Eu sempre achei que sabia tudo sobre mim e tudo sobre o futuro, quando ainda era uma menininha de dez anos, que sonhava com o namorado de olhos castanhos amendoados, casa em Hull e a confeitaria que abriria, apenas para meus doces preferidos e que seria um sucesso. Quando eu fiz doze anos e disse que me casaria com Harry Styles e aos dezesseis quando achei que Shawn Mendes fosse minha alma gêmea, eu tinha certeza de que sabia muito sobre a vida, muito sobre quem eu era. Muito sobre o que viria a seguir.
Mas, quando nós somos jovens, acreditamos em muita coisa, confrontamos muitas mais. Achamos que somos imbatíveis. Quando nosso mundo dos sonhos com celebridades e desejos infantis caem por terra, quando conhecemos o real, parece que todas as nossas crenças se tornam concretas. Fabio Quartararo poderia ser o ideal para muitas meninas agora, um ídolo do esporte sobre duas rodas e uma celebridade reconhecida no mundo inteiro, mas quando o meu mundo e o mundo dele colidiram, há um tempo que não poderia jamais voltar, éramos apenas Ruby e Fabio.
Nós não sabíamos que aquelas duas crianças um dia mudariam a vida uma da outra de forma drástica. Não até que acontecesse. E mais uma vez, pensei que, por um lado, quando somos jovens não sabemos muitas coisas. Eu ainda não sabia. Como naquele momento. Eu não tinha ideia do que aconteceria.
Era a primeira vez que Hunter viajaria para fora da Inglaterra. Era a primeira vez que eu a levaria para a casa do pai, em Andorra. Mesmo com seus dois — quase três — anos de idade, ela parecia saber para aonde estava indo.
Enquanto arrumávamos suas malas e as minhas, minha garotinha ria e brincava com as roupas, repetindo diversas vezes, com a voz embolada que todas as crianças nessa idade tinham, um animado papa?, seguido de sorrisos que mostravam seus dentinhos superiores. Era uma cena que jamais falhava em aquecer meu coração. Hunter amava o pai, mesmo que o visse poucas vezes ao longo do ano, o que só provava o bom trabalho que ele vinha fazendo em ser uma figura presente na vida da filha.
O tempo na Inglaterra não estava frio como costumava ser, mas o vento gelado era cortante como uma lâmina recém afiada. Coloquei a touca sobre a cabeça de Hunter, arrumando os fios de cabelo curtos que teimavam em escapar em sua testa. Ela riu. Abaixei-me para pegá-la no colo, ouvindo-a cantar uma canção no idioma do pai, em um francês confuso assim como seu inglês, mas ainda muito claro para uma menina tão jovem.
— Você tá com saudade do papa, amor?
Hunter balançou a cabeça, animada. Eu não diria em voz alta, mas meu corpo formigava em expectativa, esperando pelo momento em que eu o veria também.
Nosso relacionamento era uma tremenda bagunça. Sempre tive medo de que isso atrapalhasse a criação de Hunter, que de alguma forma ela sentisse que algo entre nós não estava certo, mas quando se tratava de nossa filha, Fabio e eu éramos como leões. Éramos pais exemplares e eu me orgulhava disso.
Ao longo dos anos, desde o dia em que descobrira que estava grávida de meu namorado, nossas vidas mudaram drasticamente. Eu o conheci quando ainda era uma menininha, acompanhando meu pai em corridas de moto ao redor da Europa. Um dia, conheci um menino magricela e de sotaque francês, seu pai era um antigo amigo do meu. Foi como conhecer alguém que parecia ser familiar demais para ser apenas um desconhecido. Não sei se o amei à primeira vista, como as pessoas costumavam dizer, mas sei que naquele dia foi o início para um amor que devastaria tudo em minha vida.
Eu o vi inúmeras vezes em outras competições. O vi vencer e perder, se sagrar campeão e se machucar dando tudo de si pelo esporte que amava. Em alguns dias, senti inveja de como ele amava aquilo que fazia, com seu sangue, seu suor e suas lágrimas. De corpo, alma e espírito. Fabio era apaixonado por tantas coisas e tinha um brilho no olhar que me deixava com frio na barriga sempre que nos sentávamos juntos para conversar.
