Capítulo • 10
— Bom dia — cumprimenta Laura, entrando no quarto.
— Bom dia — respondemos em uníssono.
— Angel, creio que Dominic tenha te falado que vamos fazer uma nova ultrassom antes de liberar sua alta, certo? — Concordo com a cabeça e ela continua: — Mas antes de tudo... Como passou a noite? Sentiu algo estranho?
— Não, apenas dormi mais que o normal. Ainda sinto um pouco de sono, mas nada que ameace me derrubar a qualquer momento.
— Isso é normal, o sono aumenta durante a gravidez. Com a medicação que prescrevi ontem isso apenas aumentou, ela causa sono também.
— Desconfiei. — Sorrio.
— Daqui a pouco ela vai virar uma parte da cama de tanto que dorme. — Dominic não perde a chance de me provocar.
— Dominic!
— O quê? — pergunta quase inocentemente, mas o sorriso estampado em seu rosto o condena.
— Nada. — Reviro os olhos, meu pequeno sorriso ameaçando se tornar tão largo quanto do Coringa. Pelo canto do olho, noto Laura e minha mãe nos observando com curiosidade.
— Angel. — Volto a fitar Laura, dessa vez um pouco envergonhada por ter brincado abertamente na sua frente. — Chamarei uma enfermeira para retirá-la do soro e encaminhá-la para meu consultório. — Anota algo em sua prancheta. — Recomendo que inicie o tratamento com aquela medicação que comentei a partir de hoje, após a consulta irei entregar a receita.
— Ela irá tomar, Laura.
— Certo, senhora Bennett. Uma pessoa pode a acompanhar na sala de ultrassom. Até daqui a pouco, Angel.
— Até.
Recosto-me contra a cabeceira da cama no momento que Laura se retira do quarto. Dominic se aproxima e sem ao menos pedir se senta na cama. Seus olhos possuem um brilho leve e parecem tão lindos essa manhã... Agora que posso observá-lo melhor por causa da claridade no cômodo e o medo não me fez sua refém, como quando nos esbarramos.
— Oi — sussurra.
— Oi — sussurro de volta.
— Você está bem mesmo? — Sua testa se franze, preocupado.
— Sim, estou. — Meus lábios se curvam num pequeno sorriso. — Por que estamos sussurrando?
— Não sei. — Uma risada escapa por seus lábios.
— Você é estranho.
— Isso não é uma novidade. — Revira os olhos claramente se divertindo.
— Filha. — A encontro nos olhando curiosamente mais uma vez. — Seu pai iria trazer seus irmãos para o hospital, mas achamos melhor ficarem em casa. Aqui não é lugar para crianças.
— Concordo, mãe. Não vejo a hora de ir para casa. Estou com saudade dos meus pequenos. — Pela visão periférica percebo Dominic sorrir com meu tom amoroso. — O que vocês falaram para eles?
— Dissemos que você estava passando mal e precisou dormir no hospital para cuidarem de você. Estão preocupados com a maninha deles. — Arqueia uma sobrancelha e o sorriso brinca em seus lábios. — Filha, irei até a lanchonete pegar um café. Quando a enfermeira chegar, iremos até a Laura.
Se aproxima da cama e inclina o corpo para beijar minha testa. Quando se afasta, encontro a pergunta muda em seus olhos. Como meu pai naquele momento, ela também está receosa em me deixar sozinha com Dominic. Não aquele medo que faça algo contra mim, mas por causa dos ataques de pânico. Abro um sorriso como resposta, isso parece acalmar seu coração.
— Como está seu irmão e a mulher dele? — pergunto após minha mãe sair do quarto.
— Diogo está bem na medida do possível, ainda com dor por causa do acidente. Mas Safira teve que imobilizar o antebraço com tala e gesso. Vai ficar afastada um tempo do hospital.
— Hospital?
— Ah, não contei? — Nego com a cabeça. — Ela é enfermeira.
— Nossa. — Não encontro palavras para dizer algo melhor, se ela ama o que faz vai ser difícil ficar afastada.
— Sim, nossa. — Solta um longo bocejo.
— Você dormiu?
— Claro que sim! Muito bem, por sinal. — Mente descaradamente.
— Está mentindo.
— Lógico que não. — Meus lábios se curvam num sorriso cínico no momento que boceja mais uma vez. — Tudo bem, irei confessar. Dormi um pouco nessa cadeira super confortável, acho que viramos amigos durante a madrugada.
— Dominic, precisa descansar — repreendo.
— Irei quando estiver em casa.
O órgão em meu peito bate fortemente ante suas palavras proferidas com seriedade. Não sei nem o que lhe responder.
— Não irei conseguir fechar os olhos enquanto não estiver segura em casa. — Algo que desconheço parece preencher suas íris de suavidade.
— Você quer vê-la? — pergunto de forma inesperada alguns minutos depois, sua cabeça se ergue e os olhos se arregalam, surpresos. — Quer vê-la? — repito um pouco envergonhada.
