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Aprendendo a Gostar de Garotas

Aprendendo a gostar de Garotas

Época de fim de ano. O que as pessoas fazem no Natal? Ficam com a família, comem bastante, dançam, cantam felizes. Todo mundo faz isso, né? É, eu acho. Menos eu.

Eu tenho que participar de brincadeiras de Amigo Oculto que detesto. Tenho que ir à escola nas vésperas do Natal. Tenho de ajudar com decorações e com compra de presentes alheios (para pessoas que nem conheço, inclusive). Família é o de menos. Vejo quase todo mundo quase todo dia. Quando o dia é santo mesmo, eu não preciso ficar me esforçando para ficar grudado neles, preciso? Acho que não.

Mas bem que eu trocaria algumas dessas atividades por uma tarde na casa da vovó. Infelizmente, não posso. Tudo porque elas praticamente me obrigaram a fazer outras coisas.

A elas eu me refiro à, primeiro, minha mãe.

– Você tem que participar. Vai ser o único da sua classe que não vai? Você que não gosta que falem da sua pessoa vai ser o motivo de todas as rodinhas de conversa quando as aulas voltarem...

Ela repetiu essas frases tantas, mas tantas vezes que eu tive até que concordar. Em algumas partes ela estava certa. Comentariam sobre a minha recusa durante todo o ano seguinte. Talvez até durante todo o período de três anos que eu ainda teria de passar no colégio. E, afinal, eu nunca havia me recusado a nada, mas nos últimos meses minha vontade de passar um tempo a mais com aquele pessoal era nula. A maioria deles me irritava bastante.

A segunda, Maria.

– Se você não participar, – ela falava, escrevia em papeis, em e-mails, no Skype e no Facebook – eu nunca mais vou conversar com você. Vou até pedir para me mudaram de carteira na sala. Talvez até de turma!

Se eu não a conhecesse tão bem nem ligaria para as ameaças. Mas eu conhecia e sabia que ela estava falando sério. Se eu não a tivesse na sala para me fazer companhia, quem faria? Ela era a única garota com quem eu tinha o mínimo de conversa, até de respeito e socialização. Se eu não dependesse dela para muitas coisas (inclusive para todas as próximas provas de história), eu teria rido na cara dela da primeira vez que ela tivesse me ameaçado.

Mas eu não ri. Eu aceitei que colocassem meu nome num papelzinho dobrado para ser sorteado durante a aula de português, a última antes das provas finais, há mais ou menos três semanas. Depois disso, foi só drama.

Tá, deixa eu explicar.

Essa é uma tradição da minha turma no colégio. Todos os anos a gente faz um Amigo Oculto de Natal. Já virou tradição mesmo porque... bom, somos a mesma turma desde o início do ensino fundamental. Contando que estamos no início do ensino médio, isso soma uns... sei lá, cinco anos? Mais ou menos isso. Sempre sorteamos no início de dezembro e as entregas são sempre no dia 24 – tirando no ano passado, que foi no dia 23 porque as mães de uns cinco alunos pediram à diretora para adiantar, por causa das viagens de fim de ano.

Isso mesmo. A coisa é tão sério que até nossos pais se envolvem.

E aí é que minha mãe entra, porque ela simplesmente adora essa época do ano. Ela adora participar da festa, de organizar a decoração, de ficar especulando quem tirou quem. Essas coisas bem mulherzinha mesmo.

O fato é que eu tenho que acompanhá-la em tudo isso, querendo ou não, e isso me irrita ainda mais. Os filhos tem de participar das atividades que os pais foram sorteados para colaborar. Por exemplo, a mãe da Maria ficou responsável pela comida, então ela também tem de ajudar – ou efetivamente fazendo a comida, ou organizando as coisas nessa área. (Por favor, que ela tenha preferido organizar! Se não, realmente passarei fome!)

Todo mundo adora e se reúne e se abraça e finge que o ano todo ninguém quase se matou por diversos motivos idiotas . Desconheço qualquer classe em que isso aconteça – tanto o Amigo Oculto quanto essa falsidade tão descarada. Mas é isso o que vivo.

Então no dia 24 eu teria de levar o presente do meu amigo oculto, fazer parte das celebrações e ficar lá na escola até de tardinha, quando nossos pais viriam nos buscar.

Sabe, depois de um tempo eu comecei a pensar que eles gostavam tanto dessa nossa "celebração" porque era o único momento nesse período em que ficávamos longe deles. O único momento no qual eles realmente podiam festejar – ou comprar nossos presentes sem serem vistos, tanto faz.

Minha mãe não. Eu sabia que ela ficava feliz e ansiosa mesmo era com a expectativa do amigo oculto.

