Capítulo • 24
Uma série de xingamentos surgem na minha cabeça ao escutar o grito da minha mãe.
Estou fodido. Sinto que hoje irei morrer de forma extremamente dolorosa pelas mãos de Eleonor McDemott. Angel irá ficar viúva mesmo sem termos um relacionamento e minha filha ficará sem pai — essa parte a princesa ainda não sabe. Todavia, considero Hope como se fosse minha, porque a cada dia que se passa isso apenas se concretiza nos meus pensamentos.
— Oi, mãe linda, maravilhosa, melhor mãe do mundo... Sabe que te amo muito? — Escondo-me parcialmente atrás da Angel.
Será que apenas por um dia ela poderia agir de forma normal?
Se Angel sair correndo por essa porta, irei culpar seus gritos. Contudo, tenho minha parcela de culpa, pois avisei emcima da hora. O medo era palpável dentro do carro e isso acabou comigo. Tudo que eu queria era espantar o temor presente em suas íris.
— Não adianta fazer elogios! — grita mais uma vez, e a vontade é de colocar as mãos nos ouvidos como uma criança emburrada. Isso apenas iria aumentar sua raiva. — Como você traz uma moça e nem ao menos avisa a família? O que ela irá pensar de nós?
— Não irá pensar nada. A culpa é dela que não quis vir antes. — Jogo a culpa descaradamente emcima da princesa.
Desculpe, linda. Entretanto, sei que minha mãe não irá fazer nada contra você, agora comigo não posso falar o mesmo. Nunca é bom esconder algo de Eleonor McDemott. Principalmente mulher, ainda mais grávida!
Estou ferrado.
— Dominic! — ofega Angel, batendo no meu braço, arrancando risadas de todos.
— Estão vendo o que sofro? Essa mulher será minha morte — resmungo dramaticamente.
— Bem feito — rebate minha mãe. — Querida, é um prazer enorme te conhecer.
Não perco a emoção em sua voz. Sabia que iria gostar dela, mãe.
— Obrigada, senhora McDemott — responde minha princesa ainda aparentando receio, contudo percebo que se encontra igualmente emocionada por estar sendo bem recebida.
O seu medo era algo sem sentido, todavia consigo a compreender. As pessoas são cruéis, parecem adivinhar nossos medos e usá-los contra nós. Minha família não é assim, e tudo que eu queria com o passar desses meses era apresentá-la a eles. Sinto muito orgulho de tê-la ao meu lado.
Sequer imaginava que seria em um hospital da qual encontraria a mulher da minha vida. Meu pai sempre citou para nós que um dia apareceria uma pessoa que despertaria nosso lado McDemott, e seria impossível ignorá-lo.
— Nada de senhora, pode me chamar de Eleonor.
Desperto com a voz de minha mãe, um sorriso desponta em meus lábios. Ela está segurando as mãos de Angel com carinho.
— Que coisa feia, Dominic, se escondendo atrás da moça — debocha Jonathan, apenas reviro os olhos. — Oi, Angel. Bem-vinda à essa família louca.
Seu corpo fica levemente tenso; acaricio suas costas para lembrá-la que estou aqui e nada ruim irá acontecer. Sinto-me, de certa forma, como um leão enjaulado, pois ainda não ouvi seu relato sobre o que lhe causou tanto trauma. Todos os dias sou assombrado por pensamentos ligados a esse trauma. A palavra está no fundo da minha mente, mas preciso que ela me conte tudo.
Meu pai é o próximo a cumprimentá-la, a felicidade está presente em seu olhar. Imagino que desde que a conheci, devem ter notado uma diferença considerável nas minhas ações. Diogo sempre olhava na minha direção como se quisesse desvendar meus pensamentos. Minhas irmãs não escondem a felicidade no momento que começam a conversar com a Angel, que apenas as observa com um leve sorriso nos lábios.
Tão linda.
— Safira, onde está sua amiga? — indaga minha mãe.
— Ela está trabalhando hoje, mas creio que deve estar quase chegando — explica após ver as horas no relógio.
