Capítulo 8°
O modelo penteou seus fios castanho-escuro com os dedos, alinhando-os num topete enquanto observava o próprio reflexo nas paredes espelhadas que cobriam a sala de seu apartamento. Perfeito, pensou, como eu, e vestiu a jaqueta de couro — com zíperes na gola que adornavam o pescoço. Seu look rocker combinava com a decoração cinza chumbo que compunha o lugar. Não era surpresa que Eve não tivesse resistido por muito tempo a seus encantos. Bastava olhar para seu rosto simétrico, maxilar marcado, olhos oblíquos e penetrantes, capazes de tirar o fôlego de qualquer um apenas com uma olhadela, para que se rendessem a Kim Taehyung.
Apesar disso, não podia negar que uma parte de si permanecia descrente por ter sido Eve a procurá-lo e acima de tudo, por ter flertado com ele. Ainda que de modo atrapalhado.
O modelo sorriu de lado ao lembrar-se do miado, meio rosnado, da secretária ao elogiá-lo.
— Fofa demais. — Murmurou, ajeitando a bandana vermelha no pescoço como último toque de seu visual. — E caidinha por mim. Jimin que lute.
Uma grande ironia! E pensar que Taehyung chegou a acreditar que a secretária tivesse os quatro pneus arriados pelo chefe! Ha, Ha, Ha! Ninguém era tão leal e fiel assim. Não importava o quanto diziam amar, as pessoas acabavam traindo umas às outras, sem pudor, sem se importarem com o estrago que poderiam causar no coração — e na vida — dos que fingem amar.
E por falar em infiéis... Taehyung pegou o celular — onde havia hackeado a agenda de Nari —, para verificar o endereço do primeiro compromisso da CEO, pois não podia desperdiçar aquela tarde. Era a primeira em que não teria um evento ou fotos para fazer para a Blikis Corp. E nada melhor para fazer do que observar os passos daquela mulher ardilosa, se quisesse que seu plano obtivesse êxito.
Taehyung sentia que estava indo devagar demais. Uma tartaruga teria sido mais ágil! Nos últimos dias havia focado em Eve. Em conquistar a secretária. Mas agora que sabia que, finalmente, despertara o interesse dela, precisava focar em outras partes de seu plano.
Enquanto pescava as chaves de sua moto de cima da bancada, o telefone vibrou num dos bolsos da calça.
As sobrancelhas de Taehyung quase tocaram o couro cabeludo assim que leu a mensagem que havia na tela. E seus orbes se expandiram ainda mais ao ler o nome do remetente.
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Taehyung havia passado de excessivamente confiante para excessivamente nervoso. Suas mãos compridas estavam geladas e escorregadias, enquanto as esfregava nas calças. Tudo que menos queria era que Eve pensasse que estava tocando num peixe molhado quando fosse beijar as costas da mão dela com seu jeito galanteador e antiquado — que havia descoberto ser um excelente método para fazer as mulheres sorrirem com os olhos e lhe darem seu coração.
E daquela vez ele não iria falhar. Mas estava nervoso. Muito, muito, nervoso. Depois de combinar de encontrar Eve há duas quadras da Blikis Corp. — pois ela milagrosamente sairia mais cedo do trabalho —, mudando completamente seus planos para aquela tarde, sua mente fez questão de lhe perturbar com o fracasso que foi usar uma de suas cantadas programadas. Eve tinha sido sua primeira vez, sua primeira falha na missão. Ela tinha agido de modo totalmente inesperado e agora fazia o coração do modelo titubear com medo de falhar de novo.
Taehyung rapidamente endireitou a postura e recostou-se na Ducati Diavel 1260S preta, que pilotava, de modo confiante e despojado — cruzando os pés cobertos por coturnos de tachinhas, um na frente do outro, e enfiando as mãos no bolso — assim que viu a figura esguia de Eve virando a esquina.
Os cabelos da secretária estavam mais ondulados do que o habitual, algumas mechas estavam presas num penteado que deixava à mostra os brincos compridos, conectados por aros prateados redondos e pequenos, cuja ponta tocava a pele exposta nos ombros pela blusinha vermelha frente única que ela vestia.
Ele sorriu de lado e passou os dedos entre as madeixas, jogando-as para trás, quando um vento assoprou, antes de fitar Eve através das pálpebras semifechadas.
Eu sou mesmo irresistível, hein! Nunca duvidei. Pensou consigo mesmo, notando que Eve havia se produzido especialmente para encontrá-lo, em um dia de trabalho — para não mencionar o fato de que a secretária estava saindo de seu posto mais cedo apenas para ter um encontro com ele.
