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mala fama | carlos sainz

MONTE CARLO, MÔNACO — JANEIRO DE 2023.

                            SOLTEI UMA RESPIRAÇÃO PESADA, CAMINHANDO PELO CORREDOR enquanto sentia meus músculos tensionarem. Meu treinador estava moendo meus ossos durante as férias de inverno, meu dia começava às 8h e terminava só às 17h, como se ele precisasse se certificar de que eu não pularia a dieta especial e os exercícios diários. Sabia que havia pedido a ele aquilo, a próxima temporada se aproximava e meu desejo de vencer e dar o meu melhor para a Ferrari pulsava em meu peito de forma gritante.

Estar em uma equipe de ponta com a história que o time vermelho possuía era dual. Era uma honra sem tamanho, mas também era uma merda do caralho. Eu me cobrava normalmente, era frustrante como eu sempre encontrava um problema novo, mesmo quando tudo estava certo. E era ainda pior quando a torcida italiana estava de olhos afiados sobre mim, esperando o momento certo para me mostrar as garras.

Eu queria não pensar tanto nisso. Nós éramos um time unido, cometemos alguns erros e causamos alguns problemas, mas ainda éramos unidos. E em 2023, a roda giraria novamente e eu teria novas oportunidades de provar que estava ali porque merecia.

Assobiei uma canção que costumava ouvir meu pai cantar quando eu era criança e limpei minha testa com a toalha. Em algumas semanas, Charles e eu iríamos para Maranello iniciar os testes com o carro novo e nos simuladores, passaríamos semanas em nossas casas na cidade e com a cabeça no que realmente importava. Leclerc era um Campeão Mundial agora, todo mundo esperava que esta temporada rendesse, finalmente, o título de construtores da nossa escuderia. E nós dois faríamos o possível e o impossível para acontecer.

Minha atenção correu para o barulho ritmado de passos e coisas rolando, o ofego longo de uma respiração desregulada e a voz baixa que contava de um a quatro rapidamente. Andei lentamente até a minha porta e olhei de cenho franzido para o apartamento em frente ao meu.

Escutei barulho de chave e um latido alto.

Shiiu, Anakin. Mamãe vai te ouvir — uma voz baixa chiou. A porta se abriu e um labrador marrom enorme passou por ela, pulando sobre mim no momento em que me viu. — Ai, merda.

Soltei uma gargalhada com o abraço que recebi do animal gigante e desengonçado, me abaixei para poder acariciá-lo melhor, mas meus olhos fitaram o menininho parado no vão da porta, com o sorriso de pestinha que só ele poderia fazer soar como a coisa mais fofa que eu já havia visto.

— Olha a boca, Bene — briguei com ele, apertando a sobrancelha para parecer realmente bravo.

— Me desculpa — murmurou, apertando as mãos ao redor das chaves.

Benício era meu vizinho desde que me mudei para este apartamento em Monte Carlo, ele deveria estar com uns doze ou treze anos agora. Costumava ser o maior responsável pelos problemas do nosso prédio, junto de seu fiel escudeiro Anakin, o labrador de cinco anos e olhos dóceis, e a bola gasta e remendada que vivia manchando as paredes brancas dos corredores. Ele estava começando a espichar, pegando na metade do meu peito, tinha pernas longas que sumiam dentro do uniforme azul do time de futebol do bairro e as calças térmicas.

Os cabelos bagunçados estavam começando a cair nos olhos dele, mas eu conseguia ver o brilho arteiro das írises verdes de longe.

Me levantei devagar e Anakin ficou sentado ao meu lado, concentrado nos pés do dono que remexiam na bola de um lado ao outro. Analisei o pirralho.

— Pensando em dar uma escapadinha?

Ele deu de ombros, abrindo o sorriso traquinas.

— Preciso treinar — ele implorou. — Vou fazer o teste para o Barcelona na semana que vem, mas...

— Mas sua mãe te deixou de castigo por ter quebrado os vasos da vizinha de baixo — eu completei para ele, cruzando os braços sobre o peito. Bene tombou a cabeça, uma mania que ele tinha sempre que tentava não parecer tão orgulhoso das peripécias que tramava. Dei um risinho abafado. — Você está com problemas, irmãozinho. Acho que não é uma boa ideia contrariar Noelle se quiser fazer o tal do teste na semana que vem.

