༆ ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝕍𝕀𝕀
Dalila caminhava pela floresta levemente aborrecida. O sol do meio dia esquentava a sua pele como um bolinho no forno, mas estava tão revoltada que nem ligava para isso.
E por mais que estivesse irritada, a menina sentia arrependimento por ter proferido aquelas frases desastrosas para o garoto. Ela não tinha direito de tocar em sua ferida, e a coitada não podia voltar para o subsolo, iriam rir dela e nunca mais conseguiria outra missão.
Isso de fato é ultrajante!
Mas ela não podia fazer nada, a não ser se deitar naquele chão coberto de folhas secas e se colocar para pensar numa solução.
— E se eu voltar com um prato de bolinhos? todo mundo gosta de bolinhos... talvez assim ele me desculpasse... — Por um tempo ela achou essa ideia fantástica, e estava prestes a invocar um prato de deliciosos bolinhos de mel e castanha mas desistiu no meio do caminho. Caiu por si que um pratinho de guloseima não poderia apagar por completo seu erro. — Acho que tenho que pensar em algo melhor. — Soltando um suspiro, ela fechou os olhos e começou a pensar em outra solução.
***
Leonardo continuava em seu quarto, deitado em sua cama olhando o teto. Nem sequer fez esforço para arrumar a bagunça que a garota louca fez em seu quarto. Ele apenas estava tentando entender o que acabara de acontecer e reviveu com o coração apertado, o momento em que estragou tudo com Elena Arcanjo.
— Sinceramente! Aquela garota idiota tem razão afinal, eu nunca conseguirei alguém dessa forma. Estraguei tudo com a garota que eu sou totalmente apaixonado, com que cara eu vou olhar para ela amanhã? — Se questionando sobre diversas coisas, Leonardo começou a arrumar seus quadros de volta na caixa e os guardou em seu devido lugar.
Se sentindo melancólicamente inspirado, pegou seus pincéis e começou a pintar tudo o que seu coração emanava naquele quadro branco sobre o cavalete. Vários esboços abstratos brotavam em cada canto, nas cores mais tristes e frias possíveis.
Árvores definhando, lágrimas insinuando uma queda d'água em meio a uma floresta de desespero! Sim, o pobre garoto ruivo sentia demais e era demasiadamente dramático. Parecia que de fato acabara de terminar um relacionamento de décadas, mas apenas estragou tudo com a menina que ama e não soube aceitar a verdade que a Dalila expôs. Deveras trágico.
"Cara, não acredito que você estragou tudo com a Elena." Foi a mensagem que o garoto aspirante a pintor recebeu em seu celular, minutos antes de terminar sua nova obra prima, a qual deu o nome de vale da amargura.
Um simples texto enviado pelo seu amigo Caio, fez tudo o que ele estava tentando esquecer voltar à tona.
"Não me lembre disso, seu idiota!" Foi o que ele respondeu, e após isso, lançou seu celular para cima da cama.
Estava se direcionando para fora do cômodo quando o aparelho vibra e o nome Caio aparece no visor.
"Quem liga para alguém hoje em dia?" Foi seu pensamento enquanto atendia a ligação.
— O que é? — Ele pergunta totalmente desanimado.
"Que mau humor todo é esse meu nobre, a culpa não é minha se você estragou tudo com a..."
— Se você me ligou para encher meu saco, Caio, eu juro que amanhã eu te jogo do segundo andar!
"Calma, calma, não precisa agitar os ânimos." Sua voz saia levemente trêmula, aquela ideia de fato não parecia muito apetitosa. "Eu estou apenas brincando, relaxa garoto. Olha, me conta direito o que aconteceu."
— Não me faça reviver tudo de novo e... como você soube?
"A Vanessa me falou, esqueceu que as duas são amigas?"
Sim, ele esqueceu.
"Quero ouvir o seu lado agora, por que você agiu daquela forma?"
Suspirando de uma forma cansada, Leonardo tenta explicar que não prestou atenção da forma que agiu com a Elena. Estava nervoso demais para isso.
— Caio do céu, eu realmente não sei o motivo! Não queria fazer ela se sentir estranha, eu também não sei o porquê de ter agido assim, acho que quando estou ao lado dela...
"...Você não consegue ficar calmo." O amigo completa a frase enquanto solta um riso nasal. "Cara, você tá ferrado."
— Obrigado. — Léo agradeceu ironicamente. — Eu nunca mais vou conseguir olhar na cara dela de novo, o que eu vou fazer, Caio? Não vou para a escola amanhã, na verdade, nunca mais voltarei!
"Deixa de ser dramático, seu besta! Eu em, parece que você terminou com ela."
— Nunca terei a chance de terminar com ela, afinal, nem começar eu vou. Não que se um dia eu começar a namorar aquela doce garota que eu irei terminar com ela, a não ser que algo muito, mas muito mais trágico aconteça. E isso é bem impossível.
"Ok... terminou? Olha, Leonardo, eu como um bom amigo que sou, irei te ajudar a conquistar a sua gatinha."
— Gatinha? Caio, isso é tão "hétero top" meu filho.
"Vai querer a minha ajuda ou não?"
— Sim... — Leonardo concorda por fim, revirando os olhos.
"Então, preste atenção nesse plano infalível."
E eles passaram as próximas duas horas tendo uma conversa extensa sobre puxar e dar a cordinha, além de várias artimanhas supostamente "infalíveis" para conquistar as "gatinhas".
E no final da ligação, Leonardo tinha duas folhas com diversas anotações sobre várias coisas que Caio tinha lhe ensinado.
Dicas
1° Use perfume barato, as garotas piram nisso.
2° Use o jogo de puxar e dar a cordinha, isso sempre funciona.
3° Use roupas largas, dá um ar mais descolado e atraente.
[...]
Dentre outras dicas surreais, como falar com a voz grogue ou rouca, dar atenção e depois fingir que nada acontece.
Leonardo olhava para aquelas dicas e nenhuma o agradava, acho que seu senso romântico não aprovava aquilo.
— Talvez se aquela menina estivesse aqui... talvez, só talvez, ela me desse dicas melhores. Não, não! Ela é louca, uma completa maluca que acha que é uma fada. — Ele espanta esse pensamento, digamos que todo o ocorrido o deixou com muitos pés atrás em relação aquela garota.
E sem querer admitir que de fato ela fosse mais útil que as dicas do pegador Caio Fonseca, ele se contentou com elas e se pôs a praticar diálogos que teria futuramente com Elena, pelo menos uma dica útil que o seu amigo lhe deu.
***
Dalila finalmente tinha decidido o que iria fazer, e já estava a caminho de executar seu mais novo plano. Entrando com cautela no vale subterrâneo e tomando todo o cuidado para não ser vista. Seu Cláudio não estava em sua cadeira de balanço, um obstáculo a menos.
Passou por entre os arbustos da colina, se esgueirou pelos postes finos na ruela e estalou os dedos para que nascesse um bigode em seu rosto para que não fosse reconhecida.
Estava tudo correndo bem, ninguém a tinha reconhecido e pelos estalos - como diria Dalila -, ela não estragou o plano ainda.
Faltava um pequeno percurso entre o centro do vale e a colina de Pinheiros, que era onde a solução de seus problemas estava. E não demorou muito a chegar numa colina com ruazinhas íngremes decoradas com pinheiros coloridos e várias casas robustas.
Batendo na porta da casa de seu alvo, logo foi atendida por ele.
— Menina goiaba, o que faz aqui? E o que... é isso na sua cara? — Felipe a olhava tentando segurar o riso e dando espaço para ela entrar.
— Eu preciso de ajuda, Lipe. — ela estala os dedos fazendo o bigode desaparecer e se sentando na poltrona da sala.
O lugar era bem aconchegante, com uma lareira crepitando levemente, poltronas confortáveis e nas paredes de madeira de pinho, estavam quadros dele e Dalila, e também de certificados honrosos.
— O que você fez? — Felipe voltava agora da cozinha com dois copos de chá mate e entregando um a ela. Já sabia que provavelmente tinha feito algo terrível, ele é realista.
— O garoto ao qual eu devia estar ajudando não quer a minha ajuda! — Ela gesticula com umas das mãos, sua feição mostrando desespero. — Eu acabei mexendo nas coisas dele, mas foi sem querer! E não me olhe com essa cara de "Você ficou louca?", não tem graça e não ria. — Ela o encara fechando a cara, Felipe estava se segurando para não explodir em risos. — Então ele chegou antes de eu guardar tudo e me esconder, e ele ficou irritado quando viu tudo. E ficou assustado quando me ouviu falar pelo quadro ao qual me escondi e ele me chamou de bruxa! De bruxa Felipe, você tem noção? EU JÁ FALEI PARA VOCÊ NÃO RIR, GAROTO!
Dalila falava tudo exasperada, balançando as pernas em um tique nervoso enquanto segurava o copo de chá.
Felipe que estava sentado no chão com as pernas dobradas, apenas tentava segurar o riso. Sabia que ela tinha muito mais a dizer.
— E ele não acreditou em mim e não quer minha ajuda! — continuou falando enquanto olhava suplicante para o seu amigo. — Me ajude, Lipe, como vou reverter esse problema? Sou um fracasso, não tem nem 24h que estou lá fora e já quebrei uma janela de uma idosa e humilhei o garoto chamando ele de solitário e o ameaçando!
— Você quebrou uma janela? — Felipe a olhava incrédulo. — De uma senhora? Dalila, como você é inconsequente! — Foi a vez dele falar exasperado.
— Você escutou o que eu disse? O meu "cliente" não quer que eu o ajude, como irei completar a minha missão?
— O ponto aqui é que você quebrou uma janela de um humano!
— Eu não fiz porque eu quis!
— Mas fez porque não sabe se controlar! Estava mais em um ataque de fúria, não é? — Dalila não precisou responder, Felipe tomou mais um gole do chá e suspirou pesado, a olhando com severidade.
— Não me olhe assim, sabe que eu odeio! Parece a Nanda, aquela velha ridícula! Por causa dela e sua regra boba de não aparecer para humanos que eu estou nessa situação!
Nesse momento Felipe não se aguentou e se pôs a rir, toda aquela tensão no ar se dissipou, e lá estava uma Dalila confusa e um Felipe rindo feito um louco.
— Eu não acredito que você realmente seguiu essa regra boba da Nanda, ninguém nunca seguiu essa regra, Dalila. — Foi o que ele falou enquanto controlava sua risada.
— Então por que você não me falou isso antes? — a garota o olhava sentindo seu sangue ferver.
— Achei que não precisava, pensei que seu temperamento previsível iria lhe fazer quebrar essa regra na hora. Mas vejo que me enganei.
— Ora seu... — Dalila joga o copo de chá intocado na direção do garoto, ao qual com um estalo parou o copo e o líquido no ar, os pondo intacto no chão.
— Se acalme, menina goiaba.
Dalila nem ligou para o apelido bobo, se sentia mal demais para ligar para aquilo. Estava cansada de sempre fazer algo de errado, era desastrada demais e impulsiva demais.
Sua feição antes irritada, agora foi substituída por uma triste.
— Ei, Lila, não fique assim. É a primeira vez que você pega uma missão, é normal cometer erros. — Ele falava ajoelhado em sua frente, com uma das mãos no ombro dela e a olhando nos olhos.
— Você vai conseguir, goiabinha. — Ele deu um sorriso sincero, ao qual a menina retribuiu levemente.
— Você acha? — perguntou enquanto secava uma pequena lágrima que teimou a escorrer. — Não sei não, e se eu fizer algo de errado de novo?
— Acho que você aprendeu a lição.
Bagunçando os cabelos castanhos da menina entristecida, ele se levanta oferecendo sua mão para ela. Dalila aceita o gesto e a segura e enfim se levanta daquela poltrona.
— Agora, goiabinha, você precisa terminar sua missão, entende? Eu sei que você consegue. Agora, volte e mostre para aquele garoto a fada que você é e prove para si mesmo que és capaz.
Ele a olhava com sinceridade, tentando passar com esse gesto alguma segurança para aquela garota. Sua tão amada amiga.
— Muito obrigada, Lipe.
Ela o abraça bem forte, enquanto agradecia inúmeras vezes. Sentia seu coração bater acelerado novamente, abraços como esse a revigoravam. Principalmente os de seu amigo, ele sempre sabia o que dizer.
— Já vou indo, obrigada de novo. — Ela desfez o abraço e seguiu em direção a saída. — E não me chame de goiabinha de novo! — Foram suas últimas palavras após desaparecer porta a fora.
Felipe ficou encarando a porta uns segundos antes de se tocar que estava a encarar a porta, logo, seguiu para a cozinha com os copos de chá. Em seu pensamento, só se passava a situação que Dalila se metera, e esperava do fundo do coração que ela conseguisse resolver. No fundo, ainda ria da história de sua amiga; ela sempre foi assim, explosiva e intensa demais, isso poderia tanto atrapalhar ela em sua missão quanto a ajudar. De todo modo, ele torcia por ela.
Dalila seguia radiante para fora do Vale, ela sentia em seu âmago que iria conseguir completar sua missão com sucesso.
***
Enquanto todo esse caos ocorria, Nanda e Dilan continuavam na Árvore Gloriosa, e a mulher observava a situação horrorizada.
— Como isso aconteceu? Durante mil anos nada parecido ocorreu com a árvore, isso é impossível — Os olhos severos de Nanda percorriam toda a extensão do caule, tronco e folhagem verdes com frutos dourados da grande Árvore Gloriosa, aquela que dava vida para tudo e todos. Ela se encontrava dentro de uma pequena lagoa rosada que brilhava mais que uma safira, perto da raiz subindo para o caule, uma pequena mancha preta se impregnava ali.
— Eu não sei, madame. — Dilan respondeu se aproximando da árvore. — Aparentemente, ela está envenenada, ou pior, morrendo. Está ficando enfraquecida, algo ou alguém está fazendo isso com ela. — O homem conclui.
— E o que poderia ser? Ou melhor, quem? Tem algo acontecendo debaixo do meu nariz, e isso me irrita profundamente! — Nanda anda em círculos pela sala subterrânea abaixo do Centro Mágico, estava muito confusa.
Todo esse tempo, essas décadas inteiras como guardiã de seu mundo e da árvore, algo assim nunca aconteceu. Sabia que precisava fazer algo enquanto investigava a situação, e teria que ser de uma forma sigilosa. Isso causaria pânico em todos, e isso é o que ela menos queria no momento tão próspero do vale. Situações como essa requerem decisões drásticas.
— Preciso manter a árvore viva, Dilan. Enquanto eu não descubro o que está acontecendo, preciso...
— Madame, não! Não pense em fazer isso, é perigoso demais para a senhora.
Mas Nanda não ouviu, ela iria alimentar aquela árvore, devolvendo parte de seus poderes. Ela estalou os dedos, e fez floreios com as mãos. Nelas, um fio embranquecido, a cor que remete a senhorita Nanda, voou de suas mãos até o tronco sólido da árvore, ao qual foi absorvendo toda aquela magia aos poucos.
Nanda sentia seus braços formigarem, uma parte de si estava indo embora no momento, e precisava fazer isso ou todos sofreriam uma perda maior. Seu corpo formigava e sua cabeça latejava, lapsos de memórias se instalavam em sua mente, não conseguia identificar ao certo o que era, estava tudo embaçado. Querendo descobrir o que estava se passando, ela se concentrou ainda mais naquela memória, e quanto mais se concentrava mais sentia parte de sua magia ser extraída e quando estava chegando ao seu limite, ela viu por um milésimo de segundo, alguém cavando um buraco perto da Árvore Gloriosa. Ela finalmente cortou a ligação e cambaleou um pouco para o lado, mas Dilan a segurou bem a tempo.
— Me leve para a minha sala. — Ela ordenou e assim ele fez. Enquanto caminhavam em silêncio para a sua sala, Nanda repassava o que tinha acabado de ver, não era uma memória dela e sim da própria árvore, ela sabia disso. Mas o que isso significa? O que ela quer mostrar?
Nanda sabia que o que quer que fosse, ela não teria muito tempo para encontrar, precisava agir o mais rápido possível. Dilan deixou Nanda em sua sala com seus diversos livros de história sobre o mundo e com várias pastas de relatórios, ela deve ter deixado algo passar. Ele saiu dali com uma feição preocupada, mas foi pisar no corredor que esbanjou um sorriso vitorioso.
— Está saindo tudo como o planejado.
Altos babados hoje em hehe eai, vcs já desconfiavam do Dilan?
Desculpem qualquer erro ortográfico, o cap foi 100% betado mas o wattpad as vezes buga e n salva as alterações!
Até quinta feira amores 💅🏽
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