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Capítulo 10°


Através das janelas de vidro, com vista para a sala, era possível ver o reflexo no espelho que cobria toda a parede adjacente à entrada do apartamento em que Eve estava. A decoração daquele lugar era mais simplista do que a da cobertura em que ela morava, não havia artigos de luxos com aparência de terem custado milhões, ou as últimas versões de eletrônicos, como Daewon apreciava.

O quadro pendurado acima do sofá creme era bonito e tinha um toque acolhedor em sua coloração, porém não parecia ser caro. O vaso sobre a lareira — uma peça que parecia ter sido esculpida e pincelada pelas mãos de um artista, pois faziam Eve pensar numa linda aquarela —, também não parecia ter saído de uma galeria de arte conceituada.

O item que mais surpreendeu a moça, no entanto, foi a vitrola marrom, já que não só era parte da decoração: ela realmente funcionava. E era dali que a melodia, composta por um piano e um violino, flutuava harmoniosamente até a cozinha onde Eve se encontrava.

Ela nunca imaginaria que Taehyung, o golpista, fosse um apreciador de vinis, tampouco de vinis de música clássica, como a que tocava enquanto ele andava de um lado a outro na cozinha espaçada, tirando alguns ingredientes da geladeira e dos armários, colocando-os sobre a bancada extensa de mármore escuro.

Kim era meticuloso em tudo que fazia, era visível pela forma com a qual organizava o que precisaria para cozinhar para Eve, assim como prometeu que faria depois de se fazer como mais uma "vítima" da "destruidora-de-corações-sem-alma", senhorita Eve-sem-senhorita, porque ela o iludira mais de uma vez em sua única vida. E deveria ser mesmo um exímio golpista, pois havia tocado na ferida de Eve. Se tinha algo que ela não era, era alguém sem palavra.

E era justamente por ser leal às promessas que fazia, que Eve tinha os olhos presos no rapaz diante dela com tamanha descrença. Não deveria ser possível, visto não ser a primeira vez que o modelo a deixava de queixo caído, mas a cada encontro que tinha com aquele homem, ela sentia-se mais e mais estupefata.

— Sei que disse que cozinharia para você, mas acho que será mais divertido se fizermos isso juntos. — Só quando a voz dele soou em seu ouvido, soprando a pele de seu pescoço com o hálito quente e provocando arrepios indesejados, Eve notou que ele estava parado na frente dela.

Taehyung havia passado um avental pela cabeça dela, semelhante ao que ele vestia sobre a camisa preta larga de meia manga, e agora amarrava-o atrás das costas de Eve. Ela pigarreou e voltou-se para a pia, onde o modelo havia separado duas facas ao lado de uma bandeja de pão redondo italiano e de um recipiente com diferentes tipos de queijos e temperos.

— Vamos fazer fondue de pão italiano? — Eve perguntou, pegando uma das facas.

— Sim, já comeu? — Taehyung redarguiu, parando ao seu lado. — É um ótimo aperitivo para comermos enquanto bebemos vinho e conversamos — Ele sorriu de lado, vendo-a pegar um dos pães.

— Sim. Meus pais costumavam fazer essa receita nas sextas-feiras. Lembro-me bem de que bebiam juntos, perto da lareira. Era um ritual que faziam no inverno e acredito que ainda façam, pois o inverno na Alemanha é tão frio quanto aqui.

— Então está familiarizada com a receita?

Eve assentiu e, a pedido de Taehyung, começou a cortar uma tampa em cada pão, retirando o miolo com cuidado para não o furar, enquanto ele cortava os queijos em pedacinhos finíssimos e mergulhava-os em uma vasilha com requeijão, creme de leite, e os temperos que selecionou.

Imperceptivelmente, Eve mordia o lábio enquanto o observava, tendo a plena certeza de que era eufemismo dizer que Taehyung era belíssimo. O cara era belo até de lado — e achava que de frente, de costas, não importava o ângulo em que seu rosto fosse capturado, ele continuaria parecendo um personagem saído direto de um livro, de tão bonito! Mas não mais que o Daewon, claro.

