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gorgeous | arthur leclerc

       Ser um fracasso aos vinte e três anos não deveria me perturbar tanto. Se eu parasse para pensar um pouquinho, minha mãe só conseguira a promoção que tanto sonhara depois de cinco anos na empresa e só se casara com meu pai aos trinta e engravidara aos trinta e três. Tipo, as coisas não deveriam acontecer imediatamente. Certo. Todo mundo entende. Só que, cara, fale isso para a pessoa mais imediatista que existe no principado de Mônaco.

Terminei a faculdade de Administração no início do ano. O único emprego que consegui foi como atendente de uma loja de doces na esquina de uma ruazinha deserta com vista para uma série de prédios tombados no último ano que serviriam de museu em um distrito que vivia de história em cada canto. Eu queria grandes coisas em quatro meses, mas só havia conseguido uma foto com Max Verstappen na praia no último final de semana. O maior feito dos meus vinte anos era não ter pegado dependência em Cálculo II e receber uma risada espontânea do campeão mundial após uma piada ridícula sobre a equipe rival.

Eu queria mais! Mas não tinha paciência para esperar tanto por esse mais. Meu currículo era legal, fiz estágios e mais estágios, participei de projetos de pesquisa e tinha notas exemplares. Um currículo decente até. Só que, droga, o mercado de trabalho em 2022 era meio exigente demais. Me amaldiçoei mentalmente por não ter nascido carismática inúmeras vezes. Eu poderia muito bem fazer todas aquelas dancinhas bizarras no TikTok e me tornar famosa antes dos vinte e cinco. Poderia ter aceitado a ideia de uma amiga no ensino médio e ter feito um canal no YouTube quando tive oportunidade. Seria melhor que sorrir durante oito horas enquanto entrego pacotinhos enfeitados com a cara da rainha da Inglaterra usando juliet e dizendo "esse chocolate é fera!" dentro de um balãozinho, como as histórias em quadrinho.

Então, ser um fracasso talvez fosse minha culpa também. Meu aniversário de vinte e três anos estava próximo. Eu estava contando as moedas para conseguir finalmente comprar aquela bota que custava metade do meu salário e talvez ir até Nice dar uma volta, fingindo ser uma turista pelas ruas da cidade. As coisas eram meio ruins e meio decentes na maioria das vezes e as últimas tentativas e erros haviam ferrado um pouco com o meu emocional, mas eu era dura na queda. Chorava bastante, mas também ria bastante de toda a merda que rolava. Também gostava de pedir a Nossa Senhora que falasse com seu Filho e me ajudasse só um pouquinho, mas acho que ela estava cansada de toda a minha lenga-lenga das últimas semanas. De qualquer forma, eu gostava de apenas sentar nos bancos da pequena igrejinha que mamãe me levava desde pequena para ouvir os sussurros das senhoras em suas rezas. Era meio reconfortante saber que todo mundo tinha seus próprios problemas. Me fazia sentir momentaneamente bem. Não que eu gostasse de ver os outros sofrendo, não é isso, mas saber que você não está sozinha nesse mundo é bom.

Eu não deveria reclamar tanto da minha vida. Ela era boa. Eu tinha um apartamento simpático e uma motocicleta que comprei quando saí da escola. Minhas melhores amigas estavam casadas há um tempo com pessoas até que legais e uma delas estava grávida do primeiro filho e eu começara minha campanha para conseguir ser a madrinha da pobre criança. Também tinha bons amigos e sempre que meu dinheiro sobrava eu podia fazer viagens curtas por aí.

E também, gostava mesmo de trabalhar na Doces da Rainha. Meus colegas eram gente fina e me convidavam para beber constantemente. Eu tinha que recusar algumas vezes. Minha bateria social não era das melhores. E a clientela da DR era formada por crianças e idosos que viviam nas redondezas. A minha vida não era tão horrível, tinha seus momentos apesar de que, na maioria das vezes, eu era pessimista demais para me prender a esses pequenos detalhes.