Em um desses dias, era meu aniversário de dezessete anos. Eu disse a ele que havia ganhado inúmeros presentes, mas havia um que ninguém pensara em me dar. Fabio ficou interessado, ele sempre me dizia quão interessante era me ouvir falar, apesar de eu achar que quase nunca tinha coisas a dizer que fossem, de fato, úteis.
Falei para ele que ninguém havia me beijado naquele dia. Era um convite indiscreto para que ele fizesse o que eu pedia. Fabio sorriu, lembro de seu sorriso aumentar enquanto percebia que estava falando sobre ele. Seu toque não demorou a chegar, sua mão sobre minha bochecha, seus lábios sobre os meus. Não era meu primeiro beijo e definitivamente não era o primeiro dele, mas aquele nosso primeiro beijo juntos havia sido melhor do que qualquer coisa que eu experimentara em muito tempo.
Não demorou para que nos tornássemos um casal. E éramos o tipo de casal que tinha pouco tempo juntos, mas quando estávamos juntos parecia que tínhamos o mundo todo para nós, parecia que seríamos eternos. Quando se é jovem, se acredita que nada acaba. Que tudo durará para sempre, exatamente como os contos de fada.
Eu descobri que estava grávida quando Fabio completou dezenove anos. Não era uma boa idade para se ter um filho enquanto você tenta ser alguém em um lugar injusto como era para os atletas, mas era ainda menos justo quando se era uma menina tentando descobrir o que quer ser quando crescer. Eu não tinha um futuro, não tinha uma paixão e definitivamente não sabia o que era ser mãe. Era assustador. E foi até o momento em que conheci Hunter. Quando coloquei os olhos sobre aquela menininha pequena, que nascera um mês antes do esperado e quase se perdia em meus braços, eu meio que sabia o que viria a seguir — dias de choro, meus e dela, dias em que tudo pareceria impossível, dias em que eu gostaria de voltar no tempo, mas, além deles, dias em que tudo valeria a pena, que perceber o quanto ela se assemelhava a mim e a ele encheria meu coração de um amor que transbordava.
Era uma merda engravidar quando ainda precisava aprender a ser um adulto, mas Hunter me dava coisas que eu jamais imaginei ter até conhecê-la.
Fabio a adorava como nunca adorara outra coisa em sua vida, eu via em seus olhos. No entanto, enquanto descobríamos como nossa vida poderia ser colorida junto a nossa filha, percebemos também como estávamos transformando nosso relacionamento em algo opaco, frio e distante. Funcionávamos como pais, mas nos perdemos como um casal.
Senti que nosso término havia sido exatamente como o fim de nosso relacionamento. Colérico. Não haviam muitas emoções, no final de tudo, apenas queríamos fazer aquela sensação desaparecer. Era completamente angustiante perceber que alguém que você amava com todas as fibras de seu ser, não tinha mais o mesmo efeito e espaço. No fim das contas, terminar nos poupou de perder o apreço que tínhamos um pelo outro.
Era estranho como amores épicos poderiam desaparecer, como se tudo aquilo que aconteceu anteriormente nunca tivesse existido.
— Vou sentir falta da menininha da vovó — mamãe disse, no hall de nossa casa em Londres. Era um lugar grande demais, agora que Lilly estava morando em Los Angeles e Malyn e June moravam em seus próprios apartamentos. Quando Carice fora embora para Melbourne, nós quatro nos perguntávamos quem seria a próxima, mas nunca imaginei que eu seria a última a ficar e nem ser a única a querer ficar. Hunter esticou os braços para Margot, sendo tirada de meu colo para caminhar até o carro com minha mãe.
Ela era uma criança fácil de lidar. Nunca estava fazendo bagunça, poucas vezes a ouvi chorar de verdade, a não ser quando tivera cólicas depois do nascimento. Ela adorava os cachorros da casa, gostava de pular de colo em colo entre as tias e seus namorados que tinham um dom especial com crianças e amava ainda mais ouvir histórias.
Mamãe olhou para mim. Eu sabia o que suas sobrancelhas franzidas significavam.
