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monster | max verstappen

MONTE CARLO, MÔNACO — 30 de outubro de 2021, véspera de Halloween.

🎃

Havia uma caveira pendurada no teto bem na minha frente. Algumas abóboras sobre o balcão do bar e um Livro Monstruoso dos Monstros retalhando pedaços de papel colorido ao meu lado. As luzes estereoscópicas piscavam freneticamente e o som de uma hip-hop do início dos anos 2000 zunia pelo meu corpo. Tinha uma quantidade perturbadora de zumbis, vampiros e personagens da Marvel zanzando pelo salão lotado, como um enxame de abelhas.

Eu gostaria de dizer que estava adorando toda aquela confusão, afinal, a atmosfera era insanamente boa; começando pela decoração, passando pela trilha sonora e terminando na comida e bebida, tudo estava perfeito, como deveria ser, mas... seria uma mentira caso eu dissesse e, bem, não costumo ser uma mentirosa. Não sempre. Principalmente quando qualquer um poderia notar pela minha cara que eu estava achando aquela festa um tremendo erro.

A maior perda de tempo da minha vida. Eu não estava no clima para Tony Stark e Jonas, de Dark, ou Daenerys Targaryen e Jon Snow que haviam me chamado para a pista de dança, mas, o que eu poderia fazer além de me manter ali enquanto desejava desaparecer? Me martirizar em casa? Seria tão patético quanto ficar no bar durante toda a festa. Ali eu tinha álcool e em casa apenas episódios repetidos de Grey's Anatomy.

O meu dia estava sendo uma merda. Não! A semana, o mês, quem sabe o ano inteiro ou os últimos quatro anos! Uma verdadeira catástrofe. Sair de Monte Carlo havia me proporcionado aquilo. Voltar para Monte Carlo endossou. Quem sabe o Dia das Bruxas não estivesse se provando um verdadeiro pavor mesmo.

Sempre achei que sair da casa dos meus pais me daria algum tipo de alívio e de liberdade, que me levaria a, em determinado momento, sentir falta da companhia daquelas pessoas que haviam me rondado durante vinte anos de existência. E enquanto me mantinha longe deles, parecia que eu gostaria de voltar até eles. Tudo é mais fácil embaixo da asa de nossos pais. Bes-tei-ra. Foi só colocar os pés em casa que lembrei dos motivos de ir embora. Quero dizer, eu poderia fazer faculdade em qualquer lugar da Europa, poderia trabalhar duro para passar na Faculdade de Engenharia de Modena, ter a droga do nome de Enzo Ferrari em meu diploma ou qualquer idiotice que meu pai me dissera sobre como seguir seus passos me tornaria em uma das melhores no meio automotivo.

Dei uma risada sozinha. Até eu dizer a ele que queria ir para o outro lado do mundo, estudar música e nunca mais voltar para casa. Só nos feriados e no aniversário do meu irmão mais velho, não deixei de pontuar, que fique claro! Era óbvio que ele odiaria, mas fui embora antes de repensar minhas próprias ações. E antes dele repetir generosamente suas últimas palavras destrutivas.

Nunca volte se não for para mudar de ideia.

Bem, eu não mudei! Mas nunca disse que costumava cumprir promessas de outras pessoas.

Foi como ser empurrada de um pedestal. Não sei explicar a sensação, mas é assustadoramente estressante. Em um segundo, você está lá em cima, gananciosamente desejando subir mais, no outro, há apenas uma terra desolada e tudo está acima de você. E o valor desse tudo pode ser esmagador.

O mundo na Coreia do Sul era um pouco diferente, no entanto, o nome do meu pai continuava o mesmo. Caleb Kawanami ainda era diretor executivo da Honda e ainda patrocinava um tal de Yuki Tsunoda, na Fórmula 1. Ele ainda era minha sombra ou, talvez, eu fosse sua sombra. Sempre correndo atrás daquela figura imponente. No mesmo passo em que eu descobria amar muito algo, como meu emprego em uma livraria no interior da Universidade de Seul, também descobria que convites do corpo docente das turmas de engenharia viriam constantemente junto às perguntas de "Ei, como vai seu pai? Temos uma proposta interessante para ele...". No final, nunca era sobre Kimberly, mas sempre sobre Kawanami. Era meio estranho pensar que eu poderia ser duas coisas diferentes, mas a segunda sempre prevaleceria.

