Capítulo 2°
Taehyung arrancou um pedaço da rosquinha com os dedos, o vermelho do creme que transbordou para fora fez seus pensamentos vagarem até a moça de vestido de renda no mesmo tom do doce; cujos olhos curvilíneos o encararam, demasiadamente alarmados, duas vezes — na segunda vez com os lábios carmins borrados e o vestido em questão aberto nas costas, depois de ter sido agarrada pelo diretor da Blikis Corp e levada para dentro de sua sala.
A imagem parecia pintada nas retinas dele, repetindo-se num loop indesejado. Talvez fosse um lembrete de que não foi por acaso que flagrou Daewon Blikis, o diretor da Blikis Corp, com ar de empresário descolado, de brincos nas orelhas e olhos de raposa — alongados e amendoados —, quase transando com a própria secretaria nos arredores da empresa.
O rapaz tamborilou os dedos longilíneos na mesa de granito cromada e olhou através dos vidros da cafeteria em que estava. O trânsito fluía perfeitamente bem na frente da empresa na qual atuaria como modelo para a linha de cosméticos masculinos. Fluía tão bem quanto os negócios que o diretor supostamente gerenciava. Ao menos era o que ele pensava até conversar com um dos investidores e alguns funcionários da Blikis Corp — para não mencionar a oscilação nas ações da empresa desde o lançamento dos produtos da concorrente.
Em suma, o que Taehyung tinha ouvido a respeito do herdeiro da família Blikis, uma das mais ricas do país, não era mentira. Daewon Blikis era apenas mais um homem rico, com o rostinho bonito, que nada sabia fazer além de gastar dinheiro e ter um caso com a secretária — a verdadeira mente por detrás do sucesso financeiro da empresa. A famosa Severino faz tudo. E talvez descobrir o romance tórrido vivido pelos dois, nos cantos da empresa, pudesse lhe ser benéfico, concluiu, observando duas moças atravessarem as portas duplas da cafeteria.
Os olhos das recém-chegadas logo pousaram sobre o homem solitário na mesa colada à janela. Sorrisinhos e cochichos flutuaram até ele. A mais alta sentou-se na mesa de frente para a dele pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha, sem desgrudar os olhos de sua face nem por um segundo.
Taehyung sorriu, içando uma das sobrancelhas ao segurar a asa da xícara cheia de chocolate com marshmallow, levando-a até a boca.
Aquela era a prova de que, sem dúvida, descobrir que Daewon era apaixonado pela senhorita Eve — o coração de seus negócios — facilitaria sua vida. Ter uma mulher era a parte mais fácil de seu trabalho, convencê-las de que não precisam de um otário como os maridos, noivos, ou namorados, era algo que acontecia sem que precisasse usar de muita lábia — ao menos não com as palavras em si.
E se Eve era a chave para que ele pudesse alcançar seus objetivos, estava na hora de se aproximar... e cativá-la.
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Manchas pretas cobriam as vistas de Taehyung enquanto os refletores e flashes das câmeras o cegavam. A fotógrafa ditava poses enquanto a assistente corria de um lado para o outro no estúdio para trocar os produtos que o modelo deveria segurar. Aquela era apenas a primeira parte da sessão daquele dia, pois ele ainda teria que fotografar ao lado da modelo de cosméticos femininos, para a campanha que os líderes do Marketing tentavam reconstruir desesperadamente.
Ele, claro, achava aquilo extremamente entediante e desperdício de tempo, uma vez que os frascos dos produtos teriam que ser alterados para que a Blikis Corp não fosse acusada de plagiar a linha recém-lançada pela empresa rival, a Nari Cosméticos. No entanto, Taehyung não podia reclamar — afinal de contas, estava sendo pago para isso.
O rapaz rapidamente se viu mudar de ideia sobre o desperdício de tempo naquela sessão de fotos quando, diante de suas vistas, uma mulher de cabelos ondulados abaixo dos ombros, vestindo uma saia lápis creme e camisa chiffon com bolinhas pretas nas mangas brancas, entrou no estúdio. A mulher que ele passara o dia observando, cada passo, cada movimento, como um lobo espreitando sua presa à espera de uma abertura para que pudesse se aproximar.
Como se o destino contribuísse com o que planejava fazer, a fotógrafa anunciou uma breve pausa de quinze minutos para todos que estavam ali trabalhando. Taehyung se afastou dos holofotes e caminhou sorrateiro até onde a mulher estava, perto das mesas com frutas e donuts que seriam usados nas fotos do segundo período. Aquela era sua chance de ouro!
— Procurando por mim? — Sussurrou rente ao ouvido da moça, fazendo-a virar-se sobressaltada.
Eve pareceu confusa por um breve momento, dizendo "sim" e depois "não, claro que não", pois viu que a pessoa que a abordava era o rapaz de fios escuros e ondulados quase cobrindo os olhos no mesmo tom, que a encaravam com um sorriso de lado e uma das sobrancelhas levemente arqueadas — literalmente o oposto da mulher de fios louros e lábios finos que ela procurava.
— Fez meu coração se encher de esperanças com seu "sim", só para esvaziá-lo com o "não". E logo depois do que aconteceu entre nós dois ontem. Você é má. Nem ao menos me disse "obrigada" antes de fugir.
As sobrancelhas de Eve ergueram-se tanto que por pouco não alcançaram a raiz dos cabelos. Ela o olhou com as pálpebras abertas em exagero, as bochechas coraram e ela pigarreou, lembrando-se de como arrancou o telefone das mãos do modelo e fugiu dele quando se ofereceu para ajudá-la a fechar o vestido depois de perguntar se algo ruim tinha acontecido com ela, sendo que estava visivelmente mal após a saída do evento.