— Desculpe o atraso, Taehyung! — Eve exclamou esbaforida, abanando o rosto com as duas mãos, apesar de o tempo fresco, assim que parou na frente dele — Tive um pequeno imprevisto e precisei trocar de roupa antes de vir... — Uma das pálpebras da secretária tremeu, quase que imperceptivelmente, ao sorrir para ele.
— Não há razão para se desculpar. Saber disso me deixa ainda mais feliz, pois, certa vez li num livro que quando coisas assim acontecem, se trata do destino agindo para nos enviar sinais de que fomos predestinados — Taehyung gesticulou para as próprias roupas e depois para as de Eve, quando ela franziu os olhos e coçou a cabeça, confusa — Estamos combinando, srta. Eve.
A secretária olhou para as roupas que o modelo usava e depois para a calça cargo cinza e a blusa vermelha que trajava — escolhidas por Yuna numa das lojinhas que havia perto da Blikis, para que não fosse usando suas roupas de secretária. E por coincidência a blusa dela combinava com a bandana amarrada no pescoço do golpista, bem como as cores e modelos de suas calças.
— O destino adora pregar peças.
— O que disse?
— O destino adora ouvir preces! — Sorriu amplamente, agarrando o braço direito de Taehyung e erguendo o rosto para olhá-lo. — Você está com fome, sr. Taehyung? Ouvi dizer que abriu uma cafeteria nova em Hongdae!
— Topo tudo contigo, srta. Eve — Taehyung não pôde evitar sorrir também, o nervoso ficando para trás ao concordar com um aceno e indicar a moto atrás de si. — Espero que não se importe, acabei vindo de moto.
Os olhos da secretária Eve salientaram-se ao ver o veículo de duas rodas luxuoso atrás de Taehyung. Apesar de nunca ter subido em um veículo de duas rodas que não fosse uma bicicleta e de ter dito a si mesma que nunca subiria, pois, motos eram tão confiáveis quantos escorpiões — e nesse sentido, Taehyung também o era — Eve se pegou aceitando o capacete estendido, oferecido pelo golpista, depois de este subir no veículo.
O banco da moto não era espaçoso, não parecia ter sido feito para duas pessoas, ainda assim ela não reclamou: passou os braços no entorno da cintura do modelo. Enquanto o busto se espremia nas costas dele, seus dedos apertavam a barriga de Taehyung com firmeza. Era difícil evitar tamanho contato entre seus corpos, pois a altura do banco e sua inclinação, envergavam o corpo de Eve a ponto de grudar no dele. Aquela seria sua primeira vez como passageira de uma moto. E seria com Taehyung. Mas por uma boa causa. Há uma razão para você estar fazendo isso, é tudo pelo Daewon!
O golpista puxou a trava da moto e deu partida. Ele disse algo que ela não pode ouvir devido ao capacete, ou talvez fosse pelos batimentos cardíacos que vibravam nos tímpanos — se dela, ou dele, não sabia dizer. Os pensamentos de Eve se perderam naquela sensação estranha e nova, mas que não parecia mais tão ruim ou perigosa, como a liberdade de um pássaro que o vento lhe fazia sentir.
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Eve observava Taehyung ao seu lado, sentado sobre o tapete rosa, coberto de petiscos, ossos e bolinhas de brinquedo, com os olhos piscando e os lábios entreabertos. Ainda não acreditava na cena que via diante de seus olhos, pois jurava que o golpista iria preferir ir na cafeteria nova, que havia do outro lado da rua em que estavam — onde as mesas eram posicionadas de modo espaçado e com baías que permitiam privacidade a seus clientes —, no entanto, ali estava ele, brincando com um Lulu da Pomerania de pelame preto e marrom, parecendo um ursinho.
Taehyung sorria para o bichinho, que o lambia na bochecha sempre que queria ganhar um petisco direto das mãos dele, com um sorriso genuíno, que luzia em suas feições com uma inocência a qual Eve jamais sonhou ver ser expressa no rosto do golpista.
Eve ainda olhava para o modelo com o queixo caído e os lábios ligeiramente erguidos — a xícara de chocolate quente a meio caminho da boca — quando seus olhos cruzaram com as fendas brilhantes que eram os olhos de Taehyung naquele momento, ele colocou o cachorrinho no espaço que havia entre os dois, no tapete.