Ainda assim, a mente fascinada de Eve tinha deixado seu namorado ali, no cantinho, e matutava sobre o charme único que Taehyung possuía quando deixava de lado toda aquela formalidade forjada para seduzi-la. Como agora, com a faixa cinza escura na cabeça, para afastar os fios ondulados do rosto, os lábios finos colados um no outro e as sobrancelhas movendo-se junto às pálpebras e a cabeça, em movimentos fluídos no ritmo da música. Era hipnotizante. Taehyung sentia cada nota tocada. Às emoções transpassadas em suas feições faziam-na pensar que a melodia contava a história dele.

E Eve só percebeu que o observava sem pudor quando o modelo a olhou de lado, com um meio sorriso, pois ele não só já tinha terminado de misturar o queijo como já tinha despejando-o dentro dos pães, na assadeira de alumínio onde ela os tinha colocado, e já embrulhava os últimos para levar ao forno.

— Agora temos que esperar alguns minutos, até que esteja pronto. — Disse Taehyung, pondo a assadeira no forno e acionando o timing.

Eve tirou o celular do bolso e checou a hora, estava prestes a perguntar o que fariam durante o tempo em que os pães estivessem no forno, quando Taehyung pegou o telefone de suas mãos e colocou-o sobre a bancada. Ela o olhou confusa quando, com a mão direita, ele a puxou pela cintura e, com a esquerda, enlaçou a mão direita da secretária. Ao passo em que uma versão diferente de Os Noturnos Op. 9 de Chopin teve início, Taehyung aproximou seu corpo do de Eve, conduzindo-a numa dança plácida e tão suave quanto as notas de piano e violino que os embalavam.

— O que está fazendo?

— Dançando com você.

— E-Eu não danço. — Gaguejou Eve, os pés tropeçando nos pés de Taehyung, que riu suavemente e firmou a mão em sua lombar. — Tenho dois pés esquerdos, caso ainda não tenha notado!

— Você só precisa sentir a música e... — As pálpebras dele pareciam luas crescentes na face quando a olhou com um brilho alegre e os cantinhos da boca ligeiramente içados. — Confiar em mim!

Eve não sabia se podia — ou se queria — confiar em Taehyung. Mas a música possuía uma melodia que parecia transcender seus sentimentos. Era uma versão belíssima daquela peça, algo que nunca tivera a oportunidade de apreciar, por isso, decidiu fechar os olhos e se deixar conduzir por Taehyung. Cada nota parecia arrebatar o coração da secretária num misto de emoções que só poderiam ser descritas como uma mistura de melancolia e esperança. Eve sentia-se banhada por um raio de sol, aquecendo sua pele num dia nublado, logo após uma intensa tempestade.

Já para Taehyung, aquela melodia, sempre que a ouvia, os sentimentos suscitados dentro dele eram o ir e vir do marasmo e da angústia, que acidulavam em seu coração quando se deitava sozinho na cama espaçosa em seu quarto — ou mesmo nas noites em que se deitava acompanhado. Entretanto, ali, com Eve, aquela música parecia despertar algo diferente em seu interior. Percebeu isso assim que seus olhos oblíquos encontraram os dela, quando a moça abriu as pálpebras.

Eve não apenas sentia as emoções delicadas transpassadas por cada nota soada, ela as compreendia. Estava nítido no cintilar de suas íris castanhas, que, sob a luz fluorescente, pareciam brilhar com as lágrimas que empoçavam os cantinhos de seus olhos.

E se Eve era capaz de compreender aquela melodia, talvez pudesse entender as notas secretas que existiam dentro do coração de Taehyung.

Os orbes de Eve salientaram-se ligeiramente quando notou que o rapaz a fitava com tamanha intensidade que, sem perceber, ela prendeu a respiração. A mão que segurava a dela, soltou-se e pousou em sua bochecha direita. Ele estava tão perto que podia ver perfeitamente a pintinha fofa que havia em seu lábio inferior e na pontinha do nariz.