– Você sabe quem a Maria tirou? – ela perguntava e eu, pela milésima vez, dizia que não. – Ah, mas você deve ter uma noção, Luiz! Não é possível que ela não ia te pedir nenhum conselho, se não tivesse saído com um dos garotos! Ou então ela saiu com uma das meninas? Você foi ao shopping com ela fazer as compras ou vocês compraram separado? Claro que não, né? Você não consegue nem escolher que roupa usar, quanto mais um presente para alguém! Me diz, você desconfia com quem ela tenha saído?

Mãe! – ela estava cantarolando pelo apartamento. Não havia um lugar silencioso nem para ouvir meus próprios pensamentos na minha casa! – Eu já disse que não sei com quem a Maria saiu! Qual o sentido de ser oculto afinal se eu ficar especulando?

Ela parou e fez uma cara de horrorizada, como se eu tivesse acabado de contar que joguei uma bomba em algum lugar, assassinei uns filhotinhos ou perdi média no semestre.

Depois, bem devagarzinho, balançou a cabeça para lá e para cá. Aquela negativa de quem pensa "fiz tudo errado".

– Você jamais poderia ser uma garota, meu filho...

E saiu fazendo muxoxo. Sei que a alegria voltaria em poucos minutos, mas a constatação me fez revirar os olhos.

– É claro que não. E ainda bem! – resmunguei para mim mesmo. E para a TV ligada, claro. – Não entendo e não gosto de vocês. Menos ainda a cada dia que passa...

Sorte a minha que, pelo menos no Amigo Oculto, eu havia tirado o nome de outro menino.

Não gosto de garotas. Desde pequeno tenho um trauma gigantesco com meninas e suas meninices. Minha prima mais velha, a Juliana, era mestre em me deixar sem graça e contar fofocas para todos os meus parentes. Todas as minhas vizinhas – e eram somente meninas, para meu deleite – insistiam em me bater, ou grudar chiclete no meu cabelo, ou me beliscar todas as vezes que me viam. Nas festas de aniversário, as meninas tinham sempre atenção especial – é roupa nova, cabelo diferente, maquiagem, sapato.. argh! –, mesmo que o aniversário fosse seu.

Fora que todas as espécimes do sexo feminino da minha classe eram das piores possíveis: meio riquinhas, metidinhas, filhas de papai cheias de frescura. A única que se salvava, um pouco, era a Maria. E ela nem era minha vizinha, nem da minha família nem nada para ter me salvado durante os dez anos que vivi sem conhecê-la. Ela só salvava 0,3% da minha sala, já que éramos 30 alunos e ela era a única que – como já contei, alias – mantêm o mínimo de socialização comigo.

Desconfio de que é só porque se senta, e sempre se sentou, na carteira à minha frente. E porque temos o mesmo segundo nome, coisa que ainda é motivo de piada sem graça entre muita gente na classe.

"Ah, Luiz Eduardo e Maria Eduarda, que bonitinho! Vocês formariam um lindo casal, sabia?!" Esse tipo de brincadeirinha, que só faz com que eu me irrite ainda mais, já que é algo que nunca aconteceria. Tanto ela quanto qualquer pessoa com olhos abertos o suficiente consegue enxergar que é uma cogitação impossível. Mas deixa eles sonharem, né? Não tem mais gente criando piadas novas no mundo, então é preciso se virar com as mesmas antigas.

Enfim.

– Já estamos atrasados,mocinho!

Minha mãe está imersa em mais um de seus rituais: reclamar comigo, passar maquiagem e andar descalça pelo corredor do apartamento enquanto dá ordens. – Vê se eu desliguei a luz da varanda? E se a porta está fechada, por favor? Senão a Catarina vai fugir de novo. Coloca as chaves do carro perto da porta e, ah!, pega aquela sacola azul que tá perto da minha cama? É pra levar pra casa da sua vó, pra eu não ter que passar aqui antes de irmos...

Claro que tudo o que ela diz são coisas que já foram feitas. Três vezes. Eu só fico esperando ao lado da porta, com as mãos no bolso e o olhar de paisagem.

– Já fez tudo o que pedi? – ela aparece no corredor. Reviro os olhos.

– Já. Você não disse que estamos atrasados? A culpa definitivamente não é minha.

Ela balança os cabelos no ar e vai correndo em direção ao quarto. Ouço o barulho de saltos na madeira e logo ela aparece de novo, se equilibrando nos dez centímetros e colocando os brincos por último.

Minha mãe é jovem e bonita. Recebe milhares de olhares e cantadas todos os dias. Também, com as roupas que ela usa, não é de se espantar.

Outra coisa que não gosto nas garotas: como elas chamam atenção de todo mundo mesmo sem querer, ou precisar. Minha mãe não precisa chamar a atenção de ninguém, mas isso inevitavelmente acontece.

– Tem certeza de que vai usar esse vestido? – pergunto, já dentro do carro. Ela coloca a chave na ignição e para para me encarar.