— Você sobreviveu à família McDemott — sussurro no seu ouvido.
— Para — diz igualmente baixo, fazendo-me ficar feliz por não detectar aquele medo em sua voz.
— Henrique vem também? — questiona dona Eleonor como quem não quer nada, mas seus olhos condenam sua avidez pela resposta.
Minha mãe e sua mania de querer bancar a casamenteira.
— Sim — responde Safira, bem-humorada.
— Será que se acertaram?
— Ontem, quando conversamos, ela parecia feliz. Citei o nome dele para testar e sua resposta foi positiva, eles se acertaram. — Safira ostenta um largo sorriso.
— Que alívio, querida. Meu afilhado iria sentir minha fúria se continuasse agindo como um idiota.
— Não duvido que ela o mataria e enterraria seu corpo sem ninguém saber — brinco e Angel se vira para mim com os olhos arregalados. — O quê? Minha mãe é capaz de tudo, princesa. Eu tenho medo dela.
— Não fale assim dela, é sua mãe!
— Não viu o jeito que ela estava prestes a pular no meu pescoço? — Meu corpo estremece apenas em lembrar.
— Ficou nervosa por você não ter avisado que iria...
— Não, pode parar. — Ergo seu queixo, a vontade de beijá-la surge, mas a ignoro bravamente. — Avisei que iria trazer alguém, porém Diogo escolheu não avisar. Mesmo se não tivesse avisado, queria você aqui do meu lado. — Acaricio sua bochecha com o polegar, apreciando a suavidade de sua pele. — Você sempre será importante na minha vida. Jamais estará atrás de mim, pelo contrário, sempre estará ao meu lado.
Seus olhos parecem cintilar diante de sua emoção, mas dessa vez não a provoco. Uma de minhas sobrinhas chama a atenção da matriarca da família McDemott. Acho que é Sofia, ainda tenho uma pequena dificuldade em diferenciar as gêmeas. No entanto, Safira e Diogo parecem não possuir essa dificuldade. Meus olhos se cravam na barriga de Angel, que está distraída com a cena que se desenrola na sua frente. Minha mãe está sentada no tapete brincando com suas netas.
Angel, de forma inesperada, se tornou minha família. Resta-me saber se ela me aceitará de forma ainda mais profunda em sua vida. Como seu homem e pai da sua filha.
— Vamos sentar — sussurro.
Seguimos em direção ao sofá, ela se senta e coloco um braço sobre seus ombros. Pego sua mão e acaricio distraidamente enquanto observo todos à volta. Meu pai e Jonathan conversam perto da janela, ambos parecem sérios e imagino que tenha haver com a sua volta para o exército; Diogo e Safira observam seus filhos; Thea e Mia estão brincando de bonecas com as meninas; minha mãe está penteando o cabelo de uma boneca.
— Sua mãe sabe pentear, deveria aprender com ela.
— Olha o tamanho das minhas mãos, princesa. A escova das bonecas são tão minúsculas, que eu quase não consigo segurar.
— Vou fingir que acredito. — Seus olhos se reviram. — Você ama cortar os cabelos delas.
— Ficam mais estilosas.
— Tudo bem, mago das tesouras.
— Mago das tesouras, Rei do drama... — Queria mesmo era ser digno de morar em seu coração. Essa parte não falo em voz alta, continuo: — Estou indo muito bem.
A campanhia anuncia a chegada de mais pessoas nesse jantar em família. Espero que sejam Jade e Henrique, estou quase implorando para Glória me deixar comer algo. Minhas preces parecem ter surtido efeito, pois ouço a voz deles.
— Quem são? — Angel pergunta baixinho.
— Jade e Henrique, amigos da família, sendo mais específico. A mulher é como se fosse uma irmã para a Safira e trabalham juntas no hospital como enfermeiras. O homem é amigo do Diogo desde a universidade. Por incrível que pareça, meu irmão ainda tem um amigo. — Arregalo os olhos falsamente chocado, trazendo um sorriso lindo aos seus lábios. — Estão namorando depois de altos e baixos.