As pontas dos dedos de Taehyung escorregaram pelo pescoço de Eve até se encaixarem na curva entre seu ombro e maxilar. Com o polegar, o modelo contornou os lábios dela, delicadamente, e inclinou a cabeça de lado. Seu hálito quente soprou a face dela, cujos olhos quase caíam dos orifícios, enquanto as batidas do coração rugiam no tímpano, por ver os lábios rosados do rapaz aproximando-se de sua boca.

No entanto, para a salvação de Eve ­— cujos neurônios pareciam ter entrado em pane —, o choro de um bezerro ecoou pela cozinha. Taehyung pulou sobressaltado e a secretária se aproveitou de seu susto para se afastar. Suas mãos ainda tremiam quando alcançou o telefone que tocava ruidosamente com o nome da mãe piscando na tela.

No momento em que a secretária deslizou o botão verde, para atender, a chamada caiu. Um turbilhão de mensagens a bombardeou, por conseguinte, vindas do grupo de mensagens que participava com os pais. Eve passou os dedos entre os fios, exalando um suspiro frustrado enquanto lia cada mensagem, esquecendo-se totalmente do que quase havia acontecido entre ela e o rapaz que a observava com a tez encrespada e os lábios caídos nos cantinhos.

— O que foi? Aconteceu algo? — Taehyung aproximou-se, tocando seu ombro. Eve se encolheu com o contato, fazendo-o franzir o queixo.

Ela limpou a garganta numa tentativa de disfarçar o rubor que subiu por suas bochechas ao encontrar o olhar dele.

— Não. Sim. — Embaralhou-se, pondo uma mecha castanha atrás da orelha. — Digo, meus pais acabaram de chegar na Coreia. Que surpresa! E querem que eu os busque no aeroporto, mas estou sem carro porque vim até aqui com você.

— Neste caso, eu a levo até o aeroporto e os deixo em casa. No meu carro.

Eve tinha todo um discurso pronto para recusar a proposta de Taehyung, afinal, não queria aparecer no aeroporto para buscar os pais com um homem que não fosse Daewon. E isso a fazia lembrar de que precisava descobrir o motivo do diretor da Blikis Corp. estar agindo tão evasivo em sua presença. Porém, mais uma vez, o bezerro em seu toque de chamada soou pela cozinha, fazendo-a suspirar pesadamente, esfregando a testa.

O apartamento de Taehyung ficava a trinta minutos do aeroporto e se fosse até a empresa, para buscar o carro, levaria muito mais tempo para alcançar os pais. E isso significava que o casal recém-chegado teria que passar mais horas longe do conforto de seu lar, após fazer uma viagem cansativa.

— Eles não moram em Seul, moram perto da praia. Tudo bem para você?

— Faz tempo que não visito o litoral — Taehyung disse em resposta, com uma piscadela em sua direção, antes de tirar o avental, jogar sobre o balcão, e desligar o forno. — Acho melhor não deixarmos seus pais esperando, hein?


▬▬▬▬▬


— Sra. Gayoon! — Eve respirou alto, desviando os olhos das sacolas que havia esvaziado sobre a bancada da pequena cozinha, com os ingredientes comprados no caminho até ali, porque os pais haviam aparecido de surpresa e ela não pudera abastecer o armário e a geladeira com o básico para jantarem em sua primeira noite de volta à casa de veraneio que possuíam no litoral, e aquele era um dos motivos pelo qual se encontrava irritadiça.

O outro motivo tinha nome, sobrenome, um cachorro que o fazia sorrir com genuína alegria, gosto refinado para músicas — era dono de uma beleza estonteante —, e tinha caído nas graças de Gayoon pelo mesmo motivo que Daewon estava aquém às expectativas da mãe de Eve.

— Pode, por favor, parar de me fazer as mesmas perguntas sendo que já as respondi? — Ralhou, fitando a mãe com os olhos redondos salientes na face irritada, marcada pelo bico enrugado que unia seus lábios. Isso fez Gayoon bufar em resposta.

