Thomas

Lily chega assim que Tyler sai com os amigos. Ela me joga contra a parede da pequena sala do meu apartamento e me beija ferozmente, meio sem jeito, mas eu acho sexy e isso me excita.

Quando percebo já estou completamente nu com ela na minha cama, os cabelos castanhos esparramados no meu peito, enquanto ela faz círculos carinhosos no meu peito.

- Às vezes eu achava que essas coisas só aconteciam com as garotas bonitas dos filmes. –Ela comenta.

- O quê? Mas você é a garota bonita do filme! E eu sou o sortudo que fica com ela. –A abraço ainda mais forte, sentindo cada pedacinho do seu corpo e daquelas curvas maravilhosas. As coxas dela ainda me deixavam louco, mesmo depois de quatro anos juntos.

- Você me entendeu, bobo! –Ela joga um travesseiro em mim e se levanta, vestindo o meu moletom preto favorito. Estávamos no começo do outono, então estava um clima agradável.

- Juro que não entendi. Mas ok. –Digo me levantando também. –Como está o trabalho? –Pergunto, sem ser muito direto onde quero chegar, mas ela sabe. Espero que não desvie do assunto.

- Ah, está bom. Eu gosto de lá. Estou lendo mais do que nunca por influência. –Ela ri, enquanto segue para a cozinha. –Estou morta de fome.

- Não pensa em, sei lá, se apresentar comigo de novo? -Eu a sigo até a cozinha, enquanto ela toma um iogurte. - Tem coisa nova vindo ai. O Fruta me arrumou um show. Acho que vai ser num luau, ou sei lá.

Fruta. Como descrever esse cara? Ele tinha tudo para ser o típico valentão do meu ensino médio com a Lilian, mas acabou se descobrindo um cara muito legal. Claro que ninguém é perfeito. Catarina, que é amiga minha e de Lilian, nos apresentou a ele e desconstrói muitas ideias arcaicas dele, junto com a namorada, Lara. Acho que por pressão dela que ele pediu Bruna em namoro, uma ficante séria dele desde o ensino médio. Catarina era bem convincente, para dizer o mínimo. Advogada ela, fazendo jus a profissão.

Enfim, acabou que nos aproximamos ainda mais, porque desde a primeira resenha que eu fui dele, onde eu dei meu inesquecível primeiro beijo com a Lilian e ela arrasou cantando e eu tocando uma música, ele nos prometeu vários shows. E o cara sabia como dar uma boa festa, então se formou em Eventos e parece que está se dando bem. É claro que ele tem vários privilégios, mas ele faz um bom trabalho e gosta.

- Não sei, Thomas. Eu ainda não me sinto segura para subir num palco de novo. Eu sei que eu deveria saber que ia ser assim, que ninguém começa lá no topo, mas eu me senti tão mal com toda aquela indiferença, que parecia que eu estava mais incomodando do que entretendo.

O primeiro show da Lily. Fora no final do ano passado, em meados de outubro. Finalmente havia a convencido a cantar comigo no Underground Bar, que eu toco quase periodicamente. Era um bar com uma vibe bem rock, então eles aprovavam nossa set list fácil. Mas ainda assim, era um bar. Não um show. A música estava como plano de fundo, mas Lilian ainda não entendia isso. Ou entendia e não havia sentido. Acontece que eu já sabia, porque uma parte da infância, antes da minha mãe morrer, ela era professora de Música, me ensinou a tocar piano e eu me lembrava das poucas lições desse ramo que ela ainda sussurrava para mim quando criança.

Lily não. Ela simplesmente achou sua paixão e entrou de cabeça nela, um pouco tardia. Mas pelo menos achou. Porém a realidade também veio, e como veio tardia, chegou como um choque.

- Você não tem culpa de se sentir assim, viu? –Eu a abraço e ela retribui, enquanto faz carinho nas minhas costas, me provocando arrepios gostosos. – A questão é que você não pode deixar isso te parar, Lily. Estamos no último ano da faculdade de Música. E por mais que ganhemos migalhas com esses shows, já é algo.

- Eu sei, só preciso de um tempo mais, ok? Tenho escrito algumas músicas. Toda essa leitura que tenho faito, tem me inspirado, sei lá.

- E o que vai fazer com essas músicas? Quando vai me mostrar? –Pergunto animado. Pelo menos ela estava fazendo algo. –Podemos produzir juntos e postar no YouTube! Já passou da hora de nós criarmos um canal, não acha?

- Ah, não sei, Tom...

- Não faz isso, Lily.

- Fazer o que?

- Dizer que não sabe, não acha, não tem certeza. Deixa a insegurança de lado. Vamos arriscar um pouco! Pensa comigo: você não se sente preparada ainda para se apresentar em público. Ok. Respeito isso. Então se apresente para um público que quer te ver, certo? O YouTube! Afinal, quem quiser vai ver seus vídeos, vai clicar, curtir ou sei lá. Quem assistir, vai estar lá porque curte, não acha?

Ela abre a boca para falar algo, mas eu a impeço.

- Quer saber, -Digo e vou correndo até o quarto e pego o notebook. – Vamos fazer isso agora.

- Thomas, calma. Mas e se, sei lá, tiver uma chuva de comentários negativos, ou haters? A gente sabe como a internet pode ser um lugar tóxico.

- Amor, você sabe que quando você tem haters é porque o sucesso está grande, então são sempre um bom sinal.

- Não tenho certeza disso... Mas vou confiar em você. -Ela diz, se dando por vencida.

- Isso ai! E além do mais, a internet também pode ser um lugar maravilhoso, poxa. Tudo é questão de equilíbrio.

Então, ela se senta ao meu lado no sofá, me dá um beijo e começamos a trabalhar.

- Como vamos chamar? É difícil para caramba ter um nome legal com tantos canais já existentes... –Lily desabafa.

Penso por um instante.

- Quais são seus gêneros musicais favoritos?

- Você não está me perguntando isso.

- Eu sei. Foi uma pergunta retórica. Te amo.

Dou um selinho nela e coloco o nome. Disponível.

Passamos a tarde toda trabalhando no nosso canal. Editando fotos para o ícone e banner. Eu estava animado, finalmente ia fazer algo que eu amo com a garota que eu amo. Tipo, eu gostava de tocar, cantar e tudo mais, mas amava ainda mais produzir. Não sei. Juntar tudo até formar uma canção inteira capaz de transformar uma vida era algo simplesmente mágico.

E assim se deu, o começo do IndiePopTV.