– Por que? – ela olha para baixo, para ver as pernas saltando do pano minúsculo. – Ah, não. Acha que está muito... vulgar? Quer dizer, não está muito curto, está?

Levanto as sobrancelhas e os ombros ao mesmo tempo, sem olhar muito para o tanto de pele que ela está mostrando.

– Você sabe que os pais de todo mundo vão estar lá, então você quem sabe. – viro para a janela. – Mas depois vamos para casa mesmo...

Ela liga o carro e passa a mão no meu ombro.

– Você é um amor, Lulu, mas eu sei exatamente com quem você está preocupado. – ela manobra o carro na garagem e se vira para mim enquanto aperta o controle da garagem. – Não vou levar as cantadas do pai da Juliana a sério. Nem vou te contar caso ela resolva me chamar para sair de novo, pode deixar.

Respiro fundo e me viro para a janela de novo. Ela dá uma risada gostosa e pisa no acelerador.

Nós temos esse tipo de relacionamento, sim. Ela é mãe solteira e eu sou seu filho adolescente, o que mais poderia sair daí?

Já na escola, vejo que todo mundo já está de posse de um copinho de refrigerante e muita fofoca nos lábios. Faz só uma semana que não nos vemos – e alguns de nós, nem isso! Eu, por exemplo, havia visto a Maria três dias antes, quando fomos ao shopping comprar os presentes – mas parece que para alguns faz mais de ano!

Deixo minha mãe no hall da escola, onde os pais estão se cumprimentando. Eles ficam por lá por mais ou menos uma meia hora, depois cada um segue seu rumo. Nós ficamos na quadra coberta nos fundos do colégio até as cinco da tarde, quando eles tem de voltar para nos buscar. São onze horas da manhã. Me respondam: como sobreviverei pelas próximas seis horas?

Todo mundo tem sua panelinha, seu grupinho de conversa. Quando chego à quadra, eles já estão formados. Todo mundo se encaixa direitinho, menos eu. Acho que sou uma espécie rara de ovelha negra, porque não consigo me misturar. Dou uns "olás" por aqui e ali, mas não é como se eu quisesse ou até pudesse me infiltrar no meio das conversas.

Avisto a Maria sentada numa cadeira de plástico perto da barraquinha de bebidas, no fundo da quadra, e é para lá que eu vou depois de tentar não ser tão criticado durante as férias. "O Luiz é antissocial, o Luiz é muito estranho, ele só fica calado, não fala oi pra ninguém..." e  blablablá.

– Oi. – cumprimento-a antes de puxar uma cadeira e me sentar também, de braços cruzados. Noto que ela não devolve a gentileza. – Não está feliz em me ver? Ou pelo menos surpresa?

Ela revira os olhos.

– Dá um tempo, Luiz. Sabia que você viria. Não perderia minha amizade por nada, nem por um Amigo Oculto de fim de ano que você já deveria estar acostumado a participar...

Logo se vê que o humor não está lá para os melhores. Ela está usando um vestido branco de renda e fico tentado a comentar o fato, já que sei que ela nunca usaria saias se não fosse obrigada. Mas resolvo deixar o comentário guardado para uma ocasião melhor.

Não me leve a mal. A Maria tem um ar de menina levada e rebelde ao mesmo tempo que simplesmente não combina com a delicadeza do vestido. Seus cabelos são curtos e espetados para fora, com algumas mechinhas coloridas que ela prende por baixo dos fios normais. A cor varia de acordo com sua disposição para pintá-las e com seu humor. Hoje ela está usando algumas na cor roxa.

– De luto? – pergunto para puxar assunto. Ela se vira e franze a testa. Aponto para o cabelo e ela suspira, bebericando do refrigerante.

– Dá um tempo mesmo, Luiz...

Levanto as sobrancelhas, mas antes que eu possa descobri o que fiz de errado, ela empurra a cadeira para trás e fica de pé, ajeitando a renda do vestido comportado.

– Por que não vai ver o que os meninos estão falando? As vezes é alguma coisa diferente de futebol dessa vez. – ela sugere e aponta com a cabeça um grupo de uns sete garotos que ri e faz uma garrafa de coca rodar entre eles.

Ela sabe que não gosto de ficar no meio da roda deles justamente por causa do assunto. Parece que não cabe mais nada naquelas cabeças ocas a não ser futebol e garotas. Duas coisas que eu detesto.

Percebo que ela não para de vasculhar a entrada, os outros grupinhos, as pessoas em geral...

– Ei. – Chamo a atenção dela. – Tá procurando alguém ou é impressão minha?

Diferente dos anos anteriores, havia muito mais "pessoas de fora" por ali. No ano passado também havia, mas hoje parecia haver mais. As pessoas podiam levar alguns parentes, caso quisessem, para a troca de presentes, já que muitos recebiam primos e primas nessa época do natal e não queriam deixá-los sozinhos. E era exatamente isso o que faziam – e estavam fazendo, aliás. A quadra estava ficando cada vez mais cheia, e eu achando que todo mundo já estava aqui!