— Acha que caio nesse seu papinho, fofuchinha? Eu criei uma filha inteligente, tenho certeza de que ela acordou das fantasias de dorameira e percebeu que um relacionamento secreto, com um homem rico, que tem vergonha de conhecer os pais dela, ou de apresentá-la para os dele, só dá certo na TV e nos livros! Na vida real a secretária sempre acaba sendo usada e descartada. — Eve abriu a boca, porém a mãe ergueu a voz mais uma vez, impedindo-a de protestar — Não foi por isso que aquele belo rapaz, chamado Taehyung, fez o favor de nos buscar no aeroporto, nos trazer até aqui e, além disso, agora ajuda seu pai a descarregar o bagageiro, de baixo de chuva?

— Taehyung só me deu uma carona porque meu carro estava na oficina, não há nada de especial entre nós! Ele é apenas um colega de trabalho para mim, assim como eu sou apenas uma colega de trabalho para ele! — Soava como uma mentira, aos ouvidos de Eve, mas, ao mesmo tempo, era verdade.

Afinal, Taehyung havia caído em suas graças, só que ela não havia caído nas graças dele. Não, claro que não...

— Foi uma gentileza simples, mas vocês tinham que o alugar pelo restante da tarde! — Eve balançou a cabeça e tirou um dos copos do armário, encheu-o de água e olhou para o céu através da janela sobre a pia.

O sol estava se pondo quando o carro de Taehyung parou diante da casa de veraneio de paredes e telhas igualmente beges. Casa que não era grande ou luxuosa — possuía apenas um andar — onde a família de Gayoon viveu na Coreia do Sul, antes de ela se casar com Paul, pai de Eve, e se mudarem para a Alemanha, país de origem do homem e onde a única filha do casal havia nascido e passado a maior parte da vida.

No entanto, mesmo sem o luxo que a casa de veraneio de Daewon possuía — lugar que Eve visitou uma vez com o namorado —, a localização da casa da família de Eve lhes concedia uma visão privilegiada do mar, que naquele momento tivera a vastidão, antes pintada em nuances de laranja e rosa, escurecida pelas nuvens carregadas com a chuva que despencava sobre a cidade e abafava o ar, tornando-o ainda mais quente.

— Agora teremos que voltar para Seul debaixo de chuva. Deve estar o maior trânsito!

— Não seja por isso, fofuchinha, você pode dormir aqui esta noite. Com ele!

Eve cuspiu a água, molhando a frente da própria camisa ao mesmo tempo em que Paul e Taehyung surgiram no corredor com as malas sob os braços e penduradas nos dedos. Os fios castanho-escuros dos dois homens estavam pontilhados com gotículas de água, que escorriam por seus pescoços e umedeciam ainda mais as camisas respingadas pela chuva. O pai de Eve a encarou com as sobrancelhas franzidas, enquanto o modelo tentava conter o sorriso que tremeluzia em sua boca.

— O que foi, fofuchinha? Tinha algo no copo?

— Oh, Eve sempre faz essas coisas! — Gayoon abanou o ar como se afastasse quaisquer preocupações que o marido pudesse ter com a filha, que secava a blusa com um bolo de papel toalha — Mas, me diga, não acha que está tarde para dirigir de volta a Seul? Taehyung e Eve deveriam passar a noite aqui. O namorado da nossa filha foi tão prestativo e ainda nos trouxe um aperitivo de boas-vindas — Falou Gayoon, referindo-se ao fondue de pão italiano que Taehyung tinha embrulhado e levado para dar aos pais de Eve, para não desperdiçarem o alimento. — Ele pode dormir no colchonete, no quarto da fofuchinha.

— Me parece uma boa ideia, se estiver tudo bem para eles. — O homem atentou-se a filha ao passo em que Gayoon olhou para o modelo:

— Quer passar a noite aqui, Taehyung?

"Sim" e "não" foram ditos ao mesmo tempo por um Taehyung sorridente e uma Eve em pânico. O primeiro estava feliz porque a mãe da secretária parecia aprová-lo tanto que o considerava namorado dá "fofuchinha" mesmo sem ter dito nada. Em contrapartida, a secretária estava desesperada porque ele não só não era seu namorado, como a mãe sabia. E tudo que ela menos queria era tê-lo passando a noite na casa de seus pais.

