Capítulo 44
Chegando no apartamento, Rafa vai tomar um banho e eu ligo para Thomas.
-Alô? –Ouço a voz do meu irmão abafada, com barulho no fundo.
- Ei, Tom! Só liguei para avisar que cheguei agora da rua, estou bem. -Ele parece mais tranquilo e relaxado, já que estou vivo no terceiro dia.
-Tô impressionado. Eu e Lily não saíamos tanto assim, nem quando éramos universitários. Haja força!
- Vocês dois são nerds. Por isso.
Meu irmão ri e logo muda de assunto, dizendo o quanto os dois últimos shows que ele fez com a banda foi incrível. Diz estar considerando seriamente em uma vaga fixa no grupo The Alkanes. Afinal, não era a primeira vez que o chamavam para tocar.
Fico feliz em ver meu irmão animado com a carreira. Era bom para ele. Como se as coisas começassem a dar certo gradativamente.
Só achei estranho ele não mencionar Lily, geralmente ele fala bastante dela. Mas não penso muito sobre isso.
- Você já jantou?
Eu travo.
Não tem comida pronta. Eu e Rafa comemos todo o strogonoff do primeiro dia.
- Eu vou fazer alguma coisa agora com o Rafa...
Ouço a gargalhada dele pelo telefone.
- Boa sorte.
Me despeço dele e desligo.
Eu que cozinhe.
***
No fim das contas, Rafael desembolou um macarrão bolonhesa muito gostoso que fiquei surpreso de ter dado certo.
O meu único trabalho foi descongelar a carne no micro-ondas e picar alho. Mamão com açúcar.
- A louça é sua.
- Tá bom. –Comento mau-humorado, comendo aquela preciosa massa. –Quando você aprendeu a cozinhar?
Ele dá de ombros.
- Minha mãe fica meio período no emprego dela, e passa a maior parte do tempo com a minha tia. Tive que me virar alguns dias, e na internet tem tudo. É bem simples algumas coisas na verdade, é só querer fazer.
Faço uma careta. O que eu menos tinha era vontade de cozinhar, mas eu gostava de comer.
Porém com Thomas passando cada vez menos tempo em casa eu tinha que começar a dar o meu jeito.
- Preciso aprender depois.
- Eu te ensino. –Ele me lança aquele olhar, enquanto leva uma garfada de macarrão a boca, que faz meu estômago revirar. Bebo um gole de água, mas engasgo e ele ri.
Patético.
***
Na hora de dormir fico na expectativa de ouvi-lo me chamar, mais uma vez para o quarto. Mas hoje não. Eu lavo a louça, tomo um banho, e assim que saio, a porta está fechada.
Não tento abri-la.
Dou o espaço que ele merece, porque acho que assim como eu, ele não sabe muito bem o que está acontecendo, ou o que estamos fazendo.
Não nego, fui dormir magoado, porém o dia foi exaustivo, andamos o dobro que os dois anteriores, os meus pés queimavam, e meu corpo clamava por uma noite de sono decente com o ventilador em cima de mim.
Assim que encosto a cabeça no travesseiro, apesar do peito um pouco apertado e as mil perguntas na cabeça, eu apago.
***
Acordo cedo, pela primeira vez nesses quatro dias de feriado, e bem disposto.
Finalmente uma noite de sono decente.
Era 8h30, e estava nublado porque havia chovido ontem. Estava com um clima gostoso que deu até para usar meu moletom. Estou tão bem-humorado com o novo clima que vou fazer meu leite com Toddy quente.
Estou cantarolando pela cozinha, quando me viro e tomo um susto com a presença de Rafael.
- Bom dia, Hannah Montana!
- Ei! O loiro aqui é você.
- Ela usa peruca!
- E você não?
Ele sorri e fingi que vai me dar soco, mas acaba me abraçando.
Não é um abraço de amigos, de bro, e de machão que ele costuma me dar.
É um abraço simples, carinhoso, e aconchegante. Quase como um porto seguro.
- Dormiu bem? –Ele sussurra perto do meu ouvido. Sinto seus lábios roçarem minha bochecha.
- Sim e você? –Me viro para ele, na intenção de beijá-lo. Mas nem dá tempo de tentar, porque ele se afasta e se encosta no balcão.
- Também. Estava precisando...
- É...
Suspiro.