A campainha na porta toca. Meu turno termina em dez minutos e só há uma pessoa apaixonada de verdade por chocolate que chega nesse horário. Levanto a cabeça em direção a ela e sorrio o melhor sorriso de atendente que consigo.

— Arthur Leclerc, que honra — cumprimento o garoto e recebo um sorriso charmoso em troca. Ele era muito bom com esse tipo de sorriso, como se fosse um dom do monegasco conquistar o coração de todas as garotas bobas desse mundo inteiro. E eu era a mais boba delas.

— A honra é minha de poder estar na presença da garota mais encantadora desse lado da cidade.

Sorrio para ele arrumando os pacotes dos pedidos que ele sempre faz às quartas. Arthur para em minha frente com as mãos nos bolsos, o cabelo loiro cai sobre a testa dele, mas não penso muito sobre isso enquanto fito sua mão esquerda adentrar os fios e os colocar para trás. Tento parecer normal, mas o ar escapa de mim de forma ruidosa. Santa Maria, Mãe de Deus! Alguns caras deveriam andar com o rosto coberto ou se manterem longe de mim. Arthur em especial. Odeio como ele me deixa desgovernada e somos apenas bons amigos.

Não quero imaginar o poder que ele teria sobre mim se fôssemos algo a mais. Quero dizer, eu sei bem que tipo de poder ele teria se fôssemos algo mais.

— Que gentil da sua parte, Leclerc. Se eu não soubesse como você é fácil, acreditaria nessa.

— Se eu fosse fácil assim, você já teria se rendido aos meus encantos, não acha? — Ele piscou, do jeito galanteador que me faria implorar por mais.

Cocei a garganta e me virei de costas para ele, dando uma risada desdenhosa.

— Acontece que eu não me impressiono tanto quanto as outras. Fala sério, cara. Eu te conheço bem demais pra isso.

Men-ti-ra. Arthur riu também, mas quando voltei ao balcão com o café expresso e os biscoitos com gotas de chocolate, ele já estava sorrindo ameno e muito menos perigoso. Entreguei a ele as sacolas, a maquininha de cartão e um folheto novo da loja. No entanto, Arthur continuou ali, me analisando como se houvesse algo de errado com meu rosto.

— Quando termina o seu turno? — ele questionou. Cruzei os braços sobre a madeira e dei de ombros.

— Daqui a pouco.

— Tá a fim de um passeio na orla?

Franzi minhas sobrancelhas.

— Algum motivo especial para isso?

Arthur fez uma careta.

— Fiquei semanas fora e você não sentiu saudade do seu mulherengo preferido?

Tentei não soar tão esquiva quanto achei que pareceria:

— Não senti nada! Você só me irrita, Don Juan. O que você vai falar? Sobre as garotas com quem saiu na Itália?

Arthur soltou uma risada de escárnio.

— Você sabia que 65% da população de Maranello é composta por idosos?

— Você nem sabe disso. Aposto que inventou essa porcentagem agora mesmo.

Ele me fuzilou, a mão esquerda voltou aos fios de cabelo, mas antes que eu pudesse soltar um suspiro depois de tanta pressão em encará-lo sem demonstrar emoção alguma, o sorriso de cafajeste voltou aos lábios dele.

— Encontro você no calçadão, Ariel. É bom não me dar um bolo.

Resmunguei uma reclamação, mas ele não deu a mínima. Me mandou um beijo no ar e sumiu pela porta da loja. Soltei um suspiro resignado. Droga, eu o odiava por ser tão charmoso e controlar meu temperamento tão bem. Odiava saber que ele era tão bonito assim e de graça. Nunca gostei de caras do tipo dele, tão playboys que havia uma placa em suas testas dizendo "posso fazer garotas certinhas más por um final de semana", mas lá estava Arthur Leclerc, provando que eu sempre estive errada. Bufei e tirei o avental pela cabeça. Quer saber? Que se dane!

         Conheci Arthur Leclerc dois anos atrás. Foi amor à primeira vista da minha parte. Nós estávamos em uma festa em um clube super chique de Monte Carlo, todas as pessoas do meu curso conseguiam entradas gratuitas por causa de um ricaço veterano que adorava esbanjar e se achar por aí. Esse cara era amigo de Charles Leclerc — é, aquele Charles Leclerc, irmão daquele Arthur Leclerc. Nós estávamos frente a frente do Leclerc do meio e o colega de equipe dele, Carlos Sainz, e outros caras igualmente luxuosos, até que eu vejo o que se tornou meu maior desejo no mundo.

Arthur, diferentemente dos dois pilotos da Scuderia Ferrari, veio até o nosso grupo de amigos e jogou todo seu charme para as minhas colegas e, claro, para mim também. Gostaria de dizer que fui forte e não caí na dele, mas o cabelo desgrenhado, o sorriso de lado e as mãos grandes que seguravam minha cintura com tanta fome me deixaram completamente descompassada.

Nós ficamos naquela noite e eu nem sabia que estava beijando um piloto em ascensão. E nem que ele era irmão da joia-maior do nosso principado. E nem que eu acabaria perdidamente apaixonada por um cafajeste de primeira que beija e não conta, inclusive esquece, e se torna seu melhor amigo. Okay, éramos jovens e livres e naquele momento eu não esperava por algo mais. Eu só queria me divertir também e Leclerc era perfeito para isso. Perfeito até demais.

Dias, semanas e meses se passaram, então eu o revi na exibição de um filme qualquer e nós acabamos passando aquela noite passeando pelo principado, comendo porcaria na rua e descobrindo coisas novas um sobre o outro. Quero dizer, não sabíamos nada um sobre o outro para começo de conversa.

Arthur, na verdade, era um cara bastante interessante. Ele adorava filmes de herói, adorava músicas clássicas que eu também amava e tinha um senso de humor besta que me fazia rir como louca. O abraço dele era reconfortante e seus conselhos me confortavam. Ele acabou se tornando um tipo de rocha que me segurava no lugar quando eu achava que tudo cairia sobre minha cabeça. E eu acho que me transformei em algo parecido para ele.

De ficantes para melhores amigos, algumas pessoas achariam isso super maduro, mas eu me perguntava onde foi que eu errei ao transformar minha paixão platônica na única pessoa que eu confiava depois da minha mãe.

Encontrei Arthur sentado em um dos bancos em frente à praia, o sol se punha no horizonte e as gaivotas me faziam lembrar de filmes melancólicos que eu odiava assistir. Sentei ao lado dele. Meu cabelo ruivo caía sobre meus ombros e minha jaqueta acolchoada me protegia da brisa fria do fim de tarde.

Leclerc me fitou e sorriu.

— Então... — comecei.

— Senti sua falta, Ari — ele foi direto.

Suspirei, colocando meu braço ao redor de seus ombros.

— Tadinho. Deve ser horrível viver sem mim, eu entendo.

Arthur me empurrou, mas estava rindo mesmo assim.

— Tô falando sério.

— Eu sei, também senti. É muito difícil viver esse mundo cruel sem suas opiniões e suas piadinhas, Leclerc.

— Oh, isso foi realmente fofo para alguém que odeia demonstrar sentimentos.

Seus dedos tocaram minha bochecha e senti o aperto característico. Dei um tapinha leve em sua mão e me virei para o lado, sabendo que meu rosto ficaria corado pelo toque repentino. Eu sei, tenho muitos problemas com afetividade e demonstrações concretas de sentimento. Talvez o momento mais livre em todo o tempo que o conheço tenha sido no primeiro dia que o vi. Naquele instante em que trocamos o primeiro olhar e a primeira coisa que passou pela minha mente foi: ele é tão bonito que me deixa triste.

E quando ele me beijou e eu o beijei de volta, acho que foi a primeira vez e a última que dei tudo para ele. Todas aquelas ressalvas nunca voltaram porque agora eu tinha sentimentos demais e todos eles se confundiam em minha mente. Quer um conselho? Nunca se apaixone pelo melhor amigo, é um erro deprimente.

Arthur não era do tipo que se apegava e agora que era meu amigo, a última coisa que eu desejava era que entrássemos na péssima estatística de melhores amigos que estragaram a amizade por causa de sentimentos românticos.

— Como você está, Ari? Ficar em silêncio não é algo normal para você. — Volto minha atenção para ele. Seus olhos minuciosos me fitam com bastante interesse. Seu olhar caiu sobre a mecha platinada do meu cabelo, ele a tocou de leve e sorriu. — Gostei disso. É a sua cara.

Assinto e borboletas ficam malucas dentro de mim. Estou cansada delas, cansada de sentir tantas coisas por ele e nunca dizer nada. Tem dias que quero segurar seu rosto e beijá-lo, apenas para que ele entenda um pouco do que sinto.

— Valeu — respondo. — Só estou pensando um pouco sobre a vida.

— Ainda preocupada com o futuro?

Bufo.

— Estou sempre preocupada com o futuro, Arthur. É o meu charme.

Ele dá um sorriso amarelo.

— Eu já disse, Ariel Pasquier. Posso conseguir uma entrevista para você nos lugares certos.

— E ter de aguentar a pressão de trabalhar para a Ferrari ou a Prema? — Nego com a cabeça. — E ainda dever eternamente uma pra você? Sem chances, cara. Vou conseguir algo, eu sei que sim. Só preciso procurar nos lugares certos.

— Você é muito orgulhosa. Eu nunca te cobraria nada — resmunga. — Mas tudo bem. Você quem sabe. Se precisar é só falar.

Concordo e solto o ar pela boca, observando o azul-escuro preencher o céu. As lâmpadas do calçadão se acendem e uma parte diferente da cidadela começa a ganhar vida. Monte Carlo era bonita o tempo todo, mas era ainda mais fantástica durante a noite. As luzes brilhavam como grandes estrelas entre nós e os barulhos noturnos eram como música para os meus ouvidos.

— Mas e você? — Pergunto, sentindo que ficar em silêncio só daria chances para ele pensar mais.

Arthur cruza os braços no peito e fita o mar à nossa frente. Ele parece o mesmo de sempre. O mesmo garoto que me deixa sem fôlego apenas por sorrir. Os cabelos bagunçados me hipnotizam, quero acariciar e arrumar, quero segurar sua mão e quero beijar sua bochecha. Ele é um perigo para mim porque a todo momento desejo viver todas as bobagens românticas ao lado dele, fantasiando com o dia em que ele irá perceber que me ama.

— O mesmo de sempre. Muito treino, muito estudo, muita vontade de vencer. Convenhamos, Ari, minha vida profissional é melhor que a sua. Na real, tudo na minha vida é melhor.

Chuto seu calcanhar, mas Leclerc apenas ri ainda mais alto.

— Nossa, é por isso que eu te odeio. Você é muito babaca.

— Você que me dá moral demais, linda.

— Você tem razão, vou começar a fingir que você é uma mosquinha chata e te ignorar.

Ele põe uma mão sobre o peito e diz um silencioso aí, com a carinha de cachorrinho sem dono que me deixa encantada.

— Desembucha, Leclerc. — Me afasto dele, sentindo que aquele momento só tinha como piorar. — O que você quer de mim?

— Quero que você vá comigo no baile dos Bellmonte no final de semana — ele nem hesita.

Cerro o olhar sobre ele e cruzo meu braço no peito também. Ainda bem que decidi pegar meu casaco acolchoado naquela manhã porque, Deus, está muito frio. No entanto, assim que ele me encara com seriedade, sinto calor em todos os lugares.

— No baile... — Rio. — Você endoidou? Só gente rica vai nesse negócio, eu só uso roupa da Shein, Leclerc, como que eu vou em um baile da realeza de Mônaco? — Rio um pouco mais porque aquilo soa ainda mais ridículo quando eu falo. — Você deveria convidar a Martina, aquela menina neta do Enzo Ferrari ou sei lá que Ferrari é parente dela.

— Ela é neta do Piero. E, não, não vou convidar uma pessoa que nem conheço para ir comigo. Eu quero que você vá. — Sei que ele está bravo agora porque seus olhos estão mais escuros.

— Tanto faz. A garota tem um abismo por você, se você a convidar vai fazer a noite dela. E, acima disso: — Aponto o indicador para ele. — Com certeza ela tem uma roupa decente para ir.

— Tenho certeza que sim — ele diz lentamente. — Mas eu convidei você, Ariel. Qual o problema de aceitar?

— Não gosto de festa — digo rápido.

— Ah, por favor...

— Não gosto de gente rica!

Arthur me fuzila.

— Não gosto de festa de gente rica!

— Ariel...

— Arthur, não faz sentido. Por que eu iria em um baile como o baile de julho dos Bellmonte? Aquilo lá é a versão monegasca do Met Gala. É aterrorizante!

— Porque eu pedi para você, por isso você deveria ir. Porque eu quero que você vá — ele suplica, sim, é, ele está meio que implorando agora. Sinto o escrutínio de seus olhos e a ânsia de sua mão ao tocar minha coxa coberta pela meia calça e a saia. Sou consumida por seus olhos e quase perco a linha de raciocínio ao fitar os lábios entreabertos dele. — P-porque... — ele gagueja, seus olhos descem lentamente para um ponto longe dos meus, ele passa a língua sobre o lábio inferior e franze o cenho. — porque você é minha melhor amiga e eu quero que você vá comigo.

O que eu não posso ter me deixa maluca e o que eu tenho nunca vai ser suficiente.

Fico de pé. A fantasia sempre acaba quando percebo que para ele sou apenas uma amiga. Arthur adora me provocar e sei que não é dessa forma que ele age com as garotas com quem tem relacionamentos duradouros. Lembro da última namorada dele, de como ele era fofo a todo momento e de como ela recebia canções em seu piano e flores em dias aleatórios da semana. Arthur me deu uma camisa de Homem-Aranha no mês passado porque eu havia perdido a minha e no bilhete dizia um impertinente: "vê se para de perder suas coisas e esquecer onde colocou, Dory". Era diferente, para ele eu era como um de seus amigos da garagem da PREMA e da Academia de Pilotos da Ferrari.

Era irritante, mas eu não reclamaria. Afinal, eu ainda tinha Arthur. Mesmo quando ele me tratava como seu irmão mais novo.

Me afasto do banco, sentindo uma tristeza quase desoladora dentro de mim. Havia dias que aquele sentimento era insuportável. E havia dias que eu agradecia por ele nunca me dar falsas esperanças.

— Ei, Ari! — Ele me segue, correndo atrás de mim enquanto eu marcho em direção ao meu destino. Estou cansada e apesar de amar a companhia de Arthur, quero fazer meu coração parar de se contorcer. — Ariel, por que você tá fugindo?

— Porque você me irrita — brigo. — Preciso ir para casa. Trabalhei demais hoje.

— Eu disse alguma coisa que te chateou? — ele questiona, segura meu braço e me vira em direção a ele.

Há uma preocupação genuína em seus olhos tão líquidos que eu anseio me jogar neles. Arthur toca a mecha platinada e a coloca atrás da minha orelha. Fecho os olhos para aquele gesto. Estou tão cansada de fingir que não sinto nada, por ele ou pelos milhares de problemas na minha vida. Quero me sentir bem, nem que seja por um segundo só. Deixo que ele toque minha pele, deixo que meu corpo relaxe junto a palma da mão de Arthur que descansa em minha bochecha.

— Ari?

— Você não disse nada de errado, só estou cansada mesmo — sussurro. Ainda é muito bom e muito doloroso sentir a pele dele contra a minha.

— Você não cansa de mentir para mim? — ele diz no mesmo tom que eu.

Abro os olhos. Ele é alguns bons centímetros mais alto que eu e minhas botas não me ajudam. Olho para ele de baixo, mas não sinto essa diferença quando vejo desespero nas írises dele. Ser essa pessoa confusa torna tudo em Arthur confuso também. Aceitar que eu preciso esquecer o que eu sinto não me ajuda, quero que os sentimentos sumam de imediato, mas tudo é um processo. Até mesmo no amor. Em alguns momentos acho que confundo amizade com algo mais, só que são sentimentos diferentes. Eu sei disso, sinto isso.

— Por que você acha que é mentira?

— Por que sinto você triste sempre que eu estou com você, Ari. Como se eu te machucasse emocionalmente ou sei lá. E isso acaba comigo também. Se eu fiz algo de errado, me fala e eu conserto, linda.

O olhar pidão dele quase me faz sentar no chão e chorar como uma criança birrenta. Arthur sempre se preocupou comigo, sempre foi meu ombro amigo e a pessoa que me fez dar os sorrisos mais sinceros ao longo dos últimos anos. Não sei como esse desespero pode sumir para que nossa amizade volte ao normal, estou quase implorando de joelhos para que isso aconteça.

— Você não me deixa triste, Arthur. É loucura achar que sim. — Tento me afastar novamente, mas ele segura meu braço mais uma vez. Seus braços me envolvem em um abraço inesperado, sinto seu rosto se esconder na curva do meu pescoço e o hálito quente dele arrepiar minha pele. Não sei o que fazer além de abraçá-lo com força também. O corpo de Arthur é muito maior que o meu, mais forte e mais pesado, ele parece meio torto nos meus braços, mas não se incomoda com isso. Meu coração para e volta a bater como se estivesse apostando corrida. Nós nos abraçamos com bastante frequência, mas não aquele tipo de abraço tão desesperado. — Arthur? — chamo, acariciando seu cabelo sedoso.

Shhh. — Sua respiração faz cócegas em minha pele. — Não vamos falar. Eu sei que você não quer me contar o que está acontecendo, mas tudo bem. Sou seu amigo, Ari. Quando estiver pronta, sei que vai dizer. Então, vamos só ficar abraçados agora.

Sabe quando um copo está repleto de água, mas você continua a enchê-lo e chega um momento que tudo vaza e tudo vira uma bagunça? É assim que me sinto. Nesse momento, minha mente diz que detesta a ideia de que Arthur continue a dizer que é meu amigo, detesta a ideia de estar abraçada a ele, embaixo das luzes de Monte Carlo e que ele acabou de me convidar para ir ao baile mais insanamente luxuoso e romântico do mês de julho, detesto que ele esteja acariciando minhas costas e dando beijinhos leves em meu ombro. Odeio saber que ele faz isso porque somos só amigos e que em nenhum momento ele vai parar de pensar daquela forma.

Quero me afastar dele e é isso que faço.

Arthur fica brevemente confuso, mas eu não paro para pensar que uma de suas mãos está sobre minha cintura e que seu rosto está muito próximo do meu.

Nego com a cabeça e dou um passo para trás. Aquilo parece tão dramático que eu detesto. Odeio drama, odeio clichês. Gosto de ser racional, detesto ser tão emocional. Dou outro passo, mas sinto meu queixo tremer e a ideia de ficar longe dele parte meu coração, mas é a primeira coisa que penso ao olhar para aquele garoto deslumbrante. Estive há muito tempo aceitando a ideia de que Arthur e eu seríamos para sempre melhores amigos, mas nós não controlamos o que sentimos e não controlamos a forma que iremos nos sentir sobre todo o resto. Se eu fosse justa, cortaria esse sentimento no início, teria Arthur comigo e jamais o perderia. No entanto, eu era egoísta e queria tudo dele.

— Ari? — ele questiona, percebendo que há muito transbordando de mim naquele instante. Não só os problemas pessoais, não só meus sonhos e meus fracassos. Ele está ali também e machuca como o resto.

Eu o vi ficar com outras garotas e namorar alguém que ele amava profundamente. O ouvi resmungar quando o namoro acabou e ele até me ajudou com um carinha gato de sua equipe, mas mesmo que eu quisesse ajudá-lo e consolá-lo, não deixava de doer. Mesmo que eu conhecesse outras pessoas, Arthur continuava ali.

— Não consigo mais, Arthur — eu choro. Tem literalmente lágrimas escorrendo pelos meus olhos e só a percepção disso me faz ficar irritada comigo. — Só... Não quero mais sentir isso e fingir que não me sufoca.

Quero fugir dele. É o que penso quando dou meia volta e começo a caminhar para longe dele. Penso que ele vai me deixar ir, penso que pela primeira vez ele entende algo que eu digo a ele. Seria surpreendente se ele entendesse mesmo. Então, ouço sua voz:

— Eu gosto de você, Ariel — ele grita, meio desesperado, meio atordoado. É nesse instante que estanco. Vejo os faróis dos carros dobrando a esquina mais a frente e escuto vozes que antes pareciam silenciadas pelo barulho irritante da minha mente. Demoro a me virar, mas quando o faço Arthur está parado no mesmo lugar, ofegante como se tivesse corrido até ali, os olhos brilhantes e um sorriso triste que me desmonta por inteiro. — Acho que você nunca percebeu, não é? Eu também não notei que você sentia isso e passei muito tempo só tentando te irritar até que você descobrisse alguma coisa. Não foi a minha melhor tática, é verdade. Mas aí você se tornou tão especial pra mim e eu fiquei tão apavorado de perder algo tão bonito que eu tinha construído. Você era tão especial e eu sou tão... Eu? E se eu estragasse tudo também? Então eu soube que você sentia o mesmo, mas nunca daria o braço a torcer por mim e isso me deixou apavorado, imaginando se todo esse sentimento não era a coisa errada. Acho que você entende o que eu digo, então, deve saber que estou morrendo de medo da sua reação agora. Mas eu realmente gosto de você, Ariel. Gosto muito de você.

Arthur caminha a distância que eu coloquei entre nós. Ele não deveria estar dizendo aquilo, mas era sua voz e sua boca, era ele na minha frente. Arthur Leclerc estava dizendo o que eu queria dizer a ele. Quando ele para tão próximo que sinto sua respiração em mim, fito seu olhar arrependido, apaixonado, desesperado, completamente perdido em mim.

— Eu quero que você vá comigo no baile porque eu estou perdidamente apaixonado por você, Ariel Pasquier. E é doloroso não ter aquilo que eu quero tanto. É doloroso não poder dizer que eu me apaixonei por você e não quero deixar esse sentimento ir embora.

Deus. Acho que estou sonhando.

— Você... — eu gaguejo. — realmente gosta de mim?

Arthur me segura e sorri, ele balança a cabeça e eu espelho seu sorriso.

— Há bastante tempo.

— Meu Deus — eu retruco. — Meu Deus!

