Capítulo 7°
Eve batucava as unhas ovais contra o material traseiro de vidro do celular, enquanto esperava aflita e ansiosa por Taehyung. Internamente, a consciência da secretária duvidava de sua disposição e já colocava todo o seu plano em xeque. Também, era como se ela fosse capaz de escutar uma pequena voz na sua cabeça que sussurrava sobre como a ideia de conquistar o golpista Taehyung para salvar a empresa Blikis era uma verdadeira loucura.
Sua mente fervia, pois, ao mesmo tempo que detestava o que estava fazendo, via-se sem alternativas. Okay, fazer uma maluquice é bem melhor do que não fazer absolutamente nada! Eve só conseguiu espantar a insuportável voz da consciência pesada quando viu a imagem esbelta de Kim Taehyung e toda a sua prepotência habitual adentrando no estúdio de modelos.
Levantou do puff macio, de tecido aveludado pintado em tom vermelho carmesim, tão esbaforida que só percebeu sua mão afrouxar e deixar cair o celular quando o baque da queda do aparelho a alertou. Taehyung foi mais ágil e majestoso ao se abaixar e, cordialmente, pegar o objeto antes de estendê-lo até ela que, desconcertada, assim que o recuperou, logo enfiou o smartphone no bolso traseiro de sua calça pantacourt.
— Isso me traz uma fascinante lembrança sobre o primeiro dia que nos conhecemos, senhorita. — Com uma sobrancelha tensionada, o lado mais galã de Taehyung deu as caras e atacou. — Lembro-me especialmente sobre como estava formosa em seu vestido acima dos joelhos, tão vermelho quanto aquele assento ali — ele apontou para o puff redondo e espaçoso, mas se deu conta de que era uma péssima comparação quando já era tarde e seu coração foi o primeiro a alertá-lo a respeito do seu erro quando acelerou e, logo em seguida, suas mãos começaram a suar frio.
Nada poético, Kim Taehyung. O rapaz fechou os olhos e contraiu os músculos das bochechas, enquanto repreendeu a si mesmo em pensamentos. Uma das regras primordiais para conquistar o coração das mulheres era: sempre ter um elogio pronto na cabeça. Mas, comparar a secretária com um estofado rechonchudo e amassado não era nenhuma grande artimanha da sedução, na verdade, era erro de principiante! Mas o modelo não era principiante, o que tornava tudo ainda pior.
Taehyung abriu os olhos esperando levar algum fora à altura de seu flerte ruim ou passar muita vergonha quando ela gargalhasse de sua tentativa frustrada. Todavia, contradizendo suas expectativas, assim que concentrou as vistas na secretária, percebeu que Eve possuía um sorriso meigo no rosto enquanto olhava em sua direção.
— Você-também-estava-muito-bonito! — Eve falou muito rápido, então as palavras se uniram umas nas outras, porque a sua boca se recusava a tecer elogios para um suspeito tão descarado. Por isso, sua frase, que deveria soar em tom de xaveco, mais pareceu uma disputa com o cantor Suga sobre quem fazia o rap mais rápido do mundo, e Taehyung baixou as duas sobrancelhas sem entender.
— O que disse? — Taehyung encolheu os lábios enquanto, curioso, perguntou. — Acho que toda sua beleza me distraiu.
Foi a vez de Eve fechar os olhos com força e respirar fundo.
Não é tão difícil assim, é só falar! Depois de alguns segundos de meditação privada, voltou à realidade dando de cara com o persistente olhar atencioso de Taehyung preso em si. Você consegue, Eve, *hwaiting!
— Você também estava um gato no dia em que nos conhecemos... — Eve deu uma tonalidade mais aguda e exagerada para a voz e estreitou os olhos, diminuindo o contorno do nariz com os músculos do rosto exaltados, exatamente como se recordava de ver Yuna fazer ao paquerar um dos seus vários pretendentes da noite na balada. — Miau! — Depois levantou uma das mãos, enquanto forjava um miado com som de rosnado de tigre misturado e fingia arranhar o vento com suas garras felinas imaginárias.
