Capítulo Vinte
Acordei hoje com uma sensação diferente, um sentimento de que finalmente tudo iria mudar. Como valeu a pena eu ter seguido o conselho de minha mãe sobre não revidar qualquer provocação ou palavras duras da parte de Michael! Eu havia quebrantado de certa forma aquele coração duro, mostrando a ele que eu não o retribuiria com o mal, e sim com o bem. E aquele beijo no final e vindo da parte dele, confesso que não esperava.
Lembro que antes de minha mãe me ligar e falar sobre aquelas coisas, eu havia acordado um tanto quanto incerta sobre o que fazer quanto a ele, já que a primeira tentativa de um jantar romântico havia fracassado. Naquela manhã que se sucedeu após isso, eu havia acordado cedo e orado brevemente ao Senhor, pedindo a Ele uma orientação sobre o que fazer quanto ao meu casamento e se valia a pena eu continuar lutando. Lembro que até escrevi no diário mais um pouco para espairecer as ideias, e foi nessa hora que o telefone fixo do apartamento tocou.
—Alô?
—Elena, sou eu, sua mãe. — a voz dela soava ainda de sono, como se tivesse acabado de acordar.
—Oi mãe! — fico até mais animada ao ouvir a voz dela. —O que a fez ligar para mim há essas horas?
—Filha, ontem à noite tive uma insônia terrível, então, aproveitei este tempo para voltar a fazer coisas que eu gostava de fazer antes de ter tido você, que era escrever meus devocionais. — ela dá uma breve pausa. —Só que, eu não sabia sobre o que exatamente escrever, então comecei a pensar em você, no Michael, na urgência de restaurarem a união de vocês, e então, as palavras fluíram como água.
—Nossa, mãe! Não sabia desse seu lado escritora. — dou uma risadinha. —Mas me conta, o que escreveu?
—Tem problema se eu ler para você?
—Problema nenhum, pode ler.
Ouço barulhos de folhas de papel sendo abertas do outro lado da linha, imediatamente, minha mãe começa a ler de maneira clara e suave.
—"O amor faz as pessoas serem bondosas, e a bondade torna as pessoas agradáveis. Se você é bom, as pessoas desejam ficar perto de você, elas lhe veem como espelho e exemplo a ser seguido. A bondade é o amor em ação, a paciência é a maneira que o amor reage para minimizar uma circunstância negativa. Portanto, se alguém lhe ofender ou lhe machucar com palavras duras, não revide. Exercite o dom da paciência, demonstre em um gesto simples, um ato de bondade para com a pessoa que o ofendeu". — ela encerra a leitura e fica em silêncio, como se esperasse eu dizer o que achei.
—Certo, mãe, eu entendi. Mas o que isso tem a ver comigo e com o Michael? — questiono, confusa.
—Tudo, minha filha! O Michael agora está numa nova condição, ele sofreu um acidente grave que afetou as suas pernas e ainda a sua memória, e tudo está sendo confuso demais para ele. E da última vez que estive aí na sua casa, você e ele já estavam em clima de discussão.
—Mãe, se a senhora soubesse como é viver pisando em ovos com uma pessoa que não se lembra de nada e ainda te trata como uma estranha, entenderia a minha situação e o porquê de eu perder a cabeça com ele. — me defendo, já nervosa.
—Lembra quando disse que teria que exercitar o dom da paciência? Então, está mais que na hora de começar a praticar esse dom.
—Mas é difícil, mãe! — insisto. —Ontem eu preparei um jantar lindo e uma refeição deliciosa, esperei ele chegar do trabalho pacientemente, e quando ele chegou, disse já ter comido mais cedo e simplesmente me esnobou como se eu fosse um cachorro sarnento.
—Filha, sei que doí, mas continue tentando. Precisa demonstrar ao Michael que está ao lado dele e que entende o que ele sente, dê o contrário do que ele lhe oferece. Se ele a machuca, ofereça o bem a ele. — diz ela, de maneira compreensiva e carinhosa.
E foi assim, com essas palavras de minha mãe, que resolvi iniciar meu dia de forma positiva. Preparei um belo café da manhã para Michael, na tentativa de vê-lo feliz e de bem comigo, porém infelizmente mais uma vez ele se afastou de mim de maneira ríspida e me lançou palavras duras, que eu resolvi não revidar, seguindo o conselho de minha mãe. E posso dizer que no final deu tudo certo, pois tivemos um maravilhoso jantar juntos pela noite e no final, um beijo que ficou marcado em minha memória.
E agora, na manhã de hoje, eu recordava todas estas coisas com um sorriso no rosto. Já não sentia mais raiva das palavras duras que ele havia me lançado ontem, agora eu só conseguia me sentir esperançosa e com a certeza de que os desejos de meu coração seriam realizados. Comecei a preparar o café da manhã feliz e cantando, o barulho do telefone tocando foi o que interrompeu meu momento de cantoria.
—Alô?
—Elena? Sou eu, sua melhor amiga do mundo todinho! — anuncia Melissa, dando uma risada.