— Sua família é muito grande. Eles são diferentes — sussurra, a mais pura emoção presente em cada palavra. — Consigo imaginá-lo crescendo em meio às brigas entre irmãos e muito amor.
Ela nem imagina, mas suas palavras acalentaram a breve insegurança que havia se instalado em meio as minhas emoções. A princesa gostou da minha família.
— Hoje é meu aniversário e acabei esquecendo? — brinco, mesmo sabendo que meu aniversário seja no mês de janeiro, mas as caixas ao lado dos pratos despertam curiosidade.
— Como se você esquecesse, Dominic. — Mia bufa. — Tem o prazer de ligar às sete horas da manhã para nos lembrar.
— O quê? Nunca fiz isso! — Mentira, amo atormentar minha família.
— E eu nasci ontem — diz Thea, aliando-se a Mia.
— Princesa, está vendo o que eu sofro com minha própria família?
— Se você me acordar cedo no seu aniversário não adianta nem aparecer na minha casa depois. — Ela entra na brincadeira, um pouco mais confortável perto de nós e isso aquece meu coração.
— O que é isso? Todo mundo contra o Dominic?
Afasto-me dela como se houvesse me ferido fisicamente.
— Filho, aceite que dói menos — diz minha mãe. — Angel, apoio sua idéia.
— Desse jeito vou acabar indo embora. — Faço bico e ameaço ir até a porta.
— Não vai achando que irei abrir a porta mais uma vez.
— Até você, Safira! Minha cunhada preferida, nunca imaginei tamanha maldade vindo de você!
— Sou sua única cunhada até agora — retruca, a diversão parece dançar em seus olhos.
— Hoje que é o meu aniversário — anuncia Henrique, como se não houvesse revelado um grande fato.
Como a família esqueceu? Porra.
Um silêncio sepulcral surge entre nós, o choque parece estar presente na face de todos.
— Querido! — Minha mãe bate no seu ombro antes de puxá-lo para um abraço. — Por que não nos lembrou?
— Não sou igual o Dominic.
Reviro os olhos ante sua provocação, lhe abraço após minha mãe se afastar. Alguns minutos são dedicados a felicitarmos Henrique, em conjunto o pedido de desculpa escapou a cada abraço.
— Posso servir o jantar? — questiona Glória.
Sim, por favor.
— Claro, irei ajudá-la — concorda Safira.
— Irei também — Dona Eleonor informa.
Guio Angel até a mesa. Como um perfeito cavalheiro, puxo sua cadeira. As travessas são trazidas à mesa, e algo inesperado acontece. No momento que Diogo encontra sua mulher carregando uma enorme travessa de lasanha, rapidamente a retira das mãos dela. Ele recebe um olhar fulminante. Por alguns segundos temo pela sua vida.
— Diogo! — Safira profere ríspida.
— Anjo.
— Não estou doente ou inválida. — Cruza os braços.
Nossa, queria uma pipoca agora.
— Mas está carregando os meus filhos.
Espera um segundo... Ele disse "filho" no plural?
— Diogo! — grita Safira.
— Meus filhos?!
A família parece um coral falando ao mesmo tempo.
— Não acredito que você fez isso. — Minha cunhada bate o pé, e imagino que deve estar a um passo de voar no pescoço dele.
— Desculpa interromper essa briga de casal, por mais que esteja muito interessante. — Minha mão está erguida como se estivesse na escola. — Você está grávida de gêmeos?
— Gêmeos?!
Talvez minha família tenha sido abduzida ou estão em algum estado de hipnose.
— Desculpa, anjo. — Diogo ergue as mãos rapidamente, como se tivesse medo da Safira pegar uma das travessas e jogar nele.
— Sim, Dominic. São gêmeos. Surpresa! — grita falsamente animada. — Quer saber, não é mais surpresa porque seu irmão a estragou.
Gêmeos? Porra! Meu irmão está tão ferrado.
— Podemos abrir as caixas? — pergunta Thea, animada.