— Tá tudo bem — eu respondi a pergunta implícita. Abri a porta do carro, pegando novamente Hunter e a colocando na cadeirinha. — Não é como se eu odiasse Fabio. Somos pais da mesma criança.
— Não estou preocupada com isso, Ruby. Mas com aquilo que você acha que não quer.
Revirei os olhos, sem que ela percebesse isso. Eu ainda era uma garota de vinte e um anos — quase vinte um —, afinal.
Virei-me para ela quando tive certeza de que Hunter estava segura. Mamãe deu tchauzinho para a neta e sorriu para mim.
— Não quebre o coração do garoto de novo, Ruby. Você e suas irmãs têm o péssimo hábito de fazer caras bons como ele chorar.
— Por favor — eu ri, mas acabei engolindo em seco. — Não vou quebrar o coração dele. Ele não tem mais nada a ver comigo além de Hunter — hesitei, apertando os dedos uns no outro. — Somos amigos agora, só isso.
— Tudo bem. É o que você diz. — ela me abraçou pelo ombro, dando-me dois beijos na bochecha. — Feliz aniversário adiantado. Espero que você ganhe algum presente em Andorra.
Assenti, mesmo que soubesse de que presente ela estava falando e não concordasse com aquelas insinuações. Entrei no carro e respirei fundo, olhando para trás — para o sorriso animado de Hunter.
Seria uma longa viagem.
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Andorra se localizava entre a Espanha e a França, era a capital do pequeno país entre as montanhas, construções históricas e pistas de esqui, sendo um verdadeiro paraíso no inverno. Estávamos no final de maio, o que significava que o clima ameno predominava e o Sol estava sobre nós. As ruas de arquitetura histórica gritavam passado instigante e rico culturalmente, era como caminhar por um mundo perdido, mesmo que a modernidade também estivesse aqui e ali. Eu gostava de Andorra, gostava de como ela diferia de Londres, de como aqui parecia que Hunter se sentia mais alegre, mais feliz.
Nada tinha a ver com a cidade em si, eu sabia. Hunter se sentia em casa quando estava com o pai. E sua casa poderia ser em qualquer outro lugar, se ela tivesse nós dois tudo valeria a pena.
Fabio esperava por nós em frente a sua casa. Eu havia implorado para ele que pudéssemos ficar sozinhas, eu e Hunter, antes de chegar até ele. Queria apreciar a vista e o momento antes de colidir com o garoto que, mesmo que eu não quisesse, se mantinha no controle dos meus sentimentos. Era diferente quando ele ia até Londres e partilhávamos algumas horas juntos, sempre tivera uma irmã, ou minha mãe, ou qualquer outra coisa entre nós. Agora era eu, Fabio e Hunter. Uma família que precisava de conserto.
Hunter soltou um gritinho fino e estridente no momento em que colocou os olhos sobre Fabio. Eu a deixei no chão, observando-a correr em direção ao pai. Lá estava a imagem que sempre apagava todos os receios, os medos e as dúvidas. Fabio a pegou no colo quando ela pulou sobre ele, disse o quanto sentia sua falta e o quanto ele a amava, com a voz calma e mais baixa que ele sempre usava com nossa filha. Fiquei parada onde estava, apenas os observando. Era em momentos como aquele que eu me lembrava de todo o amor que cultivei por Fabio, por todas as vezes em que ele me garantiu que seria o melhor pai do mundo para Hunter, por todas as vezes, antes disso, que ele disse que me amaria para sempre.
Às vezes eu queria viver nas promessas de Fabio. Porque elas eram tudo o que eu precisava. E eu as havia perdido.
— Adivinha só — Fabio sussurrou para Hunter. — O papa comprou um pula-pula enorme, igual o do seu aniversário! O tio Tom tá lá montando, você quer ver?
Hunter abriu um sorriso enorme.
— Sim, papa.