—Diga, o quê quer logo cedo? Estou preparando panquecas para o meu marido.—respondo de um jeito pomposo.
—Mas veja só, parece que andou seguindo meus conselhos!
—Não só o seu, mas os de minha mãe também. E sabe o que eu aprendi? Que paciência é a chave para tudo.
—O que é isso? Minuto de sabedoria logo pela manhã? — pergunta ela, caindo na gargalhada em seguida.
—Engraçadinha você. Mas saiba que ontem deu tudo certo! Michael amou o jantar e também gostou bastante da decoração do quarto da Alice.
—E depois? O que mais rolou?
—Rolou um beijo que não estava previsto no roteiro. — respondo me sentindo envergonhada e parecendo aquelas adolescentes quando dá o primeiro beijo.
Ouço ela dar um gritinho de animação do outro lado da linha, tive até que afastar o bocal um pouco do meu ouvido senão eu iria ficar surda.
—Eu sabia que ele não iria resistir a Elena paqueradora!
—Mas eu nem fiz tanto esforço! Apenas fui paciente, carinhosa e me mostrei compreensiva com ele.
—Mas é exatamente isso que você tem que mostrar! — diz ela parecendo que estava me dando sermão. —Tem que ser amiga dele, companheira dele.
—Eu sei, senhorita "Hitch, conselheira amorosa". —acabo por rir com aquilo.—Pode deixar que seguirei suas dicas à risca, viu?
—Pois então, se prepara para a minha dica de hoje! —inicia ela toda animada. —Eu li numa pesquisa que muitas vezes o jeito que cumprimentamos os nossos parceiros influencia na nossa relação.
—Ai meu Deus, Melissa! O que está sugerindo que eu faça?
—Que mude o seu jeito de tratar o Michael. Seja num simples "bom dia", em um olhar, um sorriso. Tente demonstrar o quanto está feliz por estar casada com ele!
—Eu fico me perguntando de onde você tira essas pesquisas.
—A internet está aí para isso, para nos ajudar a salvar o casamento de nossa melhor amiga.
—Certo, tentarei praticar isso pela manhã. Espero que ele não saia correndo naquela cadeira. — eu rio só de imaginar a cena.
—Vai dar certo! Agora vai terminar de preparar essas panquecas, daqui a pouco o seu maridinho acorda! Depois te ligo, beijos! — ela encerra a ligação, e eu retorno à cozinha.
Ainda estava cedo, provavelmente Michael deveria estar se arrumando para vir tomar café, então eu termino com as panquecas, faço café, preparo ovos com bacon e ponho a mesa. Quando me dou conta, já ouço aquele barulhinho característico da cadeira de rodas motorizada do meu marido.
—Bom dia! — vejo ele me cumprimentar sorrindo abertamente.
Como eu seguiria a dica dada por Melissa? Sem pensar muito, me aproximo carinhosamente dele dizendo.
—Bom dia,meu amor! —e em seguida, surpreendentemente, o beijo longamente nos lábios, como ele fez comigo ontem.
Ao me afastar dele após o beijo, vejo que ele ficou um pouco envergonhado, e como que para quebrar aquele clima de constrangimento, ouço-o apenas dizer.
—O cheiro do café está bom.— e em seguida vejo-o se aproximar da cafeteira e servir-se com uma xícara.
Me seguro para não rir com o que acabei de fazer. Realmente, eu não levava jeito nenhum para ser paqueradora.
—O que pretende fazer hoje? — ouço ele perguntar de repente.
—Bom, tenho consulta médica. Preciso continuar com o pré natal da Alice. — respondo enquanto me sirvo com uma panqueca.
—Posso ir com você?
—Achei que iria trabalhar hoje.
—O escritório está um pouco parado, e hoje meu pai apenas cuidará da contratação de alguns funcionários. Não vai ser problema eu perder um dia para ir com você a consulta da nossa filha. — diz ele antes de começar a devorar os ovos com bacon que preparei.
Ele disse "nossa filha"? Meu coração descompassou na mesma hora e eu tive que esconder o meu espanto e surpresa.
—Claro, depois do café nós iremos ao hospital. —sorrio, sentindo meu ser em completa alegria.
Depois de termos terminado de comer, me arrumei rapidamente pondo uma roupa confortável, indo em seguida junto com meu marido ao hospital em que eu daria continuidade ao meu pré natal.
Chegando lá, eu e ele aguardamos na sala de espera. Eu vez ou outra folheava alguma revista que estava por lá ou então ficava observando o local em que eu retornaria o meu pré natal. Em Nova Jersey eu era paciente pela Dra. Johnson, agora, não sabia por quem seria acompanhada.
—Olá! Muito bom dia, sou a Dra. Ross! — uma mulher de jaleco branco,alta,loira,bem elegante e que devia ser mais ou menos da idade de minha mãe se apresenta. —Serei a obstetra que acompanhará agora de perto a sua gravidez.
—É um prazer conhecê-la! — damos um aperto de mão.
—Queiram me acompanhar, vamos ver como anda o seu bebê. — diz ela num sorriso gentil e amável.