Vi preocupação passar pelos olhos claros do menino e disfarcei meu sorriso. Eu conhecia Bene o suficiente para saber que as únicas coisas que importavam para ele eram o futebol e a opinião da mãe. E ele não iria querer perder a paixão que possuía e a confiança da mãe em uma mesma tacada. No entanto, o brilho inegável de dúvida ainda estava no cantinho de seus olhos. Ele mordeu o lábio inferior, jogou a cabeça para trás e bufou.

— Tá, você me pegou.

Dei uma gargalhada, recostando o corpo na porta.

— Quanto tempo você vai ficar por aqui? — ele me perguntou, puxando a bola para mais perto e a guardando dentro de casa.

— Duas semanas. Depois o trabalho começa.

— Dá tempo de você e eu praticarmos quando meu castigo terminar?

— Lógico. Que tal eu e você jogarmos uma partida de FIFA até lá, então? Prometo pegar leve...

Bene caçoou, semicerrando os olhos para mim. Eu não deveria contar vantagem, aquele pirralho era muito bom em jogos, como se a mente dele fosse programada para antecipar até mesmo o sistema. Desde que o conheci, tive uma ótima relação com o pivete. Ele me reconheceu das corridas, me fez autografar camisetas, bonés e qualquer outra coisa que tivesse em mãos e fez o mesmo com Charles, Lando e qualquer piloto que pisava no nosso corredor. Eu acabei passando vários dias na companhia do garoto e gostava de tê-lo por perto também. O moleque era inteligente e divertido e Anakin me fazia lembrar dos meus próprios cachorros que viviam na casa dos meus pais.

— Benício, eu juro por Deus, se você...

O garoto arregalou os olhos quando a voz inundou a casa atrás dele, tampando a boca com as duas mãos para não soltar uma gargalhada alta. Ouvi os passos atrapalhados pelo corredor e o choramingar baixo, não demorou muito para que ela o encontrasse de frente para mim, Bene transformou a expressão atrevida na cara mais deslavada de todas. Ela olhou para o filho primeiro, as írises verdes eram iguais às do menino, seu cabelo estava preso em um coque bagunçado e a blusa xadrez cobria uma regata de alcinhas finas. Ela era linda, mesmo quando estava completamente fora do lugar.

— Oi, mãe — o menino saudou, soando tão inocente quanto Anakin quando comia os sapatos de Noelle. A mulher o fulminou, mas quando ri da expressão do pirralho, ela me fitou de imediato. — Eu estava batendo um papo com o meu amigo.

Meu corpo sempre reagia da mesma forma quando eu estava no mesmo ambiente que ela. Era a ansiedade antes do toque, o nervosismo de receber finalmente o olhar dela, a adrenalina que acelerava meu coração, fazia minha pele pulsar, meu corpo se arrepiar em expectativa. Eu a conhecia tão bem agora, mas havia perdido tudo aquilo há algum tempo. Diziam que você só daria valor ao que tinha quando sabia que nunca mais poderia ter. Deixei escapar o suspiro quando a sombra de reconhecimento surgiu em seus olhos e correu para longe na mesma intensidade.

Ela endireitou a postura, tocou o ombro de Bene e respirou fundo. Noelle abriu o sorriso simpático que usava para mim desde que terminamos tudo entre nós. Era uma cortesia que ela me dava porque eu era seu vizinho e, acima disso, um bom amigo para seu filho. Eu sabia que ela preferia que eu sumisse de suas vistas e, exatamente porque ela desejava isso ardentemente, eu estava procurando por novos apartamentos. Charles havia me enviado um link para um lugar vago no condomínio em que morava e o lugar era bem interessante. Antes de ir para Maranello, eu passaria lá para dar uma olhada. Esperava contar para Bene logo. Era uma merda como a gente se apegava às pessoas, e era uma merda que tivesse me apegado ao filho da mulher que havia partido meu coração.

— Por que você não vai para dentro, Bene? — Ela sorriu para o menino, afagando os cabelos rebeldes dele. — Nós vamos visitar o papai hoje, lembra?

