Capítulo 25
Eu vinha evitando esse dia desde o meu aniversário. Quase como que empurrando com a barriga.
Se você ignorar, não vai acontecer, né? É.
Mas cá estava eu, no carro indo ao aeroporto dizer adeus por quase um ano para o meu melhor amigo.
E provável amor da minha vida, porém isso é só detalhe.
Thomas deu carona para mim e Chul. Lily também vinha junto. Acho que pra dar apoio moral. Pra me socorrer quando eu cair em prantos em público.
Os pais de Anna deram carona para o Akin e íamos nos encontrar lá.
Eu mal o tinha visto nas últimas duas semanas dele aqui. Estava uma correria para organizar as coisas. Fui até sua casa, ajudei a empacotar, conversamos, passamos um tempo juntos, mas eu me senti sufocado naquele ambiente e a realidade que o acompanhava.
Sem mencionar que as coisas estavam meio esquisitas entre nós, depois daquele beijo.
Ou melhor, desde a resenha as coisas estavam bem estranhas. Parecia que as coisas tinham saído dos trilhos logo aí.
Evito o Samuel desde então também. Às vezes ele puxa assunto, mas sei lá. Melhor não.
Chegando no aeroporto, encontramos Raquel e Rafa esperando para embarcar, ainda faltava mais de uma hora para o voo, contudo, eles tinham que chegar cedo e tudo mais.
Rafael correu para me abraçar e já começou a falar com a voz embargada. Deus, como eu vou aguentar esse dia?
- Queria que você fosse comigo. Eu tô me cagando de medo.
- Por quê? Você já esteve lá antes.
- Eu sei, mas, agora eu vou estudar lá. Ficar um tempão... E se ninguém gostar de mim? E se eu não fizer amigos?
- Eu sabia que você ia dizer isso! É a sua cara...
Rafa continuou a me encarar perdido.
- Ok. Rafael. Abra seu celular e olha o link que eu te enviei.
- Tyler, não sei se percebeu, mas eu estou no meio de um surto de ansiedade aqui...
- Rafael. Olha.
O loiro pegou o celular a contragosto e checou as mensagens.
- Uma playlist no Spotify?
- Olha o nome.
- Whatever Fool? Como assim?
- Whatever fool will like you, Rafael.
- Tá me chamando de idiota, Tyler? –Ele começou a rir.
- Claro. Qualquer idiota é seu amigo.
Queria falar "qualquer idiota se apaixonaria por você", porque também é verdade.
- Engraçadinho. Tá bom. Vamos ver o que temos aqui...
- Ah não! –Me seguro para não tomar o celular da mão dele agora mesmo. -É para você ouvir na viagem.
- Ok. Vamos conversar com o pessoal.
Ele guarda o celular e solto um suspiro de alívio.
Aquelas músicas são basicamente uma declaração de amor e saudade e prefiro que ele as ouça longe de mim.
Até que depois de muita conversa jogada a fora, chegou a hora de Rafa e a mãe embarcarem.
Fui a última pessoa que ele abraçou.
Chorei, silenciosamente.
Não fiz escândalo.
O inferno acontecia dentro de mim.
No caminho de volta, encostei a cabeça no vidro e não falei com ninguém. Apesar de ouvir várias frases motivacionais que não surtiram nenhum efeito.
Me acomodei no banco, encostado na janela, encaixei os fones de ouvido, e coloquei para tocar a playlist que fiz para o Rafa, no meu melhor estilo adolescente perdido e com raiva do mundo.
Nunca pensei que encontraria
Milhões de chaves pra essa porta
Sempre gostei de descansar com o trinco aberto caso você volte
Amanhã eu não vou mais estar aqui
Por isso volta logo pra esse quarto
"Amanhã", do Zimbra tocava e dilacerava meu peito aos poucos.
Imaginei um Rafael ouvindo essa mesma música, no avião, olhando pela janela e pensando em mim.
Isso provavelmente não aconteceu, mas gosto de imaginar essa cena como o final de um filme ou série.
Meu Deus, como vai ser o próximo episódio da minha série?
Como vai ser amanhã?
***
O amanhã nunca chega.
Rolo de um lado para o outro sem conseguir dormir.
Tão longe.
Tanto tempo.
Puta merda.
Pego o celular e já são 3 horas da manhã. Amanhã - no caso, hoje - as aulas voltavam do recesso de julho. Que merda.
Pesquiso na internet como dormir e tem um monte de baboseira sobre regular o sono que nunca dá certo.
Caio num lugar diferente.
Em um vídeo. De ASMR.
Já tinha ouvido falar porém nunca botei muita fé. Muita gente dizia ser estranho os barulhos e tudo mais.
Mas o que custava? Eu estava desesperado para parar de ecoar em minha mente e desligá-la para finalmente ter um mínimo de sono.
Apertei o play.
Nessa noite, com apenas 3 horas de sono, eu dormi igual um bebê.
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