Virei a dose de vodka e senti o líquido descer cortante pela minha garganta. Dei uma tossida constrangedora que chamou a atenção do barman para mim. Eu nunca fui do tipo que bebia. Vinhos? Ok, eu amava um bom vinho italiano. Vodka? Sempre há uma primeira vez na vida.

Soltei o ar pelas narinas, irritada comigo mesma.

A música alta do clube explodia ao meu redor, mas minha mente gritava como uma lunática; eu não ouvia nada além dela. Meu irmão mais velho havia organizado aquela festa de Halloween no Howl's Club, um clube novo para playboyzinhos do principado de Mônaco — e, sim, meu irmão mais velho era um mauricinho de primeira. E, acima disso, era o aniversariante da noite. Eu costumava dizer a ele como era cômico que fizesse aniversário no Dia das Bruxas. Ele era o pior de todos, mesmo que eu o amasse. Caras ricos sempre são os piores de todos, principalmente em Monte Carlo. Que se dane a história de que esse distrito é um dos mais românticos, os caras desse lugar eram todos babacas, perguntem para as minhas amigas!

O fato era que, depois de chegar na minha casa de infância, passei uma semana inteira no apartamento de Lukas. Uma semana repleta de receios e angústias, como se os dias que precediam o Halloween quisessem que eu me sentisse em um filme de terror psicológico bizarro de baixo orçamento. Quem sabe eu pudesse pensar em algo para o meu projeto final que envolvesse tal temática, afinal, todo aquele momento parecia saído de um péssimo roteiro da Netflix com uma trilha sonora exemplar.

Quando decidi que deveria encarar esse novo e recém descoberto medo, parecia que o universo estava pronto para me mostrar que as coisas para mim e para minha família nunca dariam certo. Lukas me disse que eu deveria relaxar, mas saber que meu pai me preferia em Seul não era bem um cenário que me ajudava a ficar de boa. Sabe como é essa coisa de daddy issues: difícil de lidar.

Como se eu precisasse provar aquela informação, virei outra dose da vodka que começava a perder o seu efeito. Foi quando eu ouvi.

— Sr. Verstappen, bem-vindo! — o segurança cumprimentou o nosso convidado de honra e não pude reprimir meu pescoço a virar até a direção daquela voz, como se meus sentidos sempre estivessem esperando por ele (o que poderia ser verdade).

— Bom te ver, Frederick.

Eu deveria reprimir cada um dos meus desejos, mas dificilmente conseguia. Olhei sobre o ombro, para uma figura espantosamente distinta, perdendo o foco de todo o drama familiar que me rondava. Todos ao nosso redor usavam fantasias ridículas, inclusive meu irmão — vestido de Sensei Lawrence, de Cobra Kai —, no entanto, Max Verstappen estava de terno, sem aquela gravata-borboleta horrenda e o cabelo, sempre tão bem controlado, bagunçado. Muitas coisas passaram pela minha mente, mas decidi dar atenção ao único pensamento decente: Max parecia irritado ao olhar ao redor. Abri um sorriso.

Long story short, como diria a srta. Swift.

Parece que ele notou minha atenção sobre si. Seus olhos que derretiam minha frieza constante caíram em mim e eu percebi seu sorriso aparecendo e crescendo gradativamente. Oh, droga. Virei para o bar, deixando ele para lá, minha nova dose de vodka era mais interessante. (Mentira, eu odiei a bebida, queria pedir água ou um Uber, ainda não sabia o que era mais sábio).

— Sozinha no bar, Kim?

Droga, acho que meu corpo inteiro estremeceu. Covarde! Virei o copo, meu batom vermelho marcava o vidro, meu coração fez um som estranho, mas eu sorri como uma gata esperta e me virei para ele lentamente enquanto cruzava as pernas. Ele era alto e forte e totalmente de preto parecia ser James Bond em seus melhores dias, mas o que me deixava atordoada de verdade era a distância quase mínima, a expressão ainda um tanto irritadiça e aquelas sobrancelhas arqueadas.