Enquanto o micro-ondas não apita, eu pego meu celular para saber o que meu grupo de amigos está tramando para hoje,
- Ah não.
- O quê? –Rafa pergunta.
- Chul já melou o rolê.
Dou play no áudio.
"Gente, não vou sair hoje. Meus pais pediram para eu ficar em casa, e assim eu vou poder faltar quinta e sexta. Foi mal. Mas se divirtam por mim. Eu tô cansado mesmo."
Rafael revira os olhos.
- Quem vai na aula quinta e sexta? Ninguém! Não acredito que você teve que pular um dia do carnaval pra ter isso. Eu não vou nem se me pagar. –Mando o áudio em resposta.
- Você sabe que no fundo ele nem quer ir hoje, né?
- Eu sei. Mas como bom amigo tenho que demonstrar o mínimo de revolta.
- Justo.
- Akin agora também tá dizendo que está cansado e precisa voltar a treinar. Sério? –Eu murcho. –Ele tem o ano todo para treinar! Não é como se tivesse prova corporal para ele entrar na faculdade de Educação Física.
Rafael ri.
- O Akin é uma figura. Mas eu aposto que ele só tá fazendo isso, para não ter que encontrar a Annie Ray.
- O quê? Não! Você acha? Eles pareciam bem ontem.
- Ah sei lá, talvez estejam bem. Mas não significa que ele quer ver a pessoa que gosta beijando outros.
- Acho que você tá exagerando. A Anna nem ficou com tantas pessoas assim, e se o Akin tá agindo desse jeito sem ficar com ela, imagina se os dois ficam juntos.
- Mas eles vão ficar.
- Oi?
- Conversei com o Akin ontem, subindo para o bloco. Ele não falou com todas as letras, mas deu a entender que talvez aconteça algo. Não sei. Você sabe como é o Akin, ele fala por enigmas.
- Ou talvez você esteja vendo significado onde não tem.
- Que seja. Talvez seja isso mesmo. Só tô sentindo. –Rafael tira meu leite do microondas e bebe.
- Ei! Faça o seu próprio.
- Sou visita. –Ele sorri com o bigode formado pelo gole no achocolatado.
Pego a caixa de leite e o Toddy a contragosto.
- A Anna vai sair hoje. Certeza. –Comento.
- Claro. Ela é a única que sabe para onde levar a gente.
- Real.
- Ela disse que já tá vindo para cá.
- Vamos nos preparar para os xingamentos e sobre como a gente não dá o devido valor ao carnaval. Feriado sagrado.
***
Anna Raylla, fantasiada de cupido, de vermelho da cabeça aos pés e com corações no cabelo, se recusou a deixar eu e Rafael sairmos apenas com o glitter no corpo.
Ela nos obrigou a usar no mínimo um arquinho. O dele era de tigre, o meu era de dálmata. Não bastando, ela também fez maquiagem na gente, com focinho e tudo.
Já no centro da cidade, eu senti tudo mais vazio. Havia menos pessoas do que nos últimos dias. Anna explicou que hoje era ponto facultativo, então muita gente estava trabalhando. Sem mencionar, de acordo com ela, terça sempre era o dia mais tranquilo.
O clima nublado também não ajudou muito. Eu e Rafa estávamos até de camisa, o que era impressionante. Mas não estávamos desanimados. Eu queria que fosse um dia bom, porque ontem fora horrível.
- Para onde a gente vai, Anna? –Perguntei enquanto subíamos a grande avenida e eu tentava não afundar meus pensamentos no que acontecera antes de ontem.
- Bom, a maioria dos blocos já acabou. Mas acho que tá tendo um LGBT agora, perto daquela pracinha que estávamos ontem.
Eu olho para Rafael e ele dá de ombros.
Chegando lá, apesar de vazio, estava muito animado. Encontramos um lugar bom, e tinha vários estabelecimentos abertos, então não foi difícil achar uma coca- cola gelada por um preço acessível.
Tocou Gloria Groove, Pabllo Vittar, Anitta, Lexa, Ludmilla, Luisa Sonza, Iza, e todas as divas do pop funk BR. E a cada vez que eu piscava o olho, passava uma drag queen com um traje mais lindo que o outro. Eu estava encantando pelo lugar e por aquelas pessoas.
Foi o dia que eu mais dancei e aproveitei a companhia dos meus amigos. Logo mais, chegou algumas amigas de Anna que enturmaram com a gente.