Tudo se acendeu no rosto dele. Ele levantou o punho para mim e eu bati com o meu, era nossa despedida. O pirralho não disse nada, chamou Anakin para ir junto a ele e sumiu pelo corredor, para longe dos meus olhos curiosos. Tentei não parecer afetado ao fato de que ela estava encontrando o ex-marido, ou que eu não fazia parte do nicho daquela pequena família, que Noelle não me contaria o que estava acontecendo com os dois e também que não era da minha conta se ela mantinha conversas constantes com o pai de Bene. Não era a porra da minha conta há muito tempo.

— Eu vou me mudar — disse de supetão, sentindo o gosto amargo em meus lábios, como se dizer aquilo fosse um sacrilégio. Fitei Noelle, tentado a me afastar e a me aproximar, não tinha ideia do que parecia mais loucura para mim.

— Ah. Nossa. — Ela exalou.

— Charles me mostrou um lugar no condomínio dele. É bem localizado, perto de tudo...

Ela sorriu. Seu sorriso era muito parecido com o de Bene. O menino tinha muito da mãe, os mesmos olhos, o mesmo cabelo, o formato do rosto, a perspicácia.

— Imagino que seja.

— Provavelmente vou embora antes da pré-temporada começar.

— Você não... — Ela coçou a testa e apertou os lábios. — precisa fazer isso. Sabe? Me contar o que vai fazer ou não.

Afundei dentro do meu próprio desespero. Eu queria contar a ela. Queria que ela me pedisse para não ir. Queria que ela me dissesse que tudo o que havia dito quando terminamos não era verdade, que não era o que ela desejava, e que, mesmo sabendo que eu era um perdedor, ainda assim havia algo nela que gostava de mim. Eu queria mostrar a ela o quanto eu gostava dela... Não, o quanto eu a amava. Era tão ridículo como aqueles sentimentos pareciam me rasgar de dentro para fora, implorando para que eu dissesse a ela, mas, de uma forma idiota, eu não conseguia aglomerar aquelas palavras em frases, fazê-las ter sentido.

— Eu sei — respondi em um resfolegar. — Mas eu quero.

Ela concordou, segurando a maçaneta da porta com uma mão enquanto apertava a manga da camisa xadrez com a outra. Noelle se permitiu buscar meus olhos, e eu esperava que tivesse algo neles que respondesse todas as perguntas que ela me fazia em silêncio. Nós passamos metade de um ano juntos desde o dia em que a beijei pela primeira vez. Ela era um vício desde o momento que eu a vi pela primeira vez. Bene poderia ter me conquistado primeiro com o jeito rápido com que falava e os jogos de futebol que terminavam com uma parede suja e alguma coisa quebrada, mas Noelle me fisgou como se eu fosse um peixe e ela um pescador experiente.

E eu caí em sua rede com muito prazer.

— Não posso fazer isso, Carlos...

Machucava como um inferno ser rejeitado constantemente por ela. E, porra, eu entendia. Não concordava, mas entendia. Noelle Romagna era uma mulher mais velha, divorciada e tinha um filho pré-adolescente com um jogador de futebol que jogava no campeonato inglês. As pessoas falariam sobre nós como se fôssemos um novo experimento, elas falavam sobre nós depois que fotos vazaram na mídia.

Nós tentamos manter tudo em segredo, longe dos holofotes e dos fãs. Bene sabia, Charles e minha família, o pai de Benício e algumas amigas próximas de Noelle. No entanto, quando o grande público teve conhecimento, tudo virou um inferno.

Não importava se ela fosse dona do próprio negócio e tivesse criado Bene sozinha boa parte do tempo porque o pai estava muito ocupado jogando na Inglaterra, nem que ela sustentasse a família sozinha e que tivesse o direito de amar outra pessoa ou apenas se divertir.

Não importava quão forte ela fosse, quando todos estavam olhando para ela, Noelle simplesmente não aguentou. E não importava se ela me amava na mesma intensidade que eu a amava ou não, ela não arriscaria o que já tinha por algo que considerava difícil manter.

Ela me disse no primeiro dia. Que eu tinha uma fama ruim. Que caras como eu eram passageiros e feitos para suprir desejos. Ela se enganou, mas, ainda que eu fosse tudo o que ela desejava, não era suficiente.

Dei um sorriso triste e acenei uma vez. Eu também não podia fazer aquilo. Por isso me afastar era a única opção.

MONTE CARLO, PRINCIPADO DE MÔNACO — JULHO DE 2022, JIMMY'Z.