— Estava, até alguém atrapalhar minha solitude — decidi optar pela minha arma de sempre: retrucar tudo o que ele dizia.

— Nós dois sabemos que você não liga de verdade — ele replicou, abrindo um sorriso condescendente.

Dei a mesma risadinha de sempre e assenti uma vez. Max sentou ao meu lado, chamando o barman com dois dedos. Observei seu perfil. A barba rala e loira estava ali, preenchendo seu rosto, seu cabelo caía sobre a testa, as bochechas estavam um pouco vermelhas e os lábios também, o que me dava um indicativo sobre o que ele estivera fazendo e também de onde sua gravata havia se perdido. Espero que não tenha sido no carro dele. Droga, acho que estou com inveja da sortuda e de como ela deve ter tocado nesse cabelo sedoso e de como ele deve ter dito que poderiam ser pegos a qualquer momento e...

Pigarrei e voltei minha atenção para as bebidas nas prateleiras em nossa frente.

— Não sei se você sabe, mas esta é uma festa à fantasia.

Max me encarou, descendo os olhos pela minha fantasia. Havia muito couro, muita pele exposta, muito batom vermelho e olhos hábeis desnudando tudo isso.

— Não me diga, Mulher-Gato — ele sussurrou. Crazy in Love começou a tocar e o sorriso do piloto pareceu aumentar, mas eu estava concentrada demais em não deixar ele notar minha vontade irrefreável de soltar algum som vergonhoso para as suas palavras pausadas. — Não sei se você notou, mas estou vestido de Bruce Wayne.

Gargalhei de verdade. Se não fosse Max Verstappen, eu diria que aquilo era um flerte. No entanto, não era exatamente isso que Max Verstappen fazia? Ele vivia pelo flerte, vivia para quebrar o coração de qualquer desavisada, ele era um libriano nato! E mesmo assim, minha pele esquentou e minha garganta fechou, provando que meu corpo e minha mente não davam a mínima para a fama dele.

— E também, eu acabei percebendo assim que vi a família Adams lá embaixo. Acho que Lukas esqueceu de me avisar que eu deveria ter me arrumado melhor.

— É Halloween, Max. Todas as festas são à fantasia.

— Jura? Eu nem percebi. — Ele piscou. — Que desastre.

— Que cabeça a sua, não é? Lukas vai ficar decepcionado por não ter aceitado se vestir de Daniel Larusso para combinar com o Johnny dele.

— Cubra essa pra mim, Kim. Diga que você precisava muito de um Bruce Wayne.

— Depende — clareei minha voz, muito mais grossa que o normal. — Vai me pagar quanto?

— Minha companhia não basta?

Bastava. Ele só não precisava saber.

— Você sabe que eu sou uma garota que gosta de coisas caras, Maxy. — Foi a minha vez de piscar.

— Ganância não é um pecado? — Max negou com a cabeça, em uma falsa serenidade. — De todo jeito, acho que sou caro o suficiente.

Decidi que o silêncio era a única resposta que eu poderia dar para o piloto. Me obriguei a parar de olhar para ele e fitei meu copo vazio. Era um jogo perdido quando Max estava em campo, afinal, eu não tinha rédeas e nem talento o suficiente para me parar ou para jogar como ele. Eu sabia que Max estava acostumado a ter a fama que tinha e estava acostumado a ter garotas como eu julgando cada passo que ele dava. O que me restava era aceitar que meu coração sem escrúpulos gostava de um cara que vivia pela emoção. E eu não entendia a emoção que ele tanto amava. A minha vida era pacata em Seul, eu não era nenhuma Mulher Gato e nenhum Bruce Wayne estava vestindo uma roupa preta para me caçar durante à noite. Por mais que isso fosse parecer excitante.

Balancei a cabeça, soltando o ar pela boca.

Após um breve suspiro, ele perguntou:

— Lukas me disse que as coisas aqui não estão muito boas. Como você se sente?

Sorri, sem mostrar os dentes.

