Capítulo 3°
Dois dias depois do tumultuado e calamitoso evento, ela corria contra o tempo, como uma louca, na tentativa de recuperar todo o prejuízo que o recente e inesperado plágio proporcionou à empresa na qual trabalhava. Antes de tudo acontecer, Eve acreditava possuir a vida perfeita, o emprego perfeito e, acima de tudo, o namorado perfeito.
Todavia, bastou que uma concorrente lhe roubasse um de seus maiores projetos, antes de seu lançamento, para que todo o seu otimismo fosse desintegrado como o efeito de uma iminente explosão nuclear.
Dessa forma, enquanto atendia aos milhares de telefonemas de investidores revoltados, sentada em seu gabinete de secretária, tentando lutar contra o caos, ela foi capaz de ouvir os ruídos de saltos finos, familiares até demais, ecoando no corredor de espelhos lustrados.
— Com licença, por acaso, você tem horário marcado com o Diretor Blikis? — Eve perguntou intrometida, rapidamente transferindo a chamada de telefone dos investidores para qualquer estagiário e se retirando de seu posto, ávida, quase como uma águia feroz, assim que previu o problema, ao constatar de quem se tratava. — Senhorita Nari?
Eve, que não esperava por uma visita concomitantemente tão desavergonhada e importuna, precisou repetir a pergunta e sutilmente encostar a ponta dos dedos em um dos braços de Nari, em busca de pará-la, para que, finalmente, obtivesse alguma resposta.
— Oh, lindinha, deve ter algum engano acontecendo aqui, não? — "Najari" virou o rosto em direção à secretária com certa soberba, através de seus saltos altos ela olhava de cima, como se estivesse vislumbrando um inseto insignificante em sua frente, como um mosquitinho chato e zumbidor. — Nós duas sabemos que eu não preciso dessas formalidades todas, garanto que o Dae não terá problemas em me receber...
Depois, Nari tocou os dois lados dos ombros de Eve, com falsa preocupação, desamassando as mangas de sua camisa social rosa bebê transparente, que no momento estava toda amarrotada, graças à rotina caótica de uma secretária que fazia questão de carregar todos os problemas da empresa nas próprias costas.
Entretanto, não foi a falsidade nítida nas palavras preocupadas de Nari que mais deixou Eve perplexa e desacreditada, e sim o apelidinho inapropriado que ouviu sair de sua boca: "Dae", justamente para se referir ao seu namorado.
Como é que é? De onde foi que essa megera tirou tanta intimidade assim?
— Lamento informar, mas o Sr. Daewon não está recebendo visitas sem o prévio horário marcado — Eve deu dois passos para trás, ergueu a postura, e depois informou calmamente, forjando um sorriso receptivo no rosto e contrariando o seu ódio interior que parecia duas vezes mais intenso: — Mas, se você insistir, eu posso agendá-la para a semana que vem.
— Semana que vem? — Nari repetiu, com uma das sobrancelhas elevadas como um pico pontiagudo, como se não houvesse entendido ou se recusasse a entender.
— Eu disse semana que vem? — a secretária foi incapaz de conter sua pequena iniciativa, sutil como uma bigorna de chumbo, de tentar dar o troco com o semblante mais cínico do mundo impresso no rosto, considerando a falta de simpatia persistente entre ela e a CEO da Nari Cosmetics. — Perdoe-me, quis dizer mês que vem!
Nari alfinetou o olhar e também não fez questão de esconder o seu evidente desgosto, mediante a atitude sobranceira de Eve.
— Me dê licença! — e depois insistiu, apertando o cachecol felpudo de cor coral ao redor do pescoço e, simultaneamente, esticando o cardigã feito de lã, de tonalidade marrom-trufa, sobre o tronco do corpo. Nari revirou os olhos antes de sair caminhando em direção ao escritório do único diretor-executivo da Blikis Corp., aborrecida e revoltada, desconsiderando os alertas da funcionária, aos seus olhos, impertinente e desmiolada.
Ah não, não, aonde pensa que vai?
— Desculpe, mas você realmente não pode entrar. — Eve teve que reafirmar e tomar a dianteira na trajetória, ficando exatamente na frente da porta do escritório de Daewon, com os braços estendidos, barrando a passagem como se fosse alguma espécie de guarda-costas particular.
Nari parou de avançar quando teve certeza de que Eve não estava disposta a ceder, por isso, sabendo que desistir não era uma opção, ela pouco se importou em explorar o seu último recurso, aliás, o mais humilhante possível.