                           — A bebida é por conta do vencedor hoje! — Charles gritou entre a batida eletrônica da música e a embriaguez que já surtia efeito em seu corpo. Ele me abraçava pelo pescoço, comendo com os olhos a garota que dançava em nossa frente. Gritos animados se levantaram quando ele anunciou que eu pagaria a conta de todo mundo dentro da área VIP do Jimmy'z, mas a única coisa que consegui fazer foi gargalhar.

Eu ainda não estava bêbado, mas aguentar o peso de Leclerc estava me deixando lento e cansado. A adrenalina já não era a mesma de algumas horas atrás quando pousamos em Monte Carlo para comemorar a dobradinha da Ferrari e minha primeira vitória na categoria, mas eu podia jurar que aguentaria muito mais somente pelo prazer de poder soletrar para todos que vinham me parabenizar que, sim, eu era o campeão do Grande Prêmio da Grã-Bretanha.

— Ouvi dizer que ela tem uma irmã gêmea — ele cantarolou em meu ouvido, dando um sorriso torto que gritava "sexo" para a mesma garota de antes. Eu queria que ele me soltasse e fosse dizer para ela todas as promessas que fazia com o olhar. Mas acho que ele estava acabado demais para sequer compreender o que estava acontecendo.

Leclerc ainda estava vivendo o término do namoro. E viver o término para Charles era transar com todas as garotas que apareciam em seu campo de visão, curtir todas as festas que o convidassem a participar, beber até de manhã e no dia seguinte seguir para Maranello, onde ele colocaria uma máscara de responsabilidade e transformaria o time em uma puta potência esmagadora.

Nós estávamos voando. Depois de Mônaco, tudo mudou. A porra do campeonato era nosso, as corridas eram repletas de disputas entre nós e as Red Bulls. Max e Charles pareciam dois animais sedentos na pista, sem pretensão nenhuma de dar o braço a torcer um pelo outro.

Era insano. E eu adorava aquele gostinho doce de sucesso que nos consumia.

— São gêmeas ou você tá vendo duplicado? — zombei, afastando o braço dele de mim.

Charles franziu o nariz, mas olhou uma segunda vez para a menina que conversava com uma garota realmente idêntica a ela.

— Idiota — ele resmungou. — Ela tem uma lancha ancorada no píer. Tá a fim de curtir em alto mar hoje, campeão?

Sem chances. Eu sabia muito bem o problema que aquele tipo de garota causava e não estava nem um pouco a fim de me envolver. Na verdade, eu já tinha um alvo em mente e com certeza não eram as garotas que Leclerc gostava de curtir.

— Que tal você perguntar pro seu irmão, uh? Gêmeas e dois patetas juntos parece perfeito pra mim — indiquei, apontando Arthur com a cabeça. Charles seguiu meu olhar para o irmão que conversava com a bartender, ele parecia ter a garota loira na ponta dos dedos enquanto colocava os fios de cabelo dela atrás da orelha e eu tinha certeza de que acabaria arrumando algum problema para a menina se continuasse atrapalhando o serviço dela.

— Ele nunca aprende — Charles resmungou, dando um gole na long neck. — Vou lá salvar o dia.

Ele se afastou e me libertou de sua atenção exacerbada. Dei uma risada divertida quando o monegasco arrastou o irmão pelo colarinho da jaqueta de couro para longe da confusão do bar e finalmente dei as costas ao meu companheiro de equipe.

Meus olhos varreram o espaço ínfimo do lugar, dando de encontro com pessoas que eu conhecia muito bem e algumas que nunca havia visto antes. As garotas de Leclerc me lançaram olhares que retribui com gentileza, mas não era mentira o que havia dito antes. Eu preferia manter distância das gêmeas de Charles e a lancha no píer.

Minha atenção estacionou na mulher que ficou presa em minha mente durante as últimas horas. Eu notei quando ela chegou, percebi enquanto ela conversava com Gino Rosato no início da noite e a segui com o olhar quando foi para a pista de dança e se divertiu com as amigas. Eu deveria ter ido até ela, mas Charles havia infernizado minha noite com as besteiras extravagantes que envolviam me fazer beber uma garrafa de champanhe inteira enquanto ele e o irmão gritavam "bebe, bebe..." repetidas vezes e subir no palco para animar a festa junto com o DJ.