— O mesmo de sempre: papai acha que estou vivendo minha fase rebelde ainda. Ele acha que um dia, vou acordar e puf, adeus Seul, olá Modena! — Rolei os olhos, fatigada. — Mas, tirando isso, estou ótima, Verstappen.

— A Itália não é um lugar tão ruim assim. Há sempre como viver em fazendas produtoras de vinho, curtindo uma boa paisagem e passando os fins de semana em gelaterias no centro de Florença.

Ele não era um cara presunçoso. Na verdade, as pessoas confundiam a confiança excessiva que ele tinha com presunção, porque havia uma linha muito tênue entre essas duas coisas, mas, às vezes, eu percebia pitadinhas de cinismo no que ele me dizia. Como naquele momento.

Soltei uma risada soprada para o rapaz ao meu lado, percebendo o brilho de suas írises.

— Parece uma boa — respondi.

Max concordou.

— Acho que vou fazer isso quando me aposentar. Quer ir comigo?

— Não sei se sua companhia me agrada tanto assim — provoquei, causando um riso solto do piloto. Mentalmente, agradeci pela mudança de assunto, por ele tornar aquele momento um tanto mais leve para mim. — Mas e você? — contra-ataquei. — Lukas me falou sobre o campeonato. Qual é a sensação de ser líder?

— Incrível. — Ele sorriu. — E ao mesmo tempo, só quero não ter de responder às mesmas três perguntas sobre Lewis e eu sermos rivais que se odeiam e vão decidir o final disso em cima de um ringue. É tão patético que sinto saudade de ser apenas o terceiro.

— Engraçadinho. — Ri de sua fala repleta de caretas e ele alargou o sorriso divertido. — Eu vi algumas das discussões no Twitter, sabia? Parecia que os fãs de One Direction e Justin Bieber estavam em 2012 novamente e agora disputam por carros.

Max franziu as sobrancelhas e riu nasalado.

— Vou tentar fingir que entendi e responder a altura: minha nossa, que horrível!

Gargalhei para sua expressão, de fato, horrorizada. Max não era um leigo à cultura pop atual, mas acredito que ele nunca tenha prestado atenção ou, quem sabe, se desse ao trabalho de entender as nuances do mundo da música. Seu melhor amigo era um DJ que já havia colaborado com Dua Lipa, Bebe Rexha e Khalid, mas Max só seguia o fluxo; se ele gostasse do que ouvia, acabaria viciado naquelas cinco músicas de sempre. E eu, bem, eu adorava música coreana, música italiana, música brasileira e até já havia me aventurado por produções russas. Estava aberta a tudo, se me agradasse, eu ouviria até mesmo o piloto ao meu lado cantando Spice Girls. (O que já havia acontecido).

— Então — ele voltou a falar um tempo depois, parecia que havia ficado me observando todo aquele momento, o que me deixava ainda mais agitada —, você veio sozinha mesmo? O Batman não está aqui?

— Pensei que você fosse o Batman — disse. Minha garganta estava um pouco seca, então virei a nova dose de uma vez. Não que fosse resolver alguma coisa.

Max franziu o cenho e se aproximou.

Shhh, Kim! Você não sabe que a identidade do Batman é um segredo?

— Ah, verdade — minha voz tremeu. — Falha minha. Mas, respondendo sua pergunta: meu acompanhante hoje é essa vodka ridiculamente ruim e, bem, acho que o barman conta também, não é?

Ele assentiu, mas o resquício de sorriso não estava mais lá. Dua Lipa começou a explodir nos alto-falantes e meu corpo se remexeu ao ritmo de Physical. Eu não sabia quem era o DJ naquela noite, mas acho que ele e minha mente estavam em sincronia. Uma sincronia horrível por sinal.

— Que patético, Kimberly — ele resmungou, mas eu estava prestando atenção em como Dua dizia let's get physical e a sola da minha bota descontava a tensão no piso. Acho que ele percebeu também. Seus olhos desceram pelas minhas pernas cobertas por uma meia-calça fina até o couro que cobria dos meus joelhos até os meus pés. — Gosto dessa música.

