༆ ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝕏
O resto da semana passou tranquilamente, já estavam entrando no fim de semana e muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Leonardo continuava a manter conversas moderadamente longas com Elena, e a cada momento ele se surpreendia mais com essa garota.
— Você acredita nisso? Ela disse que ama poemas! Eu também adoro poemas, viu como somos feitos um para o outro? — Leonardo dizia para Dalila numa tarde de terça feira.
— Você é muito, mas muito dramático. — ela riu enquanto negava com a cabeça. — Você precisa parar com isso!
Após alguns dias, Leonardo e Elena começaram a lanchar juntos no refeitório e eles estavam começando uma amizade magnífica, e como ele sempre ressaltou para Dalila, uma amizade que se tornará um amor em breve.
— Eu adorei conhecer a Dalila, Léo. Você não me disse que não conhecia ela? — Gardênia olhava o filho depois do jantar onde Dalila participou na noite de quarta.
— Sim, mãe. Mas ela é novata na escola, ela foi anteontem e eu resolvi chamar ela para repassar os assuntos da prova da semana que vem.
Leonardo tentava acalmar os ânimos da mãe, que no dia em questão, entrou de repente no quarto e acabou vendo Dalila lendo um livro sobre a cama enquanto Leonardo gesticulava discursos dando voltas no quarto.
Foi um momento constrangedor naquela tarde de quarta feira, Dalila foi pega desprevenida e gelou da cabeça aos pés. Ela acabou ficando para jantar e experimentou pela primeira vez uma macarronada com almôndegas.
— Então você é nova na cidade? — Gardênia perguntou animadamente.
— Sim, sim... eu sou da cidade vizinha a...
— Luisiana, mãe. Ela veio de Luisiana. — Leonardo tentava ajudar Dalila que estava mais branca que um papel.
O jantar decorreu muito bem, sem perguntas constrangedoras. E quando a garota se acalmou, acompanhou Gardênia até a sala enquanto olhavam um álbum de fotos de Leonardo quando criança. O garoto se arrepende até hoje por não ter trancado a porta, agora que Dalila viu uma foto dele criança comendo areia, ela não para de fazer piadinhas.
— E Aí, Leozão, a areia tava boa? — ela ria descontroladamente enquanto o coitado a olhava de uma forma irritada. — Menino areia...
— DALILA!
***
Nanda, por outro lado, não tinha motivos para sorrir. Era da sua sala para a árvore Gloriosa, e nada mais. Desde do dia em que viu os casulos boiando, sua mente não cessou mais.
Ela já sentia a vista turva e estava demasiadamente magra, boa parte da sua força estava indo para a árvore, sua força vital, sua vida... mas ela sabia o que era necessário, e tinha a força suficiente para seguir em frente e pôr um fim nisso.
Na manhã de terça- feira, uma pilha de livros tanto em sua mesa quanto no chão, tornavam o ambiente caótico. Livros abertos jogados de qualquer jeito, folhas amassadas e tudo jogado ao léu. Essa bagunça refletia como estava a sua mente: um caos. De todos os livros históricos, didáticos sobre a árvore e até mesmo sobre magia, ela não pôde extrair nada que lhe ajudasse a desvendar o mistério que rondava a árvore.
— Se eu continuar assim sem progresso, eu vou morrer antes de desvendar algo... — morrer... isso fez sua mente lembrar de algo. Algo que ela já viveu, mas sua lembrança estava presa, não conseguia acessar. Fazendo um esforço, se concentrando o máximo que pôde, ela conseguiu enxergar uma pequena fadinha sardenta de cabelos castanhos.
— Nanda — a criança fungou. — Eu vou morrer se eu for para a escola — a pequena Dalila se agarrou nas pernas de Nanda.
— Você é muito dramática, criança. — Nanda afastou ela de suas pernas e a pegou no colo. — Você não irá morrer, e sim aprender mais sobre o seu povo. Você sabia que há muito tempo atrás, a árvore ficava na praça?
— Sério? e por que hoje está lá no centro? — Dalila encostou sua cabeça no ombro de Nanda.
— Porque...
Nanda não conseguia se lembrar da resposta que deu a Dalila. E porque ela não conseguia lembrar? Em sua memória atual, ela consegue ouvir os gritos de animação das crianças da escolinha, e isso a fez se mover para outra memória. Ela se via de frente para a árvore, ela iria se tornar guardiã nesse dia, Olga tinha falecido no dia anterior e já tinha feito a proclamação, e oficialmente Nanda iria se tornar guardiã; mas antes de tudo, ela foi instruída por Olga a visitar a árvore gloriosa mais uma vez. E assim ela foi. Ela se aproximou e tocou o tronco da árvore, suas raízes a enrolaram e ela se conectou novamente com a árvore e as lembranças do passado de seu mundo se fizeram presentes mais uma vez, e um grito de dor invadiu seus ouvidos, a imagem de alguém cavando um buraco perto da árvore sobreveio por cima dessa lembrança, a imagem da árvore apodrecendo aparecia aos poucos, um olho verde brilhava ao longe e uma voz grave falou ao longe: "Liliana".
Nanda despertou de seu transe, estava soando e sentiu o coração bater acelerado. Já viu esse nome em algum lugar e estava no meio desses livros, ela estava em busca da verdade, e se ela encontrasse informações sobre Liliana ela conseguiria desvendar algo. Só não entendia o porque dos olhos verdes em sua memória. Já era quarta de noite quando Nanda finalmente encontrou o livro que tanto procurava. Toda a bagunça a impossibilitou de achar com rapidez o que tanto ansiava, sem contar que ela se perdia em lembranças que vez ou outra vinham em sua mente.
— Liliana Cohen... — ela leu o nome em um dos livros de história.
Uma foto da garota humana com longos cabelos ondulados e bochechas rosadas se encontrava abaixo do seu nome. Ela sorria radiante ao lado de mais três garotas e um homem velho barbudo.
— O nome que eu escutei... mas o que ela tem a ver com o que está acontecendo? — ela perguntou enquanto rondava a sala. Mas ela não conseguia chegar a uma resposta, algo em sua mente estava lhe impedindo de realizar esse feito.
Descendo seu olhar para o relatório de um ser de olhos verdes e cabelos azulados, ela percebe que tem algo faltando ali. Analisando cada detalhe daquela folha de papel pardo, percebe que Dilan tinha falta em visitas semanais na secretaria de missões. Sem contar que ele é o único que analisa a papelada antes de entregar a ela, e está faltando relatórios sobre a árvore de duas semanas atrás.
— Ele nunca faltou às visitas semanais ou algo do tipo, o que ele deve estar fazendo? — Ela raciocina rápido, ligando todos os pontos ela chega numa conclusão que ela fica desacreditada. Os olhos verdes na sua lembrança voltam a aparecer. — Não, ele não pode estar metido nisso. De forma alguma isso não pode ser possível e...
Suas conclusões foram interrompidas pela porta sendo aberta, revelando Dilan a olhando com curiosidade.
— O que houve? — ajeitando a postura, Nanda o olha severamente.
— Nós precisamos conversar. — ele fala tomando uma postura autoritária enquanto olhava o seu relatório na mão da mulher.
— Exatamente, Dilan. E eu quero que você me responda, você tem alguma coisa a ver com isso? — ela joga a folha na mesa e fica frente a frente com ele.
Dilan apenas ri e se senta na cadeira, um completo folgado.
— Então você está suspeitando de mim? Eu, sou seu braço direito Nanda, me sinto magoado. — Soltando um riso debochado, ele se curva para frente.
— Eu não acredito nisso, você está querendo nos matar? Matar esse mundo? Você vai morrer, Dilan. O que você está fazendo é traição! — Nanda levanta o braço prestes a dar um estalo final, mas foi impedida pelo homem a sua frente, que estalou os dedos e jogando a mão com fúria para a frente, fez Nanda bater com as costas na parede e cair no chão. Sua mente girava, ainda não conseguia acreditar que foi traída por Dilan, a pessoa que cresceu com ela e que ela confiou por muitos anos.
— A única coisa que você irá fazer, Madame — ele falou de forma debochada. —, é continuar a alimentar aquela árvore com seus poderes, e deixar meu caminho livre.
— Por que você está fazendo isso? — ela tentava se levantar e Dilan segurou seu rosto violentamente. — Você não é assim.
— Eu quero vingança, de tudo e todos. Agora, hora de perder mais um pouco de magia, "Nandinha".
Fraca e tonta demais para revidar, ela apenas se deixou ser levada por Dilan. Ela estava confusa com tudo isso, enquanto era arrastada pelos corredores, ela tentava entender em que momento ela deixou isso acontecer debaixo do seu nariz. Dilan, aquele que dividiu momentos de tensões quando ela voltava derrotada de uma missão, que confortou ela nos momentos difíceis como guardiã, estava desaparecendo. Aquele não pode ser o Dilan que ela conhece, ela se recusa a acreditar.
***
A manhã ensolarada de sábado raiou de uma forma esplêndida, Leonardo estava passando essa manhã na sala com sua mãe. Estavam tomando um café reforçado e se preparando para dar um passeio no parque, como sempre faziam.
— Por que não chamamos a Dalila? — Gardênia perguntou enquanto calçava seu tênis e amarra seu cabelo em um rabo de cavalo.
— Ela precisava ajudar a mãe a arrancar ervas daninhas no quintal. Léo desconversa começando a abrir a porta para seguir caminho para fora de casa.
— Uma pena, adoraria a companhia dela. Chama ela pra jantar hoje. Gardênia falava distraidamente enquanto ajeitava seu vestido floral. Carregava uma cesta de piquenique no braço e enquanto caminhava, seus olhos castanhos debaixo do óculos olhava atentamente para a estrada.
— A senhora de fato gostou dela. — O garoto negou com a cabeça. — Certeza que você prefere mais ela do que eu, isso é tão trágico de sua parte, mãe. — Dramaticamente, ele punha a mão sobre a testa como se estivesse desfalecendo.
— Deixa de coisa Leonardo! — Ela ri abraçando o filho de lado. — Só gosto da companhia dela, você encontrou uma grande amiga, sabia?
— Uhum. Com ela eu consigo ser eu mesmo, sabe?
— Sei. — A mulher sorri. — Você vai voltar tarde hoje? — eles viraram uma esquina e já conseguia ver o parque.
— Chego em casa antes das dez da noite, mãe. Pode ficar tranquila.
— Não me acorde quando chegar, preciso estar disposta no domingo já que terei uma reunião de emergência.
— Pode deixar. — E enganchando seu braço com a da sua mãe, eles seguiam o caminho conversando sobre as mais diversas coisas.
***
— Você vai pagar caro por isso, Dilan. Você não vai se safar disso! Nanda estava sentada no chão tentando recuperar seus sentidos.
A árvore estava ficando cada vez mais enfraquecida, e sua tentativa de fortalecer não estava dando mais efeito. Precisava dar um jeito de impedir Dilan, logo todos sentiriam esse peso e seria o fim. E agora ela entendia que foi Dilan que começou a enfraquecer a árvore, e fazer com a própria Nanda se enfraquecesse para que assim fosse mais fácil de usá-la em seu plano idiota. Uma guerra se aproxima, e tudo para quê? Uma mera vingança sem sentido, ele enlouqueceu.
— Quem vai pagar caro serão esses humanos impuros, eles sentirão na pele o que passamos. Você devia nos ajudar, Nanda. — Ele a levantou e ela não resistiu, estava fraca demais para fazer qualquer coisa.
— Nunca! Você está sacrificando centenas de nós apenas para pôr em prática essa vingança tola, faz mil anos! Mil anos depois que Liliana fez o acordo com a sua prole e nos salvou! — Ela lembrou, Nanda lembrou de quem era Liliana, do que ela fez e de onde ela está. Foi como um estalo, uma brecha se abrindo, tudo fazia sentido. Mas ela precisava confirmar se ela ainda estava lá.
— Isso não passa de baboseiras! — O homem apertou com mais força o braço magro de Nanda enquanto caminhavam pelo corredor. Ela soltou um grito abafado. — Liliana salvou o pai e sua prole! Isso foi o que ela fez!
— Você está cego de ódio, isso sim! — Nanda tentava olhar nos olhos do homem mas ele sempre desviava. — Dilan, olhe para mim. — ela ordenou e com a pouca força que tinha virou o rosto dele para si. — Não é possível, Dilan, você...
— Nanda? O que está acontecendo aqui? — Dalila olhava do homem para a mulher, ligeiramente confusa.
— Dalila... — Nanda iria falar, ela quer contar para aquela menina desastrada tudo o que está acontecendo. E quem sabe ela conseguiria achar uma solução, mas ela sentia as mãos de Dilan em suas costas, e nela, alguma magia ativada. — Nada está acontecendo minha querida, apenas... estávamos olhando os casulos para ver se estava tudo bem.
— Exatamente, pode ficar tranquila. — Dilan retira as mãos das costas de Nanda, que solta um suspiro aliviada.
— E está tudo bem com os casulos? — Ela não conseguia acreditar nessa história. Ela observava a feição de Nanda, totalmente cansada e estava magra demais. Essa não era a Nanda que ela conhecia. — Nanda, você está bem?
A mulher olha para o homem e logo depois para a garota. Não podia envolver a Dalila nisso.
— Sim, está tudo bem. Só estou muito cansada, a primavera está logo ali e são muitas coisas para serem organizadas. E eu tenho uma novidade para você, Lila, você pode atuar de forma integral na sua missão caso você queira.
Dalila escutou aquilo e parte de si estava radiante por essa notícia, mas por outro lado, ela estava com um péssimo pressentimento. Era uma mescla de sensações, tanto que ela esqueceu que veio falar com Nanda sobre o que estava mudando.
— Parabéns Dalila. — Dilan a parabenizou. — Nós temos que ir agora, muitas coisas para prepararmos, não é, Nanda? — a ruiva assentiu e seguiu caminho atrás dele.
— Tome cuidado... — Ela sussurra para a Dalila antes de desaparecer no corredor. Ela sentia um grande impulso de correr na direção de Dalila e contar tudo para ela, e falar que todos estão em perigo, que ela precisa de ajuda, que o mundo precisa de ajuda e que sozinha ela não irá conseguir. Agora Nanda entende o porquê de Olga ter sido tão rígida com ela e todos, pois era a única forma de se manter intacta dessas sensações de fraqueza. Ela tentou ser assim, como Olga, tratando com indiferença e rigidez a todos, Nanda sabe que Dalila não gosta tanto assim dela por todas as vezes que foi rude e brusca com ela, mas no fundo isso a machucava. Não queria ser fraca, e tinha sede de ser a melhor como Olga foi e ser um exemplo de guardiã. Mas todo o seu orgulho a levou onde ela está, sendo levada para um covil da morte, sendo usada por alguém que confiou e agora ela não podia pedir ajuda a ninguém, teria que dar um jeito de adiar o plano de Dilan, e teria que fazer sozinha.
***
Durante todo o caminho para a casa de Leonardo, Dalila ficou pensativa em relação a tudo que aconteceu naquele largo corredor. Aquilo não era normal, tinha algo de estranho acontecendo. Algo de muito, mas muito estranho. E ela sentia isso, e precisava descobrir o que é.
Não demorou muito para chegar na casa, como já era conhecida, entrou pela porta da frente e cumprimentou Gardênia que estava tomando seu chá da tarde.
— Lilinha! Veio ajudar o Léo para a festa? — Gardênia lhe deu um abraço que foi retribuído.
— Sim, sim. Tenho medo dele inventar de ir com aquele sapatênis.— ela arrepia só de imaginar.
Entrando no quarto do garoto, o viu debruçado sobre a cama com o olhar turvo.
— Leonardo? Você tá bem? — A menina começa a balançar o menino que apenas solta um grunhido. — Pelos estalos!
— Eu não quero ir... — ele fala abafado.
— O que disse? — ela perguntou, não tinha conseguido ouvir.
— Eu não quero ir, Dalila. Estou com medo. — Se levantando, vai até a janela olhando a rua com seus olhos marejados.
— Vai começar de novo. — dando um tapa em sua testa, a menina se joga na cama esperando o monólogo que iria começar em breve.
Não é a primeira vez que isso acontece, na quinta à noite ele choramingou horrores criando várias paranóias e situações do que poderia acontecer hoje.
— E se ela me dar bolo? Ou pior, ter esquecido que eu irei buscar ela e ter ido com outra pessoa? Meu coração não irá aguentar tamanha dor. — Ele colocou a mão no coração e pondo suas costas na parede, escorregou até o chão. — E se eu não conseguir me enturmar lá? Eu nunca fui a uma festa, nem sei como agir! — Dalila, deitada com a mão apoiando o queixo, olhava aquela cena tentando controlar toda a sua paciência.
— Leonardo, você conversou com ela a semana inteira! Isso é impossível de acontecer. — Estalando os dedos, Lila floreou as mãos fazendo surgir o provador ao canto do quarto. E com outro estalo, fios agarraram o menino o levantando do chão. — Agora, vai se trocar.
— Na verdade, eu não falei com ela de fato. Eu só escutava ela falar com aquela voz aveludada enquanto eu concordava com tudo. — foi falando enquanto entrava no provador.
E Dalila tentava convencer-se que ele não era um caso perdido. Enquanto o menino se vestia, ela divagava nas lembranças de mais cedo.
Lembrando da cara que Nanda estava e do seu estado, do olhar severo de Dilan e de como a mulher, que era a própria força em pessoa, estava tão fraca. Não parecia ser ela. Logo lembrou das palavras de Marta, algo de fato estava mudando e com certeza para pior.
— Dalila...?
Os olhos da garota desfocados continuavam a planar nas lembranças de outrora. O que será que está acontecendo? Por que Nanda está agindo assim? O que está mudando? Eram as perguntas que rondavam a cabeça da menina. Sentia o coração doer, detestava se sentir assim, impotente e sem conseguir fazer nada.
— Dalila? Terra chamando Dalila! — Leonardo tentava chamar a atenção da menina que nem prestava atenção.
Seus pensamentos ainda estavam tentando destrinchar algo que ela nem sabia o que era. Leonardo parou de frente a ela, a olhou nos olhos e deu um peteleco em sua testa.
— Ai! — cobrindo a testa com as mãos, ela olha Leonardo com raiva. O garoto estava a centímetros dela, a olhando nos olhos, como se lesse toda a sua alma. E ela, puxou o nariz dele com força. — Nunca mais faça isso, Leonardo! — Ela gritou e o menino se jogou para trás começando a espirrar horrores por causa daquele puxão.
— Dalila! Eu tenho rinite, poxa! — e ele espirrava ainda mais.
— Bem feito, nunca mais bata na minha testa! — ela cruzou os braços. — Por que você fez isso?
— Eu estava te chamando, e você não respondia. — ele fungava tentando parar de espirrar. E quando se acalmou, se sentou ao pé da sua cama olhando Dalila. — Está acontecendo alguma coisa?
A menina olhou para ele e logo enterrou seu rosto em suas próprias pernas. Não sabia se seria o certo contar algo do seu mundo para um humano, que nada poderia fazer.
— Vamos, menina dos chinelos amarelos! — ele ri, mas logo parou ao ver Dalila o olhando de uma forma assustadora — O que tá rolando, Lila? — Ele agora pergunta mais sério.
— Você não entenderia... — Dalila aparentava estar bem desanimada. Não gosta de ver ninguém de seu mundo, principalmente pessoas que ela considerava muito, mal.
— Então me explique!
— Tem alguma coisa acontecendo lá, Leo, e eu não sei o que é! Lembra de quando eu te falei da Nanda? Então, ela está tão abatida! E eu não sei o que está acontecendo, e ela diz que é apenas sobre os casulos que irão nascer na primavera e...
— Casulos?
— Sim, os casulos das fadas! Eu te expliquei isso naquele seu interrogatório bobo e... eu estou preocupada. — Leonardo observava a feição desesperada de Dalila, precisava distrair ela de alguma forma.
— Você quer pintar? — ele pergunta se levantando e estendendo a mão para a garota.
— Do que você está falando? — ela o olha confusa
— Você está muito perturbada e precisa espairecer a cabeça, Lila. E talvez você se distraindo, pode lhe dar uma ideia de como descobrir esse mistério depois. — ele fala calmamente.
— Mas eu não sei pintar. — ela segura a mão dele se levantando, e juntos vão até o cavalete com o quadro em branco que está perto do guarda-roupa.
— Pode ficar tranquila, eu te ajudo. — ele pega a caixa com tintas e entrega um pincel para a Dalila, que o segura meio que sem saber como fazer isso. — Agora, você mergulha na tinta... — ele ditava enquanto segurava a mão da garota e a ajudava a molhar o pincel na tinta. — E depois, traça uma linha qualquer no quadro.
Dalila observava Leonardo segurando sua mão e a guiando até o quadro, fazendo uma linha verde na vertical surgir.
— Viu como é fácil? — Leonardo soltou a mão da garota devagar, e ela nada falou. Apenas olhava aquela linha verde, e sentia a sua mão formigar. Digamos que ela estava processando aquele choque que estava percorrendo seu corpo.
— Concordo com você, meu caro. — ela falou depois de retomar a consciência. Molhou o pincel novamente e começou a pintar uma floresta bem bonita. Com uma grama, árvores de palito, uma casinha e um sol raiando no canto.
Leonardo olhava Dalila, prestando atenção em cada movimento e admirando toda a concentração dela, e ria quando ela parava e analisava a pintura e dizia: "está faltando alguma coisa." E então voltava a pintar.
— Terminei! — exclamou a menina cheia de tinta nos braços. Ela olhava sua obra de arte com muito orgulho.
Leonardo por outro lado, estava se segurando para não rir daquele desenho que mais parecia ter sido feito por uma criança do primário.
— Ficou muito bom, Lila. — ele mentiu se aproximando dela, sem antes melar seus dedos na tinta amarela. — Só está faltando uma coisa...
E ele suja o nariz da menina, e ela o olha sem entender o que tinha acontecido. Ao perceber seu nariz melado de tinta, ela cerra os olhos e passa o pincel sujo de tinta verde no rosto do menino.
E depois disso, uma guerra de cores começou. Eles correram pelo quarto fugindo um do outro para não serem melados, pareciam duas crianças brincando.
Em uma dessas corridas, quando Leonardo foi jogar o pote de tinta na cabeça de Dalila, ele escorregou em uma pocinha de tinta que tinha no caminho, assim, derrubando Dalila e ele no chão. E a tinta em suas mãos? Bom, caiu no cabelo de ambos.
— Eu não acredito... — Dalila que caiu do lado do menino e eles se encararam, e estavam deploráveis. Por um momento, a raiva que crescia na menina por ter tido seu cabelo sujado, se transformou num frenesi de risadas.
Ambos começaram a gargalhar como nunca. Olhando para a situação que estavam, só sabiam rir. Eles se divertiram bastante naquela tarde, em uma semana eles souberam se dar muito bem e esqueceram toda a discussão desastrosa que tiveram no começo da semana. Leonardo quando se acalmou das risadas, observou Dalila recobrando o ar e limpando uma lágrima que descia de tanto que riu.
E começou a se perguntar o que aconteceria quando tudo isso acabasse e ela precisasse ir embora, sentiria falta dessa garota doida que o fez perder as estribeiras.
— Dalila, quando eu não precisar mais da sua ajuda, você vai embora, não é? — ele perguntou tirando o olhar da menina e olhando para o teto.
Ela o olhou de relance e, em seguida, divagou seus olhos para o teto.
— Sim, eu terei que ir. — o semblante dela pareceu se entristecer. Parando para pensar, em menos de um mês ela não vai mais precisar ouvir as lamúrias dramáticas de Leonardo, e de uma certa forma, ela vai sentir falta disso.
Os dois suspiraram ao mesmo tempo. Apesar de todas as brigas e provocações, vai fazer falta quando tudo chegar ao fim.
— Mas não vamos pensar nisso, vamos aproveitar e te limpar, você vai para uma festa daqui a uma hora! — Dalila se levanta e observa a situação do quarto.
O chão estava com algumas mini pocinhas de tinta, a roupa e o cabelo de ambos estavam completamente sujos de tinta.
— E eu estraguei a minha roupa. — Leonardo cobre o rosto com as mãos e se levanta.
— Ainda bem que você tem uma fada ao seu favor. — Ela fala convencida, descobrindo o rosto do garoto.
Estalando os dedos, ela floreia as mãos e lindos fios amarelados saem de suas mãos, rodeando as poças de tinta fazendo com que desaparecessem.
Rodando as mãos uma na outra, uma pequena bola luminosa surge e aumenta de tamanho, engolindo Leonardo, que rodopiou feito uma roda dentro da bola.
E com outro estalo, Dalila faz Léo sair de dentro do casulo luminoso novinho em folha.
— Prontinho, agora você e o seu quarto estão bem aceitáveis. — ela fala enquanto fios amarelos a rodeiam, tirando toda a tinta de seu corpo.
— Nunca mais... me faça entrar nessa bola.
O que acharam do cap de hoje? Foi algo mais relex... kakak
Desculpem qualquer erro, cap 100% betado! Mas o wattpad acaba não salvando as alterações!!!
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