— Oh, Yeontan! Parece que nós dois excluímos a Eve, uh? Ficamos brincando e matando a saudade, mas nos esquecemos que temos visita! — Disse Taehyung, levando as duas mãos compridas até as bochechas e salientando os olhos, num falso esgar de choque, antes de se inclinar na direção de Yeontan — O que achou de tê-la aqui? Ela não é a mulher mais linda que você já viu?
O cachorrinho latiu e pulou, como se entendesse o que o rapaz dizia, o que fez Taehyung deixar uma leve gargalhada escapar de sua boca. E isso, para Eve, era ainda mais espantoso. A atmosfera que cercava o modelo parecia ter mudado desde que se sentaram ali, das expressões faciais ao modo de falar, era como se o gêmeo do bem tivesse tomado o lugar do gêmeo do mal.
Quem era aquele e o que tinha acontecido com Taehyung, o golpista?!
— Você não precisaria matar a saudade se levasse Yeontan com você, Tae.
Taehyung e Eve ergueram o rosto ao mesmo tempo quando uma mulher de fios claros, baixa estatura, e feições enrugadas se aproximou.
— Oh, olá, Sra. Lee! Não sabia que estava aqui hoje — Taehyung levantou-se num sobressalto, cumprimentando a senhora com mesura respeitosa, antes de voltar a fitar Eve — Essa é a Sra. Lee, dona do café. Sra. Lee, essa é Eve, uma amiga muito especial.
A Sra. Lee sorriu, encolhendo os olhos miúdos, quando Eve se levantou para cumprimentá-la com um singelo aperto de mãos.
— É um prazer conhecê-la, srta. Eve! Taehyung nunca trouxe uma moça aqui antes, você deve ser mesmo especial. Espero que ele também seja especial para você, é um ótimo garoto!
— O prazer é meu — Disse Eve, pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha para disfarçar o rubor que cobria as bochechas, sem saber o que dizer diante de sua fala, pois só havia uma pessoa naquela categoria para a secretária, e não era o rapaz cujos ombros eram afagados afetuosamente pelas mãos da senhora. — Então, esse cachorrinho não é seu, mas do Taehyung? — Perguntou, desviando o assunto. — Eu pensei que os animais fossem todos dos donos da loja.
— Ah, são meus sim. Mas Yeontan é um caso à parte. Taehyung o resgatou das ruas e o trouxe para cá. Yeontan, no entanto, o escolheu e Taehyung o escolheu, por isso vem aqui quase todos os dias visitá-lo. Mas, por alguma razão, ele ainda não se convenceu de que está apto para levá-lo para casa.
Taehyung pigarreou, coçando a orelha e desviou o rosto do olhar indagador da jovem secretária e da senhora Lee, voltando a se concentrar em Yeontan. Porém, Eve notou, o olhar puro e alegre havia dado lugar a certa melancolia enquanto observava o animal.
— Eu realmente gostaria de levá-lo comigo. — Admitiu, acariciando os pelos do cachorrinho, tão macios quanto a penugem de uma ave, e jogou uma das bolinhas para que Yeontan fosse buscar. — Mas não posso. Minha casa é quase como um hotel, só volto para dormir. Aqui Yeontan tem outros animais para brincar e pessoas que cuidam dele com muito carinho. Ele se sentiria solitário se morasse comigo. — E, para Taehyung, os dois já eram parecidos demais para que o deixasse se tornar solitário. Como ele.
O modelo lembrava perfeitamente bem do dia em que havia encontrado Yeontan, tentando se esconder da tempestade que caía em meio a sacos de lixo, atrás do prédio em que morava. Taehyung havia pegado-o e procurado por seu dono. Porém, a mulher que o abandonou num dia cruel e chuvoso não o queria mais porque Yeontan pertencia a seus pais, que haviam falecido, e ela não queria ter que cuidar de um cachorro sendo que não gostava de animais, por isso o tinha "descartado".
Aqueles que tinham a capacidade de amar com veracidade, com o coração e a alma, eram levados cedo demais.
A história de Yeontan o fez refletir sobre a sua própria história. Sua madrasta o teria descartado, após a morte de seu pai e falência da empresa, do mesmo modo que aquela mulher havia descartado Yeontan, se ele não fosse um ser humano. Disso, ele tinha certeza. Sendo assim, não conseguiu se desapegar do animalzinho com quem tinha tanto em comum.