Eve quase gritou e esperneou. Quando sua vida tinha se tornado tão complicada?

No momento em que fez aquela maldita aposta, respondeu a si mesma em pensamento, a culpa é sua!

— O Taehyung é um modelo muitíssimo ocupado, não pode ficar!

— Posso sim. Não tenho nada programado para amanhã. — Exprimiu, pondo as malas no chão a seus pés. — Estava pensando, inclusive, em deixar meu fim de semana todinho reservado para me dedicar a você, Eve.

Eve se encrespou, pondo as mãos nos quadris. O olhar em seu rosto beirava a súplica, ainda que sua postura tentasse exprimir o alerta que sua garganta queria emitir, mas Taehyung a ignorou, pondo os polegares no cós das calças e abrindo um largo sorriso.

— Perfeito! Então está decidido! — Gayoon uniu as mãos num "clap" que ecoou na cozinha, antes que a filha pudesse objetar, e se aproximou de Taehyung. — Dê uma toalha a ele, fofuchinha, e mostre onde fica o banheiro. O pobrezinho precisa tomar um banho e se livrar das roupas molhadas para que não fique doente! — Enfatizou a mulher, erguendo-se na ponta dos pés para passar as mãos sobre os ombros do modelo, como se afastasse dali a água que molhou suas roupas.

— O Sr. Paul deveria ir primeiro. Me sentirei melhor assim — Disse ele, apontando com a palma estendida na direção do homem três centímetros mais alto e robusto, com cavanhaque castanho-escuro cobrindo a face.

­— Além de lindo, gentil, é atencioso! ­Parece que nossa Eve tirou a sorte grande, querido! Finalmente se livrou daquele garotinho, o Davichi Blinque! — Comentou Gayoon, olhando para o marido, ignorando a presença da filha.

­— Davichi? Não era Daewon? — Indagou o pai, o cenho franzido.

— Ora, e eu lá sei! Nunca nem vi! Acho até que se tratava de um amor unilateral!

Enquanto os pais discutiam sobre a veracidade da existência de um namorado anterior ao Taehyung, e o dito cujo em questão os observava com os olhos oblíquos curiosos divagando entre Paul, Gayoon e a "fofuchinha", Eve cobriu o rosto com as mãos, sentindo o rosto ferver e a paciência — talvez fosse a pressão — cair drasticamente.

Ela sabia perfeitamente bem que a reprovação ácida expressa pela mãe, a respeito de sua relação com o herdeiro do conglomerado Blikis, ia dali a pior, por isso, Eve atravessou a sala a poucos passos — pois era pequena — e agarrou sua mão.

— Tá, tá. Nós vamos ficar! — Sem olhar para os pais, ou mesmo para Taehyung, Eve o tirou da cozinha e o arrastou pelo corredor.


▬▬▬▬▬


Gayoon era anti-Eve-e-Daewon declarada. Pois achava um absurdo que o genro nunca tivesse tempo disponível para aceitar o convite dos sogros, que, no início do relacionamento, desejavam o conhecer. Que tipo de homem planeja desposar uma mulher sem ter o mínimo de interesse em conhecer seus pais? Gayoon vivia a repetir sempre que falava com a filha sobre seu relacionamento. Paul era neutro e talvez o único que não deixava tão evidente a preocupação com a dedicação que a filha depositava na relação com o chefe.

"Você está feliz? Se ele te fizer feliz, e te respeitar, então é o que importa para mim", seu pai dizia, porque a felicidade da única filha era o que mais prezava no mundo. E Eve o amava ainda mais por isso. No entanto, Paul também prezava o companheirismo que tinha com a esposa e se dedicava ao amor que cultivava todos os dias por Gayoon. Logo, por também ter gostado de Taehyung — ainda mais depois de o rapaz se oferecer para limpar a cozinha, depois de jantarem —, acabou por acompanhar Gayoon nos elogios ao genro dos sonhos.