Ninguém bebeu. E foi o melhor dia.
Até que tudo caiu por terra.
Eu só vi pessoas correndo. Não ouvi nada.
Anna Raylla se desesperou e me puxou, já que eu era pessoa mais perto dela, e começou a correr e a gritar comigo, que a gente devia sair dali.
Porém Rafael e as amigas estavam ficando para trás, então eu parei e comecei a chamar por eles, que estavam olhando ao longe, tentando entender o que estava acontecendo.
Quando olhei para trás, Anna já estava longe e corri para alcançá-la. Ela chorava e tremia.
- Por favor, Ty, vamos sair daqui. Eu não gosto disso, eu quero ir embora. –E ela tremia e tentava me puxar para virar a esquina.
- Anna, calma! O pessoal já parou de correr. O Rafa e as meninas estão vindo atrás da gente. Vamos esperar.
Então a respiração dela ficou pesada, ela começou a chorar muito, segurando minha mão, tremendo e seu olhar se perdia no céu.
- Anna, eu tô aqui com você. Nada vai acontecer.
- Eu tenho m-m-muito medo. De algo acontecer.
- Fala comigo.
- E-e-eu não consigo, por favor, vamos embora.
Ela me puxava mas eu a segurei.
- Calma, eles já tão vindo...
Mas ela não se acalmou, começou a gritar comigo e ela ia perdendo o fôlego, sem conseguir respirar, até se curvar com a mão na barriga. E mesmo eu perguntando o que ela sentia, mal fazia sentido suas palavras.
Quando Rafa e suas amigas chegaram eu já não sabia mais o que fazer.
Minha melhor amiga estava tendo um ataque de pânico na minha frente.
- O que aconteceu? –Meu amigo perguntou.
- Acho que ela está tendo uma crise de ansiedade.
As meninas tentam falar com ela, enquanto isso eu repasso todo o meu repertório de terapia. E lembro de algo que me ajuda.
Vou até ela, e peço para as amigas se afastarem porque isso ia deixa-la ainda mais zonza.
Ajudo-a a se levantar e encaminho ela para um lugar mais calmo.
Anna ainda treme e chora muito, e fico com o coração apertado querendo apenas abraça-la.
- Anna, olha para mim.
Ela me encara com dor e medo no olhar.
- Quero que você me diga três sons que está ouvindo agora. Inspire, pense, expire e fala.
Ela fecha os olhos com força, e tenta perguntar o porque daquilo.
- Só faz.
Ela respira fundo. Seguro suas mãos trêmulas.
- V-vozes... –Anna abaixa os ombros, quase que em desistência, mas eu não deixo.
- Continua. Tá indo bem.
- B-batuques, e...
- E?
- Música?
- Isso! Foi bem. Agora me diz três cheiros.
Ela franze a testa, ainda nervosa com os pedidos.
- Respira. Responde. –Aperto um pouco mais suas mãos.
- Xixi...- Ela olha a rua e vê mais algumas pessoas correndo, e aperta um pouco mais minhas mãos.
- Pode apertar. Continua.
Rafael percebendo o que estava acontecendo veio tentar ajudar.
- Anna, Anna! –Ele balança uma garrafa de skol beats achada no chão para ela.
- Cerveja?
- Bom! Só mais um.
Ela solta minhas mãos.
- Suor.
- Isso ai.
- A gente pode ir embora agora. Por favor?
Assinto com a cabeça e vamos andando calmamente até a praça central.
- Afinal, o que tava acontecendo lá embaixo? –Pergunto para ninguém em particular.
- Primeiro achei que fosse um arrastão. –Disse uma garota de rosa. –Mas pelo visto foi só briga.
Nos sentamos no gramado da praça e por lá ficamos, até alguns ônibus da polícia chegarem. O que eu pensei que acalmaria Anna, mas ela só frisou mais uma vez.
- Gente, eu não estou me sentindo bem. Por favor, vamos embora.
- Calma, Anna. Já estou chamando o Uber aqui. –A garota de rosa a respondeu, que descobri ser sua prima.
Nos minutos que o carro demorou para chegar, demos água para Anna e perguntamos umas trocentas vezes se ela estava bem mesmo. No entanto, ela só desconversava.
O que me tranquilizou foi que Rafael conseguiu tirar uns risos de escárnio dela, e sua prima iria para sua casa. Mesmo assim, pedi que me mandasse mensagem quando chegasse e conversasse comigo.