– Você não trouxe ninguém? – ela mudou de assunto, parecendo nem perceber que eu havia perguntado algo. – Cadê seus primos?

Sabia que ela estava se referindo aos meus dois primos mais velhos que estudavam no mesmo colégio, um ano a frente de nós. Eles apareceram de penetra na festa do ano passado e todo mundo gostara das brincadeiras deles (menos eu, claro).

Dei de ombros.

– Você trouxe alguém? – ela ficou calada, mas era um silêncio estranho. Descruzei os braços e me levantei para falarmos mais baixo e mais perto um do outro. – Não me diga que convidou aquela sua prima que vem sempre passar o Natal aqui? Que você levou lá em casa e que ficou apertando a Catarina até ela arranhá-la toda? E ainda ficou reclamando depois...

Ela bufou de insatisfação e cruzou os braços.

– Não, Luiz Eduardo. A Angélica não veio esse ano. E pode deixar que eu não levo mais ninguém na sua casa durante as férias. Vou passar janeiro bem longe da sua gata. – depois, sem muita explicação, ela terminou o refrigerante e me olhou com total desprezo. – Vou dar uma volta.

E saiu marchando entre as pessoas.

Viu só? É por isso que não gosto de meninas. Elas são muito inconstantes, não dá pra entender!

O jeito foi tentar me enturmar no único grupo dos meninos que eu conseguia ser até bem-vindo. Andei até uma parte isolada da quadra onde eles estavam e mandei um oi pra todo mundo. Eles me devolveram com cumprimentos distantes, mas todo mundo parecia meio distante, fora de órbita, então eu só me juntei a eles. Recostei na tela de proteção da quadra e fiquei com meu refrigerante observando as pessoas.

No centro da quadra estava aquele grupo de sete meninos barulhentos e chamativos, cercados de meninas igualmente chamativas. Elas levavam suas primas e irmãs para serem apresentadas com três beijinhos no rosto e ficavam por ali, para levantar o ego deles.

Isso me fazia ter ânsia de vômito, falo sério. Por que a gente iria precisar delas pra nos fazer sentir bem? Não era nem natural, nem agradável! Totalmente sem sentido, quem inventou uma lógica dessas.

– A irmã da Natália é bonita. Acha que o Carlos vai dar em cima dela durante ou depois da festa? – Diego, um cara de óculos redondos que estava ao meu lado, lançou a pergunta.

– Já devem ter trocado até número de telefone, besta. – Era a vez do Pablo, o de camiseta de banda de heavy metal.

– Já devem estar até procriando, se querem saber minha opinião. – e esse era o Marcos, o que estava se afogando no refrigerante de laranja.

Os três formavam o grupo dos excluídos da sala. Eles me aceitavam esporadicamente, sabe, porque não era bem a minha praia ficar remoendo o que os outros tinham e eu não.

Por exemplo, eu até ficava feliz pelo Carlos, já que ele parecia realmente feliz com a irmã da Natália. Eu é que não gostaria de estar no lugar dele, com aquelas meninas grudentas passando a mão no meu pescoço...

Instintivamente fiz uma careta e levei a mão à nuca. Suspirei. Aquilo era tortura demais.

– Quando acham que vão começar o Amigo Oculto? – perguntei. Nenhum deles sabia, mas foi um bom gatilho para falarem sobre presente de Natal, ceia, o que iriam fazer no fim do ano e etc. Dois dos três iam passar o Natal na casa de parentes e o ano novo também, tendo de aguentar a gritaria dos primos menores.

Me identifiquei com a situação, mas não quis aprofundar muito o assunto. Continuei olhando para o grupo dos populares. Ao lado do Carlos, o famigerado líder, estava seu braço direito que não parecia lá muito contente pelas bajulações Ele era o único que estava meio deslocado, que não falava muito e que preferia o gosto do refrigerante ao do batom das meninas ao redor, eu (quase) sabia. Ele estava concentrado no copo que segurava e em manter o amigo, que também era primo, distante de confusões. Ele sempre fazia isso, afinal. Era o anjo da guarda, o gênio bom, o conselheiro.

Eu até sentiria pena, se não sentisse outra coisa.

Acho que quando a gente olha demais, tende a atrair o olhar de volta, né? É o que minha mãe diz. E é o que sempre acontece.

Daniel levantou os olhos e deu de cara com os meus. Minha mão ainda estava na nuca e eu senti necessidade de deixá-la lá, para que fizesse os pelos se abaixarem. Nem ele nem eu desviamos o olhar enquanto tomávamos nosso refrigerante, e isso foi bastante constrangedor, diga-se de passagem. Ele tendia a me encarar de maneira muito profunda, digamos. Não era a primeira vez que acontecia, e nem seria a última se dependensse de mim. Ele só parou quando uma das meninas o chamou de lado.