— Eu também. Dua Lipa é incrível. — Parei os movimentos. Fitei seus olhos. Joguei fora todos os pensamentos. Faça algo para se orgulhar agora, por favor. — Quer dançar?

Max abriu aquele sorriso de predador que tinha a presa onde queria.

— Tem certeza?

— Ah, tenho... eu acho — gaguejei.

— Você sabe que podem começar a comentar sobre nós. — Ele arqueou a sobrancelha e me examinou minuciosamente.

— Não que eu me importe, Max.

— Mas você se importa.

Cerrei o olhar.

— O quê? — Riu. — Estou mentindo? Consigo saber o que se passa na sua cabeça em uma olhada.

Ah, ótimo.

— Aham. E o que eu estou pensando, então?

— Se vale a pena arrumar uma confusão a mais.

— Isso não é verdade — repliquei. — Você quem não responde a minha pergunta!

Ele riu.

— Nós vamos brigar por isso?

— Se você fosse menos você, quem sabe a gente pudesse agir normalmente um com o outro.

Max me encarou fervorosamente, seus lábios formando um biquinho que sempre aparecia quando ele se sentia contrariado, entediado ou irritado. Eu apostava que ele estivesse entediado.

Ele ficou de pé. E nesse instante, senti que aquele órgão bizarro que temos dentro de nós e dizem que é "vital", parou de funcionar. Eu sei que parou. E junto dele eu acho que parei também.

— Ah, mil perdões por ser muito eu, Kimberly.

Abri a boca para dizer algo muito bom, uma réplica à altura daquele garoto que sempre estava me irritando, me deixando com fogo nas orelhas e a vontade sem igual de fazê-lo morder todas as palavras que tinham em sua língua.

— Você quer dançar? — disse, irritada. Max desdenhou, mas eu segurei seu braço, chamando sua atenção para o meu rosto. Ele suavizou o olhar, mesmo que ainda parecesse cansado. — Estou falando sério, Verstappen. Você quer dançar comigo?

— Sim, Kimberly. É claro que eu quero dançar com você.

Olhei para o sorriso sem escrúpulos do piloto e um furor visceral tomou conta de mim. Senti algo borbulhar e ouvi o palavrão que soltei entredentes. Max me deu as costas e caminhou para a multidão que se movia ao som de Dua, sem dar a mínima pra forma em que me deixou.

— Ei! — Exclamei.

Coloquei os dois pés no chão e desci do banco, caminhando em passadas largas em direção a ele.

Vi o piloto se perder no meio de um amontoado de pessoas fantasiadas. No final, Max sempre estava se perdendo em meio a outras pessoas enquanto eu o via sumir.

— Max!

Ele parou, casais dançavam ao seu redor e seus cabelos bagunçados e aqueles olhos cheios de uma tempestade de verão me deixaram estática por um segundo. Max deu um passo em minha direção.

— Eu odeio você às vezes — resmunguei, sabendo que eu soava como a garota mimada que era.

Max rolou os olhos, abrindo um sorriso displicente.

— Não odeia, Kim. Você simplesmente me adora — tirou sarro.

Outro passo. Eu sentia o calor dos corpos ao meu redor, mas o calor dele era mais forte, ele era muito mais forte. Max parou um centímetro antes de estarmos próximos demais.

— Dança comigo — ele sussurrou em meu ouvido, senti as mãos do rapaz deslizando por mim, como uma serpente que sabia onde estava sua presa. — É uma festa, Kim. Você não quer discutir hoje e sabe disso. Relaxa.

Minha respiração falhou. O nariz dele desceu pela curva do meu pescoço e meu corpo foi prensado junto ao dele. Eu quis, naquele segundo, que todos os momentos ao lado dele fossem uma festa.

— Uma música — murmurei, entorpecida.

— Todas — ele disse de volta.

— Sabia que é difícil de te entender?

— Eu posso dizer o mesmo sobre você, Kim.