Havia cuidado do cachorrinho até encontrar aquela cafeteria, onde tinha a certeza de que seu amigo de quatro patas seria mais feliz, pois a mente dele estava focada no trabalho que realizava legalmente — e ilegalmente —, não podia deixar que o bichinho se sentisse sozinho. Mas talvez um dia, se conseguisse alcançar a vingança que buscava, pudesse se dar ao luxo de adotar Yeontan.
Ao sentir o peso do olhar a suas costas, Taehyung ergueu o rosto e sorriu de lado, apontando para o chá gelado que havia sido deixado de lado, sobre o tapete:
— Acho que teremos que pedir outra bebida para você. — Falou para Eve, pegando a xícara do chão e acabando com a felicidade do Yorkshire branco que tomava o líquido alaranjado. — Já volto. — O modelo avisou antes de seguir até o balcão de pedidos.
Enquanto a sra. Lee repreendia Lili, a Yorkshire, Eve observou Taehyung se afastar das duas, com as sobrancelhas encrespadas. Yeontan o seguiu, saltitando com a bolinha na boca, abanando o rabo de um lado a outro, despertando mais uma vez o sorriso inocente que ela tinha visto antes no rosto do modelo — e as ruguinhas ao redor de seus olhos eram o indício de que seu riso era verdadeiro.
O vinco entremeio às sobrancelhas da secretária Eve se tornou ainda mais profundo. E, mais uma vez, se viu ponderando sobre qual de suas facetas mostravam o verdadeiro Taehyung, o rapaz de sorriso singelo e cativante ou o cafajeste golpista?
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Relâmpagos brilhavam no céu escuro enquanto as nuvens despencavam numa torrente gelada sobre Seul. Taehyung praguejou mentalmente, dando a seta para encostar a moto na primeira loja de conveniência, próxima a um ponto de táxi, que encontrou desde que a chuva começou a cair sobre ele e a moça em sua garupa.
Ele parou no meio fio — no beco sem saída, adjacente à entrada, coberta por um largo toldo amarelo — e correu para dentro do estabelecimento assim que Eve parou debaixo da cobertura.
Taehyung estava encharcado até os ossos, pois não tinha levado consigo capas de chuvas protetoras — a previsão do tempo havia prometido uma noite estrelada, sem nuvens. Seus pés empoçavam o piso a cada passo que dava, pois tinha dado a Eve a jaqueta. Tudo o que ele menos queria era vê-la doente no dia seguinte, por ter se molhado da cintura para baixo e seu pai costumava dizer que era através dos pés molhados que se adoecia. Se Eve adoecesse, talvez todas as lembranças de um bom primeiro encontro fossem por água abaixo em sua mente. Talvez já tivessem ido, graças ao temporal.
Decidido a contornar aquela situação, Taehyung rapidamente pegou alguns itens do balcão da loja de conveniência, andou por alguns corredores e depois de encher uma pequena cesta, pegou um guarda-chuva azul. Depois de pagar tudo, o modelo saiu aos tropeços, encontrando Eve parada no mesmo lugar em que a deixara.
— Lamento por não poder te deixar em casa, srta. Eve. E além de tudo, por tê-la deixado encharcada. Mas, em compensação, esperarei até que um táxi surja, para me certificar de que irá para casa em segurança. — Ele estendeu o guarda-chuva e a sacola com o que comprara na loja de conveniência — Isso é para você.
— Obrigada. — Respondeu Eve, pegando os objetos das mãos dele com certa curiosidade — E não se preocupe quanto a me levar para casa. — Eu não queria que você me levasse mesmo, Daewon surtaria se me visse chegar com outro homem. — Não é como se você pudesse controlar o tempo. Ou... — Estreitou os olhos e inclinou a cabeça de lado, inspecionando cada canto do rosto do modelo — Será que pode controlar o tempo, fez isso propositalmente, e agora tenta esconder mais esse segredo?
Taehyung abriu um sorriso de lado, enfiando as mãos nos bolsos e recostando-se na moto, agora travada sob o toldo.
— Que outro segredo estou supostamente escondendo, srta. Eve? — Perguntou divertido.
— O seu sorriso. Nunca o vi sorrir da maneira como sorriu quando estávamos com Yeontan. Parecia até outra pessoa. Você devia sorrir mais assim, Taehyung. Foi encantador.
Quando Eve o viu içar as sobrancelhas, surpreso, o sorriso dela se alargou. A secretária sentiu vontade de pegar o celular de dentro da pequena bolsa que carregava, apenas para jogar na cara de Yuna que a aposta estava no papo! Ou quase... Mas já era um avanço conseguir dizer que Taehyung era encantador de modo convincente e fazê-lo ficar sem jeito. Até porque era óbvio que ela não tinha ficado encantada por ele naquela tarde. Claro que não..., bem, talvez tivesse ficado um pouquinho.