— Tem certeza? — A mais pura emoção está presente em sua voz, e tenho a certeza que fiz o certo em convidá-lo.
— Sim. Vocês nos ajudou tanto, ela... — coloco uma mão na barriga —, como você se refere, está bem graças a sua ajuda. Isso seria o mínimo que poderia fazer da forma mais sincera. Assim também você poderia ter a certeza que estamos bem.
— Eu... — Limpa a garganta, suas íris ainda cintilam com a emoção. — Eu gostaria muito de estar presente, ver ela.
— Ainda pode ser ele.
— É uma menina — afirma com veemência.
— Oh, claro. Havia esquecido que é um vidente.
— Que coisa feia! Debochando dessa forma. — Coloca as mãos em seu peito. — Assim magoa meu pobre coração.
— Alguém já te falou que você é muito dramático?
— Todos os dias, as pessoas não compreendem a minha sensibilidade. — Suspira dramaticamente.
A risada escapa livremente, e dessa vez não sinto-me estranha como da primeira vez que gargalhei perto dele. Somos interrompidos pela porta se abrindo, uma enfermeira de meia idade adentra o quarto com uma bandeja em suas mãos.
— Bom dia — cumprimenta, gentil.
— Bom dia — respondemos em uníssono, e Dominic se afasta para a mulher colocar a bandeja na mesa de cabeceira.
— Me chamo Tereza. Vou retirar o seu soro e encaminhá-la para a sala de ultrassom — explica enquanto coloca as luvas. — O pai virá junto?
Sua pergunta é inocente, mas sinto como se houvesse recebido um soco na minha barriga, por conta do ar que me é roubado.
— Não sou o pai — Dominic responde baixo, ao lhe observar, ele está com seus olhos cravados no chão.
— Mas ele irá me acompanhar na consulta — acrescento rapidamente, a face da mulher se torna avermelhada devido sua vergonha.
Ela apenas afirma, e começa a retirar o soro. Sinto uma leve ardência no momento da retirada da agulha, pressiona o local com um algodão e me orienta a fazer o mesmo após alguns segundos.
— Obrigada. — A mulher apenas sorri ternamente.
No momento que me sento de costas para a janela, sinto a brisa levemente gélida me atingir. Fecho os olhos mortificada, esqueci que estou com a roupa do hospital.
— Algum problema, Angel? Está sentindo dor? — pergunta Dominic, preocupado.
— Não. — Mordisco o lábio, hesitante, e por fim resolvo confessar a verdade. — Estou usando a roupa do hospital, não posso sair do quarto com ela.
Leva um segundo para ele compreender, e talvez esteja enxergando coisas, mas suas bochechas parecem avermelhadas. Dominic limpa a garganta e desvia os olhos, tentando disfarçar sua reação.
— Acho que sua mãe trouxe uma mochila com alguma roupa para você, talvez tenha uma calça ou vestido.
— Um vestido seria melhor — diz Tereza.
— Hm, tudo bem. — Dominic balança a cabeça, e anda até onde minha mãe estava sentada minutos atrás. — Achei! — Se curva e pega uma mochila no chão, ao se aproximar a reconheço, é a mochila que uso quando vou para a lanchonete.
— Obrigada. — Pego a mochila de suas mãos.
— Não por isso. — Movimenta seus ombros largos. — Bom, vou esperar lá fora.
Abro a mochila após ele e a enfermeira se retirarem do quarto, a primeira peça de roupa que encontro é um vestido branco estampado com pequenas flores na cor lilás. Minha mãe deve ser vidente, trazer essa peça foi algo inesperado, quase não uso vestido. Com cuidado levanto da cama e caminho até o banheiro.
Minha boca se abre ligeiramente ao reparar melhor o banheiro, ontem quando o usei quase não olhei ao redor. A cada detalhe que noto após ter acordado, está me deixando surpresa. Coloco a mochila emcima de uma cadeira no canto do cômodo.
O estômago está levemente enjoado, mas nada que cause enorme desconforto, ou me faça refém do vaso. Dentro da mochila encontro uma escova de dentes e outros produtos pessoais, inicio a rotina matinal. Não pude deixar de notar o quão abatida está minha aparência, a boca pálida em conjunto com as olheiras e cabelo bagunçado poderiam espantar alguém.
Quando termino, sinto-me quase uma nova Angel. É maravilhoso poder sair de dentro daquela roupa de hospital. Saio do banheiro e dou uma última olhada no quarto, posso ter entrado nesse hospital inconsciente e quase perdendo meu bebê, mas vou sair dele com breves e boas lembranças, as conversas que tive com Dominic.
O primeiro homem que não me causou pânico o suficiente para que nunca mais queira encontrá-lo na minha vida. A porta se abre e minha mãe apenas coloca a cabeça para dentro, ao me encontrar parada perto do banheiro abre um sorriso.
— Vamos, querida?
Preciso falar para ela.