Eve sentiu as maçãs do rosto pegando fogo depois da tentativa e rapidamente ficou com a face corada de vergonha, ela mal acreditava que realmente havia feito aquilo. Taehyung, por outro lado, expandiu os olhos de tal forma que jurou que eles poderiam sair voando das orbes, boquiaberto, quando achou aquela atitude, embora de tom estranho e cômico, completamente fofa e jurou sentir seu coração descompassar levemente as batidas.
Calma aê, amigão! Aqui a gente só trabalha com golpes. Taehyung fez uma nota mental de auto alerta, como se conversasse com o próprio coração para que ele recuperasse o controle de seus batimentos cardíacos e sutilmente levantou uma das mãos até o peito para se recompor. Vai, Taehyung, se controla, você não nasceu no pasto pra ser gado.
Enquanto ele fazia suas filosóficas reflexões, Eve concentrou os olhos na flor de miolo amarelo e pétalas graduais de branco e rosa, exposta entre os dedos da mão erguida do rapaz. Taehyung notou o interesse da secretária antes que ela precisasse perguntar.
— Uma Eve para uma flor! — Ele anunciou, todo atrapalhado, e estendeu o braço para frente com a florzinha elevada. — Não! Uma secretária para uma Eve... — Enquanto Taehyung se embolava, Eve pegou a flor africana e aceitou a cortesia, receptiva, então aproximou-a do nariz para sentir seu sutil aroma. — Quis dizer, eu não quis dizer isso, Eve, é... A flor do campo vai murchar, mas quem quiser possuir uma flor vai ter que arrancar a sua beleza para sempre! — Completou, orgulhoso, mas confundiu a citação inteira quando observou os lábios de Eve se abrindo num sorriso bonito.
Que diabos! O que tá acontecendo com minhas habilidades invencíveis de conquista?
— Ér... Por que me chamou? — Taehyung desviou o olhar e rapidamente mudou de assunto, desistindo de corrigir a frase roubada e decorada sobre flores quando percebeu que não sairia nenhuma cantada decente de sua boca. O universo parecia conspirar especialmente contra os modelos bonitões e seus joguinhos de sedução, naquele dia infortúnio.
Todavia, quando levantou o olhar de novo, a secretária parecia totalmente alheia aos seus gaguejos e erros, pois estava com o rosto todo comprimido numa feição estranha de lábios inclinados para frente, parecendo um pato, e olhos exaltados como os de uma coruja, enquanto encostava as palmas das mãos em cada lado de suas bochechas, como se estivesse posando para uma foto muito brega e engraçada.
Taehyung não conseguiu controlar a risada, que pareceu possuir vida própria quando saiu em alto som no meio do estúdio, o que foi mais que suficiente para fazer todos ao redor olharem na direção dos dois. Eve, por outro lado, só entendeu que sua tática para parecer mais atraente e sexy havia ocasionado num efeito oposto quando viu o rapaz enxugar algumas lágrimas perdidas que escorreram por seu rosto.
— Eu... Chamei... Você... Porque... — Eve soletrou as palavras com oceanos de distância uma das outras, quando se convenceu de que era péssima em flertes e paquera, uma completa vergonha, diferente de Taehyung que tinha uma frase de efeito na ponta da língua quase sempre.
A Yuna faz tudo parecer tão fácil! Eve pensava a respeito do ar paquerador que parecia ser impresso com o DNA de sua amiga. Talvez esse talento especial fosse alguma espécie de dom que já nasce inato nas pessoas, uma habilidade que meros mortais comuns como a secretária nunca possuiriam.
— A senhorita está absurdamente mais encantadora e atraente hoje, senhorita Eve. — De outra forma, Taehyung recuperou rápido a sua pose de galã de novela ao vê-la de semblante tão constrangido e vermelho quanto a cor do puff da sala. Depois, distribuiu pequenas piscadelas para a secretária no momento em que falava. — Me faz pensar que foi por causa de ontem à noite e...
Porém, antes que ele terminasse sua fala, foi interrompido por uma assessora que brotou do nada e fez questão de alertá-lo sobre o ensaio de fotos que precisava realizar mais tarde. A secretária Eve acreditou que aquele era um socorro vindo dos céus, o momento exato para fugir, por isso apressou os passos e desapareceu do estúdio em questão de segundos.
Ela só não esperava que fosse seguida.
Eve desejava que ninguém do estúdio de modelos tivesse reparado num momento tão vergonhoso e se lamentou intensamente por decidir pôr o plano em ação no ambiente de trabalho. Péssimo lugar, péssimo horário, considerando também que, mesmo sem ela saber, sua amiga Yuna havia contemplado tudo de longe.
— Eu juro que tive que ver duas vezes pra acreditar que era você! — Yuna falou, escorando o braço ao redor dos ombros de Eve assim que a alcançou. Ela estava com a respiração ofegante pela pequena corrida até a amiga. — Você vai mesmo seguir com aquela aposta ridícula?
— Não é ridícula! É o único jeito de salvar a empresa. — Eve corrigiu e mordeu o canto da boca com ódio, sabendo que era a pessoa mais azarada do mundo porque Yuna era do tipo que não perdoa nenhuma piada. Assim, faria questão de esfregar aquela vergonha na cara da secretária todo o santo dia e nunca a deixaria sossegar e esquecer do incidente.
Ótimo, mais um mico pra minha lista!
— Isso não vale! — Yuna quase gritou. — Estávamos tão bêbadas ontem que nem apostamos nada direito! O que eu vou ganhar quando você perder?
— Eu não vou perder — respondeu confiante, embora estivesse morta de constrangimento por dentro.
— Ah, é? — Yuna levantou uma sobrancelha, desafiadora, quando empurrou a amiga para uma das mesas douradas da cafeteria, onde haviam acabado de chegar e, ainda de pé, sacou o celular. Ela abriu o grupo de conversas chamado de "rolezeiras" e enviou uma mensagem:
As mensagens se multiplicavam instantâneamente no visor do celular, parecia que nenhuma integrante daquele grupo possuía uma tarefa útil para fazer, além de navegar pelas redes sociais e cuidar da vida alheia em pleno horário de trabalho. E Eve se encheu de furor quando percebeu que nenhuma de suas amigas levava o seu miraculoso esquema a sério, por isso, também pegou o celular apenas para finalizar a conversação com um audacioso desafio.
Embora Ryujin continuasse fazendo seus milhões de protestos, Yuna deu pulinhos de alegria quando Eve enviou a última mensagem e jogou o corpo na cadeira da cafeteria da Blikis Corp., ao lado da amiga, abrindo um sorriso grande nos lábios e completamente satisfeita.
— Ai, Eve, pode preparar o bolso — Yuna dava tapinhas de consolação no ombro da amiga. — Porque do jeito que você flerta mal, a aposta tá no papo pra gente. E não perde por esperar, porque vou escolher o Spa mais caro de Seul!
— Não vou pegar leve com vocês — Eve disse com voz de ameaça, mas Yuna não se intimidou nem um pouco.
— Miau! — Pelo contrário, a amiga fez questão de caçoar da secretária quando imitou a sua mistura de rosnado e miado na mesma sílaba e começou a rir, pouco antes de se levantar para escolher um café gelado. Yuna não dava o mínimo de crédito para a aposta e estava certa de que ganharia um dia de Spa gratuito sem nenhum esforço.
Eve revirou os olhos e bufou, meio desconsolada. Em certo ponto, Yuna tinha toda razão sobre o que falava. Mesmo assim, a secretária não podia dar o braço a torcer. Logo, tendo todas as suas amigas contrárias, ela sabia ter que procurar ajuda e dicas de conquista com outra pessoa. E ela até já tinha uma ideia de quem poderia ser, pois pensou no alguém mais charmoso e irresistível do mundo...
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Daewon estava jogado na cama, com a cara enfiada no celular, enquanto Eve se aproximava dele como um gatinho abandonado e pidão.
A lua era vista pelas largas portas de vidro que davam acesso à varanda, de frente para o quarto master do apartamento, e as cortinas abertas deram a visão perfeita do conjunto do céu e suas estrelas quando Eve debruçou um lado da cabeça no peito descoberto de seu namorado.
Uma brisa leve fluía do exterior e deixava o ambiente muito agradável, sem mencionar a vista privilegiada que deixava os corpos celestes parecendo estar duas vezes mais próximos que o normal. Mas tanta beleza persistia sendo ofuscada pelo brilho chato do visor do celular de Daewon. Ele permaneceu indiferente à namorada enquanto digitava no aparelho.
Eve levantou o rosto e teve a visão vertical do rosto de seu namorado. Terrivelmente bonito! E passou alguns segundos somente observando os seus traços únicos, a boca fina, mas bem contornada no topo, o nariz arqueado e os olhos puxados e bem inclinados como se fossem eximiamente delineados através de maquiagem.
Daewon não pareceu notar que a namorada o encarava, então continuou digitando até que Eve se incomodou com os barulhos das teclas touch screen e levantou um pouco o rosto para bisbilhotar. Ele não gostou da atitude, então subiu o corpo e Eve teve que desgrudar a cabeça de seu tórax quando ele se sentou na cama e ligou um abajur de mesa acima da bancada, ao lado da cama, abaixando a tela do celular até o tecido azul que forrava o colchão e perguntando:
— O que foi dessa vez, baby? — Baixou os ombros e dirigiu o olhar a ela. — Qual o problema no trabalho que tá te deixando ansiosa assim, hum?
Daewon acertou em cheio, porque sabia bem que quando Eve tinha crises de carência e ansiedade, significava que estava enfrentando imprevistos no trabalho.
— Não é nada — Eve deitou de barriga para cima na cama, enquanto alguns cobertores se enrolaram em seus pés, e mentiu.
Qual seria a reação de Daewon naquela noite se a sua namorada tivesse revelado o seu plano para fazer um golpista se apaixonar por ela?
Ele tentou abrir a boca para rebater a resposta insatisfatória e sem graça, mas o seu celular vibrou e Daewon prontamente voltou a grudar os olhos na tela. Eve ficou um pouco frustrada, porque, no fundo, esperava que ele insistisse um pouco mais. Ainda assim, virou a barriga para baixo e apoiou os cotovelos no colchão da cama e a cabeça nas palmas das mãos, mirando o namorado com olhos de interesse, pois precisava de sua ajuda.
— Eu estava pensando e... Os homens têm algum ponto fraco? — Ela perguntou e fez de tudo para soar desinteressada, como se fosse uma pergunta aleatória qualquer.
— Hum? — Daewon pareceu não ter escutado direito quando rebateu.
Entretanto, essa foi a oportunidade perfeita para Eve reformular a sua frase para que não resoasse com a conotação errada ou abrisse margem para outras interpretações.
— O que posso fazer para deixá-lo ainda mais apaixonado por mim, Daewon? — Ao repetir a pergunta, o namorado logo desviou a atenção do celular e se concentrou na garota. — Qual a sua fraqueza?
— Bem, seria perfeito se você fosse um pouquinho menos responsável e me permitisse fazer certas coisas no escritório...
— Daewon! — Eve repreendeu e lançou um travesseiro na cabeça dele. — Isso não vale... Fala outra coisa!
Daewon quase morreu de rir quando viu o rosto envergonhado de sua namorada, mas depois falou:
— Beijinhos atrás da orelha!
— O quê? — Primeiro, Eve achou aquela sugestão muito estranha e arregalou os olhos enquanto manteve os lábios afastados, sem acreditar. Mas o olhar intenso de seu namorado, assim que a risada acabou, a fez mudar de ideia.
Eve engatinhou pelo colchão até Daewon, lentamente, e quando chegou perto o atacou com diversos beijinhos atrás da orelha. Sem demora, observou o namorado deixar o celular totalmente de lado enquanto se desmanchava sob seus toques. Por último, o diretor da Blikis a enlaçou pela cintura para deixar bem claro que ela não se livraria dele tão facilmente naquela noite.
Assim, Eve descobriu que, de fato, beijinhos atrás da orelha eram como o calcanhar de Aquiles de seu namorado. A secretária supôs que talvez isso pudesse funcionar igualmente para todos os homens.
Será que beijinhos atrás da orelha são uma fraqueza universal na paquera?
Todavia, não havia como saber sem testar. Por esse motivo, Eve estava disposta a dar outro passo perigoso em seu plano e Taehyung seria a cobaia perfeita. Mas dessa vez ela não pretendia cometer o erro de tentar seduzir o rapaz em pleno ambiente de trabalho. Muito menos na frente de diversos colegas e amigos.
* Hwaiting: é uma expressão sul-coreana, derivada do inglês "fighting", que possui um significado de encorajamento que também pode ser traduzido como: "boa sorte", utilizada para desejar ânimo e boas energias.
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