Mas só um pouquinho, porque Daewon sempre seria o homem mais encantador aos olhos de Eve. Disso ela tinha certeza!
— Ah... Certo. — Sentindo o rosto enrubescer, Taehyung coçou a garganta com os dedos e pigarreou. — Neste caso, espero que tenha te impressionado o suficiente para evitar que tenha sido nosso primeiro e último encontro.
— Ah, não será. Farei da minha missão te ver sorrir daquela maneira por minha causa! — Disse a secretária, tirando a jaqueta do golpista. — Além disso, foi divertido passar o fim da tarde com você. Mas existe uma condição para que tenhamos outro encontro.
— E qual seria essa condição?
Eve ergueu-se na ponta dos pés, pois Taehyung era dez centímetros mais alto que ela, e colocou a jaqueta ao redor dos ombros dele. Aproveitando-se da proximidade criada por ela, e, lembrando-se do que Daewon tinha lhe dito, arrastou os pés para ainda mais perto do modelo.
As madeixas escuras de Taehyung formavam cachos ao redor das orelhas agora que estavam molhadas. O aroma cítrico de limão taiti e bergamota parecia emanar de sua pele com mais intensidade, assim como o calor corporal do modelo parecia convidativo para a pele fria e braços arrepiados da secretária.
Eve forçou a mente a se concentrar no que deveria fazer, na razão para ter armado aquele encontro. E soprou, a respiração quente, contra e pele exposta no pescoço de Taehyung, abaixo da orelha, espalmando a mão direita em seu peito para ganhar equilíbrio:
— Me chame apenas de Eve, de agora em diante. — Sussurrou no ouvido dele e, em seguida, pressionou os lábios atrás do lóbulo de sua orelha.
Eve sentiu os músculos do modelo se retesarem sob os dedos dela. Estava louca para ver a expressão no rosto do golpista, afinal, Daewon havia dito que era aquilo que os homens gostavam. Porém, ao passo em que impulsionou o corpo para trás, um puxão em sua orelha a fez deitar a cabeça no ombro de Taehyung com ímpeto.
Os olhos de Taehyung se arregalaram e um de seus pés bateram na trava que mantinha a moto de pé com o súbito peso do corpo de Eve sobre o seu, fazendo-os cair sobre a moto, num amontoado confuso de braços e pernas, quando ele perdeu a estabilidade do próprio corpo.
— Srta. Eve...
— Não se mexa, espera! — Eve gritou assim que o golpista se moveu numa tentativa de olhar para ela — Taehyung... acho que tô presa a você.
— Presa a mim? Uau, srta. Eve... digo, Eve-sem-senhorita, isso é totalmente inesperado. Meu coração chegou a palpitar!
— Não, é sério! Meu brinco ficou preso! — Ela falou, gesticulando para a orelha cujas argolas do brinco estavam presas no zíper da jaqueta dele.
— Ah... Hm. Acho que se o tirar da orelha, depois podemos tirá-lo da minha jaqueta. Fora isso, você está bem? Não se machucou?
— Não. E você?
— Meu coração conta? Fui iludido por você outra vez.
Eve tinha algo na ponta da língua para retrucar, todavia, ao sentir o peito de Taehyung se mexer sob ela, um forte rubor atingiu sua face. A vergonha que sentiu, ao se dar conta de que mais uma vez havia feito papel de boba na frente dele, pareceu tomar sua mente. Com os batimentos cardíacos ressabiados, ela tirou a tarraxa do brinco e ergueu o rosto devagar.
Quando seus olhos encontraram os de Taehyung, algo pareceu se romper dentro dele, vendo-a encará-lo com os olhos grandes e os lábios rosados entreabertos com o receio. A pele de seu nariz enrugou-se, bem como as pálpebras, que agora pareciam meias-luas brilhando na face do golpista, com a gargalhada que reverberava no peito dele.
Eve praguejou baixo e se levantou aos tropeços. Seu rosto parecia em brasas e a vergonha era tamanha que não conseguiu ajudar Taehyung a se levantar ou mesmo se preocupou com o brinco que continuava preso na jaqueta dele.
Tudo que a secretária Eve conseguiu fazer foi pegar a sacola e o guarda-chuva azul do chão, antes de correr para a avenida, assim que viu um táxi se aproximar.
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