Eu suspirei. Ia ter que dar um jeito naquilo. Afinal, ele era meu amigo oculto.

Lá pelas 13 horas, eles serviram o nosso "almoço de Natal". Havia um monte de mesinhas e cadeiras de plástico e nós tivemos todos que nos separar em grupos de quatro. Então, muita gente acabou sentando com pessoas que não estavam no seu grupinho normal. Eu fiquei na mesa com o Diego, o Pablo e o Marcos. Mas de longe vi que a Maria tinha se sentado na mesa da Natália e do Carlos e da tal irmã da menina mais irritante da minha sala.

Achei aquilo deveras inesperado, mas aproveitei o momento de aparente silêncio pra pode comer. Afinal, pelo menos isso eu tinha que fazer ali de bom. Algumas pessoas foram cumprimentá-la, a Maria, por causa da comida e tal, já que naquele ano ela e a mãe haviam organizado tudo (e não preparado de fato, porque eu sabia muito bem que na cozinha ela não chegava nem perto!).

Pensei em ir fazer o mesmo. Em ir cumprimentá-la e tal, mostrar um pouquinho de civilidade, mas desisti só de escutar a voz da Natália. Garota mais que irritante! E pedante! Ela não queria largar do pé do Carlos, coitado. Ele até parecia estar se divertindo, mas estava ignorando a Maria totalmente. Aliás, todos estavam. Não sei porque ela ainda permanecia sentada naquela mesa...

Comemos e fui buscar mais refrigerante quando a Maria resolveu fazer o mesmo. Topei com ela na barraquinha e dei uma cutucada de leve, só pra puxar assunto. Ela mostrou ar de cansada e suspirou.

– Por que está gastando o resto da paciência, que parece não ser muita, naquela mesa lá? – sussurrei para que só ela escutasse.

Pensei que ela fosse rir e fazer algum comentário irônico, mas pelo contrário, ela cruzou os braços e olhou pra mim de boca aberta, com a maior indignação do mundo.

– Porque, Luiz, ao contrário de certas pessoas, eu tento me enturmar! – ela resmungou algo mais, mas fiquei chocado demais para tentar decifrar. Perguntei o que havia feito de errado e porque ela estava me tratando daquele jeito, mas só o que tive como resposta foi mais puxão de orelha. – Você deveria enxergar que ano que vem nós estaremos no ensino médio, Lu. Ensino médio é tipo um grau acima na escala da evolução, e a gente tem que escolher bem como quer ser visto na sociedade, saca? Escolher com quem tu anda, é dizer quem tu és. Nunca ouviu esse ditado não?

– Espera. – eu me afastei, fiz um drama e olhei ela de cima a baixo. Vestido de renda, sapatilha azul com lacinho. Cabelo levemente arrumado e, agora notando com mais força, havia menos mechas coloridas que o normal. Nem estava visível direito pela cor do próprio cabelo ser escura. E ela estava usando o quê? Brilho labial?! – Quem foi que sequestrou a Maria Eduarda?! Ou abduziu, sei lá! Porque essa aqui não é a que eu conheço, não!

Ela demorou um pouco para responder, aparentemente mais nervosa ainda, e depois ainda me empurrou de leve pra longe pra poder passar em direção à barraquinha e pegar o refrigerante sem mim.

– Quer saber, Luiz? Você sempre teve razão numa coisa: você não entende. E pelo jeito não vai fazer nenhum esforço pra entender, mesmo eu falando milhões de vezes.

Eu tive que sair da frente dela, ou ela me atropelava de vez. Fiquei sem reação na hora, mas acompanhei-a no refrigerante e dele até a mesinha em que ela estava sentada tentando arrancar alguma coisa. No fim das contas, ela só pediu para que eu me afastasse e que "crescesse". Ela ia se sentar com o Carlos e a Natália e não comigo porque eles entendiam. E me deu as costas.

Assim, sem mais nem menos, na véspera de Natal, minha melhor amiga havia me dado o maior fora de todos os tempos.

Anunciaram a entrega dos presentes para às 15 horas, depois que todo mundo já tivesse almoçado e depois que desse tempo de limparem a quadra um pouco pra gente poder se sentar no chão mesmo. As meninas protestaram, claro, mas a diretora, que acompanhava tudo de perto, não deu nem opção.

Nesse meio tempo eu resolvi curtir o que a vida tinha de melhor naquele momento: eu mesmo. Saí da quadra e fiquei sentado no banquinho de madeira que tem por toda a extensão da parede do prédio. Estava ameaçando chover, então eu sabia que nenhuma das meninas ia sair para correr o risco de estragar o cabelo.

Apesar de eu não gostar delas, eu bem que sabia muita coisa sobre elas. Eu só não conseguia decifrar o que a Maria queria dizer com o "entender" dela. Poxa, eu sabia que ela às vezes tinha essas crises de querer ser popular, de querer sair com o pessoal mais descolado e tal. Mas tinha que ser justo ali, na festa de fim de ano da classe e na frente de todo mundo? Não podia ter esperado pra fazer isso no ano que vem não?

Meu Natal já estava começando a ficar mais que péssimo. Pensei em ligar para minha mãe pra que ela me buscasse, mas eu ainda tinha que entregar o maldito presente. Como se lesse minha mente, segundos depois de eu ter pensado naquilo, o Daniel apareceu.

Se materializou do nada do meu lado, do lado de fora da festa, e se sentou no banco a uns vinte centímetros de distância.

O Daniel era o único que não estava conosco desde o fundamental. Ele era primo do Carlos, um primo de segundo grau ou coisa assim, e havia se mudado para a cidade por questões familiares que eu desconhecia. Isso havia acontecido dois anos antes e, nesses dois anos de convivência, por assim dizer quase que diária, nós não havíamos trocado muitas palavras. Mas eu o conhecia pelas suas ações. Todo mundo conhecia.

Ele era diferente do primo, não falava muito e não chamava muita atenção pra si. Só andavam juntos por causa do futebol, que praticavam e eram do mesmo time, e por serem parentes mesmo. Pelo menos era o que eu achava. Ele era o mediador das discussões de todo mundo do time, era o que apaziguava as situações, o que achava a solução mas nunca levava os créditos. Injustiçado, era essa a palavra que costumava usar para descrevê-lo.

Desde o começo eu meio que havia sentido. Ele era diferente. Ele se destacava, mesmo sem querer.

Nós ficamos ali, sentados em silêncio ao ar livre ouvindo a musiquinha de Natal que tocava dentro da quadra. Meu celular se revirando na minha mão enquanto meus olhos iam da grama crescendo no chão aos meus pés.

– Acha que vai demorar?

Eu que demorei uma vida para perceber que ele estava puxando papo comigo, demorei mais outra vida para entender do que ele estava falando.

– O que? – perguntei, meio desleixado. O celular quase caiu.

– Os presentes. Acha que vai demorar mesmo duas horas pra gente terminar tudo? – ah, o amigo oculto. – Quero ir embora logo...

A última frase ele, acho, não pensou que tivesse dito em voz alta, mas eu o compreendia totalmente e fiz questão de dizer que sentia o mesmo.

– Você gostou de quem tirou? – perguntei, realmente curioso pela resposta.

Ele subiu os ombros.

– Poderia ter sido pior.

Nós rimos. Ele falou algo sobre presentes de Natal, e depois sobre a hipocrisia das pessoas e voltou ao assunto do amigo oculto.

– Você gostou? – ele perguntou, olhando diretamente pra mim daquela vez. – De ter tirado quem tirou. Vai saber falar da pessoa lá na frente sem, você sabe... prejudicar ninguém?

Eu ri e estiquei o corpo, guardando o celular no bolso frontal do jeans.

– Na verdade, eu gostei bastante da pessoa que eu tirei e não vou ter que mentir. Só tenho coisas boas pra falar dela.

Ele levantou as sobrancelhas, parecendo totalmente surpreso.

– Ué, então você deve ter tirado você mesmo, né!

E foi nessa hora que eu senti meu rosto pegando fogo. Quero dizer, se não estivéssemos na penumbra, ele certamente teria retirado o comentário por ver a vergonha que eu estava. Mas eu sei que foi sem intenção, o que me fez sentir ainda mais vergonha. Só consegui achar minha voz muitos minutos depois, e respondi um simples "não", encerrando nossa conversa por enquanto.

Ficamos ali de novo, sozinhos. Ele estava bem do meu lado, mas parecia estar fazendo uma viagem turística à lua... Eu olhava para ele de vez em quando, mas tenho quase certeza de que ele não percebia. Eu via um menino bem frágil, uma pessoa diferente de todas as outras que eu conhecia. O problema era que eu nem o conhecia de verdade, mas tinha certeza de que gostaria de conhecer. De verdade.

Suspirei. No que eu estava pensando? Eu tinha que me livrar daqueles malditos pensamentos ou não conseguiria encará-lo de novo sem pegar fogo. Literalmente.

– Algum problema? – ele me arrancou de volta pra realidade. Estava a pouquíssimos centímetros de mim, como não percebi que estávamos tão perto assim?

– Não. – minha boca estava seca. Invente algo, Luiz. Invente! – Só estava pensando em como... você sabe, ano que vem. Em como a gente vai mudar. Talvez não continuemos mais todos na mesma sala.

– Talvez não precisemos fazer outra festinha dessas no dia 24 do ano que vem?

– Isso. Talvez não...

Ele sorriu para as próprias mãos. Seu olhar era triste, por mais que nós dois entendêssemos que, se isso tudo acontecesse, seria para melhor.

– Não gosto muito de mudanças. – Daniel confessou para as próprias mãos.

– Então não mude. – eu me escutei dizendo e vi a cabeça dele se virar pra mim de novo. O mesmo olhar de sempre, que eu acabava encontrando vez ou outra dentro de sala de aula, ou nos corredores, dentro do ônibus escolar, na quadra de futebol... Um olhar que me desarmava, mas ao mesmo tempo me enchia de coragem para sustentá-lo. E foi isso que fiz. Engoli a vergonha e terminei o raciocínio. – Não mude nunca. Continue do jeito que é. Está ótimo assim.

Ele ainda continuou me olhando, mas não como se eu fosse maluco, ou como se ele estivesse prestes a me espancar ou algo assim. Porque, convenhamos, se eu tivesse dito isso para qualquer outro garoto daquela quadra naquele instante – e talvez até para algumas das garotas também – eu iria dali direto para o hospital.

Mas o Daniel não. Ele sorriu. Ele sorriu pra mim. E se a voz da diretora no microfone não tivesse chamado nossa atenção para nos organizarmos na quadra, quem sabe o que mais ele poderia ter feito??

Já disse que odeio mulheres? Elas estavam estragando tudo ultimamente.

O meu amigo oculto...

As 17 horas já estavam se aproximando e a algazarra era tamanha que ainda faltavam umas dez pessoas para entregar os presentes. Inclusive eu. Inclusive a Maria e inclusive o Daniel.

Ela estava sentada bem longe de mim, ao lado da Mariana e de alguma parente dela. As duas não paravam de conversar, mas a Maria permanecia a maior parte do tempo calada, concentrada em não desperdiçar tempo para as coisas andarem logo. Como percebi, ela já estava de saco cheio de brincar de ser amiguinho dos outros.

Então o João que estava lá na frente começou a receber uma enxurrada de nomes para que as pessoas adivinhassem quem ele havia tirado. Eu não havia prestado a menor atenção ao que ele tinha dito, então não podia ajudar, mas a maioria delas gritava o nome da Maria. Ela se levantou meio sem graça, pegou seu presente na pilha que havíamos feito ao entrar e foi dar um abraço nele. Percebi que ela estava vermelha. Maria Eduarda estava com vergonha.

Em vez de rir da situação, como eu faria em outra ocasião, eu sustentei o olhar pra dar coragem. Ela se virou na minha direção e eu a incentivei. Com um sorriso, eu sabia que ela estava me agradecendo. Por mais que ela dissesse que não, eu entendia.

Nós tínhamos a mesma idade, afinal. Passávamos pelas mesmas crises e pelos mesmos medos de adolescente. Não importava se éramos um menino e uma menina.

Ela fez uma breve descrição da Paula, uma das nossas colegas, e a abraçou rapidamente para se sentar no chão novamente. Dessa vez mais perto de mim, me lançando um olhar de cumplicidade.

A Paula entregou o presente dela para outra garota, que entregou para outro menino, que saiu com a Natália que... havia saído comigo. Confesso que foi embaraçoso dar um abraço tão falso nela. Justo a Natália! Ela também não parecia muito satisfeita, e quando foi fazer a minha descrição disse que havia tido "uma pequena crise, porque era a pessoa que ela achava que tinha menos afinidade na sala inteirinha". Nessas palavras mesmo. Mas ela acabou acertando no presente: um cartão de presente de dez dólares na loja da Apple para comprar músicas. Eu realmente fiquei feliz, mas não ao ponto de demonstrar publicamente, claro. Só a abracei e me desgrudei logo.

E chegou a temida hora. Lá na frente, em pé, para todo mundo me observar, comecei a tremer um pouco. O cartão rodava na minha mão e, com a outra, eu segurava o embrulho vermelho que a Maria havia me ajudado a fazer no shopping. Eu havia ensaiado o discurso com ela, mas de repente eu não estava mais tão confiante para fazê-lo.

Ao olhar em sua direção, percebi que ela estava fazendo sinal para que eu seguisse em frente. Então respirei fundo e comecei a falar. Não faltava muita gente para receber o presente, então eles logo desconfiariam, mas resolvi que iria até o fim mesmo assim.

Não sei se ele iria gostar, mas eu me sentia na obrigação de dizer o que ia dizer. Pedi desculpas mentalmente, e comecei.