Agora, sem meu companheiro de equipe dando uma de mestre sala, eu tinha a oportunidade perfeita de conquistar quem eu realmente queria conquistar.

Ela percebeu minha atenção de imediato. Havia expectativa em seus olhos oliva enquanto me dirigia até ela, sem pressa, mesmo que eu tivesse esperado muito tempo para isso.

Noelle Romagna deveria ser um campo proibido para mim, no entanto, eu não era conhecido por tomar as decisões necessárias. Eu gostava dos desafios mais do que deveria e ela era um dos bons.

Parei ao lado dela no bar, pedindo uma nova garrafa de cerveja para o barman. Assim que ele se afastou, notei de rabo de olho que ela colocava os fios de cabelo atrás da orelha e tentava a todo custo não me fitar enquanto mordia o lábio inferior em um aperto que me fez sentir inveja dos dentes dela.

Eu estava caidinho por ela há alguns meses. Noelle era minha vizinha de porta desde que me mudei, nós nos encontrávamos quase sempre nos corredores e na academia do condomínio, uma vez paguei uma cerveja para ela em um barzinho no píer quando a encontrei fazendo uma caminhada e terminei a noite conversando com ela sobre tudo. Minha vida profissional, o casamento fracassado dela e o filho de doze anos, meus desejos para o futuro na Ferrari, a empresa dela e seu sonho de ampliar a marca para outros países.

Ela era divertida, tinha um senso de humor afiado e um péssimo gosto para clubes de futebol. Eu odiava que Bene e Noelle fossem torcedores do Barcelona, mas era divertido acompanhar os jogos com eles quando eu tinha a oportunidade. Nós caminhamos juntos para casa naquela noite e quando me despedi dela, tive um desejo quase paralisante de beijá-la. Eu não o fiz, mas sabia que, em algum momento, acabaria conseguindo aquele beijo.

Me virei completamente para ela e sorri travesso, umedecendo meus lábios antes de dizer:

— Pensei que você não viria.

Noelle tomou controle de si e voltou-se para mim também. O cabelo dela estava muito mais escuro do que da última vez que a vi, ela usava um vestido prateado com um decote em V que mostrava sua clavícula e a pele superior de seus peitos. A peça ia até o meio das coxas e as pernas torneadas dela se enroscavam com as pernas altas do banco. Desci o comprimento delas com o olhar, aumentando meu sorriso.

Droga, essa mulher era uma perdição e eu estava começando a perceber que iria adorar me perder nela.

— Achei que seria deselegante negar o convite. Você parecia ansioso para me ver.

Ri baixinho de seu desdém escorrendo. Ela sabia o quanto eu a queria, eu não era o tipo de cara que gostava de joguinhos. Era direto com o que queria, com o que desejava. E eu queria Noelle, desejava ela de uma forma quase imprudente.

Charles era o cara do papo furado e das conversas fiadas, eu era o cara da ação.

Me aproximei dela e decorei os detalhes de seu rosto bonito e sexy. Os olhos de presença, verdes e imprudentes, as bochechas salientes e o lábio em formato de coração. Ela parecia uma menina ainda, mas era uma mulher adulta que sabia o que queria tanto quanto eu.

— Fico feliz que você quisesse vir tanto quanto eu queria que estivesse aqui — sussurrei para ela, descendo meu olhar de seus olhos para seus lábios que se entreabriram de leve sem que ela ao menos notasse.

Ela preguiçosamente sorriu para mim, levando uma das mãos até o meu ombro.

— Eu ouvi histórias sobre você, Carlos Sainz.

— Ouviu, é? — murmurei, enlaçando sua cintura com um de meus braços enquanto ficava de pé e parava em frente a ela. Eu era algumas cabeças mais alto que Noelle mesmo sentada naquele banco. Aquilo não a impediu de me fazer parecer a mercê de seu poder. — Quais histórias, se é que posso perguntar?

— Que você tem uma longa lista de ex-garotas — ela murmurou, dando um pequeno sorriso sardônico. — Que se apaixona pela noite e pela manhã não sente mais nada. Que não faz o tipo namorado e nem gosta de se comprometer. Que você tem uma fama muito, muito má.