Eu não entendia o porquê, mas sentia que conhecia aquela médica de algum lugar. A aparência dela e os traços físicos me faziam lembrar de alguém, porém só não sabia quem. Já na sala de exames e com a minha barriga descoberta, a Dra. Ross inicia a ultrassonografia. Michael estava ao meu lado e olhava atento para o monitor que exibia imagens em borrão de nossa filha.
—Ela está crescendo muito bem. —vejo-a abrir um sorriso. —Você já está perto de entrar no sexto mês, e logo, a sua filha estará mais sensível a barulhos altos. É nessa fase que tudo o que você comer fará com que ela sinta o sabor, então se comer algo mais apimentado, ela estará mais ativa do que nunca. Ah, e já pode até ouvir o coraçãozinho dela bater se aproximar o ouvido da barriga.
—Isso será muito emocionante! — comento empolgada e lançando um olhar de alegria a Michael, que corresponde com um sorriso.
—Eu li na sua ficha médica sobre o acidente de carro que sofreram, foi um verdadeiro milagre terem sobrevivido e a sua bebê ter saído ilesa.
—Sim, somente a mão de Deus nos livrou. — respondo com firme certeza.
Depois da ultrassonografia, visto de volta a minha roupa e retorno com Michael para o consultório da médica. A Dra. Ross me receita exercícios diários, mais vitaminas e uma lista enorme do que eu deveria comer e evitar na alimentação. Enquanto ela me explicava quais outras atividades eu poderia fazer na gravidez sem correr muito risco, somos interrompidos por uma enfermeira.
—Com licença, Dra. Ross. Seu filho está na recepção e a está aguardando. Disse que precisa falar urgentemente com a senhora.
—Certo, daqui a pouco irei vê-lo. — responde ela educadamente. —Filhos! Mesmo estando adultos não deixam de serem os nossos eternos bebês!
—A senhora tem quantos?
—Apenas um. Ele já é adulto, faz faculdade aqui em Nova York e também mora por lá numa fraternidade. Eu vivia em Nova Jersey, porém com a chegada do divórcio e a proposta que me surgiu para trabalhar aqui, resolvi vir embora. — noto um olhar triste dela ao falar do divórcio. —Mas mudando de assunto, cuide bem de sua gravidez e de sua saúde, Elena! E o papai também pode dar uma forcinha sempre que puder para que tudo corra bem.
—Eu ajudarei no que puder para que a minha filha nasça bem e saudável. — ouço Michael dizer, com um sorriso.
Era tão bom ouvi-lo falando daquele jeito e tão animado! Eu queria que aquele novo bom humor dele durasse para sempre. Após a consulta, nos despedimos da Dra. Ross e saímos dali juntos, no intuito de irmos para casa, porém ao passarmos na recepção, eu imediatamente sinto toda a minha alegria se esvair e ir embora ao ver um certo alguém que se eu pudesse, apagaria de minha vida.
—Elena! —Tyler estava ali e se aproxima de mim sorrindo na maior naturalidade do mundo.—Que surpresa te encontrar por aqui!
Naquele momento senti o chão sumir dos meus pés e uma enorme falta de ar, Michael me olhava confuso como se me perguntasse Quem é ele?. Tyler esperava por uma resposta minha, e o meu marido também.
—Michael, eu não queria que isso acontecesse. —murmuro, já sentindo vontade de chorar.—Mas este é o Tyler, o cara que te falei.
Em uma fração de segundos o bom humor de Michael mudou rapidamente, seu rosto fica tenso e com uma expressão de ódio.
—Então você é o canalha que abandonou a Elena grávida?! — grita ele para Tyler, e imediatamente a atenção de todos da recepção do hospital se voltam para nós.
—Calma aí cara, podemos resolver isso na conversa. — defende-se ele.
—Michael, por favor, estamos num hospital. — eu digo, tentando acalmá-lo.
—Será que agora poderíamos finalmente resolver esse problema e conversarmos como adultos, Elena?—questiona Tyler.
—Mas que droga, Tyler! Está me seguindo agora?! — agora sim eu é que estava com a paciência pelo limite.
—Não te segui! Minha mãe é médica e trabalha nesse hospital! —rebate ele. —Apenas vim aqui para falar com ela.
Nessa hora as peças foram se juntando, como não percebi antes? Os traços físicos e comuns dos dois, o cabelo loiro, os olhos azuis, o sobrenome... Só sei que tive que me segurar na parede, pois eu estava vendo tudo girando e por pouco não desmaiei com o choque.
—Elena, o que está sentindo?! —pergunta Michael, aflito com toda a situação e preocupado comigo.
Não consegui respondê-lo, só sei que senti algo me segurar antes de eu desmaiar de vez.
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*Quando tudo parece estar indo bem, o Tyler surge para atrapalhar tudo! Que climão, senhores! Que climão! Como será que ficará o casamento de Michael e Elena depois dessa?
*Votem, comentem e não deixem de dar sua opinião sobre o que estão achando, é importante para eu saber se estou indo bem ou pisando na bola rsrsrs
*Um abração e até mais!
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