Toco seu rosto e fico na ponta dos pés. Há três anos, beijei esse garoto em uma festa idiota de um cara um pouco mais idiota e achei que tivesse encontrado o amor da minha vida. Talvez eu estivesse certa. Quando toco meus lábios nos dele, acho que posso ouvir anjos cantando ao nosso redor. É como voltar no tempo, é como viver um momento sagrado demais, é como ter tudo o que eu quero com apenas um toque. Acho que posso chorar e nem consigo entender o porquê. Ele me abraça com fervor e sinto seu sorriso entre o beijo, sinto seu carinho, sua paixão, sua alegria e a verdade de cada palavra que ele me dissera.

— Eu gosto de você também — digo, tirando o cabelo loiro de Arthur da testa, tocando-o da forma que desejei por tanto tempo. — Meu Deus, isso é tão...

— É — ele sussurra. — Eu não acredito que eu achei que...

— Que eu não gostasse de você assim? É, posso dizer o mesmo.

— Isso faz da gente um casal bem interessante — ele brinca. — O que me diz? Você vai comigo no baile?

Dou de ombros e beijo-o mais uma vez.

— Quer saber? Posso tentar achar algo decente pra vestir.

Arthur concorda.

— Pode usar até a camisa do Homem-Aranha que eu te dei, você vai ser a mais linda.

Gargalho, mas aquilo toca em mim de uma forma poderosa.

— Droga, eu sou completamente apaixonada por você também.

Arthur beija o topo da minha cabeça e me solta, mas estende sua mão para mim. Entrelaço a minha com a dele e caminhamos em direção ao banco, para buscar suas sacolas.

— Sabe, eu ia convidar você para ir ao baile e te contar que gosto de você de um jeito bem brega. Por isso pedi o expresso e os biscoitos, porque é o seu pedido preferido da DR, e aí ia te convidar pra fazer um piquenique comigo porque você disse que gosta de coisas simples, mas... Eu fiquei apavorado na hora e as coisas saíram do controle. — Arthur riu. — Besta demais, não é?

Nego com a cabeça. Acho que vou mesmo sentar no chão e chorar porque acho aquilo tudo fofo e romântico demais. Ainda não consigo acreditar no que está acontecendo.

Toco o braço de Arthur para chamar a atenção dele. Seu olhar suave e seu sorriso de menino travesso me deixam ainda mais apaixonada.

— Eu teria amado. Mas amo ainda mais saber que foi caótico, porque nós dois somos caóticos.

— É, você tem razão. — Ele levanta as sacolas entre nós. — Minha casa ou a sua?

— Minha. Vamos comer na varanda.

Arthur pisca para mim. E nós nos afastamos, caminhando e conversando sobre os dias em que achamos que ficaríamos eternamente na friendzone. Dá pra acreditar? Eu tinha certeza de que terminaria aquele dia como todos os outros, mas agora eu tinha um garoto deslumbrante indo para casa comigo, um sorriso sacana que me dava arrepios e os olhos astutos de quem sabia exatamente como me deixar louca e apaixonada a cada instante.

— Sabe, Ari, acho que você mordeu a língua sobre nunca cair no meu papinho. — Arthur me cutucou com o cotovelo e riu quando fiz cara feia para ele. — Você foi a primeira a cair.

Rolei os olhos.

— Ah, cala essa boca! 

BOA NOITE, POVO! 

faz um tempo que ando implorando pra essas minhas amigas postarem algum friends to lovers, mas elas me odeiam e não postam, então decidi fazer isso (mas eu ainda quero um friends to lovers, anda gente tem eu chorando).

inicialmente, não era pra ser um friends to lovers, mas eu tava mesmo desesperada por isso. no entanto, agora acho que a ariel e o arthur tinham tudo pra ser assim. espero que vcs gostem da minha fracassado e do meu mulherengo, eles provavelmente vão reaparecer aqui em outros dois contos, mas não posso contar o que vós espera além disso hehe

vejo vocês logo e por favor leiam let me, a fic da laura com o charles!! eu prometi pra ela que postaria contos com os favs dela se ela fizesse isso por mim e aqui estamos! bjss e tenham uma ótima semana <33 


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