— E você acredita nessas histórias? — Passei a língua sobre o lábio inferior e toquei a bochecha de Noelle com os dedos. Sua pele era lisa como seda, seus olhos eram quentes como o verão e eu era imprudente como alguém que tinha ego demais para controlar. Ela se aconchegou em meu toque e sua risada arrepiou minha pele.

Noelle mordeu o lábio inferior.

— Tenho algum motivo para não acreditar?

Eu ri, levantando o queixo dela para mim. Aquela mulher seria minha ruína e eu estava contente em deixar que ela acabasse comigo.

— E ainda assim você quer arriscar esta noite ao meu lado — eu a desafiei. Queria que Noelle dissesse sim, queria que ela me desejasse tanto quanto eu a desejava. Ela sabia disso, eu não deixaria que ela achasse o contrário.

— Não tenho medo da sua má fama, Sainz. Você não é o único que sabe o que quer e é direto com isso. — Ela ficou de pé lentamente, colocando as duas mãos em minha cintura. Noelle se aproximou um pouco mais, sorrindo como um anjo que havia acabado de descer até a terra para me encontrar. Meu estômago gelou e meu coração se atropelou nas batidas. Porra, eu queria aquela mulher mais do que imaginei querer qualquer outra coisa na vida. — O que você me diz?

Ri nasalado.

— Nada, linda — resfoleguei e apertei minha mão em sua nuca, puxando-a para mim.

Ela me beijou como se eu fosse a única coisa no mundo que pudesse manter seu coração batendo. Era eletrizante, fugaz, tinha uma fúria que fazia meu corpo ser balançado com trovões. Agarrei os cabelos dela entre meus dedos e aprofundei ainda mais aquele beijo.

Eu queria me perder. Eu não me importava com o dia seguinte, mas, naquele instante, enquanto Noelle arrancava gemidos roucos de mim e arranhava minha pele sensível dos antebraços, eu ansiava pelo próximo passo, o resto da noite, o dia seguinte.

Ela me conquistou antes de eu colocar minhas mãos sobre ela e aquele era o perigo que espreitava ao redor de caras como eu. Uma fama ruim me dava todos os nomes possíveis, os burburinhos das garotas que desejavam conhecer um pouco mais de perto aqueles boatos e a garantia de que o arrependimento viria somente na manhã seguinte. Noelle Romagna me viu antes dos boatos e eu perdi no momento em que contei a ela o que estava no meu coração.

O beijo dela era o meu fim. Depois dele, tudo estaria acabado. E, porra, ela sabia disso.

BARCELONA, ESPANHA — MAIO DE 2023.

                 — Acaba com eles, Benício! — Mabel gritou no meu ouvido esquerdo.

Isso aí não é lance pra cartão, não, porra! — Lando gritou no meu ouvido direito.

Vai se foder! — os dois ralharam ao mesmo tempo, levantando os braços sobre a cabeça, sincronizados como se fossem o espelho um do outro.

Norris caiu na cadeira ao meu lado, soltando fumaça pelas orelhas, mas a namorada continuou agarrada às grades de proteção da arquibancada, prestando atenção em cada movimento dos dois times no gramado.

Era sexta-feira, a semana do Grande Prêmio da Espanha tinha recém começado, estávamos de folga no final daquela tarde para que eu pudesse acompanhar Benício em sua primeira final de campeonato como jogador da base do Barcelona. Estava sendo uma experiência bastante diversa. Veja bem, eu odeio o clube catalão, sou madridista desde que me entendo por gente, nem se minha vida dependesse disso eu teria a audácia de vestir uma camiseta daquele clube ou torcer para ele. Mas aqui estou eu, nas arquibancadas do Johan Cruyff, assistindo ao Barcelona jogar contra o Villarreal.

Era por uma boa causa, eu repetia. Os pais de Bene não poderiam estar ali e ao longo dos meses, eu havia prometido para o pirralho ir assistir um de seus jogos. Ele nem havia me pedido para ir vestido a caráter, diferentemente de Mabel e Lando que estavam usando camisas do clube catalão enquanto berravam a cada gol que as crianças marcavam e a cada falta marcada que eles achavam não ser correta. Eu estava feliz, entretanto. Benício era muito bom em sua posição, sendo um meia-atacante, ele estava envolvido em muitos dos avanços do time, em especial, os que resultaram nos três gols que haviam marcado, mas também estava sempre voltando para a área do Barça, ajudando os zagueiros na defesa.

