Capítulo 20
Acordo confuso, sem saber como fui parar no meu quarto.
Rolo para o lado, cheio de dores no corpo e custando a manter os olhos abertos, mas enxergo uma cabeleira loira estirada num colchão ao lado da minha cama.
Olho para o teto.
O que aconteceu ontem?
Faço o máximo de esforço possível, mas só me vem flashes. Só está claro até certo ponto, quando entrei na pista de dança. Sei que vomitei, tinha alguém ao meu lado. Depois, um clipe da Miley Cyrus em um televisão em um quarto chique com muitas pessoas.
É isso. É tudo o que eu me lembro da noite anterior.
Estou em pânico.
Cutuco Rafael.
- Rafa, acorda.
Ele nem se mexe.
Estou puto. Me jogo em cima dele.
- Ahhh!
Rolo para o lado e ficamos cara a cara.
- Mas que merda, Tyler. –Ele enfia a cara no travesseiro.
- Mano, me conta o que rolou ontem, eu não lembro de nada. –Digo, rindo de nervoso.
- Aaaah, você quer mesmo saber?
- Quero.
Ele me encara finalmente e percebe que estou falando sério. O rosto está sereno, liso como bebê, de quem teve uma ótima noite de sono, os cabelos lisos caiam desajeitados e os olhos azuis brilhavam com a luz do sol que entrava pelas persianas do meu quarto.
Queria poder acordar todos os dias com essa visão.
- Você não se lembra de nada? Tipo, sério?
- Não. Me lembro de ter ido dançar, e tudo fica confuso. Sério, é muito ruim! É como se tivesse um buraco na minha memória. Como se tivessem me roubado.
- É. O álcool te roubou.
Rafa se vira, tirando parte do edredom e vejo seu peito descoberto. Ele dormia apenas de samba canção. Me concentrei em manter os meus olhos no seu rosto, mas estava difícil.
- Eu dei um baita de um PT, né?
- Nem fala.
- Como viemos embora? Thomas viu a gente?
- Uber. Chegando aqui você comeu pão seco e água e jurou que era a melhor comida da sua vida. Thomas não está. Você mesmo disse que ele não estava, que era para vir para cá.
- Ah, é. Ele tinha um show em algum lugar, depois ia para a casa da Lily, algo assim. –Paro, por um segundo, tentando encaixar as peças. –Pão e água? É sério?
- O que a erva não faz.
- Erva??
- Você entrosou com os zé droguinhas da nossa sala por um momento.
- Meu Deus. O Thomas vai me matar.
- Ele não vai descobrir. Relaxa. Não há rastros. Já até limpei o banheiro.
- O que aconteceu no banheiro? –Meu coração já começa a disparar pensando no estado da casa.
- Você vomitou mais um pouco ontem quando chegamos. Pelo menos conseguiu tomar um banho sozinho. Não tive que te ver pelado, nem nada.
Rafael solta uma risada seca e olha para o teto, sem me encarar.
Ele estava agindo esquisito. Mas eu relevei. Foi uma noite e tanto.
- Viemos embora eram quantas horas?
- Não era nem meia-noite quando a polícia chegou. Fiquei sabendo que deu muita merda para a comissão de formatura. Talvez não tenha mais festa esse ano. Parece que a mãe de algum aluno denunciou, algo assim.
- Cara, que merda.
- É.
Pego meu celular para conferir minhas mensagens, só para ter certeza de que não fiz mais nenhuma merda, enquanto deixo Rafael divagando com o olhar longe.
Havia uma mensagem do Thomas, perguntando se estava tudo bem, se havíamos chegado bem. Uma de um número que eu não conhecia. Algumas no nosso grupo de amigos. E uma de Chul no meu privado, que me deixou intrigado.
"Como vc tá, Ty? Melhorou de ontem? Foi mal. Eu não pensei que seria tão ruim."
Respondo na mesma hora.
"Estou bem, e vc? Você está falando sobre o meu PT? Olha, cara, a culpa foi toda minha, eu que bebi. Não se culpa por isso, vlw por tentarem cuidar de mim. De qualquer forma, eu não lembro de mais nada, então vou fingir que nada aconteceu nessa festa haha."
Meu amigo visualiza, mas não responde.
Vou até o número desconhecido e clico na mensagem.
"É o número do Tyler? Samuka aki! Add meu número."
Quem é Samuka?
Mando apenas um ponto de interrogação em resposta.
No grupo de amigos há fotos das quais não me lembro, e áudios que eu tenho medo de clicar para ouvir. Também há vídeos. Meu Deus, tenha piedade de mim.
Clico no primeiro áudio.
É Chul e Akin cantando alguma música, estão muito desafinados.
Há uma foto de Rafael e Anna juntos.
Há uma foto de todos nós juntos.
Tem um áudio em que eu estou cantando thank u, next, gritando e depois mandei uma foto bebendo. Quando foi isso?
Clico em um vídeo e está muito escuro, mas reconheço as pessoas dançando. Eu, Rafa, Anna e mais uma galera.
Caralho. Que festa!
Eu e Rafael começamos a rir.
- Sério, precisamos fingir que ontem não aconteceu. Só as partes boas, certo? Eu não usei maconha, nem dei PT. A festa foi isso. –Digo, mostrando o grupo do Whatsapp, onde só tinha memórias divertidas.
Rafael me olha, como o Bran de Game of Thrones, lá dentro da minha alma e há alguma dúvida em seu olhar. Credo, que estranho.
- Rafa, tá tudo bem? Você está me olhando esquisito.
Ele se recompõe e respira fundo.
- Tá sim, é só que, eu fiquei com a Anna ontem e não quero esconder isso de você, e nem que você fique triste...
- Por que eu ficaria triste? O que eu tenho a ver?
Ele me olha com aquela cara novamente e trava seu maxilar.
- Nada. É bobagem minha. Tem razão.
- Akin é que tem motivos para ficar com ciúmes.
- Ele não tomou iniciativa antes. Teve mais de um ano para isso. –Rafael falou, ríspido, dando de ombros.
- Ok, mal humorado...
- Acho que vou para a casa.
Rafael se levanta e começa a catar suas coisas.
- Ei. Não precisa. Passa o dia aqui, vamos jogar, ou ver filme, sei lá.
- Tô precisando descansar, Ty. Tudo bem?
Eu imagino que devo ter dado muito trabalho ontem, então não insisto. Deixo ele ir.
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