Ele a colocou no chão novamente, segurando sua mãozinha minúscula, mas antes de adentrar a casa, olhou para mim. Eram momentos como aquele que eu sentia que, mesmo longe um do outro, ainda parecíamos orbitar no mesmo lugar. Fabio era como um céu para mim, eu sempre pensei nisso, mesmo quando ainda éramos dois adolescentes. Quando nos beijamos pela primeira vez, lembrei de uma música que nunca saía da minha mente, era bastante conhecida e, naquela época, era minha preferida. Fabio me lembrava a cor amarela, havia algo de brilhante e extraordinário sobre ela e, consequentemente, sobre ele. Como se reluzisse um amontoado de estrelas em um céu opaco, ele era diferente de muitas coisas que passaram na minha vida e me deixaram para trás.
Fabio havia ficado, mesmo quando não estava ao meu lado.
Deixei o som do meu coração para trás, ele se intensificava sempre que eu estava na presença de Fabio e era a última coisa que eu precisava.
— Oi, Ruby — ele me cumprimentou, com o sorriso sinuoso de sempre, o olhar profundo de quem parecia saber o que se passava em minha mente.
— Oi, Fabio.
— Senti sua falta também — disse, como se não houvesse muito mais naquela frase que aquilo que ele dizia.
Soltei o ar pelo nariz, abrindo um sorriso muito parecido com o dele.
— Senti a sua também, Quartararo.
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Era mágico poder vê-los juntos. Eu conseguia sentir o amor de Fabio por Hunter em todas as suas fibras, nos sorrisos trocados com ternura, nos olhares repletos de carinho, na risada contagiante que os dois dividiam enquanto assistiam a um desenho qualquer, quando nossa filha repetia sentenças irritadas com o personagem que ela não gostava e Fabio pedia a ela para lhe explicar o porquê.
Eram nesses momentos que eu desejava viver aquela vida com ele. Não me importava muito se sua carreira o faria passar dias longe de mim, caso no fim de tudo aquilo eu o pudesse ter em meus braços de novo, com a nossa menina entre nós.
A verdade era que eu o amava, sabia disso. Quando o deixei partir, sabia que ele estava indo embora porque eu o amava com todo o meu coração. Era estranho pensar nessa perspectiva. Por que deixar o amor ir embora se você o ama? No fim das contas, manter um relacionamento exigia um tipo de amor que eu ainda não conhecia. Ele queimava como brasa, mas era jovem como eu. Precisava ser moldado, precisava aprender a ser forte, precisava se doar.
Fabio resmungou, tirando os cabelos de Hunter da testa da menina. Ela ressonava em seu peito, agarrada a blusa do pai com bastante afinco. A sessão de filmes a tinha cansado, assim como ao piloto, mas enquanto ele sorria para a menininha junto a ele, eu sabia que poderia passar o resto do dia deitado sobre o tapete felpudo da sala, apenas a observando.
— Eu fiquei um mês sem ver essa garotinha e ela já está enorme — ele disse, olhando para mim no sofá.
Abri um sorriso para ele, descendo para sentar ao seu lado.
— Ela fica cada dia mais parecida com você. Os cabelos loiros, o sorriso, o senso de humor. A única coisa que ela herdou de mim foi o temperamento. — eu ri, tocando os cabelos dela. — Nunca vi uma criança ser tão calma.
— Ela tem os seus olhos, Ruby — ele confessou, em um tom baixo de voz.
Virei-me para ele, um pouco sem jeito, mas com uma nova dose de coragem. Fabio deu de ombros, envergonhado como quase nunca ficava quando estávamos juntos. Ele abriu um sorriso pequeno.
— Seus olhos sempre foram uma das coisas mais impressionantes em você. Era como se você pudesse me contar tudo apenas me olhando. Hunter é como você. — ele riu baixinho, descendo o olhar para a nossa menininha. — Vou ficar feliz se ela ser como você. Nossa menina tem uma mãe incrível.
— Um pai também — disse. Sentia todo o ar entrar e sair de meus pulmões de forma desgovernada, mas tentava ao máximo não demonstrar como todas aquelas palavras me abalavam. — Você é o melhor pai que a Hunter poderia ter.
— Você se lembra de quando ela nasceu? De como nós dois ficamos apavorados na primeira noite em casa, mas ela sempre foi a criança mais tranquila de todas.