— Sim — responde Safira, ainda emburrada.
Diogo se aproxima devagar — homem esperto — e abraça a mulher, apoiando o queixo em seu ombro.
— Não acredito! — grita nossa mãe ao pegar os sapatinhos brancos.
Merda, acho que fiquei momentaneamente surdo e talvez todos presente na mesa.
— Dominic, pode me passar o dinheiro. — Mia estende a mão com um sorriso vitorioso.
Que... Porra!
Esqueci da maldita aposta. Será que ainda posso correr até a porta?. Tenho a certeza que nossa mãe irá nos matar, e eu estou mais ferrado que os outros.
— Pirralha — resmungo.
— Pode me passar também.
Thea e Jonathan praticamente falam ao mesmo tempo. Lanço a eles um olhar de "vocês não sabem disfarçar, porra?". Consigo sentir o peso do olhar de Eleonor McDemott na lateral da minha cabeça.
Onde estava com a cabeça quando concordei com essa aposta?. Se for para morrer pelas mãos da minha mãe, deveria ao menos ter ganhado.
Você sempre foi ruim com apostas – ironiza a consciência.
Cale a boca, consciência maldita!
— Não acredito que vocês apostaram isso.
— Maninho, você nunca foi um santo. Claro que queríamos que logo de primeira viessem dois bebês. Sabemos que na família da mamãe tem história de gêmeos, e você foi o sortudo — diz Mia.
Oh, merda. Escondo o rosto com a mãos, e quase suspiro. Meus irmãos não tem medo de morrer pelo jeito. O silêncio da nossa mãe apenas indica que logo ela irá explodir.
— Sou um bom irmão, não achei que iria ter gêmeos — falo rapidamente.
— Que grande bondade — resmunga Diogo.
— Então quer dizer que vocês andam apostando... — conclui nossa mãe, mortalmente calma.
Engulo em seco.
— Bem feito.
— Diogo, não ache que você está muito bem, você estragou a surpresa da Safira. — Levanta e por alguns segundos acho que irá avançar em cada um de nós. — Querida, que benção! Estou muito feliz por ser gêmeos, serão muito amados.
O quê?. Arregalo os olhos, chocado. Meus irmãos estão igualmente confusos com sua mudança abrupta de humor.
— Não acredito que apostou — sussurra Angel.
— Nem eu acredito.
— Engraçado, da Hope você acertou.
Instinto paterno.
— Nunca imaginei que meu irmão teria gêmeos logo de primeira — respondo por fim. — Pelo jeito meus irmãos pensam diferente.
— Seja um bom perdedor. — Bate seu ombro no meu.
Mesmo diante de tantas emoções e supresas, o jantar ocorreu quase normal. Ironicamente, associar essa palavra à minha família é algo inesperado. Observar as crianças despertou-me melancolia. Meus pensamentos foram levados até Maddie, que ainda está sofrendo com o afastamento do pai, mesmo que ele ligue todos os dias da clínica.
Um toque na minha mão me desperta desses pensamentos. Encontro as esferas azuis de Angel, respondendo sua pergunta silenciosa com um meneio negativo decabeça. Não estou bem. Sou pego de surpresa no momento que ela pega minha mão e a coloca contra sua barriga arredondada.
— Estamos aqui. — Apenas movimenta os lábios.
— Obrigado, princesa.
Trago até meus lábios a mão que estava na sua barriga, beijando o dorso sem desviar os olhos. A família deve ter notado que Angel está grávida, mas foram respeitosos o bastante para não dizer em voz alta. Sorrio antes de pegar o último pedaço de lasanha, mal o coloco no prato e Thea começa a resmungar do meu lado.
— Você é muito esfomeado. Custava ter deixado o último pedaço para mim?
— Olha o meu tamanho baixinha, preciso comer mais.
Sempre assim quando estamos reunidos, as breves brigas por comida são as mais divertidas. Cada integrante da família possui um grande coração, mas, acima de tudo, possuímos humildade. Algo que infelizmente parece estar em falta na sociedade.
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