— Daewon! Daewon! — contrariando os seus pouco mais de vinte anos, Nari simplesmente decidiu que gritar pelo nome de Daewon com voz aguda e melodramática, no meio do seu local de trabalho, era a solução para os seus problemas. — Dae, é a NaNa! Estou aqui para ver você, mas sua secretária não me deixa entrar...
Foi questão de poucos segundos até que todos os funcionários ao redor tivessem os seus olhares e atenções roubados pela cena exageradamente escandalosa que, em segundos, formou-se bem na frente da sala do chefe da empresa.
Eve arregalou os olhos, espantada e incrédula, mas não se retirou do caminho. Ela ficou petrificada, tipo uma estátua de sal, sem saber como deveria reagir.
Porém, não foi preciso muito tempo para que toda a situação resultasse nas benditas portas do escritório central sendo abertas, e em um Daewon confuso e desnorteado, como resultado, saindo de sua sala. Eve, mais uma vez, viu-se completamente incapacitada a frear a confusão que parecia acompanhar a "tubaroa das makes" por onde quer que passasse, como se fosse o seu verdadeiro reflexo.
Daewon exaltou os olhos assim que confirmou as duas causadoras da gritaria. A sua namorada, por sua vez, inclinou o corpo para trás assim que sentiu a temperatura mais fria em contraste com sua pele, acompanhada pelo barulho da maçaneta sendo aberta e da porta dupla de madeira ipê escancarada; a CEO da Nari Cosmétics apenas sorriu, como uma raposa feliz, assim que viu o rosto meio enfadado do herdeiro Blikis, finalmente, dando o ar de sua graça.
— Eu posso saber o que significa tudo isso? — Daewon perguntou com uma voz inicialmente preguiçosa e brava, grossa demais, olhando em direção de Eve e buscando por respostas.
— Dae, ainda bem que chegou! — Nari foi a primeira a falar, aparentando alívio e empolgação na voz, enquanto Eve só abaixou a cabeça e começou a encarar o chão sem pensar em nenhuma desculpa satisfatória para justificar um comportamento tão imprudente no trabalho. — Eu estava explicando pra essa sua secretária que não preciso de horário marcado quando quiser falar com você...
Nari apertou os olhos e dirigiu o seu sorriso mais cativante em direção ao herdeiro Blikis, um daqueles sorrisos matadores que fazia qualquer mortal se render aos seus pés, pelo menos em teoria.
— Tudo bem. Ela deve ter cometido um equívoco. — Daewon garantiu, receptivo e permitindo um sorriso ladino desabrochar gradativamente, levantando os braços levemente numa tentativa de apaziguar a situação, ele também aproveitou para tranquilizar Eve com uma sutil piscadela jogada em seu sentido. — Senhorita Nari, por favor, pode entrar. — Após acalmar os ânimos, cordialmente, ele estendeu um dos braços e curvou a cabeça como se esperasse que a dita cuja andasse adiante.
— Mas... — Eve ainda tentou protestar.
Imediatamente, Nari virou o corpo para trás, fazendo uma expressão de furor no rosto pelo manifesto contraditório da funcionária. Como se a sua expressão fosse o suficiente para desmaterializar a sua oponente e fazê-la desaparecer num passe de mágica.
— Sem mas! — Daewon teve que garantir com firmeza, o que foi suficiente para Nari mudar a expressão de ira para contentamento, como se fosse instantâneo, e adentrar o escritório do Blikis sem hesitar. — Tá tudo bem, baby — antes de cerrar a grande porta dupla, ele balbuciou para Eve, e esse foi o único consolo que ela recebeu antes de ver a sala de diretor-executivo voltar a ser fechada e misteriosa, dando espaço para mentes curiosas fantasiarem milhares de teorias mirabolantes, uma mais cabeluda do que a outra.
Uma dessas mentes curiosas era ele, o golpista descarado, Kim Taehyung. Que, no momento, estava escorado no balcão de recepção, observando toda a cena teatral de longe. Prestando uma atenção especial em Eve, que permanecia estática olhando para a madeira da larga porta de cor marrom-amendoada.
Taehyung ainda teve tempo de jogar os seus fios de cabelos castanhos e ondulados para trás, do jeito mais charmoso que sabia fazer e, consequentemente, roubando os suspiros de diversas mocinhas concentradas em seu excesso de beleza. Depois saiu desfilando, como se estivesse no meio de uma gigantesca passarela refletora, ou até do majestoso tapete vermelho do Oscar, em direção à Eve.