— E na semana seguinte ela começou a ter cólicas! — comecei a rir, trazendo à tona a lembrança de Fabio caminhando pela casa, os olhos marejados e completamente assustado. Até que nós dois nos acalmássemos, mamãe havia tirado a pequena Hunter do colo do francês e a feito se acalmar. Nós éramos pais horríveis, inexperientes e completamente assustados, mas as coisas melhoraram com o tempo. — Foi uma montanha-russa de emoções, não foi?
— Ainda é — ele concordou. — Acho que vou tirar nós dois do chão. Quer me acompanhar em uma tarde na piscina?
Ajudei ele, tirando Hunter de seu peito e esperando que ele ficasse de pé para irmos até o quartinho de nossa filha em sua casa.
— N-nós dois? — perguntei, gaguejei, na verdade. Fabio ergueu uma sobrancelha, divertido.
— Sim, Ruby, só nós dois. Mas, se você não quiser...
— Idiota. Tudo bem. Vamos levar a Hunter pro quarto, certo?
Ele riu, espreguiçando-se atrás de mim. Senti seu corpo se aproximar um pouco mais, sua altura superior a minha. Fabio colocou uma das mãos sobre o meu ombro e se abaixou para ficar na altura do meu ouvido, muito próximo da pele descoberta do meu pescoço.
— A la vontê, chérie.
✦
— Como vai a faculdade? Já posso te chamar de dra. Rivers?
Desviei a atenção do gramado verde e dos pensamentos que desenrolavam em minha mente, fitando Fabio do outro lado da piscina. Seu corpo estava quase que completamente submerso. Eu conseguia ver seu rosto banhado pela pouca luz do fim do dia, seu cabelo estava jogado para trás, mas, mesmo em toda a distância do mundo, eu sempre conseguiria distinguir aquele brilho que dominava suas írises. Dei um sorriso orgulhoso para ele.
— Ah, não, me chame só de Ruby, motoqueiro. — semicerrei o olhar para ele. — E está sendo ótimo. Quero dizer, a rotina é um pouco pesada e só de estar aqui descansando, me faz pensar que eu deveria estar lendo todos os inúmeros livros e artigos para o próximo semestre, mas ainda é uma das coisas que mais amo na vida. — senti as ondas ocasionadas pela movimentação de Fabio tocarem minha pele, como se fossem os próprios toques do piloto, fechei os olhos e levantei a cabeça, deixando que a brisa suave me carregasse um pouco para longe daquela confusão. — Você é líder do campeonato — sussurrei, sabendo que ele estava perto como não estivera durante toda aquela tarde.
Apesar de mantermos nossa conversa em assuntos triviais e sobre nossa filha, sabia que estávamos sendo propositalmente passivos durante todo o dia. Havia muita coisa por trás dos sorrisos e das brincadeiras, mas estávamos com medo de ultrapassar aquela linha novamente. Abri os olhos quando senti Fabio sair da água e sentar ao meu lado, seu corpo estava molhado e gelado, mas eu sentia seu calor se alastrar por mim gradativamente, lembrando-me de como era tê-lo junto a mim.
— Eu disse para Hunter que venceria por ela — ele piscou. — Estou tentando manter a promessa.
— Tenho certeza de que vai conseguir, el Diablo. Não há nada que você não consiga.
Fabio estalou a língua no céu da boca e me empurrou com o ombro.
— Consigo pensar em uma coisa ou outra que não consigo fazer.
— E o que seriam essas coisas?
Eu sabia. É claro que sim. Só queria ouvi-lo falar. Fabio negou com a cabeça, esticando uma das mãos em minha frente, a palma estendida para mim. Não hesitei em apertar a minha junto a dele. O piloto me fez ficar de pé, me levando para dentro da piscina novamente. A noite caia em Andorra, colocando sobre nós o manto escuro de seu céu que brilhava em pontinhos luminosos. Todas aquelas estrelas faziam-me lembrar da primeira vez em que eu o beijei, debaixo de um céu como aquele. Parecia um Universo inteiro de distância, mas lá estávamos nós de novo.
Fabio olhou para o céu, assim como eu.
— É o seu aniversário amanhã, Ruby — ele disse em um tom baixo, como se fosse seu segredo para mim. — Como você se sente?