— Seu pirralho é mesmo fantástico, não é? — Lando comentou em determinado momento enquanto eu segurava o coração na garganta, esperando pelo final da partida. Eu estava mesmo orgulhoso de Bene.

Fitei Norris com uma carranca, mas decidi não respondê-lo. Ele sabia tudo sobre Noelle, eu nunca conseguia esconder as coisas dele. Apesar de não sermos mais companheiros de equipe, Lando era um amigo especial dos meus tempos de McLaren. Nós estávamos sempre juntos nos finais de semana, Mabel, a namorada dele, nos acompanhava às vezes e ela era tão impertinente quanto o britânico, mas, sendo espanhola, eu gostava muito mais dela que de Norris. Ele estava muito mais irritante agora que tinha uma namorada, fazia tudo para poder impressioná-la. Eles eram fofos, no final das contas e Norris merecia aquele tipo de felicidade.

Quando o jogo acabou e o time de Bene recebeu as medalhas e o troféu, entramos em campo para poder parabenizá-los. Algumas crianças nos pediram autógrafos e fui zoado por Bene por estar ali, o único usando branco no meio de tantos culés. O menino estava radiante, com o cabelo suado grudado na testa e as pernas sujas com grama, um corte superficial em um dos braços e estrelas girando nos olhos.

Ele estava vivendo em Barcelona sozinho, nas dependências do clube e na supervisão de seu técnico e toda a equipe do time juvenil, desde o final de janeiro. Ele era um pirralho independente, sabia ir de um lado ao outro sem precisar de ninguém e eu sabia que Noelle havia ensinado a ele a fazer o básico de comida e arrumar a casa, para que ele pudesse se virar sozinho. Não era um problema para o garoto, contanto que estivesse seguindo o sonho. No entanto, era a mãe dele que me preocupava. Em Monte Carlo, eu sabia que ela passava boa parte do tempo sozinha. A empresa não permitia que ela viesse com muita frequência para a Espanha. Foi por isso que, depois de quatro meses da minha mudança para o condomínio de Leclerc, Noelle me ligou pela primeira vez. Eu a vi no dia que me despedi de Bene, antes dele viajar em definitivo para Barcelona, nós passamos uma tarde juntos e quando ela o buscou, abriu um sorriso receoso e se despediu. Eu soube naquele momento que era mesmo o fim, nós não tínhamos mais nada que nos ligava.

E então eu ouvi a voz dela, implorando para que eu pudesse assistir ao jogo de Bene. Ela não chegaria a tempo, o pai do garoto teria uma partida no mesmo dia e ele ficaria sozinho em um momento importante. Eu faria qualquer coisa por Benício, foi o que percebi quando ela me implorou para assisti-lo. E fiquei tão assustado quanto fascinado quando tive essa percepção.

— Você foi brilhante — eu disse a ele, enquanto nos dirigíamos ao estacionamento. Lando e Mabel vinham logo atrás de nós. Eu levaria o garoto até o dormitório dele e depois nós partiríamos para algum restaurante, comemorar a vitória. Eu teria de voltar para meu hotel cedo, mas queria passar aquele tempo com ele também. — Odeio seu time e acho que deveria pensar em um futuro em Madrid, mas fiquei feliz por você hoje.

— Vai sonhando, seu mané — brincou, levantando a medalha no peito. Bene a encarava com muita paixão. — Dá pra acreditar que ganhei meu primeiro campeonato?

— Dá, sim. Você merece.

— Que bom que você veio, Carlos — ele disse, empurrando-me com o ombro. — Pensei que depois que você e mamãe... você sabe, terminaram, as coisas entre nós ficariam estranhas. Que bom que não ficaram.

Passei meu braço ao redor do pescoço dele e baguncei seu cabelo encharcado.

— Eu nunca deixaria isso acontecer, carinha. Somos uma dupla, não somos?

Ele concordou com a cabeça e me fitou.

— Ela ainda gosta de você — confessou. Prestei atenção em Bene. Nós quase nunca conversávamos sobre o que eu e Noelle tivemos. Quando estávamos juntos, eu estava sempre no apartamento dos dois, ele sabia o que tínhamos e nunca havia dito nada contra, aquele pirralho impertinente me tratava como sempre havia me tratado. — Eu pensei que você tivesse feito algo de errado quando terminaram, mamãe estava muito triste, mas aí eu vi o que estavam falando sobre vocês na internet e fiquei tão frustrado porque, bom, se você tivesse a magoado, eu poderia fazer alguma coisa. — Bene riu para mim e eu não tive como não sorrir de volta. Ah, eu sabia que ele poderia. — Mas foi só falta de sorte.

— É, foi.

— Mas ela ainda gosta de você, cara. Mamãe tem aquele olhar estranho, quando você gosta muito de algo, e é assim que ela te olha.

— Eu também ainda gosto dela — disse a ele. — Muito.

— Você deveria dizer a ela — o menino aconselhou. — Mamãe merece ser feliz e acho que você poderia fazer isso. — Ele deu de ombros e se afastou.

A porta de um carro branco mais a frente abriu e Noelle saiu dele, vestida com a camiseta do Barcelona e o cabelo preso em um rabo de cavalo. Ela bateu a porta e correu em direção ao menino. Fiquei parado onde estava e observei a cena entre eles. Bene pulou até ela, abraçando-a pela cintura. Ele havia crescido um pouco mais nesses últimos quatro meses, mas estava mais forte também por causa dos treinos. Ele mostrou a ela a medalha e ela limpou a sujeira nas bochechas dele.

Mabel e Lando se aproximaram de mim e meu amigo apertou meu ombro.

— Nós vamos indo, cara. Se cuida, certo?

— Vocês não vão ao restaurante?

— Sem ofensas — Mabel começou, balançando a cabeça. —, mas acho que a parada é entre você e eles agora. Diga ao Bene que foi um prazer.

Assenti para eles e caminhei em direção a dupla que me aguardava. Meu coração parecia sufocar pela presença dela. Eu sabia que quando a visse novamente, meu mundo giraria tão rápido que eu ficaria zonzo. Havia se passado muito tempo desde que terminamos, mas apenas ela continuava na minha mente. Eu não queria sair com mais ninguém, não queria conhecer mais ninguém. Era Noelle e apenas ela. Tudo que vivemos e tudo o que eu ainda queria viver com ela. Era apenas nisso que eu pensava. Viver longe dela era viver com uma ferida aberta, era saber que minha felicidade estava na ponta dos dedos de outra pessoa, era ter a certeza de que, sem ela, nada mais faria sentido.

Antes dela, eu achei que tivesse o controle de tudo. Eu curtia minha vida sozinho, curtia as festas e as garotas com quem saia, a casualidade fazia sentido. Até que eu a conheci e ela me ganhou no primeiro sorriso e no primeiro olhar, Bene monopolizava minha vida e eu o amava, amava até mesmo Anakin e sua mania feia de roer todos os sapatos, gostava da dinâmica que nós tínhamos, de como minhas noites terminavam com nós três comendo pizza no chão da sala enquanto assistíamos a Stranger Things, quando íamos à praia e eu brincava com Bene e Anakin, quando eu a levava para sair e estar com ela era calmo, sem a loucura que minha vida sempre foi.

Noelle e Bene haviam me dado uma família nova. Pequena, tranquila e normal. Perdê-los me magoava muito mais do que pensei que poderia.

Cheguei até eles e os dois me fitaram, o sorriso dos lábios ia até os olhos. Fiquei feliz de imediato porque eu, naquele momento, era a pessoa mais sortuda de todo aquele mundo. Eu era privilegiado por tê-los.

— Oi, Carlos — ela disse e meu coração se dobrou.

— Oi, Noelle.

— Bom te ver.

Sorri. Era muito bom vê-la. 

eu deveria escrever um carlos sainz bad boy e acabei no carlos sainz pai de família, mas aqui está mala fama!!! 

faz uma década que as mundineiras tão me pedindo um continho com ele, espero que vocês tenham gostado <3

mala fama faz parte da série the chaos theory que contêm um conto com o charles (potion, postado aqui em apex), uma shortfic com o lando norris (babylon, postada na minha conta, lwtranger) e um longfic com o arthur leclerc (anti-romantic, também postado na minha conta). vocês não precisam ler as outras histórias para entender, mas se quiserem fiquem a vontade!!

enfim, mundineiras continuem postando contos com o carlos! até a próxima, pessoal <3 

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