Eve se sentiu tentada a contar aos dois que Taehyung era um golpista, visto que não existia segredos entre ela e os pais, mas ao mesmo tempo não queria criar um clima estranho entre o homem e os pais — pois, apesar de tudo, Taehyung não tinha lhe feito nenhum mal, menos ainda a seus pais.

Assim que o modelo surgiu na soleira da porta da sala, com os fios umedecidos, vestindo o pijama emprestado pelos pais de Eve — com estampas de cachorrinhos, combinando com o pijama que Eve usava, porque a mãe praticamente a obrigou —, Paul deu tapinhas no espaço vazio no tapete ao seu lado para que Taehyung ficasse entre ele e filha, e lhe entregou uma das taças com o vinho que tinham escolhido para beber com os petiscos feitos com queijo e pão italiano

Gayoon e Paul tinham afastado a mesa de centro que havia entre os dois sofás de couro preto, deixando-a perto da janela, agora coberta pelas cortinas cor de marfim, e mesmo que o tempo não estivesse frio — a despeito da chuva que continuava a cair — os anfitriões tinham se sentado sobre o tapete perto da lareira, exatamente como Eve havia contado a Taehyung que costumavam fazer no inverno. Porquanto, para o casal, fondue de pão italiano combinava com aquele cenário, mesmo fora de estação.

— Você cozinha muito bem, Taehyung! — Elogiou Gayoon, oferecendo a ele uma das taças de vinho. — Onde aprendeu?

— Passei muito tempo entre os livros depois que meu pai faleceu, e a maioria dos livros que tinha em casa eram sobre música e culinária. Foi assim que aprendi algumas coisas.

— Oh! Além de lindo é prendado e culto! Cozinha melhor que a fofuchinha — Gayoon deu um tapinha de leve no ombro de Eve e piscou para Taehyung, gargalhando. — Não podia ter nos dado um genro melhor!

— Querida, por favor, está deixando Taehyung sem graça. — Paul disse, vendo que o rapaz tinha o rosto vermelho até a ponta das orelhas.

Eve tentava não olhar para ele, pois suas feições tinham o mesmo tom rubro que as dele. E, para piorar, a visão de Taehyung vestindo um pijama que combinava com o dela, com os fios ondulados despenteados e os lábios finos avermelhados por causa do calor do banho recém tomado, destacando a pintinha que havia na pele de sua boca, era sexy.

Ao perceber que Taehyung notou seu olhar, e a observava de soslaio, ela limpou a garganta e focou os olhos no pai:

— Está preocupado com ele? Olhe para minhas bochechas!

— Você sempre foi bochechuda, minha fofuchinha — o homem inclinou o corpo para frente e apertou as bochechas de Eve com um sorriso acentuando as rugas ao redor de seus olhos.

— Parem de me envergonhar! — Eve fez beicinho, enrugou a testa e cruzou os braços sobre o peito, feito uma criança embravecida.

Sua reação apenas divertiu ainda mais os pais, que trataram de contar para Taehyung todas as façanhas que a fofuchinha fez durante a infância. Enquanto os ouvia com as bochechas arqueadas e os lábios comprimidos num sorriso discreto, os olhos de Taehyung emitiam um luzir deslumbrado. Embora Eve fizesse cara feia e tentasse impedir os pais de falar mais do que já tinham falado, deixando-a totalmente envergonhada, a cumplicidade que a interação entre os três exalava era palpável. Seus risos eram genuínos e Eve acabou entrando naquela roda de recordações que a faziam se espernear e bater no chão, como se o riso que fazia lágrimas surgirem nos cantinhos das pálpebras fosse demais para seu corpo conter.

Aquela cena despertou em Taehyung um redemoinho de sentimentos. E foi ali, contemplando a família de Eve, que ele descobriu o que significava o marasmo e a angústia que amofinava seu cerne em suas conjunturas de solidão.

Taehyung sentia falta daquilo que nunca teve.

Uma família.

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