amigas? Acontece que ela não me fala muito de você

— Talvez não tenha nada para dizer e não, nós não somos amigas. — Disse e estranhamente isso me incomodou um pouco -

— Hannah?! O que faz aqui? — Marina perguntou olhando para sua amiga e depois para mim e eu nem ouvi a porta sendo aberta, talvez eu nem tenha fechado -

— Eu sei, eu deveria ter avisado que vinha. — Hannah disse se levantando -

— Aconteceu alguma coisa? — Marina perguntou se aproximando -

— Nada, agora precisa de motivo pra que eu veja minha amiga? — Perguntou bem humorada -

— Não, claro que não. Só estou surpresa. — Marina disse — E sobre o que vocês conversavam? — Perguntou e eu e Hannah nos olhamos -

— Nada demais — Dissemos juntas -

— Está bem. — Marina disse parecendo desconfiada -

— Lembrando agora que eu preciso conversar com você, onde você estava? Cadê a sua mãe? — Hanna perguntou se aproximando da Marina mudando o assunto e só agora eu percebi que a Lívia não estava -

— Estava no trabalho do Ricardo e quando saímos eles resolveram sair juntos —Respondeu e olhou para mim se aproximando — Seu pai mandou um beijo — Disse me surpreendendo com um beijo estralado na bochecha me fazendo a encarar surpresa e me fazendo sentir uma estranha sensação na barriga -

— O.. obrigada. — Disse sem jeito -

— Me desculpe, eu não deveria....

— Está tudo bem, não se preocupe. — Disse sorrindo para tranquiliza - lá. Eu até que gostei, só fui pega de surpresa. Ficamos nos encarando sem nem se mexer, era como se estivéssemos congeladas e apenas as nossas respirações eram ouvidas. -

— Gente, eu ainda estou aqui. — Hannah disse fazendo com que o nosso contato entre olhares fosse quebrado -

— Vamos para o meu quarto, a gente pode conversar lá — Marina disse ficando ao lado da amiga e a campainha tocou, agora com certeza era a Valentina -

— Eu abro — Disse e caminhei na direção da porta -

— Pensou que eu não viesse mais? — Valentina perguntou rindo e eu a acompanhei -

— Por incrível que pareça isso nem se passou pela minha cabeça — Disse olhando para dentro de casa, mas o que estranhemente meus olhos procuravam não estava mais ali. -

*

Chegamos na casa da Valentina e durante o Caminho eu tinha lhe contado sobre o que aconteceu antes de que ela chegasse, que conheci a Hannah e sobre o beijo que a Marina me entregou a pedido do meu pai.

— E o que você acha que significa? — Perguntou quando entramos na sua casa, era realmente grande e bem espaçosa -

— O que significa o quê? — Perguntei confusa -

— A sua sensação estranha na barriga — Disse fazendo uma voz misteriosa -

— Não sei, você acha que significa alguma coisa? — Perguntei e ela riu -

— É sério? — Disse rindo e eu assenti — Está bem, pode significar muitas coisas. Ou você estava com dor de barriga, ou foi só pelo susto, ou...

— Ou..? — Disse e a mesma se sentou no sofá e eu fiz o mesmo -

— Ou você gosta da Marina. — Disse simplesmente. Gostar da Marina? O quê? Ela está louca? Isso não tem o mínimo de lógica! Eu, gostando da Marina? Claro que não! -

— Você só pode....

— Tininha, eu estou saindo. — Uma voz feminina se fez presente na sala, me impedindo de completar minha fala. Me levantei e virei na direção da voz e Valentina fez o mesmo -

— Mãe, aonde vai? — Valentina perguntou. Sua mãe tinha cabelos loiros como os seus, olhos verdes como os seus, a mãe da Valentina era uma cópia dela, ou a Valentina era uma cópia da mãe -

— E quem é essa? — Perguntou animada se virando para mim - sua namorada? — Perguntou e eu arregalei os olhos e segurei o riso -

— Mãe! — Valentina a repreendeu -

— Ela é tão linda — Disse se aproximando de mim — Você é tão linda, querida. Como se chama? — Perguntou tocando meu cabelo -

— Obrigada pelo o elogio, a senhora é belíssima. -

— Sem o senhora, por favor. Quanto anos acha que eu tenho? 50? — Disse surpresa — Vou te contar um segredo — Disse se aproximando mais de mim - eu ainda não passei dos 30 — Disse sussurrando e Valentina fez uma cara de "você não acredita nisso não é?" -

— Deixa a Cecília mãe. —  Valentina disse me puxando para o lado -

— Cecília, que nome lindo. Combina com você — Disse admirada — Eu só estou tentando conhecer sua namorada Valentina, você deveria me avisar que ela viria, assim eu não teria marcado um compromisso e agora o que ela vai pensar? — Disse chateada -

— Ela não é....

— Só um minuto. — A mãe da Valentina disse a interrompendo, indo atender o telefone -

— Ela é sempre assim? — Perguntei rindo, realmente achei tudo isso divertido -

— Sempre — Disse colocando a mão no rosto — Me desculpa por ela — Valentina disse -

— O quê? Eu amei a sua mãe, tão divertida. — Disse ainda rindo -

— Divertida? Ela me mata de vergo....

— Preciso ir! — A mãe da Valentina disse já na porta a interrompendo — Não aprontem em meninas — Disse nos lançando um olhar malicioso e eu não pude segurar o riso — Volto mais tarde — Disse saindo, sem esperar qualquer resposta -

— Está vendo? — Valentina disse meio irritada — Não ri — Disse me dando um tapa no braço -

— Aí! — Disse passando a mão no local — Por que está tão irritada? — Perguntei agora segurando a risada -

— Como ela pode pensar que você é minha namorada? — Disse se jogando no sofá -

— O quê? Você me acha pouca coisa? — Disse fingindo estar Indignada -

— O quê? Não, não é isso — Disse e eu comecei a rir do seu nervoso — Para de rir — Disse jogando uma almofada na minha direção -

— Qual o problema então? — Disse parando de rir e me sentando ao lado dela, que agora estava sentada -

— Você não se incomodou? — Perguntou e eu neguei com a cabeça -

— Nem um pouco

— Sério? — Perguntou e eu assenti — É que não é a primeira vez que isso acontece — Parecia estar chateada e eu segurei sua mão em sinal de apoio — Uma vez... Eu perdi uma amiga por causa disso. A minha mãe com esse... jeito dela de ser, fez a mesma coisa que fez com você hoje. E essa minha amiga não gostou nada, por isso eu agi assim, achei que você fosse agir do mesmo jeito. — Disse começando a chorar -

— Ei, está tudo bem. — Disse a puxando para um abraço — Eu não sou igual a essa que se dizia ser sua amiga, eu jamais ficaria chateada com você por algo assim — Disse e ela me encarou, se afastando do abraço -

— Mesmo? — Perguntou insegura -

— Claro que sim! Somos amigas, e amigas não saem da vida uma da outra por uma coisa que não passa de uma brincadeira como essa. — Disse secando as lágrimas de seu rosto — Ela nunca foi sua amiga de verdade, se fosse nunca teria desistido de sua amizade por uma coisa tão boba como uma coisa dessas. — Disse e ela me abraçou novamente -

— Fico feliz de que você não seja igual a ela. — Disse desfazendo o abraço -

— Eu também, fico feliz de ser única, de ser eu mesma. — Disse e ela sorriu — E você deveria fazer o mesmo, não deve se procurar com o que as pessoas pensam, não quando isso tira seu sorriso do rosto. Agora vamos nós animar — Disse me levantando — E eu tô com fome, você não quer me ver de mau humor não é? Então acho bom me alimentar — Disse rindo e ela me acompanhou com uma gargalhada -

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