— Alguém precisa ensinar bons modos pra essa CEO de nariz empinado, você não acha? — Quando Eve acompanhou o rumo de onde vinha a voz bisbilhoteira, redirecionando o seu rosto, Taehyung ainda fez questão de fazer uma breve encenação do jeito engraçado e espalhafatoso que Nari fazia questão de deixar como sua marca registrada ao andar, balançando o bumbum de um lado a outro.
Eve não pôde controlar o riso, foi mais forte do que ela.
— Ah, senhorita Eve, eu sou obrigado a lhe dizer que seu sorriso derrete até o mais duro dos corações... — Taehyung fez questão de pegar em sua mão esquerda, como se fosse um daqueles cavaleiros descritos em romances épicos da idade média, e lhe deixou um beijo no topo, bem próximo ao início dos dedos, quente e doce. — Enquanto a mim, como nunca tive o coração muito forte, você não pode imaginar o efeito que me causa.
A garota pigarreou forte, e pela primeira vez perdeu a reação em meio a uma das investidas mais baratas e sujas do conquistador-de-casadas. Ele não passa de um golpista salafrário. Eve teve que se convencer e relembrar mentalmente, balançando a cabeça, só para reconectar o pensamento.
— Eu posso saber o que você tá fazendo aqui? — A secretária apertou as mãos e ajeitou a camisa social, aproveitando para fechar mais dois botões de cima e, assim, cobrindo até o pescoço, continuando a falar com um tom mandão e responsável de superior. — Fora do set de fotografias, deixando de fazer o que você é pago para fazer, Kim Taehyung?
— Eu vim ver você, não é óbvio? — Ele tombou a cabeça para o lado, só para observar melhor a reação de Eve e acompanhar, com os olhos atentos, o movimento gradativo de suas mãos fechando os botões. Mãos essas que teimavam em cobrir demais o corpo, todas as vezes que estava sob o efeito de seu olhar. Ela, contrariando a vontade do Kim, revirou os olhos de desgosto, girando-os em longas órbitas.
— Conta outra. — Sua voz, além de desacreditada, era repleta de ironia. — Eu não sou casada, não faço o seu tipo. — Levantou a mão esquerda, apontando para o dedo anelar vazio em evidência, ressaltando a falta de uma aliança de casamento.
Depois de salientar o mau costume de Taehyung em relação às mulheres que comumente se relacionava, Eve saiu andando na direção de seu gabinete e o deixou plantado, junto a todo o seu charme exagerado. Mas, assim como a CEO da Nari Cosmetics, Taehyung não desistia fácil do que queria, por isso, ele se esforçou para, em passos largos, alcançá-la.
— Eu acho que isso é uma coisa sobre a qual eu deveria decidir, você não concorda? — Ele andou até que ficasse em sua frente. — Eu decido se você faz ou não o meu tipo... E, nesse caso, o meu tipo não poderia ser mais adorável do que uma secretária desengonçada de língua afiada.
— Era pra ser um elogio?
— Uh! Você quer ser elogiada por mim, é isso?
— NÃO! Eu não quis... — Eve berrou e se embaralhou nas palavras, fitando Taehyung com os olhos arregalados, como alguém que pateticamente havia caído na armadilha. — Você tá mesmo dando em cima de uma superior no trabalho que acabou de ser contratado? — ela desafiou. — É assim que acha que vai conquistar uma promoção?
— E você? — ele rebateu, acompanhando os passos de Eve, mas andando de costas, olhando para o seu rosto com ar de desafio, depois, tomando liberdade de colocar uma mecha do cabelo, que estava na frente do rosto de Eve, para trás de sua orelha. — Não acha divertido um amor de escritório?
— Eu? — Eve sentiu o rosto arder e, por segundos, paralisou os passos, retrocedendo mais dois. O medo a dominou em cheio, ela observava Taehyung como se quisesse descobrir suas verdadeiras intenções. — O que você está insinuando, Kim Taehyung? — a sua pergunta soou mais áspera, ofendida e defensiva do que deveria.
— Eu acho excitante. — Taehyung deu de ombros, como se não tivesse falado nada demais. — Ter um amor de escritório. Eu queria ter algo assim, alguém que me fizesse correr riscos e que também fosse a responsável por acelerar meu coração, assim como o seu sorriso que alegra o meu dia.
— O que o meu sorriso tá dizendo agora? — Eve perguntou, interrompendo o falatório e fazendo uma cara feia, uma careta toda enrugada.