Ri. A verdade era que tagarelar sem parar era seguro quando se tratava dele. Se estivéssemos discutindo, coisas importantes poderiam ser deixadas para trás. Como meus sentimentos por ele. Ou os sentimentos de Max por mim. E enquanto dançávamos, corpos colados, respirações sufocadas, lábios descendo pela pele e a promessa de que aquela dança poderia se tornar algo além, eu sabia que estávamos fingindo que algumas coisas não precisavam ser ditas.

Então, enquanto meus olhos se fixavam nele, tive um ímpeto que costumava ter apenas quando estava sozinha com ele. Puxei Max pelo colarinho desarrumado e conectei meus lábios aos dele. O que importava que todos estivessem ao nosso redor? Eu sentia, em inúmeras vezes, que apenas eu e ele existíamos.

Era familiar com voltar para casa e era atordoante como voltar para casa. Em Seul, Max não era uma constante, mas em Monte Carlo tudo o que eu desejava tinha a ver com o toque de suas mãos e o gosto de seus lábios. Ele tinha aquele efeito entorpecente que, às vezes, se misturava à adrenalina. Exatamente como naquele instante. Eu só conseguia pensar nas sensações. Nunca nas consequências. Quem sabe minha vida fosse definida pela emoção e a consequência, nunca pela racionalidade e nunca pelo arrependimento.

Me afastei do piloto, mais do que gostaria.

— Preciso ir ao banheiro — soltei, sentindo o gosto de Max ainda em minha boca. Sentindo o desespero me corroer.

Eu estava sempre fazendo a coisa errada.

Ele passou as mãos entre os cabelos e assentiu. Então, eu corri. Para lugar nenhum, apenas me afastei e respirei profundamente. Sentia que havia algo sobre mim, me sufocando e me tirando do chão, como se aquele simples beijo — um beijo que eu conhecia muito bem — tomasse forma e me encarasse, como se ele escancarasse os meus desejos mais profundos e proibidos.

— Kim, porra, o que você tem? — Murmurei para mim mesma, dando tapinhas em minha testa.

Me afastei ainda mais da confusão da festa e subi as escadas do salão amplo do clube que meu irmão alugara. Eu precisava de silêncio, paz, sossego. Qualquer coisa.

Max me contou uma vez que, quando ele fazia algo de errado ou quando as coisas ficavam pesadas demais, gostava de ficar em silêncio, esperando o momento que pudesse dizer ou fazer a coisa certa. Ele me disse que, às vezes, aquilo não funcionava muito bem, mas que, ainda assim, era melhor do que simplesmente explodir. No final, acho que eu sempre vou ser o monstro e só preciso aceitar. Não vou dormir menos por saber disso e não vou remoer porque estão me enxergando de uma forma que não posso controlar.

Pisquei. Senti que meu coração voltava a bater.

Lá fora, ainda dava para ouvir o barulho irritante da música e ainda dava para sentir o cheiro de bebida e cigarro. Mas, lá fora, eu sabia que estava ouvindo apenas o silêncio que estar sozinha proporcionava.

Há quatro anos, quando achei que o mundo iria me engolir enquanto todas as minhas decisões me levavam para o lugar errado, caminhei até a casa do piloto, subi até o seu andar e o encarei na porta de seu apartamento. Naquele dia, estávamos no mesmo pedestal. Quando ele segurou a minha mão e me puxou para dentro, dentro de seu abraço, e eu enrolei meus braços ao redor dele, descobri que queria que ele quebrasse meu coração e que, se ele quisesse, eu poderia quebrar o dele também.

Não eram apenas meninos maus que poderiam quebrar corações, as garotas boas também sabiam ser um temporal.

Ele era a única coisa que fazia sentido na minha vida, mas era a única coisa que eu estava com medo de perder quando fosse embora. Eu estava constantemente perdendo algo. Minha fé, minha casa, meus pais, meu destino, meu eu. Eu sabia agora que eu jamais o perderia, porém, continuava negando cada momento em que ele mostrou que nunca me deixaria cair, que nunca me levaria ao topo apenas para me empurrar. E eu continuava me jogando, continuava fechando os olhos, deixando que o medo me consumisse.

É normal para as pessoas que estão sempre perdendo tudo, temer aquilo que continua. E Max continuava e continuava. Enquanto eu achava que não o merecia, ele vivia me provando que, sim, eu merecia o tipo de amor que ele me dava.

As coisas aconteceram de uma forma instigante. Eu sempre fui Kim, a filha de um dos investidores da equipe de Max, um aspirante a piloto de Fórmula 1 que sonhava em ser um dos grandes. Ele sempre foi o prodigioso talento, extremamente inteligente e irritantemente prepotente, que meu pai estava fascinado, eu sempre fui a pirralha respondona e mimada que ele suportava.

Até que crescemos o suficiente para nos tornarmos bons conhecidos, do tipo que dividiam uma mesa de bar em fins de semana fracassados e, às vezes, a mesma cama depois de um dia cansativo. Sei lá, estávamos lá um para o outro em momentos que nenhuma outra pessoa poderia estar. Eu não sabia que o conhecia tão bem até que descobri que, sim, Max era quase como um livro aberto para mim. E eu gostei de conhecer todo o resto, aquela parte que guardamos em caixinhas e abrimos de tempos em tempos, apenas porque queremos que mais alguém conheça o nosso lado feio. O nosso monstro.

Olhando para ele agora, lembrei do momento em que me apaixonei. Anos atrás, quem sabe, semana passada, hoje. E eu odiava saber que sempre escolhia o caminho difícil. O caminho que não contava a ninguém sobre ele, o caminho que escolhia segredos e o caminho que me magoava e o magoava. Lidar com pessoas que gostamos é lidar com nossa própria frustração e eu não gostava da ideia de que poderia ser a frustração de Max.

Por que tudo sempre precisava ser tão confuso para mim? Eu queria ter a resposta na ponta da minha língua, como tinha minhas réplicas impertinentes quando nós dois discutíamos.

No final, acho que todos temos a chance de ser o monstro das histórias de alguém ou das nossas próprias histórias. E eu tinha medo de descobrir como Max me via. Caindo do pedestal, esse deveria ser um sentimento.

Pisquei meus cílios. Max estava parado no batente da porta de correr que separava a área do interior do clube do exterior.

— Acho que usar a fantasia de Mulher-Gato te deixou um pouco imersa demais na personagem, Kim.

— Max, sinto muito... — sussurrei, caminhando até ele.

— Por favor, Kim. Pare de tentar estragar a festa. — Ele me encarou, mas, se havia divertimento em sua voz, não havia em seus olhos.

— Festas boas são aquelas que estão cheias de dramas — tentei fazer graça. — Você pode contar para os seus netos sobre o dia de hoje; sobre uma garota chata e mimada que vivia enchendo sua paciência e estragando tudo.

Ele riu. Fiquei um pouco esperançosa.

— Ou eu posso contar que foi nesse dia que eu disse para a avó deles que a amo. Na droga de uma festa de Halloween.

Parei. Parecia que o mundo havia ficado de cabeça para baixo. Ele disse... o quê?

— Mas — ele deu um passo em minha direção. —, eu estava tão cansado de toda a situação que, mesmo dizendo que a amo, mesmo tocando seu rosto lindo... — Senti suas mãos em minha bochecha e parecia que eu era feita de porcelana —, mesmo sabendo que aquilo poderia ser para sempre, eu precisei perguntar a ela o que ela queria de mim de verdade. E, droga, Kim, posso vencer um campeonato esse ano, posso receber todos os méritos e todas as honras, posso ser pressionado de todos os lados, mas acho que o que mais me causa medo é o que você sente e o que você quer de mim. Porque estou cansado de não saber onde estou pisando quando se trata de você.

E então não havia mais pedestal. Max estava em minha frente e suas mãos estavam em mim e suas palavras eram todas minhas. Eu tinha o péssimo hábito de rir quando ficava nervosa e mesmo que eu quisesse manter a seriedade do momento, senti a risada confusa escapar e os lábios dele subiram, porque ele sabia que eu tinha essa mania irritante, mas ainda assim eu queria dizer o que ele merecia ouvir.

Eu só não conseguia. E Max se aproximou um pouco mais enquanto eu balançava positivamente a cabeça, para tentar dizer a ele que, pro caralho, eu o amava também. Eu estava cansada de todos os ovos que pisávamos e todas as vezes em que eu queria dizer que amava cada segundo ao lado dele, mas dizia o contrário. Eu não era a melhor pessoa do mundo com as palavras, sentimentos eram uma terra de ninguém na minha vida e eu tinha mais facilidade em destruir tudo do que construir algo. Tudo era incerto, mas, eu queria que tudo fosse certo com Max.

Eu o amava. Não é estranho pensar nisso? Em como essa noite começou catastrófica, mas agora estou no terraço, prestes a dizer ao cara em minha frente que eu o amo? No Halloween. O que é ainda mais estranho.

— Isso é tão excitante. — Eu continuei a rir.

— Você é estranha, Kimberly Kawanami — Max leu meus pensamentos.

— Você quem ama a estranha, cara. — Respirei fundo. — Então, você não tem mais medo do meu pai ficar furioso com você?

Eu deveria dizer que o amava, mas ainda estava sentindo que todas as terminações nervosas entrariam em curto e precisava que minha risada me deixasse em paz.

Max fez um gesto de desdém com as mãos.

— Você é quem tem medo dele. Seu pai não está nem aí, na verdade, ele prefere que eu seja seu namorado do que qualquer babaca da sua Universidade. Ele me adora, Kim.

Rolei os olhos. Max mordeu o lábio inferior e se aproximou, deixando um beijo cálido nas minhas bochechas.

— Eu amo você, Kim. O mundo poderia acabar agora e eu enfrentaria tudo só pra te ter ao meu lado. Então, é, não tenho medo do seu pai, do Lukas ou do que vão dizer sobre nós dois ou se suas amigas vão dizer que você deveria pensar melhor. Eu. Amo. Você. Quer que eu diga isso no Twitter? No Instagram? Twitch? O Facebook ainda existe?

— Brega! — Eu aceitei suas mãos na minha cintura de bom grado. — Deve ser por isso que eu te amo também. Você sabe que eu sou cafona e me apoia.

Ele aumentou o sorriso, puxando-me com força.

— Agora, sim, posso te beijar.

E ele me beijou. Beijou e beijou e beijou e beijou.

Max Verstappen me amava. Tudo bem. Eu lidaria com isso. Se possível, pelo resto da minha vida. Pelo caminho fácil ou pelo difícil, no final, quem liga? Ele seria o cunhado quebrador de corações de Lukas, o genro preferido do meu pai e o segundo filho da mamãe, mas seria todo o resto para mim.

— Espera um segundo — ele resmungou, afastando-se dos meus lábios, sua pele estava avermelhada e seu colarinho mais aberto. Ele era tremendamente gostoso quando eu o deixava bagunçado. Max sorriu. —, eu quero ouvir de novo, só pra ter certeza de que ouvi certo.

Puxei-o para mim pela camisa preta.

— Eu amo você, Max Verstappen. Agora, cale a boca e volte para cá.

— Você quem manda. Sempre.

No final, havia vários outros pedestais para que eu fosse colocada e jogada de lá, mas, se eu pudesse, faria com que eu e aquele garoto cheio de marra e sorrisos displicentes ficássemos lado a lado. A vida era feita de escolhas boas e ruins, de dias bons e dias ruins, de pessoas que nos amariam tão profundamente que todas as que nos machucavam nunca mais conseguiriam nos ferir. E eu, apesar de ainda precisar aprender a conviver com as opiniões de outros, também estava disposta a me importar apenas com aquilo que me confortava.

Poderia ser eu. Poderia ser o outro. Poderia ser Kim e Max. Eu viveria o momento que ele me proporcionava. Todos os dias se ele quisesse. 

🎃🎃

OLÁ, OLÁ

Depois de sabe Deus quanto tempo, o em breve de Monster finalmente veio aí! Enrolei, é verdade, mas saiu!! Espero que tenham gostado da Kim e do Maxy e me perdoem pela demora. E aproveitem pra comprar na Amazon "Turmalina Negra", da Biancat. É um continho gostosinho de Halloween com tudo que a gente ama: casais sendo felizes, suspense e filmes de terror!!

Até outro dia 💗

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