Assim que as meninas foram embora, só restou eu e Rafael.
- A Anna...-Ele começou.
- Pois é.
- Ela estava tão bem.
- É.
- Não sabia que ela tinha.
- Nem eu.
- Que saco.
- É assim sempre? Que você se senta?
Dou de ombros. Estou um pouco chateado por Anna, porque já estive milhões de vezes no seu lugar. Porém feliz de ter estado ali por ela.
- De qualquer jeito, você ajudou bastante ela hoje.
- Você também.
- É, mas essa parada dos sentidos? Foi coisa de psicólogo!
- Tem na internet. Nem aprendi isso na terapia. –Sorrio com o comentário de Rafael.
- Ainda assim, você daria um ótimo psicólogo, Ty. –Ele dá um soquinho no meu ombro, e a ideia fica na minha cabeça por uns minutos.
Psicólogo, hein?
Por que eu nunca tinha considerado essa possibilidade?
- Vamos embora? Sei que está cedo, mas acho que o dia já deu o que tinha que dar. –Rafael diz se espreguiçando e eu concordo, já nos dirigindo para o ponto do ônibus.
Não demorou muito para as coisas darem errado de novo.
Começou a cair uma tempestade, com raios, trovões e muita ventania. Tivemos que nos abrigar em uma loja, já lotada de pessoas também se escondendo da tempestade.
Até que o gerente chegou e expulsou todo mundo que não havia consumido. Por sorte o clima já estava mais brando, e chegando no ponto de ônibus tivemos um pouco de paz.
No entanto, para a lista de nossas desventuras no carnaval, chegou um mendigo, muito estranho, e que falava sozinho, chegou em mim e no Rafael, os únicos no ponto, e perguntou se poderia mijar ali. No ponto de ônibus.
Não em um cantinho isolado.
Onde a gente estava.
E quando ficamos estáticos, sem saber o que responder, o homem simplesmente começou a abrir as calças.
Não demorou muito para Rafael me arrastar dali. Porém ele fez mais do que isso. Vendo que eu não estava muito animado para correr, ela me pegou ala princesa da Disney e começou a correr. Pedindo a todos que passassem, para dar um tapa na minha bunda.
- ME LARGA, CARALHO! –Eu comecei a protestar, batendo nele. Porém foi inútil, e a cena estava hilária.
Lembro de ouvir alguém dizer "ALGUÉM SALVE AQUELE DÁLMATA!" E " QUE TIGRÃO LINDO!".
Só fomos parar quando o próprio capeta gritou, mas hoje ele estava fantasiado de pirata.
- Olha, é o Tyler! TYLER!
Rafael freou ao ouvir a voz conhecida de Samuel.
- Samuka?
- Rafael!
Meu amigo me põe no chão e corre para abraçar o ruivo.
- Você não estava nos States?
- Resolvi passar aqui para dar uma visita. Não dá para perder o carnaval, né?
Samuel sorri.
- Não mesmo. E ai, querem competir com a gente de quem fica mais tempo na corda? Quem ganhar, pode beber o resto da kislla de morango!
Ele levanta a garrafa, que já estava nos seus goles finais e não estava lá com a melhor aparência.
- Que corda? –Rafael pergunta confuso, e eu olho em volta, também procurando.
Samuel põe a garrafa no calçada e levanta uma fita muito zoada, suja e molhada, que alguém deveria ter deixado cair de alguma fantasia.
- Que luxo. –Comento.
- Basicamente vocês só tem que pular, e responder corretamente a pergunta a cada pulo.
- Qual pergunta?
- Que dia é hoje?
- Dezessete de fevereiro. –Respondo.
- Terça-feira. –Rafael fala junto comigo.
- Erroooou! É CARNAVAL, OTÁRIOS! –Samuel berra e um bando de folieiros que passavam gritaram de volta. –Viu? Resposta certa.
Reviro os olhos e tiro minha carteira e meu celular, e dou para Rafael segurar.
- Tá bom. Parece fácil. –Digo, fingindo me alongar. –Como vão saber o tempo?
- O carinha ali vai cronometrar no celular. –Ele aponta para um garoto de blusa verde e cabelo preto encolhido, que não parecia ter mais do que 15 anos.
- Quem é?
- Sei lá, o Gabriel trouxe ele. Gabriel se perdeu e ele colou comigo. –Samuel dá de ombros. Até que ele e seu amigo começam a bater a fita no chão. –Quando quiser entrar, Tyler.
Encaro a fita, de forma desafiadora. Eu odiava entrar com a corda em movimento, me dava uma pânico fodido. Mas eu estava disposto a tentar e pular, nem que seja de forma desengonçada.
Eu entro e começo a pular, um pouco desequilibrado e fico ainda mais desorientado quando eles começam a gritar em coro "QUE DIA É HOJE?" e eu tentava responder "É CARNAVAL!" e minha voz saia pior que a do Pato Donald.
Até que eu me canso depois do primeiro minuto, e a velocidade só aumenta, então eu tropeço e caio de cara no chão. Ouço meus amigos rirem.
Me levanto, e passo a mão, me limpando, fingindo frustração, mas rindo, e grato pelo coração acelerado de uma adrenalina que não fosse o álcool ou o desespero de estar perdido.
- Minha vez. –Rafael me entrega seus pertences, e ele entra na "corda".
Ele é irritantemente bom, pulando como um atleta praticando o treino dele. A postura correta, os pulos com bons espaços de tempo, e o grito como um bom soldado. Ele consegue ficar dois minutos, até que a velocidade fica humanamente impossível de acompanhar.
- Temos um vencedor! –Samuel grita. –Tudo seu! –Ele abraça Rafael como um bom bêbado, e entrega a garrafa de kislla.
- Pode ficar para você, o prêmio. –Ele dá alguns tapinhas no peito de Samuel e se afasta. – Eu e o Tyler já estamos de saída. Né, Ty?
Balanço a cabeça, afirmando. Entrego seu celular e sua carteira de volta, acenamos para os meninos, nos despedindo.
Andamos até outro ponto de ônibus, um pouco mais longe, entretanto, mais seguro e esperamos.
- Hoje foi um dia bom. –Declaro.
- Foi mesmo. –Ele sorri e passa o dedo no meu nariz, borrando o meu focinho e faço o mesmo com ele. Até que quase perdemos o ônibus entre nossas implicâncias, porém eu me jogo na frente dele, sendo quase atropelado e ele nos deixa subir.
Dentro do ônibus lotado, nos esgueirando para o fundo, avisto um rosto conhecido.
- Rebecca? –Pergunto receoso, de talvez não estar enxergando bem.
- Tyler? –A garota olha para mim e sorri. Ela se espreme entre alguns passageiros, se desequilibrando um pouco e me abraça. –Meu Deus, que coincidência!
- Nossa, sim! Nem sabia que você ia sair no carnaval, se não teria te mandando uma mensagem para a gente se ver.
- Relaxa, amigo. –Ela dá o sorriso mais caloroso do mundo. –Quem é esse ai?
Fico vermelho, lembrando que ela nunca havia conhecido o Rafa.
- É o Rafael, meu melhor amigo de infância.
- Oi! –Ele abraça ela, também meio sem jeito pela falta de espaço.
- Hmm, é aquele Rafael que você sempre fala para mim. –E pronto, virei um tomate de vergonha. Rafael continua sendo simpático e mantem a compostura.
Conversamos sobre as nossas aventuras absurdas no carnaval, sobre o último ano do ensino médio que está por vir para nós dois, apesar de ela estar em uma escola particular, diferente da minha escola pública, ela também teme não conseguir entrar na faculdade.
Pergunto como está Matheus, e ela pergunta sobre o Thomas. Rafael comenta sentir falta de ter irmãos, mas que tem sorte de me ter por perto. O que me deixa confuso, mas é assim que estou todo o tempo com ele, desde que ele desembarcara aqui.
Descemos do ônibus primeiro e me despeço da minha amiga, que vejo apenas duas vezes no ano (agora três), mas que ainda era uma pessoa muito querida, que sempre que passava com aquela energia só dela me deixava mais leve e me dava ótimas palavras de sabedoria.
No curto caminho para o meu prédio, Rafael segura minha mão e vamos andando assim, como se andássemos assim a vida inteira. De mãos dadas, balançando, sem medo, ao entardecer.
Antes que eu tire minhas chaves do bolso, ele beija meus dedos.
- Obrigado por hoje. Por esses dias. Foi incrível.
E ele solta, e eu quase despenco junto com meu braço.
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