— Humm... Esse rostinho me diz que está com fome e vai aceitar o meu convite pro almoço! — Taehyung sugeriu, esperançoso e sorrateiro.
— Errado. Significa que tá na hora de você voltar pro trabalho, antes que eu faça uma ocorrência aos seus supervisores — ela mal terminou de fazer a sua ameaça quando, mostrando a língua para fora, fechou a porta de sua sala de secretária bem na cara de Kim Taehyung, o golpista. Com isso, ela estava pronta para voltar à sua sessão de tortura e ligações com investidores bravos.
— Vou entender isso como um "talvez"! — Taehyung avisou, usando uma voz inapropriadamente alta e sorrindo pelo êxtase de esperar pela sua melhor conquista. Era como se cada "não" que recebia de Eve, gradualmente, construísse um desejo ainda maior de tê-la sob seus encantos.
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— Por que você tá me olhando assim? — Daewon perguntou, fazendo um biquinho manhoso e inconformado. Cruzando as pernas e os braços.
— Assim como? — Eve rebateu e se fez de desentendida, piscando os olhos.
— Assim, tão fria e distante de mim...
Ele reclamou e fez esforço como se fosse levantar da cadeira. Mas Eve se afastou, imediatamente, como se tivesse medo de que ele chegasse mais perto.
— Só estou fazendo o meu trabalho, entregando os papéis da nova linha de maquiagens para o meu chefe averiguar...
— Vem cá — desinteressado, Daewon empurrou a papelada para o canto de sua mesa em formato retangular com cor de castanholas e abriu os braços para que Eve fosse até o seu encontro. — Você sabe que eu confio plenamente em você pra essas coisas.
— Daewon, aqui é o seu escritório e nós já conversamos sobre, agora, não ser a hora e nem o lugar pra essas coisas — ela dobrou os braços no meio do busto e dirigiu um olhar severo para o namorado imprudente, falando como se lhe desse uma bronca.
— Eu já sei. Confia em mim, baby — ele, ainda assim, manteve os braços levantados, acompanhados de olhos desejosos e dengosos. — Vem cá... Eu não mordo, a não ser que você peça.
Eve sentiu a espinha tremer e as mãos gelarem. Não tinha jeito, Daewon era capaz de desmanchá-la com poucas palavras, e só ele conseguia fazer isso tão bem, bastava um daqueles olhares estreitos e pidões, somados a uma voz carregada de tentação e jeitinho. Assim, ainda meio relutante, mas derrotada, Eve se aproximou lentamente dele, até que ficassem frente a frente.
— Senta aqui — ele deu batidinhas nas próprias pernas, aproveitando e também apontando com as mãos.
Embora todos os seus neurônios estivessem em estado de alerta, Eve não recusou. Como resultado, ele a enlaçou pela cintura e fez questão de fitá-la no rosto, antes de perguntar:
— Agora me conta... Por que tá chateada comigo?
Por mais que quisesse manter o mistério para que ele desvendasse sozinho, Eve já se encontrava encurralada, mais uma vez, e completamente entregue às suas vontades.
— O que a Najari queria com você?
— O que... quem? — rebateu, sem entender.
— O que a CEO da Nari Cosmetics veio fazer aqui?
Daewon sorriu engraçado. Então é ciúme?
— Não é nada, baby, não se preocupe com essas besteiras — Daewon garantiu e depositou um beijo debaixo do lóbulo da orelha de Eve, quase que no mesmo instante ela sentiu um frio percorrer por todo o corpo, dos fios de cabelo até as pontinhas dos pés.
— Ela plagiou o nosso novo lançamento... Não é confiável. — Mesmo abalada, Eve resmungou sem esquecer de mencionar. — Por isso estou recolhendo materiais para entrar em um processo formal contra a empresa dela.
— Essa é uma acusação muito séria, baby. — Daewon, enquanto falava, parecia mais interessado em deixar beijos e marcas nas áreas da orelha até a ponta do queixo de sua namorada. — Pode ser uma simples coincidência, hum?
— Uma coincidência de nomes, cores e tudo mais... Não tem como Daewon! — Eve reafirmou, sendo capaz de resistir às carícias, justamente, por se lembrar de como todo o trabalho foi roubado.
— Nari não faria isso, pode ter sido algum funcionário, tenho certeza de que ela não faria mal para a nossa empresa e...
Todavia, a última fala foi a responsável por fazer Eve se afastar dos carinhos de Daewon, com uma carranca amarrada no rosto.
— Como você sabe disso?
— Porque..., porque ela assinou um contrato de parceria com a Blikis! — ele exclamou, vendo Eve quase saltar de espanto.