– Bom, a pessoa que eu tirei talvez seja a única que não desconfia o quanto ela é legal, gente boníssima e de primeira qualidade. Talvez por isso mesmo ela seja a última a pensar em si mesma. Deixa tudo pra todo mundo, inclusive as glórias quando tem. Acho que deve ser a mais injustiçada da escola inteira. – algumas pessoas riram e olharam entre si, cochichando. Algumas cabeças se viraram na direção certa, mas nada demonstraram. Respirei fundo e procurei por ele, para ver seu olhar só um pouquinho. – E acho que deve ser a única pessoa aqui que realmente merece e deve continuar do jeito que é pro resto do ensino médio, talvez até da vida. Porque pro resto de nós, só resta amadurecer e crescer.

Na última palavra, dei uma olhadela de leve para a Maria. Só para fazer questão que eu entendia e ela sabia.

Bom. Ninguém fez muito alarde. O Daniel se levantou meio desnorteado, como se não esperasse, mas todo mundo ficou batendo nas costas dele e dizendo que ele era o único "justiceiro" e "maduro do pedaço", coisas do tipo. O que era verdade, mas eu não tinha dito por causa de idade nem nada; isso não me era importante. Era o que estava por dentro e que ele deixava transparecer em todos aqueles olhares que me fez chegar àquela conclusão.

Ele me abraçou sem muita cerimônia, diferente do que eu havia até imaginado. Ele me abraçou forte. Tive a impressão de que ficamos uns cinco minutos abraçados. Ou talvez tenha sido só o efeito que meu nariz enterrado no pescoço dele causou no meu corpo, o cheiro de perfume de bebê que ele usava e o xampu de cabelo...

Ele continuava sorrindo quando a gente finalmente se soltou e não soube o que dizer. Eu só murmurei um "espero que goste" e saí para que ele terminasse o Amigo Oculto. Já estava por tempo demais sob os holofotes, era hora de voltar para a plateia. Além do mais, vê-lo sentado do chão era um ângulo e tanto, diga-se de passagem. Ele estava onde sempre deveria estar: no centro.

Minha mãe demorou em ir me buscar – garantindo depois que não tinha saído para almoçar com o pai da Juliana! – e, enquanto esperava, a Maria veio me pedir desculpas. Disse que estava tentando provar uma teoria – sabe-se lá qual – e que havia estragado totalmente a noite dela sentada com a Natália e o Carlos. De quebra, havia estragado a minha também

– E, toma. Pra você. – ela disse, me entregando uma caixinha meio amassada e adornada com uma fita verde-escura. – Não vou te ver amanhã, então... Feliz Natal!

Dentro da caixinha havia um relógio e um caderninho de couro. Eu comecei a rir.

– Pra você praticar o seu timing. E não chegar mais atrasado na escola. Pior que garota pra se arrumar, Lu! – ela riu junto e eu a abracei. – O caderninho é pra você não se esquecer. Sabe? Pra gente não esquecer que se entende, pra depois você não ficar revivendo o passando e se perguntando "como isso foi acontecer?". Aí você vai registrar tudo aqui.

– Obrigado, mas seu presente vai ter que ficar pra depois. Está em casa.

Ela deu de ombros e nós ficamos sentados num dos bancos do hall de entrada do colégio, vendo o pessoal ir embora e desejando "feliz natal" aleatoriamente para as pessoas.

Vi o Daniel aparecer sorrindo muitos minutos depois. Carlos estava do seu lado e eles estavam conversando, mas, no meio das palavras, nossos olhares se encontraram. Mais uma vez.

– Sabe, – do meu lado, a Maria passou o braço pelo meu e me puxou para mais perto. – acho que você deveria parar com essa sua neura contra garotas. Afinal, se não fosse por uma delas, você não estaria com esse sorriso bobo na cara agora...

Mas eu estava me esforçando para ficar sério!

– Não sei do que você está falando... – resmunguei, não contendo o riso.

– Luiz Eduardo de Menezes. Já se esqueceu do maior dos presentes de natais de todos os tempos que eu fiz o favor de concordar em te dar?? – eu fiz cara de desentendido e ela abaixou a voz. – Os papeizinhos do amigo oculto? Se não fosse por mim, você teria que ter dado aquele abraço de cinco minutos na Paula, e não no galã do Daniel...

Então a gente tinha mesmo ficado bastante tempo abraçado. Opa. Essa iria para os comentários de férias, com certeza. Talvez até na volta das férias ainda fariam uma retrospectiva com "momentos constrangedores da festa de Natal". Nosso abraço estaria no topo das paradas.

Mas ela tinha razão. Ainda bem que havíamos trocado os papeis. Afinal, quem disse que amigo tem que ser oculto? Mamãe que não me ouça! Mas a minha amiga estava bem ali do lado pra todo mundo ver. E nós nos entendíamos perfeitamente.

– Não estou certa? – ela perguntou, com ar de superioridade.

Eu suspirei e assenti

– Tá bom. Acho que estou aprendendo a gostar de garotas..

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