— Velha — respondi, brincando. — Me sinto bem, eu acho. Estou estudando o que gosto, tenho uma filha incrível e minha família me apoia completamente. É melhor do que eu poderia pedir ou imaginar.
Fabio concordou.
— Tem algo que você queira? Algo diferente, Ruby?
Apertei minha mão junto a dele. Muito tempo se passou desde que estivemos naquela posição, em que Quartararo não era só o pai de Hunter ou o meu ex-namorado. Quando eu poderia dizer qualquer coisa sem sentir que estava pisando em ovos ou que não deveria sequer cogitar tal coisa. Me aproximei um pouco mais dele, fazendo com que suas orbes me fitassem com bastante curiosidade.
Um segundo. Envolvi sua cintura com os meus braços, encostando minha cabeça em seu peito molhado. A última vez que o abracei de verdade foi quando colocamos um ponto final em nosso relacionamento. Agora, eu não sabia exatamente o que aquilo significava, mas queria sentir algo nele de novo, queria apenas aquele momento, em que eu o sentia em meus braços e lembrava de quão esplêndido era estar com ele. Com os momentos bons e ruins, a bagagem que carregávamos ainda era um ponto importante em nossas vidas.
Fabio não demorou em retribuir o gesto, seus braços fortes e tatuados me rodearam sem hesitação, me transmitindo aquilo que eu tanto desejava. Conforto. Um tipo de conforto que só ele tinha.
— Acho que é isso que quero de aniversário, Fabio — sussurrei para ele.
— Um abraço?
— Nossa família. Eu, você e Hunter. Ficarmos juntos, só isso.
Ele me apertou um pouco mais, correndo suas mãos pela minha pele exposta. Eu sentia cada toque áspero de suas mãos sobre mim, arrepiando completamente meu corpo e espírito. O contato com ele era quase uma fonte de sobrevivência para mim no passado, agora, era como se eu pudesse explodir de dentro para fora em pura saudade. Era como finalmente descansar depois de tanto tempo correndo para longe sem pausa.
Não sei quanto tempo ficamos assim. Quando saímos da piscina, ainda sem dizer nada, Fabio me levou para dentro com a mão entrelaçada com a minha. Tomei um banho quente, deixando que minha mente voltasse para o momento íntimo que trocamos. Eu não sabia o que queria naquele instante além daquilo que eu havia dito para ele. Queria nossa família, era tudo o que sabia.
Hunter estava acordada, na cozinha com o pai, esperando que ele lhe desse o que quer que fosse, mas o francês com seu charme de sempre ria e escondia algo em suas costas. Quando adentrei o lugar, os dois fizeram um silêncio divertido, olhando de soslaio um para o outro.
— O que as crianças estão aprontando?
— Nada — eles disseram em uníssono, causando uma risada melódica em Hunter. Me aproximei dos dois, cerrando o olhar para aquela dupla.
Fabio olhou para nossa menina e arqueou a sobrancelha ao passo em que ela acenava positivamente com a cabeça. Foi então que eu vi a caixinha de veludo em suas mãos. Ele a colocou em minha frente, abrindo um sorriso pequeno e o tom de sua pele pareceu avermelhar, deixando-o como o menino que conheci há alguns anos.
— É um presente, chérie. Eu e Hunter compramos pra você.
Abri um sorriso, segurando a caixinha e ouvindo nossa filha repetir animadamente "abre, mama, abre". Meu coração pareceu pular do peito enquanto eu observava o conteúdo nela. Era uma pulseira prateada, com estrelas amarelas como pingentes. Haviam várias delas, em tamanhos diversos. No exato momento em que coloquei os olhos sobre elas, lembrei daquele momento que mudou nossas vidas completamente.
Subi o olhar para Fabio, sentia o bolo se formar em minha garganta e a vontade de chorar me acometer, mas tentei ao máximo colocar isso de lado. Fabio tinha expectativa nas orbes, suas mãos não paravam de se mexer e ao lado dele Hunter batia palminhas.