— Mãe — inicio hesitante. — O Dominic irá me acompanhar na ultrassom, pensei que seria bom depois de tudo que fez por nós. Ele ter a certeza que estamos bem.
— Isso é maravilhoso filha! — Suas íris ainda possuem um brilho preocupado. — Você tem certeza?
— Tenho, mãe.
— Tudo bem, estarei te esperando na sala de espera. — Ela olha por cima do ombro antes de entrar e fechar a porta. — Filha, tenho notado algo entre vocês.
O que?
— Não é nada, mãe. — Desvio os olhos, envergonhada com a sua suposição. — Quando sairmos desse hospital, não irei mais vê-lo. Sou muito grata por tudo que fez, mas não penso nele dessa forma. No momento preciso pensar no meu bebê.
Ela apenas balança a cabeça. Tenho quase certeza que nota um "porém" por trás das minhas palavras. Nem eu consigo encontrar a verdade nelas, pois Dominic é diferente. Ao sairmos, encontro-o encostado na parede um pouco distante do quarto, conversando com dois homens. Pelos ternos que estão usando, suponho que são os seus seguranças. O barulho da porta se fechando desperta sua atenção; suas íris recaem atentas sobre nós, diz algo para eles e caminha até nós.
— Meus seguranças. — Aponta para eles. — Pronta?
Limito-me apenas a afirmar com a cabeça, despedindo-me de minha mãe. Caminhamos em silêncio atrás de Tereza, e mesmo sem olhar para trás, sei que os homens estão nos seguindo. A enfermeira para em frente à uma porta e bate. Quando ouve algo, abre-a, e parece conversar com alguém. Minutos depois, autoriza-nos a entrar; fazendo o que me ordenara, entro no consultório e seguidamente encontro Laura sentada em sua mesa com um sorriso receptivo nos lábios. Ela se levanta, orientando-me mais uma vez sobre o procedimento.
Impossível controlar o receio no momento que Dominic ajuda-me a deitar na maca após ter retirado a calcinha no banheiro na sala de ultrassom em anexo com seu consultório. Laura coloca um lençol que cobre minha parte inferior do corpo. Inspiro e solto o ar lentamente, tentando pensar em algo positivo, mas não consigo. Notando meu desespero interno, ela pede para que Dominic se retire da sala por alguns minutos.
— Calma, querida. — Segura minha mão dando um leve aperto. — O que irei te dizer não é porque sou sua médica, mas pelo motivo de estar preocupada com seu bem-estar. Seria bom se você procurasse uma psicóloga. Isso poderia ajudá-la, Angel.
Me emociono ante sua preocupação genuína, e afirmo com a cabeça. Irei pensar com cuidado no seu conselho. Com meu consentimento ela chama Dominic de volta, ao adentrar a sala não perco a preocupação em suas íris.
No momento que Laura inicia o procedimento, fecho os olhos e tento expulsar qualquer pensamento negativo.
— Pensamentos felizes. — Ouço seu sussurro, ele está sentado numa cadeira ao lado da maca.
— Irei tentar — sussurro de volta.
Somos interrompidos pelo som mais lindo, o coração do meu bebê.
— Esse som é o coração dela? — pergunta Dominic, deslumbrado.
— Sim — murmuro emocionada.
— É um som lindo.
— Muito — concordo sem desviar os olhos da tela, mesmo que não consiga enxergar muita coisa.
— Aqui está o bebê. — Laura faz um círculo ao redor de um minúsculo pontinho, simplesmente o pontinho mais especial da minha vida.
Minha filha. Um sorriso bobo surge em meus lábios, e ao fitar o homem encontro seus olhos repletos de confusão.
— Acabei de pensar no bebê como se fosse uma menina.
— Mas é uma menina! — afirma sério, mas detecto traços de diversão em seu tom.
— Não sabemos disso. — Volto a observar a tela.
— Angel, isso aqui ao lado do saco gestacional, é o hematoma. — Aponta para algo perto da linha que indica o bebê. — Ele está pequeno como eu havia te falado, mas infelizmente pode aumentar. Com a medicação e as precauções, esperamos que ele diminua e suma totalmente.
Novamente aquele medo surge, temo pela vida do bebê. Laura encerra o procedimento e tento não pensar no aparelho sendo retirado, contudo, um imenso alívio recai sobre mim por não senti-lo mais. Mais uma vez ela pede para que Dominic se retire, e logo arrumo-me antes de sair da sala.
Encontro Dominic encostado na parede com os olhos fechados. Mordo o lábio, aproximando-me devagar.
— Oi — sussurro.
— Oi. — Abre seus olhos, sou atingida pela intensidade presente naquele par de íris curiosas fitando-me. — Vai ficar tudo bem. Esse hematoma irá sumir.
Espero que suas palavras e as de Laura estejam corretas. Minha bebê vai ficar bem. Mais uma vez me referi como sendo ela, em concordância com esse homem que apareceu de forma repentina na minha vida.
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