Capítulo 21
Quando entro em sala, na segunda-feira, todos estão comentando da festa. O Insta Secrets da escola está bombando. A conta anônima que publicava as fofocas do colégio nunca teve tanto conteúdo de mão-beijada.
Finjo que nem fui na festa, porém muitos dos meus colegas de classe me lançam aqueles sorrisos e me zoam de ser um cachaceiro, falando que só tenho fama de quietinho em sala.
Eu rio em resposta. É tudo o que eu posso fazer.
Sento em minha carteira, Anna e Rafael ainda não estão lá. Fico com aquela sensação terrível de novo. Eu deveria ficar feliz. Ambos são meus melhores amigos.
Anna é incrível. Rafa é incrível. Se os dois querem ficar juntos, quem sou eu para me colocar no meio? Não vou estragar o que é recíproco, por um sentimento unilateral.
Um garoto com cabelos castanhos, meio ruivo, vem até mim. Samuel, acho que é o nome dele.
Ah, não.
Ligo A com B. E sei de quem é o número desconhecido.
- Recebeu minha mensagem ontem, Tyler?
- Era você, então.
- É. –Ele tinha uma fala tão devagar, como se estivesse sempre chapado, - talvez estivesse mesmo - e aquilo me irritava, mais do que me acalmava. Eu queria sacudi-lo, para ver se ele reagia. –Me chama para conversar depois.
- Ah, tudo bem.
Me deu um tapinha no rosto e passou as mãos pelos meus cabelos. E saiu, me deixando sem entender nada.
Fico alerta. Será que eu fiquei com ele? Eu deveria perguntar? Ai meu Deus, que vergonha. Eu beijei e nem lembro.
Será que agora todo mundo sabe que sou gay?
Entro no Secrets para ver se tem alguma fofoca sobre mim, mas não. Ainda invisível. Ufa. Sou grato, dessa vez, por ser imperceptível.
Mas aconteceu alguma coisa. Não é possível. Eu nunca conversei direito com o Samuel, nem os amigos dele. Só coisas de escola mesmo.
Rafael chega, abraçado com Anna, e faço minha expressão de quem não se importa.
- Bom dia, gente!
- Ei, Ty! –Anna me abraça e se senta atrás de mim. Rafa senta ao nosso lado.
- Eu preciso perguntar algo a vocês. –Nos juntamos ainda mais, porque não queria que ninguém ouvisse, então falo num sussurro. –Eu fiquei com alguém na resenha?
- Não que eu tenha visto, Ty. –Diz Anna. – Você viu algo, Rafa?
Rafael está encarando o chão, como se fosse muito interessante. Ele dá um sobressalto quando Anna diz seu nome.
- Ah, não. Não fiz nada. Digo, não vi nada.
- Tudo bem... você está bem?
- Só preciso terminar o trabalho de história. Não deu tempo de fazer tudo ontem.
Rafael começa a abrir o caderno e nos ignora.
- Ele nunca faz os trabalhos. –Sussurro para Anna, em cumplicidade.
Ela ri.
- Eu estou ouvindo, sabe? -Rafael diz, ranzinza. Então a professora entra e temos que nos aguentar até o recreio para falar dos podres de sábado.
***
Durante o intervalo, está eu, Rafa, Anna, Akin e Chul, reunidos na arquibancada da quadra; mais um das dezenas de grupinhos conversando sobre a festa, e vendo alguns alunos jogarem bola nos meros 20 minutos de paz.
Akin contava como eu dera trabalho a ele, Rafa também. Anna disse que tinha se divertido muito e feliz por não ter ficado excluída, mas alertou que deveríamos parar de beber. Chul me lançava uns olhares esquisitos, e quando perguntei algo a ele, ele disse que era impressão minha, só estava triste porque ia sair da escola.
E fiquei triste, de verdade. Porque pela primeira vez eu senti uma união e harmonia boa entre meus amigos. Rafael logo vai embora, Chul vai se afastar, querendo ou não, e Akin está em uma sala diferente com colegas diferentes. Só me resta a Anna. E eu amo ela, mas não vai ser a mesma coisa. Que droga.
- Cara, tá todo mundo indo embora. –Eu soltei aleatoriamente na roda de conversa.
Akin me olha.
- Mano, está todo mundo bem aqui. Chul só vai sair da escola depois das férias de julho. Rafa só vai embora depois também. Eu e Anna não somos um misto-quente qualquer. Estamos aqui.
- Que melancólico. –Anna me abraça e eu retribuo. –Vamos te fazer companhia, nenê.
Eu sorrio.
Percebo que Akin não está mais tão nervoso perto de Anna, quanto ficava antes. Acho que é porque ela está com o Rafael agora. Como se fosse um ponto final nos sentimentos que ele tinha.
Ah, como eu queria que fosse assim comigo!
- Ainda temos a quadrilha da escola! –Rafa lembra. -Vai acontecer no último dia de aula, antes das férias de julho. Vai ser no dia do seu aniversário, Ty, dia 15. Vamos todos comemorar juntos. Uma última vez.
Concordamos empolgados.
- Mas eu não danço. –Akin se posiciona.
- Tudo bem. É só comparecer. Mas eu vou dançar. E Anna Raylla, -Rafael tinha que fazer uma cena. Ele se ajoelha, no meio das arquibancadas para pedir isso, como se fosse o baile de formatura no novo clichê adolescente da Netflix. – aceita ser meu par na quadrilha?
Anna ri.
- Seria uma honra.
E tasca um beijo molhado nele. Eu desvio o olhar e encontro o de Akin. O nervosismo passou, mas o sentimento não. Há ciúmes em seus olhos negros.
O sinal toca, dando um fim ao intervalo, e salvando todos nós.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro