Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

break my heart | lando norris

Eu deveria saber. 

Pela forma como aquele olhar atravessou todas as camadas do meu corpo e foi sentido em todos os meus ossos, que imploravam para implorar por ele, e pela forma como queimou em mim como as chamas de um incêndio e carbonizou o restante de minha sanidade, eu deveria saber. 

Deveria saber que comparecer aquela festa não seria uma boa ideia, que permitir que ele me olhasse como se eu fosse uma joia rara era uma jogada burra, porque Lando Norris não era o mocinho de um filme clichê ou o príncipe de um conto de fadas. Ele era um troublemaker da vida real. 

E se meu coração estava em sua rota, ele com certeza o quebraria. Mas talvez eu merecesse isso, porque Lando nunca prometeu ser bonzinho e fazer juras de amor. 

Porque lá no fundo eu gostava dos caras problemáticos, aqueles que partiam corações sem nem ao menos perceber. 

Porque eu me apaixonei por um deles. E eu estava ou muito acima ou muito abaixo dele. O que era péssimo. 

Caraca, Ava Geoghegan

     AQUELES FLASHES QUASE ME CEGARAM e eu quis estar em qualquer lugar do planeta, menos ali. Porque por mais que o ambiente da Fórmula 1 me acalmasse e o paddock com seus grandes motorhomes e caminhos pelos quais passar fossem como uma válvula de escape, aquelas pessoas transformavam tudo em um circo, enfiando câmeras na minha cara e sendo inconvenientes fazendo perguntas inconvenientes. Minhas forças estavam por um fio, mas era óbvio que eu não podia me dar o luxo de surtar. Pelo menos não na frente de tanta gente e tantas câmeras prontas para filmar qualquer besteira que — Deus nos livre disso, podia ouvir meus falarem lá da Irlanda — eu me atrevesse a falar. 

Spoiler: eu não me atreveria. 

Abri um sorriso tímido e gentilmente tentei afastar um microfone que estava quase cutucando minha bochecha. Não conseguia lembrar de qual fora a última vez que me vi cercada por uma massa tão grande de pessoas — e isso não era um problema, eu não gostava de chamar atenção. Esse era um dos motivos pelos quais me mantinha reclusa e assistia as corridas da forma mais anônima possível.

No entanto, daquela vez alguém vazou algumas informações confidenciais sobre meu paradeiro para alguns jornais e eles tomaram conta do paddock e do hospitality da McLaren. Céus, eu provavelmente teria que pedir desculpa a Zak Brown por aquela patifaria toda. E pedir desculpa não era o problema, mas sim agir como uma boboca externando um texto pré-decorado que de forma alguma podia ser modificado por algo mais… informal?

— Vocês poderiam nos dar licença? — pediu um dos funcionários da McLaren que estava comigo enquanto afastava alguns fotógrafos. 

— Ah Deus, tenha santa paciência. — ouvi uma voz feminina atrás de mim resmungar, sobrepor-se a todo aquele barulho. Em questão de segundos havia uma mão cobrindo meu rosto e um cotovelo dando empurrões aqui e ali. — Desculpa estragar a festa de vocês, pessoal, mas a Princesa Ava não concederá nenhuma entrevista. Será que vocês podem abrir passagem? Eu não quero ser obrigada a chamar nossos seguranças. 

Consegui ouvir murmúrios frustrados e abaixei a cabeça. Eu também não queria que chamassem os seguranças da equipe, mas se eles continuassem me rodeando como se fossem felídeos famintos e eu uma presa indefesa no meio da selva, os caras que estavam comigo não seriam suficientes para segurar a barra. Eram tantos fotógrafos e até repórteres; não fazia ideia de como raios conseguiram entrar no paddock. Mas qualquer que fosse a tática que usaram para conseguir passagem, lá estavam eles. E com certeza os torcedores e as pessoas das outras equipes estavam se perguntando quem tinha aprontado o quê para a McLaren estar parecendo, sei lá, a Conferência Internacional de Jornalismo e Fotografia.

— Vamos lá galera, vocês já foram melhores. Andem, andem. — Isla, eu tinha certeza que era ela mesmo ainda não tendo visto seu rosto, empurrou dois homens para longe. Seon e Kennedy fizeram o mesmo com outros, e eu aproveitei uma brecha para afastar uma moça com o ombro. Espero que ela não tenha percebido. — Não tem nada para vocês aqui.

Tinha. E como tinha.

E eu era exatamente isso. Aquilo — não aquela pessoa — que eles queriam. Ava, Princesa de Cork, era uma das caras da Irlanda, a nova geração de uma linhagem de sucesso e feitos monárquicos, mas também significava confusão, fofocas e aquilo o que uma princesa talvez não devesse ser ou fazer. Para eles, eu era tudo aquilo. Ava Geoghegan era um sonho e um pesadelo. 

Porque eu não deveria dar tanta atenção para um esporte tão arriscado que parecia enrolar para correr em meu país — e eu faria loucuras para que realmente corresse, mas teria que passar por cima de meu pai primeiro —, porque eu não deveria passar o tempo livre com aquelas pessoas comuns, principalmente porque eu não deveria estar em um circuito de Fórmula 1 enquanto meus pais enfrentavam uma crise no casamento que fomentava cada vez mais os boatos de divórcio e minha avó estava com alguns problemas de saúde. Eu deveria ser mais como minha irmã mais velha, mas não era. E a herdeira era ela, não eu.

Mas, cara, sejamos sinceros. Todo mundo tem o direito de espairecer e fingir que não está vivendo a própria vida. Inclusive eu. Foi por isso que entrei em um jatinho no meio da semana — parabéns Ava, você quebrou mais uma regra! — e voei até a Cidade do México. Quando não me encontrava no hotel, estava enfiada nos boxes de alguma equipe, principalmente da McLaren. Eu tinha alguns conhecidos lá e tal. E estava sendo ótimo ser apenas uma obcecada pelo esporte a motor e ignorar tudo o que resumia a minha existência na terra. 

Até aquele momento. 

— Você está bem? — Isla perguntou em um tom de voz baixo, a boca próxima a meu ouvido.

— Estou, Isla. Levei alguns empurrões aqui e ali, mas, bom, tudo certo. — ri. Olhei para o lado apenas o suficiente para encará-la no meio daquela loucura. Isla Hammings trabalhava no marketing da equipe laranja e era uma mulher muito linda, as longas madeixas loiras e os olhos verdes com os lindos cílios que os envolviam chamando atenção por onde quer que ela passasse. A britânica foi meu primeiro contato ali dentro. — Será que… Hm… — ponderei. Ainda estava tentando caminhar e ajudar meus seguranças e Isla e o outro cara da McLaren sem que percebessem. — Acho que eles não vão nos deixar sair daqui tão cedo — sussurrei. — Estava pensando em fazer algo. Você topa? 

— Desde que isso não tenha como consequência você se machucando e eu indo parar em um calabouço, por mim tudo bem. 

Ela sempre vinha com essa história de calabouço e eu nunca conseguia não rir. 

O que eu estava prestes a fazer provavelmente era uma merda, uma péssima ideia — e como vocês talvez já tenham percebido, eu era cheia de péssimas ideias —, mas fiz mesmo assim. Pedi que Seon e Kennedy forçassem a abertura de um corredor por alguns breves instantes. Eu não precisaria de mais que cinco segundos para colocar meu plano em prática e me tirar daquela situação. 

Olhei de relance para Isla e saí em disparada pelo corredorzinho aberto pelos seguranças. Óbvio que ele se fechava mais ou menos um ou dois metros depois dos homens de terno, mas os fotógrafos e os jornalistas não hesitaram em ceder espaço quando me viram avançar na direção deles como um touro, quase tropeçando nos meus e nos pés deles. A quantidade de flashes que foram disparados bem nas minhas costas deram a certeza que eu precisava — ou não: aquele momento tinha sido registrado.

Mas eu não queria saber. Pelo menos não enquanto corria pelas imediações da construção da McLaren. Havia um sorriso em meu rosto, nunca na vida eu tinha tido a oportunidade de sair correndo da presença de alguém, e as pessoas por quem eu passava pareciam confusas e assustadas. Mas eu também não liguei. O vento balançando meu cabelo e me proporcionando a sensação de estar em um filme de aventura estava ótimo e eu não queria estragá-lo. 

Virei por um caminho vazio e entrei na primeira porta que avistei, deixando meus seguranças e Isla para trás. Ela certamente estava pedindo minha cabeça em uma bandeja e eu não a julgava, acho que pediria a mesma coisa se estivesse em seu lugar. 

Recostei-me na parede metálica fria e arfei. Minha aptidão física era péssima, bem abaixo de zero. Correr aqueles metros bagunçou todos os meus sistemas, inclusive o respiratório. Levei as mãos até o centro do busto e fui tentando compassar a respiração da forma como aprendi ainda criança. Só então ergui o rosto para tentar descobrir onde tinha entrado, uma sala de formato retangular com paredes de metal brilhante e cheia de armários também de metal, e perceber que não estava sozinha. 

Engoli em seco ao reconhecer a figura familiar parada no outro canto da sala, olhando-me com uma expressão de choque e confusão. Lando Norris parecia não entender o que a maluca da princesa Ava estava fazendo ali, completamente descabelada e ofegante, como se minutos atrás estivesse correndo de uma manada de elefantes na savana. 

Pensei que se soubesse que ele estava ali, não teria entrado, mas também que era melhor ele do que uma pessoa desconhecida com potencial para me ferrar mais ainda. Não que Lando não tivesse esse potencial, porque ele tinha, ah se tinha, mas ele não me assustava mais.

— Vossa Alteza deixou de ser princesa e agora é maratonista? — levantou as sobrancelhas para mim. 

Revirei os olhos de tal forma que pensei que eles não fossem mais voltar para o lugar. Lando Norris era irritante como o inferno, mas também uma das únicas pessoas que não me tratavam como se eu fosse uma boneca de porcelana intocável. Ele não tinha papas na língua e olhava dentro dos meus olhos sempre que queria me provocar. E eu não tinha o direito de reclamar, pois fazia a mesma coisa com ele. 

Só havia uma diferença entre mim e Lando. E essa diferença era arrasadora. E, não, não estamos falando de eu ser uma princesa e ele não ser um príncipe. Era outra coisa — para mim, mil vezes mais dolorosa. 

— Vá se ferrar, dear little boy. — eu nunca esqueceria de quando Zak o chamou de garotinho querido, quando alguns minutos antes estávamos conversando e em toda sua soberba Lando afirmou que nunca seria paparicado pelos outros como eu era. — E eu preferia estar correndo por conta de uma maratona, se você quer saber. 

— Eu não quero — ele abriu um sorriso torpe. — Foi apenas uma pergunta educada. 

— Sua educação é bastante diferente, não acha?

O piloto estalou a língua no céu da boca e cruzou os braços na altura do peito. Como dito, Lando não me assustava mais, mas sua presença ainda me dava arrepios. E eu detestava sentir qualquer coisa por ele que fosse além da mera vontade de irritá-lo por ele ser um grande sacana. Mas aqueles sentimentos estavam me invadindo com tanta frequência que eu me sentia na beira de um penhasco. 

Ele, aquele cara me encarando do outro lado da sala, era uma carta meio antiga no meu baralho. Junto com Isla, foi uma das primeiras pessoas que conheci no universo da Fórmula 1. E, assim, Lando era educado e formal como todas as outras pessoas eram comigo, mas também muito galante. E eu acabei caindo em seus papinhos furados de merda. A cada mensagem trocada e a cada segundo ao seu lado, eu descobria uma faceta de Lando Norris que poucas pessoas conheciam. Sua lábia e suas cantadas baratas foram tudo o que eu precisei para mergulhar em um mar agitado e tempestuoso — mais uma das minhas péssimas ideias. 

Afinal de contas, o que sairia de bom de um mulherengo como aquele?

Mas ainda assim eu me aproximei e me apaixonei. E Lando nunca me impediu; e não tinha porque impedir, eu era dona do meu próprio nariz e em momento algum ele escondeu o sorriso cínico e o poder que possuía de arrasar corações. Podia ver no seu olhar as palavras "se quiser se ferrar, vá em frente. Ou melhor, se aproxime de mim."

— Eu não tive educação real e essas coisas, sabe — balançou os ombros falsamente. Ele se sentou em uma mesa fria e manteve os olhos em mim. — Mas vamos lá, me diga porque você estava correndo. Mereço uma explicação depois de ter sido interrompido.

— Você nem estava fazendo nada. 

— Estava, mas parei no exato momento em que você abriu a porta — mais uma vez ele abriu um sorrisinho torpe. — Qual garantia eu tinha de que não era um fotógrafo maluco?

— E o que você estava fazendo de tão vergonhoso para não querer ser pego? — questionei com uma curiosidade provocativa e desmedida. Ao avistar uma cadeira vazia, puxei-a para mim e desabei nela. Estava fria, oh Deus, e como estava, mas era melhor do que ficar em pé. 

Lando me estudou em silêncio, meu maxilar travando a cada escorregada que seus olhos davam sobre meu corpo. Já ouvi várias pessoas falarem que uma das vantagens de ser princesa é ter qualquer cara jogados aos seus pés, todos eles querem uma menina bonita como eu e a oportunidade de se tornar um príncipe ou simplesmente as vantagens de ter seus nomes vinculados ao de alguém da realeza, mas isso não se aplica a caras que não apenas são mulherengos como também não precisam fazer nenhum esforço para ter qualquer garota babando por eles em qualquer canto do planeta. Caras como Lando Norris.

Eles são sorrateiros e lascivos. Te tratam como uma dama e sorriem gentilmente apenas para saber como você vai reagir, então colocam seu ego no topo do monte Everest e te enchem de cantadas que por incrível que pareça caem como uma luva e te conquistam, uma vez que àquele ponto você já está pensando em como seria tocar seus rostos e beijar seus lábios. 

Foi exatamente o que a merda do Lando Norris fez comigo meses atrás, depois de passar não menos que duas semanas agindo como um grande cavalheiro sempre que nos víamos. Eu soube que ele era um desses caras que arruínam seu coração ao mesmo tempo que te deixam apaixonada até o último fio de cabelo assim que coloquei meus olhos nele, mas não dei um passo para trás. Eu avancei, como a boa tonta que gostava de ser. Mais do que achava que Lando não tentaria me fazer ser dele, eu me achava durona. 

Me achava invencível. E Lando sabia que não existem pessoas invencíveis, que aqueles que se acham invencíveis não passam de uma farsa, sabia principalmente que na espreita da morada do orgulho, está a queda. E ele podia ser a minha queda. 

— Estava resolvendo assuntos pessoais, kitty — meu sangue fervilhou e um sorrisinho escapou dos meus lábios. Não éramos Lando e Ava, e sim dear little boy e kitty. — Tinha uma garota meio grudenta envolvida e tal, sabe como é.

Mais uma vez revirei os olhos.

— Não, eu não sei como é — encarei-o com desprezo. — Mas pelo visto você não muda nunca, não é?

— Você me viu na corrida passada. Ninguém muda em uma semana. 

Eu só conseguia rolar os olhos, eles eram incapazes de ficar quietos no lugar. 

Um silêncio preencheu a sala, então foi substituído pelo som das teclas do celular do piloto trabalhando a todo vapor. Eu voltei a pensar na confusão de fotógrafos e repórteres em que estava enfiada até minutos atrás. Será que eles já tinham ido embora? Onde estavam Isla, Seon e Kennedy? 

Com essas perguntas ecoando em minha cabeça, busquei por meu aparelho celular, mas ele não estava em nenhum dos meus bolsos. Bufei. Não tinha o perdido, mas com certeza tinha deixado-o nas mãos de alguém, o que também conseguia ser ruim nas circunstâncias em que eu me encontrava. 

— Você ainda não me respondeu porque estava correndo. — Lando voltou a falar, os olhos pregados na tela com bastante atenção. — Ou é um segredo de Vossa Alteza?

— Como eu detesto quando você me chama assim, Norris. Seu sarcasmo me enlouquece — disse azeda e ele fez pouco caso. Encarei-o de cima a baixo, encantada com quão gato aquele maldito conseguia ser mesmo usando apenas uma camisa branca da McLaren e uma calça preta. Talvez os charmes de alguns caras seja isso: ser básico. — Fico com vontade de te jogar em um calabouço. 

— Eu sei que vocês não tem calabouços, Ava. — a diferença entre ele e Isla era mais ou menos nesse nível. 

— Vou criar um só para você — ri sem humor algum. Arrumei a postura na cadeira e acompanhei Lando digitar algo ferozmente. — Eu estava correndo porque tinha um bando de fotógrafos e repórteres em cima de mim. 

— Então quer dizer que desvendaram o seu segredinho? 

— Bom, alguém achou que era legal se meter na minha vida. E aqui estou eu. — balancei os ombros. Apesar do gesto, eu me importava pra caramba com aquela merda. 

Não estava tão ferrada com meus pais — entendam, eu não estava tão ferrada, mas com certeza estava ferrada; mais por ter corrido do que por estar ali —, mas com certeza estava em lençóis extraordinariamente ruins com a equipe de relações públicas e assessoria de imagem. Porque eu sabia que deveria ser gentil mesmo que estivessem me cercando de uma forma que fosse impossível dar um passo; eu não era mais uma princesinha que não entendia porque sair correndo não era o certo.

— Então eles te infernizaram e você saiu correndo pelo paddock e entrou na primeira porta que viu? — bingo. Concordei com um aceno de cabeça. Lando estreitou os olhos para mim e estendeu-me um sorriso patife. — Ótima contenção de danos, kitty. 

— Obrigada, dear little boy. Mas acho que eu ainda preciso aprender bastante com a sua equipe de relações públicas — zombei. Lando tombou a cabeça um pouco. — Eles sabem bem como esconder seu lado de garoto problema. 

— Você não é nenhuma santa para falar assim de mim, Ava — disse, resignado. Lando se afastou de onde estava encostado e caminhou até mim. A cada passo que ele dava, a cada centímetro que tirava da distância que havia entre nós, meu coração se agitava mais e eu podia sentir seu perfume ficar mais forte. Lando parou na minha frente e se curvou em minha direção, apoiando as mãos na mesa atrás da minha cadeira, uma em cada lado do meu corpo, me deixando meu rosto frente a frente com o seu. — Você é uma princesinha rebelde, que inclusive já cedeu aos meus encantos. 

Sim, mil vezes sim, eu tinha cedido. E mesmo que estivesse falando mal de Lando há poucos segundos, não me importaria em beijá-lo bem ali. E eu sei que ele também não se importaria em me beijar, mas ambos ainda tínhamos juízo e sabíamos que seria loucura demais até para nós dois. 

Touché. Você me pegou, piloto. — arqueei as sobrancelhas brevemente e prendi a ponta da língua entre os dentes. Observei o olhar dele se mover sob meu rosto. — Mas todos cometem deslizes ao longo da vida, não acha?

Fui bastante cara de pau ao dizer isso, porque deslizes são erros cometidos não mais que duas vezes, e eu sinceramente já tinha perdido as contas da quantidade de vezes que beijei aquele idiota. Além do mais, beijá-lo não fora exatamente um erro. E apesar dos pesares, mamãe sabia sobre ele e não me deu uma bronca. Ela apenas pediu que eu fosse cuidadosa com meu coração e não pisasse na bola — em outras palavras, não fizesse uma merda absurda —, porque eu era eu, mas também era aquela família. 

— Concordo plenamente. E como você está em um péssimo dia, não vou pegar no seu pé. 

— Ah, obrigada pela consideração.

— Disponha, Alteza. — Lando curvou levemente o corpo com elegância e gesticulou com o braço direito, arrancando de mim uma risada. Quando ele se recompôs, nos encaramos. E meu Deus, os olhos dele eram tão lindos. Eu poderia encará-los pelo resto da minha vida. — Você sabe que vai ter uma festa depois da corrida, não sabe?

Levantei uma sobrancelha. Não, eu não sabia. Normalmente as pessoas ocultavam de mim aquele tipo de informação e eu só tinha conhecimento das coisas a partir de Isla ou alguma funcionária boazinha que ou não me encarava como um bicho ou deixava escapar sem querer. Não que minha presença não fosse bem-vinda, não era isso, era só que… as pessoas ficavam um pouco sem graça. 

— Não fazia ideia. 

— Bom, agora faz — Lando se distanciou. — Você pode ir se estiver disposta. Isla também vai. Ir a uma festa é ótimo para espairecer e relaxar a cabeça.

Estava tão na cara assim que eu estava com a cabeça abarrotada de problemas?

O piloto pegou uma espécie de necessaire jogada em cima de um dos armários e foi até a porta. Abriu-a um pouco e olhou para fora, depois voltou sua atenção para mim outra vez.

— Isso foi um convite? — perguntei. 

— Encare como quiser, mas não se anime muito — aquele sorriso travesso surgiu em seus lábios novamente. Lando colocou a necessaire debaixo do braço e abriu a porta um pouco mais. — E tente não atrair um bando de fotógrafos e jornalistas famintos, por favor.

Antes que eu respondesse aquela provocação a altura, Lando se estreitou entre a porta e o batente e saiu da sala. Bufei. Quando pensei que finalmente estava sozinha, ele enfiou o rosto pela fresta e me chamou com um assobio.

— Ainda tem alguns caras aqui fora, então não saia. Vou procurar Isla e avisar que você está aqui. E torça por mim hoje, Ava, se eu ganhar posso até dedicar o pódio a você — ele piscou. Um sorrisinho sem dentes surgiu em meu rosto sem minha permissão e tremulou. — Mas no íntimo, é claro, não quero parar em um calabouço.

Então ele saiu e me deixou sozinha com o coração disparado e a certeza de que estava afundando cada vez mais naquela loucura. 

   Até onde eu sabia — eu não sabia muito —, a King's Match era uma das boates mais famosas e "bem frequentadas" da Cidade do México. A decoração que misturava os ares dos antigos cabarés mexicanos com os ares das casas de música eletrônica era um atrativo e tanto para aqueles que buscavam diversão no coração da cidade, especialmente dos mais afortunados. Tinha uma ótima localização, ficando entre os bairros de Juárez e Condesa, e tudo mais, mas possuía lá suas restrições e peculiaridades. 

Celulares e câmeras fotográficas e de todos os tipos não eram permitidos por questões de privacidade, e talvez eu tenha gostado disso, mas Seon e Kennedy convenceram os outros homens engravatados e de cara fechada a me deixarem ficar com meu celular — por necessidade de manter contato e tal. Eu realmente não estava a fim de deixar meu aparelho para trás, então suspirei em alívio. Não que eu tivesse algo vergonhoso para esconder — além de algumas fotos minhas de quando era criança que minha família desenterrava — ou que achasse que aqueles homens iriam mexer nele, mas ainda sim não achava ideal ninguém deixar algo tão pessoal nas mãos de desconhecidos. 

E enquanto me afastava do homem que fazia a segurança da parede onde os pequenos baús que guardavam os celulares ficavam, eu conseguia ouvir a voz de Abbey, a chefe de relações públicas da minha família, me dar um puxão de orelha com seu jeito meigo e meio sonso caso eu tivesse deixado o celular para trás. Em hipótese alguma você pode ser descuidada com suas coisas, Alteza, era o que ela sempre me dizia. 

Depois disso tudo aconteceu muito rápido, como um borrão brilhante na minha cabeça. O lugar estava cheio, conseguia reconhecer membros de algumas equipes e até pilotos andando pela área, e no mesmo segundo em que eu pisquei, Isla foi puxada de perto de mim por uma mulher morena de penteado chamativo e agarrou minha mão para que não nos separássemos. 

Corri o olhar pela pista de dança, cheia de pessoas sorridentes e completamente entregues à música que o DJ tocava. Isla estava sendo levada para duas garotas que eu sabia serem da McLaren e estavam dançando juntas no meio do furdunço. Eu vivia enfiada nos boxes e no hospitality daquela equipe, mas não conhecia todas as pessoas que trabalhavam nela, então apenas ali soubesse que aqueles dois rostos conhecidos pertenciam a Alvery e Brigitte. 

Um garçom sorridente cortou a pista e ao passar por nós colocou uma taça com um líquido de cores vibrantes em minha mão. Encarei-o desconfiada. 

— Pode beber — Isla praticamente gritou por conta do som alto. — Só não exagera. Esse drink é meio forte!

Muitas pessoas talvez falassem que eu não deveria, mas eu confiava em Isla, então dei o primeiro gole na bebida e senti meu corpo ir de um cubo de gelo ao epicentro de um vulcão. Minha garganta ardeu e minha cabeça deu um giro em trezentos e sessenta graus, mas quando aquela sensação passou, me senti mais leve. 

— Pode se soltar, garota! Você está em uma festa! — uma das garotas, acho que Alvery, berrou. Mas aí ela se corrigiu, meio sem graça: — Quero dizer, Vossa Alteza. 

Soltei uma risadinha e neguei com a cabeça. Eu não precisava daquilo. Pelo menos não ali. 

Isla e suas amigas foram se movendo no ritmo da música, mas eu fiquei parada onde estava. Eu queria estar ali, mas não sabia o que fazer ali. Não era uma boa dançarina e não podia sair da pista, porque Isla ficaria ali e meus seguranças, que estavam encostados próximo ao corredor de entrada e só não estavam na minha cola porque fui firme ao dizer que eles não deveriam sair dali, não seriam as companhias ideais para uma festa. Merda, talvez eu devesse ter continuado no hotel. Ter as pessoas me encarando de soslaio e esbarrando em mim como se eu fosse um poste e não uma pessoa vinha se fazendo mais esquisito e chato do que ler críticas sem pé nem cabeça a cada passo que eu dava. 

Suspirei pelo nariz. Ah, que se ferrasse.

Virei o resto da bebida colorida na boca e sutilmente coloquei-o na bandeja de outro garçom que passou por nós. A morena de lábios brilhantes me estendeu a mão, incentivando-me a dançar com ela e as outras meninas. Abri um sorriso largo e aquiesci. Mas, por um segundo antes de começar a dançar como nunca antes, pensei em Lando. Aquele desgraçado invadiu meus pensamentos e me fez olhar para o entorno da pista em busca de qualquer sinal dele, porque, bom, ele deveria estar lá. 

Por mais que minha procura pelo piloto tenha sido bem porca, eu o encontrei. Ele estava recostado em um pilar dourado, tão lindo que me fez considerar se realmente valia a pena esconder o que eu estava sentindo e perder aquele monumento em forma de pessoa, porque Lando era exatamente isso. 

Em um gesto relaxado, tirou os óculos escuros de cima do cabelo e mexeu nos cachos. Eles eram uma das partes mais bonitas de Lando e eu lembrava com perfeição de como fora tocá-los enquanto o beijava. Estávamos na casa de uns colegas em comum e eu tinha dito a mim mesma que sequer chegaria perto do piloto, a essa altura do campeonato já tinha percebido que havia algo de errado com a forma com minhas mãos transpiravam e meu coração acelerava quando eu o via, mas falhei comigo mesma e me deixei levar pelo quão atraente eu me sentia diante da forma como ele me olhava quando ninguém estava vendo. Teria sido uma ótima noite com pessoas incríveis e um cara que beijava muito bem se eu não tivesse visto esse mesmo cara agindo com uma garota de uma forma que ele jamais agiria comigo.

Um buraco se abriu bem abaixo dos meus pés e me engoliu. Percebi que eu queria ter mais do que Lando podia e gostaria de me dar. Ele era um pássaro livre e desapegado, enquanto eu era uma merdinha carente que cresceu acreditando em contos de fadas e finais felizes. 

Uma das poucas músicas eletrônicas que eu conhecia começou a tocar e eu fui no embalo dela. Todos na pista bateram palmas e gritaram, então passaram a cantar. Quando o refrão explodiu nas caixas de som, só era possível ver pessoas pulando e agitando o corpo e os braços em uma dança sem passos e desconexa. As luzes coloridas iluminavam toda a área e uma fumaça fria saía de cantos estratégicos para tomar conta de nós. Eu apenas fechei os olhos e me deixei levar pela sensação de estar sendo a garota que costumava ser quando estava sozinha no quarto, mas agora cercada de pessoas que só queriam se divertir.

A música penetrava na minha cabeça, a fumaça de gelo seco embaçava minha visão e as luzes davam cores até ao preto e branco. Aqueles três minutos foram alguns dos minutos mais incríveis da minha vida e durante eles tudo pareceu possível para mim. Desde continuar lidando com a crise que habitava minha casa há meses sem surtar, até não me importar tanto com o que via sobre mim por aí. Eu não precisava da atenção deles, dos jornais, das páginas e fofocas, das revistas e dos tabloides, precisava da atenção da minha família. Dos meus pais, especialmente. 

E ali, sentindo perfumes de todos os tipos, esbarrando em corpos tão quentes quanto o meu e apenas dançando, até isso me pareceu possível. 

Mas aí a música acabou e eu fui preenchida por uma onda de realidade desconcertante. Isla alternava o olhar entre mim, Brigitte e Alvery enquanto falava algo, e eu até estava a encarando, mas não conseguia ouvir nada além dos meus pensamentos e da voz que morava em minha cabeça me acusando de ser sonhadora demais. O sorriso que havia em meu rosto se desmanchou com uma rapidez assustadora e meu estômago embrulhou.

Me ocorreu que talvez eu precisasse de uma bebida.

É, eu realmente precisava de uma bebida. Logo procurei por algum bar ou algo parecido. E ele estava logo à minha direita. 

Pedi licença para as garotas e fui andando até ele a passos rápidos.

— Que bebida é essa aqui? — perguntei ao bartender assim que me sentei em uma cadeira alta no balcão, apontando com o queixo para o drink que um rapaz dois bancos depois de mim tinha acabado de pegar. Ele era idêntico ao que o garçom tinha me dado. — Acho que quero uma, por favor. 

O homem apenas balançou a cabeça positivamente e me deu as costas. Ele tomou distância de mim, acho que para ir preparar ou buscar a bebida, o que quer que fosse, mas antes que sumisse por uma porta preta fosca, uma voz surgiu em meio ao barulho e o fez travar.

— Não, ela não acha que vai querer mais uma dessa, cara — Lando se sentou no banco ao meu lado, mas não me dirigiu o olhar. Ele estava sorrindo para o bartender. Agradável, falsamente agradável. — Pode trazer alguma bebida mais fraca. Duas doses por favor. 

O homem buscou por meu rosto em busca de uma confirmação ou negação, mas como eu estava tão chocada com a intromissão daquele grande filho de uma mãe, fiquei calada e ele foi embora. Só então Lando se virou para mim, ainda sorridente. E eu quase esqueci que estava brava, porque de perto ele parecia ainda mais bonito.

— Agora você também é babá? — questionei, repleta de acidez. 

Ele fez pouco caso. 

— Você não precisa de muito para ficar bêbada, Ava — ele disse com um sorriso ladino. Apoiando a lateral do rosto na mão, manteve-se concentrado em mim. — Não quero que Isla se meta em problemas por isso. 

— Obrigada por se importar tanto. — respondi irônica e pisquei. 

— É sempre um prazer. — o bartender de minutos atrás apareceu entre nós e colocou no balcão dois copos com uma bebida marrom. Lando tomou um para si e me entregou o outro. — Não acredito que você veio mesmo, kitty.

— Eu estava tendo um dia de merda, dear little boy. Precisava fingir, pelo menos por uma noite, que não sou eu mesma. — ergui o copo, fazendo alusão a um brinde. — Tim-tim.

— Você tem uma boca bastante suja para uma princesa. 

— Eu não costumava prestar atenção nas aulas de etiqueta — assumi uma verdade que faria meu pai ter um ataque cardíaco. Beberiquei a bebida em meu copo, ela tinha um gosto bastante forte e amargo, mas ficava doce no final. Para minha completa surpresa, acabei gostando. — Mas não conte isso a ninguém. É segredo. 

— Você não acha que eu já sei muitos segredos seus?

Ponderei com falsa preocupação. Uma risadinha fugiu dos meus lábios. Sim, Lando sabia de alguns segredos aqui e ali, fora o segredo que nós dois costumávamos ser, mas o maior deles estava guardado dentro de mim a sete chaves. E de forma alguma eu falaria sobre aquilo; não enquanto meu coração estivesse na jogada e pudesse sofrer com o potencial arrasador de Lando Norris. Por mais apaixonada que estivesse e que até já tenha me perguntado se ele se chamaria Lando, Duque de Galway como eu era Ava, Duquesa de Galway — e sim, eu pensei nisso uma vez —, não estava exatamente a fim de sofrer uma desilusão amorosa.

— Apenas eu e Deus sabemos dos meus piores segredos, Lando. — mordisquei o canto do lábio, meus olhos sustentando os dele. — Não se ache tão especial.

— Você faz eu me sentir especial, kitty.

— Ah, pode acreditar — eu caçoei. Em seguida lhe lancei um olhar cansado. — E não me chame de kitty aqui. É vergonhoso. 

Lando franziu o cenho e rolou os olhos. Dei de ombros e bebi mais daquela bebida esquisitamente amarga e deliciosa. Olhei para o homem sentado na minha frente, teclando algo no celular enquanto exibia um sorriso ladino para… sei lá com quem diabos estivesse falando. 

Eu não tinha ido para aquela festa para ficar vendo Lando flertar pelo celular ou perder tempo sentada, poderia fazer isso no conforto do hotel, então me levantei. Bebi o restante da bebida em um gole só e ajeitei o cabelo. E se não fosse por aquele gesto, teria esquecido completamente do ponto eletrônico em meu ouvido. Ele era pequeno, do tamanho de um broche, e tinha um aro que ficava escondido atrás da minha orelha e o impedia de cair. Era bastante discreto e servia para minha comunicação com Seon e Kennedy — eles insistiram que eu deveria usá-lo depois do incidente pela manhã. Incidente este que acabou rendendo algumas matérias na internet e mensagens bravas no meu celular.

— Estou indo dar uma volta. — informei mesmo sentindo que deveria apenas me retirar. Lando levantou o rosto e me encarou com uma expressão que não consegui decifrar. — Nos vemos por aí… Lando.

Não lhe dei tempo para falar alguma coisa, apenas saí em disparada pelo entorno da pista e me enfiei entre as pessoas. Seon e Kennedy me viram e fizeram menção de deixar seus lugares para me seguir, mas neguei com a cabeça. Quanto mais eu caminhava pela boate, mais rostos conhecidos encontrava. Pelo menos mais da metade do grid estava presente naquela festa, e todos eles, sem exceção, pareciam felizes — mesmo que alguns tenham tido resultados ruins na corrida.

Pensei na montanha-russa de emoções em que estive naquela manhã. Torci por Lando do momento em que as luzes se apagaram até o segundo em que ele ultrapassou a linha de chegada — é óbvio que eu torceria, Lando era um ótimo piloto e torcer para alguém da McLaren era meio que minha obrigação moral por estar nos boxes deles —, mas também sofri e mordi as unhas por outros pilotos. Charles Leclerc ficou em primeiro lugar, seguido por Lewis Hamilton, Max Verstappen e então Lando Norris. 

Ele teria conseguido o terceiro lugar se não fosse por um retardatário causando trânsito e atrapalhando sua volta.

Encontrei um canto menos movimentado e fiquei ali, olhando as pessoas passarem em grupinhos. A maioria delas estavam com roupas coloridas que você podia ver mesmo a cinco metros de distância, ao passo que eu estava completamente all black. O salto alto estilo meia pata, a meia-calça, o vestido na altura das coxas e de mangas longas "transparentes", tudo. Entretanto, isso não era um incômodo, porque era bom não estar chamando tanta atenção. 

— Se escondendo outra vez, Vossa Alteza? 

Levantei o olhar apenas para confirmar o que eu já sabia: Lando estava na minha frente mais uma vez, fazendo sabe-se lá que diabos. Apesar de ele não ser tão alto, eu parecia minúscula quando ficava em pé perto dele. 

— E você está me seguindo? — franzi o cenho.

— O Daniel te viu aqui e ficou preocupado. Como não queria te incomodar, pediu para eu vir ver se estava tudo bem. — Lando se recostou na mesma parede que eu. 

— Ah, ele não pode me incomodar e tal, mas você pode? — soltei uma risadinha.

Estava achando aquela história bastante suspeita, afinal de contas, não tinha visto Daniel Ricciardo por ali.

— Vocês não são amigos. 

— Nós também não. — respondi no mesmo tom. 

Lando levou as mãos até o peito em um gesto dramático que me fez rir. De um jeito ou de outro ele sempre arrancava uma gargalhada minha. 

— Eu tenho sentimentos, sabia? — ele fez bico, mas esse bico não demorou a se transformar em um sorriso ladino. — E você não tem pena deles.

Da mesma forma que você não teria pena dos meus, pensei.

Estava ficando difícil respirar ali, com o perfume de Lando tomando conta de todos os meus sentidos, afundando todo o meu desejo de me manter longe pelo meu próprio bem-estar. Eu deveria ficar mais racional quando estava em sua companhia, mas acontecia o contrário. E deixá-lo me olhar como se eu realmente valesse de algo em sua vida e não fosse mais uma das garotas para as quais ele lançava encaradas galantes de repente não parecia tão ruim, permitir que ele avançasse alguns passos em minha direção como tinha acabado de fazer não soava como uma armadilha. 

O piloto conseguira me tornar sua sem fazer muita coisa, e sempre fazia ruir as muralhas que me cercavam com uma sutileza quase inocente. 

— Não seja mentiroso, Lando. — rolei os olhos. Meu coração ia perdendo o compasso e subindo até a garganta. 

Ele estreitou os olhos para mim durante segundos muito longos. Um ruído no ouvido direito me trouxe para a terra outra vez e eu me atentei a Kennedy perguntando onde eu estava. Quase em um sussurro, um sussurro rápido, disse que tinha ido dar uma volta e estava bem. Tanto ele quanto Seon tinham que garantir que eu voltaria viva e inteira para casa, caso contrário eles se dariam mal. E nem eu queria isso; ambos trabalhavam comigo desde que eu era adolescente e me conheciam muito bem. Apesar das regras e comandos que tinham que seguir, não faziam eu me sentir sufocada. Não era por menos que eu os arrastava comigo para onde quer que fosse. 

— Não estou mentindo, mas você tem o direito de não acreditar em mim — o homem à minha frente riu. — Mas, e aí? Está tudo bem ou…

— Está sim — forcei um sorriso. —, mas ainda que não estivesse, eu não vim aqui para falar dos meus problemas. Vim para me divertir. — dei de ombros.

— E você está se divertindo? — Lando apoiou o ombro na parede e buscou por meu olhar. Concordei com a cabeça. No mesmo instante ele suspirou. — Não é o que parece.

— Não dá para saber de tudo com apenas um olhar, Lando Norris.

Com certeza não dava, mas Lando era mais inteligente do que demonstrava ser. E seu olhar era profundo de um jeito que cutucava cada ponto sensível do meu corpo, descobria tudo o que eu lutava para manter coberto, me fazia falar sem precisar dizer uma palavra. 

Eu não gostava muito de pessoas assim porque não tinha a mesma capacidade. Se eu não conseguia me entender, quanto mais entender os outros. 

— Mas você não sabe esconder bem o que está sentindo, Ava Geoghegan. 

Ah, coitado. Ouvir aquilo me deu uma vontade descomunal de revirar os olhos e evitar a forma como Lando me olhava como se me conhecesse como conhecia os amigos e o próprio carro. 

— Você ficaria surpreso se soubesse como eu sou boa em esconder certas coisas — também apoiei o ombro na parede, ficando de frente para ele. 

— Você pode me contar, se quiser. — ele disse com falsa despretensiosidade. 

Então Lando tocou meu cabelo com a ponta dos dedos e um arrepio atravessou meu corpo. Como era difícil ficar assim com ele. Eu queria recuar ao mesmo tempo que desejava como uma louca permanecer exatamente ali, fingindo que não me importaria se ele acabasse me magoando por não ser o que eu gostaria que fosse; e Lando não tinha a menor obrigação disso. 

— Não posso — respondi, forçando um lamento. — Eu não gosto de corações quebrados. Eles são difíceis de consertar.

O piloto deu mais um passo à frente, a mão subindo por meu cabelo e descansando em minha bochecha. Seu toque gélido me fez engolir em seco; eu estava torcendo com todas as minhas forças para que a mistura de vozes e a música alta não permitisse que ele escutasse as batidas do meu coração. Foquei nos olhos de Lando e abri um sorriso trêmulo, apaixonada pela forma como ele me observava, buscando por coisas que talvez não tenha visto antes, tentando entender o que passava em minha mente, decidindo se deveria ou não dar outro passo.

— E mesmo depois de consertados, não são mais os mesmos. — voltei a falar. Toquei a camisa de Lando e segurei o tecido com força. 

— Então você não iria querer meu coração. Ele já foi quebrado várias vezes. 

Ponderei. Eu não sabia disso. Sabia de muitas coisas sobre Lando Norris, mas ninguém nunca me disse que ele já sofrera por amor. Parecia impossível, aliás. Como um quebrador de corações como ele permitiu que seu próprio coração caísse nos laços e nas mazelas do amor? 

Bom, talvez tenha sido esse o fator determinante para aquela coisa toda. A decepção foi enorme e Lando desacreditou do amor. Se o sentimento não servia para ele, não serviria para mais ninguém.

— Pode ser que sim, pode ser que não — assumi em um fio de voz. Inspirei tão fundo que por pouco meu sistema nervoso não reiniciou. O rosto dele estava tão colado no meu, era possível sentir sua respiração em minha pele, observar as íris tingidas por uma das tonalidades de verde mais lindas que já vi na vida. — Mas tanto eu quanto você sabemos que assim como um mais um é dois, você jamais me daria seu coração.

Um dos meus maiores defeitos costumava ser nunca pensar nas consequências da minha impulsividade e focar no agora, e naquele momento eu estava exercendo meu direito de ser uma maluca defeituosa. Porque eu simplesmente joguei a toalha quanto a meus sentimentos para com Lando. Eu, Ava, fingi que não queria saber mais de corações quebrados e das minhas dores de cabeça fora daquela festa.

— Infelizmente eu não nasci um príncipe, Ava.

— Eu nunca pedi que você fosse, Lando.

E ele não disse mais nada. Apenas abriu um sorriso cheio de marra e recostou-me na parede atrás de nós, tomando minha boca com a sua com uma saudade e necessidade que valia por nós dois. Lando Norris era minha derrocada, meu ponto fora da curva. 

Ele continuou segurando meu rosto, deslizando as pontas dos dedos por minha pele e me obrigando a apertar sua cintura como se não houvesse mais nada na face da terra que eu pudesse fazer. Sua boca tomava conta da minha como não ocorria há algum tempo e o corpo dele pressionava o meu contra a parede. O beijo tinha gosto de cerveja e champanhe, de todas as coisas que no fundo queríamos dizer um para o outro mas não podíamos, de corações quebrados por um amor impossível e unilateral. 