— Como é que é? Quando foi isso? ... E, por que não fiquei sabendo de nada?
Daewon não se alarmou com a curiosidade de Eve, apenas fez questão de apertá-la ainda mais com suas mãos, que agora circulavam pelas pernas da namorada.
— No dia em que você me deixou sozinho no evento, lembra? — depois de recordar, ele deu um pequeno selinho nos lábios de Eve. — E hoje, Nari veio aqui para finalizar o acordo...
— Ela não é confiável, Daewon! — Eve ainda alertou, mais uma vez, repleta de preocupação.
O olhar de Daewon mudou de despreocupado para severo.
— Mas é reconhecida mundialmente no mundo da beleza, e você sabe muito bem que eu tenho menos de quatro meses para fazer essa empresa gerar lucros de verdade.
— Eu posso dar um jeito nisso, não precisa fechar contrato com a Nari Cosmetics! ... É só abrir um processo judicial e..., e então vamos recuperar tudo! — dessa vez, Eve se ofendeu e respondeu com um bico indignado no rosto.
Daewon, observando o seu estado, levou uma das mãos até a nuca da secretária emburrada. Exatamente atrás de sua cabeça e, assim, começou a massagear seu couro cabeludo. Depois, com uma voz cautelosa, prosseguiu a fala:
— Abrir um processo com uma empresa que acabou de se unir conosco não renderá boa fama para a Blikis... — ele explicava em meio à sua massagem relaxante.
— Mas ela pode ser perigosa! — Eve não recusou a massagem mas, com a voz, protestou.
— Não temos nenhuma prova que a condene. — Daewon tinha uma tonalidade calma e acolhedora quando respondeu.
— E se... — Ainda assim, Eve parecia possuir contragostos que, antes de serem pronunciados, foram interrompidos pela voz manhosa de seu chefe.
— Eu sei que tenho uma namorada muito eficiente, mas, no mundo dos negócios, o poder vale mais do que a eficiência. A Nari tem o poder, e nós temos a eficiência. Por que não juntar os dois?
Eve permaneceu recebendo a massagem sem recusar, dessa vez em silêncio, e tinha que reconhecer que Daewon possuía mãos mágicas, e ela se permitiu relaxar um pouquinho sob seu toque, apoiando o seu corpo ainda mais contra o dele.
— Eu prometo que será por pouco tempo, baby. É só até o período de avaliação que meu pai impôs acabar e, então, em poucos meses, eu serei oficialmente o dono disso tudo e muito mais — olhando para o alto horizonte, através dos vidros transparentes de sua sala, ele falava, tendo uma vista panorâmica da grandeza do prédio Blikis. — E você, será a minha esposa.
Para Eve, ouvir aquela promessa era como a realização de um sonho. Tudo o que ela mais queria era formar uma linda família ao lado de Daewon Blikis, mas a única coisa que impedia a concretização de seus planos era aquele maldito prazo de teste, com validade de um ano, que foi imposto como condição irremediável para a ascenção de Daewon como o único responsável pela empresa de sua família, ainda que fosse o único herdeiro.
Sorte que a maioria do tempo já havia transcorrido, dessa forma, em menos de quatro meses tudo seria, basicamente, flores e arco-íris para os dois. E, seguindo a lógica, além de um emprego e vida perfeita, Eve também teria um marido e família perfeitos.
Por esse motivo, ouvir aquelas palavras funcionou como o fator fundamental para que ela, finalmente, descansasse e abandonasse tantas preocupações que rondavam sua mente. Afinal, Daewon parecia saber muito bem do que falava, também, estava na hora de Eve confiar mais em seu namorado.
Ele percebeu que havia conseguido tranquilizá-la quando sentiu a sua cabeça pesar um pouco mais sobre a sua mão. Logo, ainda segurando em sua nuca, Daewon lentamente subiu o seu rosto e deixou um beijo molhado atrás da orelha de Eve.
— Você gosta mais disso? — perguntou com voz sussurrada, ainda próximo de seu rosto, um pouco antes de morder o lóbulo da mesma orelha. — Ou disso?
Eve se encontrava perfeitamente rendida e sem protestos, ainda que sempre fizesse o cuidado de evitar situações íntimas com o seu namorado dentro do ambiente de trabalho. Mas, se havia uma coisa em que Taehyung estava redondamente correto é que sim, é excitante. Pensando nas falas anteriores do golpista galanteador, ela se deixou levar pelo menos uma vez, sem se preocupar em estar trocando carícias com o seu chefe em seu escritório.
