Prólogo
Tudo é premeditado para terminar um dia, ao chegar desse dia, coisas ruins acontecem. Camila Farias é a prova viva desse ditado. Estava saindo da irmandade quando seu telefone tocou, não era a pessoa mais querida no momento e fez questão de recusar a ligação. Girou a chave e colocou o molho dentro da bolsa, já descendo os degraus para a calçada.
Fixou os pés e olhou as luzes acesas na casa da frente, acenou para um dos professores na janela com um sorriso sem graça e seguiu adiante. Ela era uma das mais populares alunas da Universidade Saturno, seguia a carreira de atriz desde criança e deu uma pausa para focar nos estudos. Filha de mãe celebridade, pai empresário de uma multinacional e irmã de um escritor de sucesso, não podia deixar de ser bem sucedida.
Naquela noite foi obrigada a matar aula, pois aconteceria a festa de sua melhor amiga. Era uma oportunidade incrível de mostrar que se importava e reconquistar a confiança dela, uma vez que brigas recentes as afastaram. Avistou um amigo do outro lado da rua e acenou, ele segurava muitos livros e não conseguiu acenar de volta, mas deu um sorriso e continuou a andar.
Um aparelho começou a vibrar no seu bolso de trás. Puxou o celular e recusou a ligação. Ele tornou a vibrar e sem opção resolveu atender a chamada:
— O que caralho você quer me ligando? Eu já disse que entre a gente acabou. — Continuou andando pela calçada quase na curva que levava a casa de sua amiga. — Não vou me encontrar com você — começou a se arrepender por ter atendido, mas precisava dar um basta naquilo — e vou repetir mais uma vez, entre a gente acabou, cansei dos seus joguinhos. — Mais sussurros do outro lado da ligação e um movimento por suas costas.
Virou abruptamente ao sentir uma presença, mas não tinha ninguém na rua. Seu amigo já devia ter entrado com os livros e faltavam poucos passos para fazer a curva e entrar na irmandade de Carulina - sua melhor amiga, ou quase isso.
— Você precisa me esquecer, caça alguma prostituta e me esquece.
Desligou o celular, foi a melhor decisão tomada naquele dia, olhou para o chão e ao lado de sua sombra, conseguiu perceber uma imagem negra mais alta que a sua. Virou-se novamente e agora podia ver uma pessoa conhecida, segurando um pequeno canivete.
— O que você tá fazendo aqui? — Colocou as mãos em posição de defesa enquanto olhava para o dono da alta sombra. — Já conversamos, precisa me deixar em paz, eu não quero mais.
Quando a figura à sua frente abriu o canivete, ela correu. A bolsa balançava em seu ombro querendo cair, suas botas faziam barulho no cimento da calçada e o celular tocava novamente em uma chamada nunca atendida. Virou na curva da irmandade de Carulina e avistou a festa de longe, precisava alcançar aquela multidão e pedir ajuda.
Podia ouvir a música que eles ouviam, mas eles não podiam ouvir o quanto ela gritava. A primeira coisa que sentiu foi uma mão quente segurando seu pescoço e depois conseguiu respirar um cheiro forte e ruim. Ainda olhava para a festa, todos ocupados demais para olhar seu sofrimento no fim da rua. O cheiro a dava sono e caiu aos braços daquela pessoa sem nem perceber.
Os olhos começaram a fechar sem a sua vontade e o sentimento de que pagaria por todos os seus pecados, foi o último passado em seu subconsciente.
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