— Quer que eu coloque pra você? — perguntou e eu concordei, devolvendo para ele a caixa. — Você gostou? Quando vi na loja, lembrei de você na hora. As estrelas, se parecem muito com você e, bem, me lembrou de quando nos beijamos e da sensação que eu tive naquele momento — ele desatou a falar, olhando para a pulseira enquanto se concentrava em colocá-la em meu pulso. — Achei que você fosse gostar, de verdade. Mas, se você quiser, posso encontrar outra coisa.
— Fabio — eu o chamei. Ele parou instantaneamente. Suas mãos deixaram minha pele para trás, seus olhos subiram para mim. Ele esperava que eu dissesse qualquer coisa. — Eu amei. Foi o melhor presente que já ganhei desde o primeiro presente que você me deu.
Ele soltou uma risada soprada, abrindo a boca para dizer algo, mas então se interrompeu. Senti o que ele faria antes mesmo de fazê-lo. Fabio deu um passo em minha direção e suas mãos estavam em minha nuca e cintura em questão de segundos. Ele estava exatamente onde eu queria que estivesse. Fabio me beijou, como ele fazia quando ainda éramos um casal. Era calmo, certeiro, porque ele sabia como me beijar e sabia como eu gostava de ser beijada. Essa era a vantagem de ser o amor da vida de alguém. E, por Deus, ele era o meu e sabia disso. Nós dois sabíamos disso.
Quando nos separamos, Fabio deixou um beijo demorado em minha testa, fazendo-me sorrir como se fosse a mesma adolescente de outrora.
— Uau — soprei, olhando para ele. — Você preparou os melhores presentes mesmo.
Fabio riu, afastando-se um pouco e olhando para Hunter que nos observava com bastante curiosidade. Ele a pegou no colo, de frente um para o outro, trocamos um olhar intenso. Havia um amontoado de sensações ao meu redor, confusas e certeiras, todas ao mesmo tempo.
— O que você acha de pedirmos pizza? — ele comentou, brincando com Hunter.
Soltei uma risadinha.
— E assistir aos melhores episódios de Princesinha Sophia?
— É o melhor programa de todos. — ele anuiu. — Você não acha, Hunter?
Ela resmungou, deitando a cabeça no ombro do pai. Fitei os dois, ainda segurando a cintura de Fabio com uma das minhas mãos. Ele sorriu calmo, aproximando-se mais de mim.
— Espero que você esteja feliz com os presentes, chérie.
Fiquei nas pontas dos pés, depositando um beijo rápido em sua bochecha e na de Hunter.
— Estou, pode acreditar.
O resto daquela noite se passou com nós três nos divertindo, enquanto assistíamos desenhos infantis e riamos de coisas idiotas que Fabio nos dizia. Quando Hunter dormiu, o piloto e eu nos beijamos mais uma vez. Eu ainda não sabia muito bem o que aquilo poderia significar, mas tinha um horizonte de possibilidades à nossa frente. Eu sabia que iríamos encontrar a resposta, logo e definitivo. Abracei Fabio deitada em sua cama, sentindo seu aroma e seus toques. Quando o dia seguinte chegou, ele beijou a base de meu pescoço e sussurrou em meu ouvido:
— Feliz aniversário, chérie.
FELIZ ANIVERSÁRIO, GIULLIA!!!!
Primeiro de tudo, espero que seu aniversário, que é amanhã, seja incrível e você possa aproveitar com as pessoas que você ama!! Fico extremamente feliz de saber que posso dividir essa data com você e saber que posso te chamar de gêmea gemini, obrigada por ter entrado no mundinho pra gente se conhecer e virar super besties (já dizia o nosso amigo Corbyn, tudo é destinado!!).
Espero que você tenha gostado do conto, desde que você disse que queria um conto do Fabinho papai eu fiquei pensando em como eu escreveria isso e ainda usando a música que você me indicou. Espero que Ruby, Hunter e Fabio tenham te feito feliz, eu amei escrever sobre eles.
Mais uma vez, obrigada por ser minha amiga!! Espero que a gente passe outros aniversários juntas e chorando pela bandinha de garotos usando cabelo de calopsita. Te amo muito.
Aos leitores de APEX, não se esqueçam de ler as fanfics das meninas do mundinho e dizer o que estão achando dos contos. Se tiverem pedidos de pilotos, manda aí pra gente. Até a próxima!
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