Ter aqueles olhos penetrantes perscrutando-a era demais para ela na noite passada. O deus do caos e da humilhação parecia tê-la escolhido, pois não bastava ser flagrada com a maquiagem borrada pelo choro e pelos beijos de Daewon, tinha de estar quase nua, com o vestido completamente aberto graças ao namorado secreto e imprudente. Quando o elevador abriu no oitavo andar, parecia um sinal do universo lhe dizendo para salvar o que restava de sua dignidade. Por isso, Eve não pestanejou e correu até o compartimento metálico sem olhar para trás.
— Bem, obrigada. — Eve falou, virando-se de costas e voltando a percorrer o salão com os olhos cerrados.
— Se quer mesmo me agradecer, que tal tomarmos um café? — Taehyung conferiu o relógio no pulso esquerdo. Ainda tinha treze minutos — Estou em pausa...
— E eu no meu horário de trabalho, extremamente ocupada. — Eve desbloqueou a tela do celular e fez menção de se afastar, mas Taehyung correu, pondo-se na frente dela.
— Você vem sempre aqui?
— Isso é uma cantada? — Eve cruzou os braços e o olhou de cima a baixo, como se o avaliasse. O olhar em seu rosto ao voltar a fitá-lo fez ele concluir que a moça não ficara impressionada. — Se for, sinto em lhe dizer, mas você não é bom de papo.
— Eu quis dizer que estou surpreso em te ver aqui, dada a sua posição na empresa. Além disso, a empresa não vai falir se você me der alguns minutinhos do seu precioso tempo. Ouvi dizer que o diretor é um inútil que passa o dia inteiro batendo perna enquanto a secretária trabalha. Não acha que merece uma pausa, também?
Um misto de emoções perpassou as feições da moça — da descrença a ira, ela parecia uma garrafa de refrigerante aberta depois de agitada. Não era difícil imaginar as coisas que ela poderia dizer a ele, afinal, Taehyung tinha ouvido falar sobre a linha de cosméticos que tinha sido roubada do computador da secretária faz tudo da Blikis Corp, e que agora corria contra o tempo para tentar apresentar algo aos investidores, que, inclusive, estavam prestes a pular do barco.
No entanto, o que Eve disse a seguir não tinha nada a ver com o que o modelo presumira:
— Não fale sobre o Sr. Daewon com esse tom, muito menos dessa maneira! — Ela rapidamente assumiu a postura defensiva, as sobrancelhas baixadas e os lábios enrugados como um cão raivoso. — Existem muitos modelos bonitos por aí, Taehyung — continuou, pondo o indicador em riste, a poucos centímetros de tocar a face dele — Então comece a tratar seu superior com o devido respeito ou verá seu emprego ir para o ralo!
Taehyung piscou algumas vezes, atônito. Mas tão logo recuperou a postura e riu. Ele aproximou-se de Eve e inclinou o corpo sobre ela. Os olhos da moça se arregalaram e ela recuou, encostando o quadril na mesa. O moreno esticou a mão e pescou uma cereja das bandejas, levando-a até a boca avermelhada pela maquiagem feita para a sessão de fotos; o cheiro doce que emanava de sua pele era o mesmo da fruta que ele abocanhou entre os lábios, pouco antes de sussurrar no ouvido dela:
— Mas é isso que estou tentando fazer... Eve — a voz grave e baixa era inegavelmente atraente e hipnotizante — Estou tentando tratar minha superior como ela merece...
Era o momento em que Eve olharia para ele com os olhos piscando e os lábios trêmulos, o rosto ruborizando enquanto gaguejaria e tentaria se afastar. Talvez ela baixasse o rosto, cobrindo-o com as mãos ao pôr uma mecha de cabelo atrás da orelha; tudo para não o deixar ver o quanto havia ficado abalada pela proximidade entre os dois.
Ao menos em tese era o que deveria acontecer, uma vez que sempre acontecia. Contudo, Eve o olhou de viés tão rápido que, por um momento, Taehyung pensou que estivesse imaginando coisas. Havia algo, além dele, que parecia ser mais interessante aos olhos da secretária que o flerte entre os dois.
— Yeji! — Eve gritou, a voz aguda provocando gastura no ouvido do outro, que encolheu os ombros ao passo em que a moça o empurrou e correu até a tal de Yeji, uma mulher dois centímetros mais alta que ela, e que estava conversando com a equipe de produção perto dos monitores que exibiam as fotos recém-feitas.
Taehyung observou-a ir com a mão sob o queixo, pensativo. Nenhuma mulher tinha resistido a seu charme antes. Ele não precisava falar muito, era preciso apenas um elogio, uma olhada, e elas aceitavam sair com ele para um café inocente... que nunca terminava de modo tão inocente assim.
Com Eve seria mais complicado, não apenas pelo modo como ela se demorava na sala do diretor sempre que o homem aparecia, ou como sumia depois de entrar em passagens do edifício com menos movimentação — geralmente seguida pelo tal chefe. Não era preciso pensar muito, ficou evidente pelo modo como ela se irritou em nome do cara que deveria "odiar", ou ao menos debochar, por deixá-la tocando a empresa sozinha. Pois, ao contrário do que Taehyung pensava, a moça não estava usando a paixão que o diretor sentia por ela para usufruir do dinheiro que ele possuía ou para lhe dar algum golpe.
Eve estava verdadeiramente apaixonada por Daewon. Portanto, as certezas que tinha alimentado, sobre o caso secreto entre os dois facilitar o que pretendia fazer, estavam oficialmente destrinchadas.
Conquistar Eve seria o oposto de fácil, uma vez que seu coração já batia fortemente por alguém.
Todavia, contra todas as expectativas, Taehyung sorriu diante daquela situação — podia sentir a euforia inundando seu estômago. Porque aquele, de longe, seria o seu melhor desafio
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