Lando se afastou alguns milímetros dolorosos de mim e deixou beijos molhados em minha mandíbula. Quando voltou a prestar atenção em minha boca, percebi que estava sorrindo, alternando o olhar entre meus lábios e meus olhos. Um arrepio subiu da base de minha coluna até minha nuca e se espalhou por ela. 

Um lampejo atravessou minha mente e eu lembrei do ponto em meu ouvido. Meu rosto esquentou no automático, mas não consegui tirá-lo de tão atrapalhada que estava. Senti os lábios de Lando nos meus novamente, mas dessa vez eu já tinha me perdido no espaço-tempo. A lembrança do ponto eletrônico foi a primeira gota de água de uma tempestade que caiu bem em minha cabeça no momento mais inoportuno. 

Eu só queria beijar o cara na minha frente como ele estava me beijando, como se ninguém além de mim importasse naquela festa, mas minha mente trabalhava a milhão. Um filme passou em minha cabeça, e como se eu estivesse em um pesadelo, meu coração pesou e foi espremido por duas mãos invisíveis. Mal me dei conta do instante em que as lágrimas que se acumularam em meus olhos escorreram desesperadas por minhas bochechas.

O choro veio sem permissão e eu me obriguei a continuar beijando Lando apenas para não dar atenção para aquela sensação de merda que pairou sobre mim. Quis ser silenciosa, não estava nada a fim de passar aquela vergonha caso Lando percebesse meu choro, mas um soluço sofrido escapou. E eu acho que ele abriu os olhos, porque me senti observada. O toque em meu rosto e cintura se tornou mais leve e tudo pareceu rodar em câmera lenta.

Eu não conseguia me afastar, mas também não conseguia parar de chorar. De qualquer forma, não havia mais clima para beijo algum. Lando deveria estar querendo sair correndo e eu sinceramente preferia cavar um buraco e me enterrar a ter que lidar com seu olhar cheio de curiosidade e… bom, piedade.

— Ava?

— Caramba, eu estou chorando na sua boca — disse entre um soluço e outro, as lágrimas descendo com cada vez mais força. Tirei as mãos da cintura do piloto e o empurrei para longe. — Meu Deus, me desculpa. Que horror.

Minha visão estava embaçada, mas ainda assim consegui enxergar Lando em meio às cores vibrantes dos jogos de luzes que circundavam a pista de dança. E ele estava sério, meio assustado e confuso. Bom, eu não o julgava. Também ficaria assim se estivesse beijando um cara e ele começasse a chorar. Talvez eu até achasse que beijava mal para caramba. 

— O que aconteceu?

Neguei com a cabeça em um desespero tão nítido que me envergonhou. Tapei a boca na tentativa falha de abafar os sons que escapavam por ela, meu peito se encolhendo cada vez mais, minha mente sendo preenchida por um amargor sem precedentes. Eu não sabia porque tinha achado que beijá-lo faria minha vida ficar melhor. Lando Norris ainda era um piloto como qualquer outro, que estava ali comigo mas poderia me esquecer no mesmo segundo, e ainda que não fosse, eu sempre seria Ava. A crise no casamento dos meus pais continuaria assombrando minha família, a doença de vovó seguiria dando trabalho até para os melhores médicos, e Emma não deixaria de ser tratada como uma bela joia rara. 

Quer dizer, eu sempre amei minha irmã, de verdade mesmo, a amava como amava minha própria vida, mas em algum momento passei a ter ciúmes da forma que ela era tratada. Emma era apenas alguns minutos mais velha que eu, mas esses minutos a tornaram mais preciosa aos olhos de alguns da nossa família. E isso me incomodou um pouco. 

E quando passei a ter acesso às redes sociais, que sempre, sempre foram monitoradas pela equipe de relações públicas e até meus pais, vi como as pessoas lá fora também nos tratavam com diferença. Lá no fundo fiquei magoada, mas fui aprendendo a relevar e a ver que o que falavam de mim não importava. Mas as pessoas conseguiam ser muito maldosas, especialmente se estavam escondidas atrás de uma tela. E essas coisas, essas dores, não somem com tanta facilidade. Principalmente quando se instalaram em você quando jovem. 

Eu estava aprendendo a lidar, a mudar aquele traço incomodativo e outras coisas mais com ajuda da terapia, mas não era uma tarefa tão fácil quando alguns familiares deixavam claro como eu era uma formiguinha. 

— Ava — Lando me chamou outra vez. Caminhou em minha direção e eu recusei, dando com as costas na parede. — O que aconteceu? 

— Nada, Lando. Nada. — menti. Limpei os olhos com o dorso das mãos e resfoleguei. — Eu só… eu só achei que te beijar faria minha cabeça ficar menos confusa. Mas acho que acabei confundindo-a mais. — dei um risinho fraco, repleto de tristeza. — Eu estraguei tudo, desculpa.

Ele entreabriu a boca mas não disse nada. Passou a mão pelo cabelo e olhou no fundo dos meus olhos. Lando me parecia atordoado e era bem provável que estivesse mesmo. Certa vez ele me disse que tinha dificuldade em lidar com pessoas chorando perto dele. 

O ponto eletrônico em meu ouvido fez um barulho fino e muito incômodo, indicando que havia acabado de ligar. Não sei como nem quando, mas ele acabou desligado em algum momento durante o beijo e meu choro. 

— Maldito ponto eletrônico — praguejei, a voz embargando novamente. Levei as mãos até a orelha e tentei tirá-lo dali, mas me atrapalhei com os fios do cabelo e fui inundada por uma péssima sensação de frustração. — Sai, por favor. Sai!

Notei Lando voltando a se aproximar de mim, mas estava tão irritada com aquela porcaria de ponto que não liguei para isso até sentir suas mãos sobre as minhas, afastando-as do meu cabelo e da orelha. Erguei os olhos para o piloto, que agora parecia completamente imperturbável, concentrado apenas na missão de tirar aquela coisa de mim. E foi o que ele fez, segurando minhas mãos apenas com a força necessária para que eu não ficasse me mexendo. Lando mostrou-me o aparelho, apertou em algum botão para que ele parasse de piscar e o guardou no bolso da calça sem dizer nada. 

— Vamos lá para fora. — disse, ou pediu, não sei dizer. Mas o que quer que fosse aquilo que ele tinha falado, seus olhos demonstravam preocupação. Quando ele tentou caminhar rumo a uma saída lateral, eu travei. — Por favor, Ava.

— Não precisa, Lando. Eu estou bem. 

Eu era uma mentirosa de merda. 

— Você é uma mentirosa de merda — viram só? Ele quase sorriu. — É óbvio que você não está bem. E eu não vou te forçar a dizer nada, eu juro que não, só quero que você tome um ar. E se quiser continuar chorando, faça isso em um lugar onde as pessoas não possam ver e ouvir. 

Ele me ganhou naquela. Principalmente na parte do "onde as pessoas não possam ver e ouvir". Me dei por vencida e saí andando atrás dele, escondendo o rosto quando alguém passava e olhava em nossa direção, principalmente se esse alguém se tratava de um piloto que eu teria que ver nas próximas corridas. Levamos bons segundos para alcançar a saída e passar para o exterior da boate em que estávamos. A área se parecia bastante com a cobertura de um prédio residencial, sem muitos atrativos, apenas luzes em pontos estratégicos, algumas poltronas e jarros de plantas, mas tinha uma vista de tirar o fôlego para o coração da cidade. 

Os carros e as pessoas se movimentavam lá embaixo ao passo que as luzes dos edifícios, tanto residenciais quanto comerciais, davam um show de pirotecnia urbana. Deixei Lando para trás e me direcionei para a beirada a passos apressados. Me abracei com força e tombei a cabeça para trás, permitindo que mais um soluço escapasse e as lágrimas corressem livres. 

Uma rajada de vento me fez arrepiar por inteira, mas eu ignorei a sensação. Meu celular vibrou no bolso e eu o ignorei também. Queria ignorar absolutamente tudo à minha volta — só não consegui ignorar os braços de Lando me envolvendo em um abraço apertado e seu rosto aparecendo bem ao lado do meu, tocando minha bochecha com a sua.

Eu queria tanto aquele abraço ao mesmo tempo que desejava que ele sumisse da minha frente, se mantivesse o mais distante possível de mim. Porque atos assim te fazem pensar que a outra pessoa se importa com você, e eu pensaria aquilo mais do que o necessário. E me magoaria sem necessidade. Lando estava me confortando porque eu estava triste e desabei bem na frente dele, certo? Não significava nada para ele. 

— Por que você está me abraçando? — quis saber. — Você é o tipo de cara que quebra corações, não consola.

— Não sei bem — ele respondeu com visível sinceridade. — Acho que porque você parece estar precisando de um abraço. Ninguém que não precise de um abraço começa a chorar durante um beijo. E eu não sou um quebrador de corações.

Mesmo estando sufocada pela tristeza e me afogando em um mar de incertezas que não parecia ter chão, consegui dar risada. E Lando também riu.

— Me desculpa. Eu não consegui controlar. — assumi, abaixando um pouco o rosto. — Droga, você nunca mais vai querer olhar na minha cara.

— Se eu não quisesse mais olhar na sua cara eu teria fugido naquele instante, Vossa Alteza. — e aquele infeliz Vossa Alteza estava de volta. Lando usou o dedo indicador para erguer meu rosto. Meu celular vibrou três vezes seguidas. Que merda era aquela? — Quer desabafar? 

Eu não podia acreditar que estava naquela posição com Lando. E sinceramente não sabia se queria desabafar, talvez meus problemas fossem idiotas demais para que ele me desse algum crédito pela choradeira ou me achasse muito sensível, mas estava realmente tentada a colocar tudo aquilo para fora. Por algum motivo eu confiava em Lando, e era da minha natureza não confiar em muitas pessoas. 

— Minha vida está um pouco de cabeça para baixo, Norris — assumi com cautela, usando a palma das mãos para limpar o rosto. Não queria nem imaginar como minha maquiagem estava. — E eu venho guardando a sete chaves a maior parte das coisas que compõem essa confusão, mas tem uma hora que não há mais espaço para guardar tantas coisas. Sempre há uma hora. 

— É sobre os seus pais?

— Como você sabe? — um vinco se formou entre minhas sobrancelhas. Pelo visto, muito mais pessoas do que eu imaginava sabiam daquilo.

— Aparecem bastante matérias sobre vocês nas sugestões do Google e das minhas redes sociais. Quando te conheci, dei uma pesquisada na sua vida para saber onde estava me metendo, desde então sempre me deparo com notícias suas. E dos seus pais. — ao falar dos meus pais, a voz de Lando assumiu um tom cuidadoso e baixo. — Sinto muito, kitty. Deve estar sendo difícil. 

— Acho que é o que acontece quando se tem quase quarenta anos de casados, duas filhas adultas e uma coroa pesando nas suas costas. — murmurei. Encolhi-me ainda mais e ele apertou os braços em volta de mim. — E não é só isso… ainda tem a vovó, que está doente. A saúde dela se deteriora a cada dia e não há muito o que possamos fazer. E as pessoas são bastante cruéis quando querem. 

Funguei. Um fungar tão baixo que quase não escutei. Chorar e contar o que estava acontecendo não melhoraria nada, não faria vovó recuperar a saúde e meus pais voltarem aos anos dourados do casamento, mas pelo menos me deixaria mais leve. Ter alguém além de Emma e Malika, uma grande amiga que eu conheci ainda na infância, para me ouvir era bom. Fazia meu céu não parecer tão cinza. 

— Acho que era a hora de eu dizer algo para te consolar, mas não sou bom com as palavras, sabe. — Lando abriu um sorriso pequeno que eu captei pela visão periférica. — Mas eu estou com você, Ava. Muita gente está. 

— Eu não teria tanta certeza. — ri com ironia.

— Estou falando sério! Por mais que você ache que não, é a verdade. E não deixe que pessoas ruins te façam pensar o contrário. 

Não tinha tanta certeza quanto Lando, mas mesmo assim concordei e forcei-me a abrir um sorriso. Uma lágrima solitária escorreu por minha bochecha, depois pelo colo do meu peito e desapareceu. 

— Você já está parando de chorar, viu que legal? As pessoas não vão mais achar que eu fui um merda com você.

Acabei revirando os olhos.

— Então era nisso que você estava pensando o tempo todo? — tentei soar afetada. Mais uma vez meu celular vibrou. 

— Mais ou menos — ele sorriu travesso. — Eu também tenho uma reputação a zelar, kitty. 

Ah, é verdade. Por míseros minutos esqueci que estávamos falando de Lando Norris. O Golden Boy da McLaren. Seria um completo escândalo se saísse na capa de alguma revista que o garoto fofinho tinha feito uma garota chorar no meio de uma festa. 

— Tudo bem, eu entendo — balancei os ombros como pude; ainda estava envolvida pelos braços do piloto. — Mas é claro que você já fez algumas garotas chorarem por aí. 

Lando ficou em silêncio e eu encarei isso como uma resposta positiva. 

— Não é o tipo de coisa que eu tenho como evitar, Ava. — quando finalmente respondeu, seu tom de voz estava um tanto sério. Levantei uma sobrancelha. — Algumas garotas se iludem sozinhas.

— Sozinhas? — questionei genuinamente irritada. Queria gritar na cara dele, mas não podia fazer isso. — Você trata elas como se elas fossem especiais, abrindo a porta do carro, estudando seus rostos, rindo das piadas sem graça que elas fazem… isso não é colaborar para que as pobres coitadas não se apaixonem. 

Acabei me ofendendo com o que Lando dissera porque estava no meio das garotas que se iludiram e eu não achava justo dizer que ele não tinha colaborado para que isso acontecesse. Só esperava que ele não tenha percebido. 

— Mas isso é basicamente o mínimo, Ava. — Lando riu, virando o rosto para mim. Ficamos tão perto um do outro mais uma vez… 

— Algumas pessoas se contentam com o mínimo, Lando. — expliquei. Desviando o olhar de suas íris para sua boca, senti meu estômago se contrair e me afastei dele. — Mas tudo bem, acho que para te conquistar, uma garota precisa ser muito genial e esperta. E você ainda não encontrou uma. 

Lando ficou em silêncio outra vez e eu dei meu máximo para ignorar a sensação semelhante a espinhos furando meus pés que irradiou por todo meu corpo. Mesmo distante dele, seu perfume estava grudado em mim, e sempre que o vento passava, ficava mais forte, mais presente, mais sufocante. 

Muitas coisas passaram por minha mente naquele momento, e um ímpeto de coragem me fez dizer o que eu não teria dito em condições normais. Quando todas aquelas palavras se virassem contra mim, talvez eu colocasse a culpa na tristeza que estava sentindo e no sentimento exagerado de que sempre existe uma perspectiva onde nada na vida é tão ruim que assistir aqueles carros se movimentando nas ruas e aquelas luzes piscando me causou.

— Sabe… — comecei a falar, as engrenagens que faziam minha mente funcionar trabalhando a todo vapor para parecer o mais verdadeira possível. — Eu tenho uma amiga. A Malika.

Lando levantou as sobrancelhas.

— Eu também tenho um amigo, o Max.

Ignorei seu comentário idiota. 

— E ela está passando pela mesma coisa que essas garotas com quem você sai costumam passar, coitada. 

— A mesma coisa? — seus olhos se transformaram em duas linhas finas, mas eu sabia que ele estava me encarando. 

— Sim, a mesma coisa. Ela acabou se envolvendo com um cara que é meio mulherengo e deixou ela confusa. — era óbvio que aquilo era mentira. Malika não tinha se envolvido com cara nenhum. Ela sequer tinha planos de namorar a longo prazo; para minha amiga, passar a vida solteira era o ideal. — Porque às vezes ele a trata como uma princesa, enxuga as lágrimas dela e a toca como se não houvesse mulher no mundo igual a ela. Mas ao mesmo tempo… — suspirei. Falar aquelas coisas estava doendo, porque Malika era eu. Eu era a garota confusa por causa de um mulherengo. — Ao mesmo tempo ele a trata como se não fosse nada demais. Você acha que ela também se iludiu sozinha, Lando?

Um silêncio esquisito e desconfortável se instalou entre nós. Quando meu celular vibrou pela sei lá qual vez, fui tomada por uma irritação que me fez puxá-lo do bolso lateral do vestido. A tela acendeu e brilhou bem na minha frente, mostrando-me dezenas de notificações flutuando no ecrã. Meu Deus. Eu nunca ficava cheia de notificações, exceto quando tinha feito alguma besteira. 

E, bom, eu tinha feito várias besteiras desde que chegara no México — e não me orgulhava de nenhuma delas —, mas era muito improvável que a merda atingisse o ventilador uma hora daquelas. Eram exatamente três da manhã na Irlanda, uma vez que o México ficava seis horas atrás do meu país. Para minha família estar acordada tal horário, e eu sabia que as mensagens que estava recebendo eram deles, algo péssimo estava acontecendo. 

Minha garganta travou. A primeira pessoa em que pensei foi em vovó. Cacete, eu não queria nem imaginar. 

Afastei aqueles pensamentos e pela primeira vez em minutos reuni coragem para olhar Lando nos olhos, e a única coisa que ele respondeu foi:

— Ela está apaixonada por ele? 

Comprimi meus lábios, tornando-os uma linha vermelha em minha face. Desviei a atenção para o celular, que já estava com a tela desbloqueada e com o aplicativo de mensagens aberto. Além das mensagens haviam notificações de outros aplicativos. Era tanta coisa que a possibilidade de o celular explodir me parecia perfeitamente real.

Li as primeiras mensagens e meus olhos foram tomados por lágrimas. Um sentimento de alívio, desespero e descrença fizeram meu peito pesar, como se estivesse carregando toneladas de ferro. Lando seguia me olhando, mas por aqueles breves segundos eu me desprendi totalmente dele e de nossa conversa. 

— Está, Lando. — e foi ali que eu estraguei tudo, com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas outra vez, dando a entender algo que eu não queria. Não estava chorando por conta do que estava dizendo, mas era o que parecia. 

— E como isso aconteceu? 

Como assim minha irmã tinha desistido do direito de herdar a Coroa? 

— Ela não sabe — respondi com o fio de voz que me restava, os olhos alternando entre Lando e o celular. As mensagens que tinham me enviado eram bem claras: Emma aparentemente desistira da Coroa, Emma dissera que não queria mais ser a herdeira, Emma simplesmente enlouquecera. O que aquela garota pensava que estava fazendo? — Simplesmente aconteceu. — continuei falando. — E então? O que você acha? Malika se iludiu sozinha? 

Tentei não surtar. Eu não podia surtar. 

Reli as mensagens mais duas vezes enquanto o homem logo à minha frente gastava seu tempo pensando. Ao que parecia, minha irmã e papai discutiram e ela falou que não queria mais, nas palavras dela, aquela merda de responsabilidade. E em questão de horas o que ela tinha dito foi parar nas redes sociais e nos jornais irlandeses. Agora minha família e a equipe de relações públicas e assessoria estavam tentando gerenciar aquela crise. A mídia não estava confirmando nada, eles diziam que era apenas um boato, mas era preciso ter cautela. Mesmo um mero boato podia causar um bom estrago. 

E como eu e Emma éramos as únicas filhas, estava sobrando para mim também. É claro. Se minha irmã não seria a rainha, eu seria. Era por isso que os outros aplicativos estavam repletos de notificações. As pessoas estavam comentando sobre a possibilidade de a Geoghegan mais nova se tornar a herdeira do trono do dia para a noite. 

Meu estômago embrulhou e senti uma vontade quase incontrolável de vomitar. Nada daquilo fazia sentido e eu esperava que não passasse de um delírio, e caso não fosse apenas um delírio, Emma colocasse a cabeça no lugar e desse meia volta. E eu tinha quase certeza de que ela daria. Emma não se importava em estar naquela posição, era infinitamente melhor que eu naquilo, não havia dúvidas. Quando éramos adolescentes pensamos em como seria se trocássemos de papel e concluímos que seria péssimo, portanto prometemos que nunca faríamos isso. 

Precisamos de você em casa, éan beag, uma das mensagens de papai dizia. Éan beag era passarinho em nosso idioma, e papai não me chamava de passarinho, um apelido que ganhei ainda criança por ter a mania de me atirar das coisas afirmando que sabia voar como um pássaro, há bastante tempo. 

Minha angústia não era por conta das loucuras que não poderia voltar a fazer caso assumisse o lugar de minha irmã, não era isso, era só que… eu fui pega de surpresa. E cresci ciente de que ali não era meu lugar. Não nasci para ser rainha e estava plenamente confortável e feliz com isso assim como Emma estava plenamente feliz e confortável com a ideia de ser rainha. 

Apesar de pequenas coisas que me incomodavam na forma como as pessoas nos viam e tratavam, estava tudo bem. 

— Ava? Você está me ouvindo? — Lando me puxou para a realidade. E agora ele estava mais perto, a dois passos de mim. 

— Oi. Não, desculpe. Eu.. eu me distraí um pouco. — abri um sorriso trêmulo e abaixei as mãos, escondendo-as atrás do corpo. — O que você disse?

— Que depende. Talvez sua amiga tenha se iludido sozinha, talvez não. Pode ser que ele goste dela. — ele deu de ombros. Tocou meu cabelo, os fios ruivos espalhando-se pela palma de sua mão, e acariciou meu rosto. Fechei os olhos com seu contato. — E talvez o cara por quem ela se apaixonou não tenha feito o que fez por mal. Ele parece ser legal, não babaca. E sua amiga não tem cara de quem se apaixonaria por babacas. Acho que ela deve ser como você. 

— Como você tem tanta certeza? Você nem a conhece. — soltei um riso fraco.

— Você só anda com pessoas legais e que sejam minimamente parecidas com você, Vossa Alteza. 

Não era mentira. Todas as minhas amizades possuíam algo em comum comigo, até mesmo ele.

Fixei meus olhos nos de Lando, sentindo outro desconforto no peito. Porque percebi que se tudo aquilo fosse real, Lando, que já estava distante, se tornaria completamente inacessível para mim. Eu até poderia me casar com alguém que não fosse nobre caso quisesse, não seria a primeira, mas a pessoa teria que deixar de fazer o que quer que estivesse fazendo. E isso valia para Lando Norris. E qualquer pessoa sabia que ele jamais deixaria de ser piloto; aquele garoto trabalhara muito para chegar ali. Eu nunca o deixaria abrir mão de seu talento por mim.

Não que ele fosse fazer isso, porque não faria.

— Bom, pode ser. 

— Por que sua amiga não conta para ele o que está sentindo?

— Como eu disse, ela está confusa. Não sabe se ele sente algo por ela e tem medo de falar e sair com o coração quebrado. 

Lando ponderou por alguns instantes. Meu celular vibrou mais uma vez e eu lembrei de Seon e Kennedy. Se aquilo chegou em mim, também chegou neles e eles provavelmente estavam varrendo a festa à minha procura. 

— Pode ser que ela não tenha deixado bem claro o que estava sentindo e por isso ele se manteve atrás da linha. Ou ela não prestou atenção suficiente nele. — seus dedos passearam por minha pele, apagando os rastros deixados pelas lágrimas. — De qualquer forma, atitudes às vezes falam mais do que palavras. E não só de forma negativa, claro.

Concordei com um balançar de cabeça discreto. Eu já não sabia mais o que dizer. Estava transitando entre dois mundos e desejando não existir pelo tempo em que aquela confusão dentro de mim durasse. 

Abri os olhos e me deparei com as íris verdes de Lando. Mergulhei nelas como se estivesse mergulhando em águas límpidas de um mar calmo. Suas palavras soavam como um enigma para mim; no momento parecia impossível dizer se elas eram positivas ou negativas. Entretanto, como sempre fui uma pessoa pessimista, me deixei levar pelos pensamentos que diziam que tudo aquilo era um sinal para recuar. Talvez eu não tenha prestado atenção na forma como ele dizia não me querer, apesar de me tratar tão docemente — tirando as provações, que no fim das contas eram mútuas — quando nos víamos e nos beijávamos, muito menos em suas atitudes. 

Eu vacilei. Acho que entreguei meu próprio coração para Lando Norris quebrar.

Eu deveria ter ficado em casa, porque estava e ficaria melhor sozinha. Porque eu sabia que quando ele dissesse olá, seria tudo o que eu precisava para afundar em um amor cheio de furos. 

— É, pode ser. O amor não é para todo mundo — estendi-lhe o sorriso mais espirituoso que consegui reproduzir e tomei distância. Antes de me afastar totalmente, enfiei a mão no bolso de Lando para procurar meu ponto eletrônico. — Tenho que levar isso comigo.

— Você já vai? — perguntou, parecendo surpreso.

— Sim. Queria ficar mais, mas preciso fazer algumas coisas. 

Lando estava confuso, minha explicação não havia sido convincente, mas eu não me importei. Apenas tornei o sorriso em meus lábios ainda mais largo e segurei seu rosto com as duas mãos para poder beijá-lo. Com o encaixe perfeito e o beijo mais doce que já dei e recebi em minha vida — aquele beijo definitivamente era outro nível; outro nível no sentido de carinhoso, sem pressa e com cuidado —, me despedi do piloto. Encostei meu nariz ao seu enquanto compassava e respiração e saí andando.

— Obrigada pela companhia, Lando. Nos vemos por aí. 

Fui até a porta sob seu olhar atento, então atravessei-a e o vi parado exatamente onde deixei, olhando para mim com um sorriso que cintilava. O canto da minha boca também se curvou em um sorriso tímido e eu fechei a porta. 

No momento, tinha outras coisas com as quais me preocupar. 

Aparente e temporariamente — e para minha completa infelicidade, porque eu não queria aquilo — eu tinha uma coroa para colocar na cabeça.

Eu estava suando frio.
 
Merda, eu estava suando frio para caramba. E seria uma vergonha se as essoas no salão notassem as gotículas de suor se espalhando pelo tecido do meu vestido e formando manchas úmidas. Eu estava parada entre Emma e um guarda qualquer, sorrindo como se estar ali fosse a coisa mais incrível que já me aconteceu, posando para dezenas de fotógrafos e recebendo olhares de repórteres atentos. Papai e mamãe estavam bem ao lado de minha irmã, cumprimentando um engravatado que também me cumprimentara mas não chamara tanto minha atenção. 

Aquelas pessoas me olhavam com olhos brilhantes, já que para elas eu tinha me tonado o máximo, a pessoa a quem deveriam demonstrar um carinho fora de medida, porque eu estava logo atrás do atual detentor da Coroa. Bando de falsos desprezíveis. Eu não suportava mais aquela bajulação. 

Deveria ser uma quarta-feira como qualquer outra se não fosse por aquele eveno. 

A Fórmula 1 agora estava na Irlanda.

Depois de um processo de contrato tão demorado quanto o crescimento de ma árvore de carvalho, a FIA e a Liberty Media assinaram um acordo com minha família e algumas das principais emissoras irlandesas para receber o esporte a motor no principal circuito do país e transmitir todas as corridas com propriedade. E eu, meus pais e minha irmã estávamos ali para dar as melhores boas-vindas à Fórmula 1 à Irlanda. 

Seria ótimo se apenas os mandachuva estiessem presentes, mas eu deveria ter imaginado que eles fariam questão de trazer membros de algumas equipes também. Era exatamente por isso que Lando Norris estava ali, a alguns metros de distância de mim, com um semblante fechado que poucas vezes o vi carregar fora das pistas. Era exatamente por isso que eu estava transpirando por todos os poros.

Não fazia muito tempo desde que nos despedimos na festa, mas depois disso não nos vimos pessoalmente e eu não estava com cabeça para entrar em contato. Lando estava, contudo. E durante uma madrugada, enquanto eu me revirava na cama em busca de qualquer resquício de sono, meu celular vibrou, indicando a chegada de uma mensagem. Era ele. Não com um "Oi, quanto tempo!" ou um "Você está acordada?", e sim um "Me desculpe, Kitty, eu fui burro em não perceber que gostava de você. Ou melhor, que gosto de você. Fui mais burro ainda por agir como se não importasse. Eu fui um babaca e deveria ter sido melhor. Desculpe. Mas acho que não faz mais diferença". 

E tudo o que ele disse depois disso passou por mim como um caminhão e afastou qualquer chance que eu tinha de pegar no sono. Não esperava receber uma mensagem de Lando no meio da madrugada, muito menos uma mensagem com mais de vinte linhas. E apesar de não gostar de ler textos extensos demais, eu li tudo. E li em questão de minutos, porque estava plenamente interessada em saber como diabos Lando Norris, o cara que inúmeras vezes eu chamei de quebrador de corações e acusei de ter deixado o meu em pedaços, percebera que eu não era apenas mais uma garota em sua vida; suas palavras me atravessaram como a mais afiada das adagas. Eu fui embora naquela noite e o deixei com uma sensação de vazio no peito, ele leu os boatos sobre Emma — eles se espalharam loucamente por aí. Não que os tablóides se importassem muito com a nossa família e o que fazíamos ou não, mas alguém desistindo do direito de uma coroa sempre chama atenção — e seus olhos foram tomados por lágrimas sem seu consentimento, porque seu íntimo sabia que eu me tornaria impossível para ele. 

Madrugada a dentro, reli aquele texto umas dez vezes. Cheguei a cogitar a possibilidade de Lando ter o enviado enquanto estava bebendo e esperei que o apagasse na manhã seguinte, mas não aconteceu. Ele não apagou e não disse mais nada. 

Então eu fui o mais sincera possível quanto a meus sentimentos e não abri mais nossa conversa. Tinha outras coisas para resolver e ainda precisava processar aquelas informações. Fiquei tão convicta de que a forma como Lando me olhava e me tocava não passavam de uma mera ilusão e de que ele jamais retribuiria meus sentimentos que levei um tempo para aceitar o que tinha lido. Então, mesmo que pelo menos metade da minha vida ainda estivesse de ponta-cabeça e certos problemas não tivessem prazo de validade, eu comecei a sorrir. A dar aqueles sorrisos de pessoa apaixonada, sabe? 

Até mamãe e Emma perceberam. Quis contar tudo a elas, mas antes de sair compartilhando a experiência que me levou do inferno ao céu em questão de semanas, precisava falar com Lando. Explicar-lhe algumas coisas. Contar-lhe algumas novidades. 

Por isso, eu enviei uma mensagem falando que podíamos conversar quando ele fosse para a Irlanda com a McLaren, já que eu não teria como viajar. Lando não me pareceu muito animado, mas eu não liguei. Sabia o porquê. Não era culpa dele. 

— Acho que deveríamos ter te dado um calmante. — Emma sussurrou em meu ouvido. 

— Fique calada. — sussurrei de volta, mantendo o sorriso largo no rosto.

Estávamos enfileirados na parte mais alta do salão, cumprimentando pessoa por pessoa. Quando Zak Brown, Isla, Charlotte Sefton e mais alguns outros membros da McLaren foram até nós e apertaram nossas mãos ao estilo britânico de ser, avistei Lando ainda mais perto de mim. E ele estava tão lindo, meu Deus. Usava calça e camisa social e um paletó preto; ele ficava infinitamente mais bonito quando se vestia assim. E a merda do ar me faltou quando seus olhos alcançaram os meus, me deixando ainda mais nervosa e me quebrando por inteira. Dava para ver arrependimento neles. 

Lando me cumprimentou com uma reverência e depois com um aperto de mão que embora não tenha demorado mais que três segundos, pareceu eterno na minha mente. Assim que o olhar dele desviou de mim para Emma, fui aplacada por um desespero que me sufocou. Ele não sabia de nada, por isso estava daquele jeito. Talvez até estivesse saindo com outra pessoa — e considerar essa possibilidade fez meu estômago andar em uma montanha-russa.

As horas seguintes foram torturantes e longas demais para que eu pudesse aguentar sem fazer caretas de vez em quando, mas sempre longe das câmeras. Eu quem tirei a foto oficial com o presidente da FIA, uma vez que era a única da família que acompanhava o esporte — e também por outras razões. Depois que as palmas cessaram e os convidados se dispersaram pelo salão, formando grupinhos de conversa servindo-se dos petiscos e das bebidas oferecidas pelos garçons, contei os segundos até a oportunidade perfeita para conversar com o piloto.

Estava sentada em uma cadeira, fingindo prestar atenção em uma conversa entre mamãe e uma mulher loira muito linda que trabalhava na Red Bull, quando o vi passar pelas grandes portas que davam acesso a uma das inúmeras sacadas daquele andar. Esperei mais um pouco, não podia ir até a sacada logo atrás dele, então pedi licença e fui abrindo caminho por entre as pessoas. 

— Não deixem ninguém passar por essa porta. — disse aos guardas que faziam a segurança da área, um de cada lado. 

Eles prontamente assentiram e abriram espaço para mim. E Lando estava debruçado no parapeito, a cabeça escondida nas mãos. Quando percebeu que não estava mais sozinho, endireitou a postura e virou-se para a direção da porta, onde eu estava parada. Meu coração pulsava na garganta e o calor em meu corpo só crescia. O tecido do vestido que estava usando não era pesado nem grosso, mas em vista da situação em que me encontrava e do nervoso que se arrastava por cada veia existente em mim, era como se eu estivesse usando quinze vestidos de lã. A echarpe presa em meus braços também começava a incomodar.

— Vossa Alteza. — a voz de Lando voou até meus ouvidos, mas não no tom brincalhão e sarcástico que sempre a acompanhava. Fui chamada de Vossa Alteza com tanta seriedade que meu coração encolheu-se no peito.

Sem muitas delongas, ele curvou o corpo um pouco para a frente, da mesma forma que fizera quando nos cumprimentamos pela primeira vez na noite, e abaixou o olhar. Fiquei despedaçada com o tratamento frio, mas ciente de que Lando não tinha culpa. Nem mesmo eu tinha culpa. Portanto, respirei bem fundo para controlar a vontade de chorar e caminhei até ele em passadas firmes. Parei em sua frente e não disse absolutamente nenhuma palavra antes de enlaçar sua cintura com meus braços. Com a cabeça encostada em seu peito, escutei seu coração bater. Estava tão acelerado quanto o meu.

— O que você está fazendo? — perguntou, tentando me afastar.

— Não adianta tentar, Lando, eu não vou soltar você. — informei, equilibrando minha voz entre o desespero e a felicidade. — Não mais. 

— Ava, por fav… 

— Fique calado e me ouça. Eu já disse que posso arranjar um calabouço para te jogar dentro. — afastei minha cabeça dele apenas para olhá-lo. Da posição em que estava, só era possível ver uma parte de sua boca e seus olhos, mas para mim isso era suficiente. Passara um bom tempo imaginando como seria incrível poder olhar para aqueles olhos verdes brilhantes outra vez. — É, você soube sobre os rumores envolvendo a mim e a Coroa, todo mundo soube, na realidade, e por isso me mandou aquela mensagem. Achando que tudo tinha ido por água abaixo, que nós nos tornamos algo ainda mais impossível, mas… 

Ponderei. Um sorrisinho foi nascendo em meus lábios e tomando conta de minha expressão. Observei os olhos dele se mexendo conforme eu sorria mais e mais.

— Mas o que? — ele perguntou, parecendo não acreditar no que eu ainda não tinha dito mas com certeza estava prestes a dizer. — Não me conte um conto de fadas, Ava. 

— Não é um conto de fadas, seu idiota. — ri. Tomei um pouco de distância e suspirei. — Eu não deveria falar sobre isso, mas vou falar porque confio em você. Emma realmente tinha desistido da Coroa, ela brigou com papai por algumas razões que não vem ao caso agora e disse que não queria saber de mais nada… disso. — olhei para tudo ao nosso redor. O palácio brilhante, os guardas nos muros, os jardins, tudo. — Mas eu tinha certeza que ela voltaria atrás. Porque ao contrário de mim, Emma ama essa responsabilidade e a loucura que envolve ser ela. Levou um tempo para ela organizar os pensamentos e decidir o que iria ou não fazer da vida, e olha que esse é um luxo que nós raramente podemos ter, mas as coisas voltaram aos trilhos. Só não tornamos isso público ainda porque… bom, é preciso pensar no que vai ser dito. Mais uma crise na família não cairia bem, segundo mamãe. — apesar de estar nervosa, consegui rir mais uma vez. Eu estava louca para tirar aquele peso das minhas costas de uma vez por todas. — De qualquer forma, é isso. Não é um conto de fadas, Lando. Eu juro que não. Emma continua sendo a herdeira, a detentora da Coroa. E eu continuo sendo… a Ava. Eu ainda sou eu e nós ainda somos nós. O que eu sinto por você não mudou. Eu gosto de você, gosto tanto que fico desnorteada, meu peito arde e meu estômago fica cheio daquelas borboletas idiotas.

Deus, eu estava tão feliz. Porque aquilo significava não perder quem eu realmente era em meio a um turbilhão de regras e linhas de conduta que eu não estava acostumado a seguir. Significava não ter que lidar com a falsidade das pessoas e com os olhares arrependidos. Durante aquelas semanas percebi que preferia os comentários comparativos às bajulações desmedidas e falsas feitas por pessoas que malmente me davam atenção. 

Eu ainda tinha uma montanha de problemas para resolver, ainda precisaria lidar com meus pais e a crise no casamento, as doenças de vovó e outras pendências menos importantes, mas havia algo a menos na bagagem que eu carregava. 

— O que… — Lando estreitou os olhos. Passou a mão pelo cabelo cacheado e depois pelo rosto, os olhos arregalados e completamente vidrados em mim. — Você está brincando, não está, kitty?

— Por que eu estaria, dear little boy? 

— Ava… 

— Você sabe que eu não brinco com o coração e os sentimentos das pessoas, Lando. Estou falando sério. Nós não somos uma equação com um resultado impossível de ser obtido.

Então ele sorriu, abriu um dos sorrisos mais bonitos que eu já vi na vida. Em seguida seus olhos se encheram de lágrimas, e assim que elas caíram eu fiquei na ponta dos pés para enxugá-las. Até então eu nunca o tinha visto chorar.

— Olha, eu vou te beijar e acho bom você retribuir. — disse.

Lando mordeu o lábio inferior e ergueu as sobrancelhas de forma sugestiva. Mais uma vez me vi obrigada a ficar na ponta dos pés para alcançá-lo, mas no instante em que o fiz, ele segurou minha cintura com as duas mãos e me ergueu do chão. Meus lábios alcançaram os seus e tudo o que há em mim festejou e brilhou como estrelas cadentes no céu.

— Eu sinto muito por ter demorado a perceber que você continuar nos meus pensamentos mesmo depois de ir embora e que me vencer com seus sorrisos e a insistência em me irritar eram um sinal de que todas antes de você foram uma perda de tempo. Sinto muito por ter te deixado confusa. Sinto muito mesmo. — Lando sussurrou contra minha boca. — Eu estou apaixonado por você e que te quero para mim, inteiramente para mim, Ava.

Algo me dizia que chorar com o rosto colado ao dele era meu maior talento.

— Chorando mais uma vez, Vossa Alteza?

— Cale a boca. Você não tem o direito de falar essas coisas e esperar que eu não chore. — ri. Em segundos senti seu polegar deslizando por minha bochecha e apagar os rastros das lágrimas. — E não se preocupe por ter demorado, Lando. Em compensação, agora você vai ter que juntar os caquinhos do meu coração.

Ele deu risada e se afastou de mim. Aproveitei para analisar suas feições e seus detalhes, tocando os pequenos sinais em seu rosto como se estivesse tocando uma porcelana delicada. 

— Tudo bem, eu mereço esse trabalho. Vou compensar os meus vacilos e juntar os caquinhos do seu coração. Te farei ver que tudo o que disse não foi da boca para fora. — Lando me deu um beijo rápido e sorriu. — Mas e os seus pais? E as outras pessoas?

Bom, eu ainda não tinha pensado muito nisso. Não achava justo traçar todo um plano sozinha, ainda mais porque não sabia como as coisas entre nós iam se desenrolar quando eu lhe contasse sobre Emma.

— Vamos ter que pensar nisso, mas não agora. No entanto, o que quer que resolvamos fazer, podemos fazer assim que esclarecerem a situação sobre mim e Emma. 

— Ótimo. Não tem problema. 

Lando me abraçou, um abraço apertado que me inundou de alegria e carinho, e apoiou o queixo em minha cabeça. 

— Como eu vou me chamar? — ele perguntou. 

— Como assim? 

— Você não é Ava de Cork e Duquesa de Galway? 

Afastei-me alguns centímetros, franzindo o cenho.

— Você já está pensando nisso, dear little boy? Estou chocada, devo dizer. 

— Estou com medo de não pensar em todas as coisas que envolvem você e correr o risco de te perder outra vez, kitty.

Meu coração ricocheteou no peito.

— Não precisa se preocupar com isso. Você não vai correr o risco de me perder. — fiz uma pausa. — Mas acho que "Lando, Duque de Galway" é uma opção viável. O que acha? 

Ele abriu um sorriso ladino.

— Eu acho que caiu como uma luva.

Meus olhos arderam. Voltei a abraçá-lo, desejando ficar ali para sempre. Porque seu afago era precioso, suas palavras preencheram meu coração. Porque eu sabia que Lando se esforçaria para ser o que eu merecia e para fazer meu coração se sentir seguro e acreditar em seu amor. Não que eu não acreditasse, mas sabia que podia acreditar mais, ter ainda mais garantias. E isso me parecia ótimo.

Não seria ruim se nos apaixonassémos mais e mais um pelo outro todos os dias.

— Eu acabei esquecendo, mas obrigada por me ajudar naquela noite.

— Não agradeça, apenas não deixe de contar comigo. Farei isso um milhão de vezes se for preciso, kitty.

Sorri. Mesmo com furos e dificuldades no caminho, alguns contos de fada podem sim se tornar reais.

E eu estava começando a escrever o meu.



resolvi entrar na onda dos bad boys também, quem amou?

fizeram o lando alugar um triplex na minha cabeça e aqui estou eu, apresentando ele em sua versão quebrador de corações (mas com coração também!) a princesinha ava, eba!

meninas, não sei se o conto saiu como vocês esperavam e sei que o lando poderia ter sido mais bad boy, mas acho que meu ponto forte é escrever personagens gados hehehehe mas espero que vocês tenham gostado *emoji de coração com as mãos*

leitoras do meu corecoração, obrigada por terem lido break my heart! espero que também tenham gostado. por favor, cometem suas opiniões e deixem um votinho!

landetes, leiam as fanfics do lando que estão na nossa lista de leitura, acho que vocês vão gostar :]

beijinhos, beijinhos, beijinhos!
até mais! ♡



Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro