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Capítulo 54


Mãe,

Eu te amo muito. Mesmo não lembrando de você.

Tenho alguns vislumbres, é claro. Como quando você me ajudava a vestir alguma roupa, ou me dava algum doce. Ainda é borrado demais.

Porém sei como você era, muito bonita, aliás, pois guardo todas as fotos antigas suas e as fico olhando por horas a fio imaginando você. Parecia uma estrela de TV. Seu corpo era esguio e delineado, e acho que daí que eu e Tom puxamos nossa magreza. Seus cabelos e olhos eram negros como uma ônix, sua pele tinha um bronze que só uma californiana latina poderia ter. E o vestido que você usou no seu casamento, nossa, era de matar. Vovó me contou que você não quis usar branco, sempre foi rebelde. Usou um vestido longo vermelho, e uma rosa no cabelo. Talvez eu homenagem ao seu nome: Rosa. Mais bela que a flor. Marcelo Túlio nunca mereceu você. Era linda demais, doce demais, bondosa demais, paciente demais, inteligente demais.

Sei disso tudo porque Tom me conta as histórias. Ele é o melhor irmão do mundo, e tenho certeza que seria seu filho favorito. Eu não iria nem me sentir enciumado, juro. Tenho uma sorte do tamanho do mundo por ter ele. Garoto de ouro.

Ele ama música, como você. Nunca esqueceu das aulas de piano e violão que você deu. O inglês dele também é invejável, porque teve você como professora. E que professora você deve ter sido...

Talvez se eu tivesse você aqui eu teria sido um aluno mais exemplar, minhas notas seriam melhores, e talvez meu temperamento seria mais contido melhorando minha disciplina. Mas isso não é desculpa, eu sei. É só que é inevitável pensar em como as coisas seriam caso você ainda estivesse aqui. Porque você faz muita falta. Tenho saudades de coisas que nunca pude viver com você, mãe.

E isso não é um fardo seu, ou meu. Você precisava ir, eu entendo. Seu brilho era demais para esse mundo. E você já havia sofrido muitíssimo com o câncer e com seu marido.

Entendo que estava se perdendo. E que a felicidade para você estava além desse mundo. E tá tudo bem. Nunca duvidei do amor que você tinha por mim. Sempre senti. Eu ainda sinto.

Te amo para sempre. Saudades.

Com todo o meu amor, Tyler.

***

Pai,

Eu ainda posso te chamar por esse nome? Sendo que a única coisa que carrego sua são seus genes?

Mas assim te chamo, porque Marcelo Túlio é um nome grande demais.

Você sempre foi grande demais. Com ombros largos e uma altura que eu e Tom nunca tivemos. Só a sua palidez que é nossa. E o sangue.

E tem muito sangue em suas mãos, principalmente do Thomas.

Ele nunca precisou passar por isso, mas você fazia questão. E até hoje não entendo, nunca vou entender.

Éramos algum tipo de gatilho para você?

Você por acaso nos olhava e lembrava da mamãe? E aí via uma desculpa para destilar toda a sua fúria na gente?

Não entendo mesmo. Queria entender. Queria poder te ajudar. Mas já aceitei que você está além da minha ajuda.

Só queria que você pudesse sentir o que eu senti naquele Natal.

Eu era a porra de uma criança, com 10 anos, sendo criado pelo meu irmão de 17, e eu nem sabia! Era tudo encoberto pelos seus momentos bons, em que você conseguia ser um pai presente. Parecia até que se esforçava. Tentava manter um equilíbrio entre beber, ser agressivo, ardiloso e ficar sóbrio, fazer uma refeição em família e brincar comigo.

Era impossível saber aos meus 10 anos que você era mau.

Só quando eu finalmente tive coragem de abrir meu coração para você, naquele Natal, que você estava tão bem com a gente por um período de tempo. Lembro que você começara a sair com aquela moça do seu trabalho, e por isso andava de tão bom humor.

Então tomei coragem.

Nem sabia o que era ser gay naquela época. Para mim sempre fora normal dois caras se beijando, ou duas mulheres. Parecia algo normal, como um homem e uma mulher juntos.

De modo que, quando eu abri o bico para falar que estava gostando do meu melhor amigo aos 10 anos na ceia de natal, eu esperava no máximo um tapinha nas costas e uma risada.

Não foi isso que eu recebi.

Foi mais que um tapinha. Foi uma estapeada no meu rosto que me tirou da cadeira e me jogou no chão. Você não era só enorme quando foi até mim, pronto para me tirar de onde havia me jogado. Você era gigante. E eu nunca estive tão confuso. Por que você estava bravo comigo?

Lembro de Thomas levantando da cadeira, se posicionando entre eu e você. Lembro dele te socando e você mal sentindo. Lembro de você batendo nele, várias e várias vezes. Lembro dos meus gritos pedindo para aquilo parar.

É outra memória que é um borrão. E por essa eu agradeço. Já me recordo de coisas horrendas demais.

Por algum motivo, depois de tanto espancar meu irmão, você saiu da sala. Thomas desabou no chão, mas não ficou lá. Ele se arrastou até mim, e me pegou no colo.

"Temos que sair daqui, tá bom? Sem fazer barulho."

O medo em seu olhar era tangível. E isso me fez chorar muito, mas consegui esconder meus soluços. Vendo meu irmão, meu herói, desamparado daquele jeito, me fez colocar os pés no chão, ainda que criança e muito assustado.

Andamos até nossos quartos, jogamos pilhas de roupas em uma mala. Thomas pegou seu violão e o enlaçou nas costas.

Com um mão na mala, e outra mão segurada a minha, ele me arrastou até o ponto de ônibus mais próximo.

E depois disso, só lembro de acordar na casa de Lily, no dia seguinte.

Ah, Lilian. Essa garota foi luz na vida de Thomas. E na minha. O que a família dela fez por a gente é algo que nunca conseguiremos pagar. E eles não exigiriam isso. Nos acolheram, como família, sem hesitar.

Algo que você nunca será capaz de fazer, porque há ódio e preconceito demais em seu coração, pai.

Mesmo depois disso tudo, de todas as atrocidades que você fez, eu consegui te perdoar, mais de uma vez. Estava sempre disposto a tentar te compreender melhor. Fui até aquela maldita cadeia com o coração aberto. E vejo uma versão ainda pior de você.

Essa é a questão. Não é que eu cansei de te perdoar, pai. É que você não merece meu perdão. Você não precisa do meu perdão. Ele não faz diferença para você. Você continua errando, e minhas desculpas só serviram para encobrir suas merdas.

Existe uma única pessoa a ser perdoada nessa história, Marcelo Túlio. E sou eu.

Eu me perdoo por todo o ódio que já senti por você. Me perdoo por toda toxicidade que já deixei entrar em mim por você. Me perdoo por todo o seu veneno destilado na nossa família. Eu, enfim, me perdoo. Porque não é culpa minha nenhuma dessas coisas. Esse fardo é todo seu.

Tyler.

***

As duas folhas de papel pesam em minhas mãos.

Estou sentado no consultório da minha psiquiatra. Ela encara as cartas.

- Fico feliz em saber que você escreveu, Tyler.

Não sei muito bem o que dizer, me sinto vazio, então apenas assinto.

Receoso, estendo os papéis para ela.

- Posso ler? –Ela pergunta.

- Pode.

Prendo a respiração nos minutos em que os olhos dela correm pelas páginas.

Quando acaba, ela coloca as cartas sobre a mesa.

- Gostaria de ficar com elas?

- E-eu n-não sei...O que achou?

Dr. Lúcia sorri para mim.

- Estou muito orgulhosa, Tyler. Você escreve muito bem. Daria um ótimo escritor.

E todo o peso que aquelas palavras carregam vão embora.

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