— Eu gosto mais de você. — Foi a única coisa que ela respondeu, um pouco antes de roubar os lábios do namorado com gula. Encostando-os nos seus, saboreando-os por inteiro. Depois, usou as duas mãos para começar a desatar o nó da gravata azul listrada de seu chefe.
O beijo que dividiam era frenético e afoito, desesperado, e que só foi interrompido pelo barulho de três batidinhas leves e sutis na porta de entrada. Eve foi a primeira a voar de cima de seu namorado para bem longe, apavorava com o pânico de ser flagrada em uma situação tão desconcertante. Daewon abriu bem os olhos, também alarmado, ajeitando a roupa amassada e escondendo a gravata solta debaixo das próprias coxas.
A maçaneta girou e a porta se abriu, o responsável pelo ato foi Jung Hoseok, o tesoureiro da Blikis Corporation. Eve, por sua vez, nem esperou para saber do que se tratava a visita, porque fez questão de desaparecer como um foguete, assim que viu uma brecha na porta aberta, escondendo o rosto e o possível batom borrado nos lábios.
Caminhou desconcertada por todo o corredor até o banheiro, todos os funcionários olharam preocupados, pensando que ela pudesse estar passando mal. Eve corria tão rápido que ninguém teve chance de, sequer, lhe oferecer ajuda.
Entretanto, antes que entrasse por completo no banheiro feminino, de longe, a secretária observou que, no mesmo percurso do banheiro estava ela, a CEO da Nari Cosmetics, acompanhada dele mesmo, o golpista bonitão, Taehyung. Os dois estavam próximos do banheiro masculino, do lado direito, enquanto Eve e sua curiosidade observavam tudo do lado esquerdo, apenas com o rosto para fora da repartição feminina.
Taehyung esbanjava graça e beleza, como sempre, com as duas mãos enfiadas nos bolsos da calça social e as costas escoradas na parede atrás de si. Nari, exagerada como sempre, gesticulava como se o seu corpo tivesse vida própria ou falasse por si só.
Do ângulo no qual Eve se encontrava, era incapaz de ouvir a conversa aparentemente empolgada dos dois, um diálogo que tanto fazia Nari se inclinar para frente e levantar os braços com energia. Porém, a visão foi suficiente para que Eve captasse o momento exato quando Nari tocou o peito de Taehyung com suas duas mãos, espalmando-as com gosto, deslizando de cima para baixo. Uma carícia abrasiva demais para simples desconhecidos.
Eve, juntamente ao seu espírito bisbilhoteiro, foi incapaz de conter o impulso de, em passos silenciosos e certeiros, começar a se aproximar dos dois suspeitos e sair do banheiro feminino. Ela caminhava colada à parede, como se pudesse virar um camaleão e se camuflar nela. Com a aproximação, a conversa misteriosa passou a se tornar sussurros, estava tão perto que a secretária fosse capaz de entender o assunto acalentado que se passava entre eles.
O que será que rola entre esses dois? Será que eles tão tendo um caso? A Najari sabe que o Taehyung é um golpista barato?
Todavia, antes que pudesse sequer entender meia palavra do que era dito, Eve perdeu a noção de que havia andado demais para o lado direito e, como consequência, acabou se trombando com um funcionário que saía do banheiro masculino. Desestabilizada, ela viu as suas pernas falharem, para não cair ou causar maiores escândalos, a secretária optou por se enfiar dentro do banheiro, com o coração pulsante no peito, fechando a porta em seguida, sem se importar muito com quem quer que estivesse usando o repartimento reservado apenas para homens.
— Moça, aí não é o banheiro feminino! — O rapaz que foi atingido pela sua desatenção ainda comunicou, sendo completamente ignorado pela porta que, sucessivamente, ele viu sendo fechada com pressa pela garota afobada.
Ai meu pai! Será que eles me viram? Eve se perguntava, escorando as costas na porta branca e azul do banheiro e fechando os olhos, aproveitando para respirar fundo e contar até dez mentalmente.
De todas as perguntas que circularam em sua cabeça criativa, para nenhuma delas Eve tinha uma resposta clara, por isso, naquele instante restou somente a certeza de que ela, definitivamente, precisava descobrir o que estava acontecendo entre duas pessoas potencialmente tão destrutivas. A partir de então, Eve se convenceu de que faria de tudo para desvendar aquele enigma, afinal, tanto o futuro da empresa quanto o seu casamento perfeito estavam em jogo.
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