Capítulo 12
- Não entendi sua mensagem ontem. – Comentou Rafael, assim que chegou, se jogando na cadeira a minha frente.
- Ah.
Eu havia esquecido que não tinha contado meu plano de ir para Los Angeles com ele.
- Não era importante. –Paro de escrever o dever de casa atrasado por um momento e o encaro. –Eu acho.
- Você quer que eu implore?
Ok. Estou sendo dramático e Rafael me conhece o suficiente para notar isso.
Sinto Anna Raylla me cutucar com a caneta atrás de mim e olho de cara feia para ela.
- O quê vocês estão escondendo? –Rafa soa impaciente.
- Nada. Juro. A Anna só estava lá em casa ontem para um aula com Thomas. Ela não tem nada a ver com a mensagem. É só que eu tive uma ideia e deu errado.
- Que ideia?
Suspiro frustrado e o professor entra na sala me salvando. Ou me cortando.
- No recreio nós conversamos. –Rafael falou como uma intimação.
Fico revisando o roteiro mentalmente de como falar isso. Não que seja grande coisa, mas agora vendo num quadro geral parece que estou desesperado para ficar perto de Rafa a todo custo, e sinto que fui desmesurado. Por mais que ele seja meu melhor amigo. Por mais que ele seja uma das duas pessoas que eu mais confio no mundo. Pareço exagerado.
Mas não estou nem ai quando conto tudo a ele no intervalo. No nosso novo local favorito perto do estacionamento. Era calmo lá e só havia nós dois, e isso me fazia sentir especial. Parecia algo nosso. No entanto, também era um indicativo do quanto estávamos nos afastando de Akin e Chul, e por mais triste que pareça, a ideia não me incomodava tanto quanto eu achei que incomodaria.
- Sabe, você não precisava fazer isso por mim, Ty.
- Eu sei. Eu só queria que...Você não estivesse tão longe, sei lá. Se ao menos estivesse por perto. Mas não sei.
Nossos ombros estão se tocando, sentados um ao lado do outro, e estou ciente de cada célula do meu corpo porque é um daqueles momentos que parece haver um clima ali, e você jura que todos os astros do universo prepararam aquele momento para você, porque há energia no ar, mas no final do dia, é tudo coisa da nossa cabeça. Por que já tive centenas de momentos assim com ele.
Rafa suspira.
- Você vai ficar bem sem mim. Sei que consegue. E os babacas dessa escola já pararam de te encher o saco, não é?
Franzo a testa.
- As pessoas se quer sabem quem eu sou pelo menos? Além do cara com o pai preso. –Solto um risada seca e minha voz sai mais rouca que o normal. –Já faz tanto tempo. Nem me lembrava da pegadinha do ano passado.
- As pessoas comentam por um tempo. –Ele dá de ombros e a cabeça dele está inclinada para mim. Meu coração está disparado. Os cabelos loiros e os olhos azuis brilhando ao sol das dez da manhã. Não parece real estar perto dele. Por mais que seja a milésima vez, meus batimentos correm soltos. –E você pode ser também o cara que tem o irmão youtuber. Thomas e Lily estão indo bem.
- Pois é...Ou eu posso ser um youtuber também. Por que não?
Ele solta uma risada, um pouco debochada na minha impressão e aquilo mexe comigo.
É. Talvez eu não sirva para estar em frente as câmeras ou em cima dos palcos como Thomas.
- É. –Ele não rende. Aquilo ronda na minha cabeça por uns segundos, mas logo é compartimentado na caixinha "pensar depois" pelo que ele diz a seguir. –Ty, falando sério. Você tem ido a terapia? Tomado os remédios corretamente?
Fico vermelho e envergonhado de repente. Rafa nunca é tão direito quanto a minha condição psicológica. Ele faz perguntas como "tudo bem?", diz "eu estou aqui por você" e me ajuda com crises de pânico, e quando éramos pequenos, até a dormir. Mas não assim.
- Por quê?
Ele encolhe os ombros.
- Só quero ter certeza que você vai ficar realmente bem sem mim, só isso. Não quero ser um gatilho para você.
- É claro que vou ficar bem sem você. –Respondo na defensiva.
- Eu sei. Só quero ter certeza que está de boa eu ir. Caso você precise de ajuda.
- Puta merda, acha que eu sou algum boneco de porcelana que depende de você?
- Tyler...-Ele tenta falar mas eu corto.
- Você deve se achar muito né, pensando: "Nossa, o garoto quis até ir para a Califórnia comigo! Ele deve me amar muitooo! Meu Deus, eu sou um ser blindado do qual ele precisa pois ele não sabe se cuidar sozinho! Tadinho." Por favor, Rafael.
- Não foi isso que eu quis dizer, Tyler! –Ele levanta a voz.
- Pois você devia pensar antes de falar, porque merda, Rafael, eu sou seu melhor amigo! Você deveria me ver como um igual e não alguém inferior!
- Eu nunca disse isso!
- Mas eu sei que você pensa isso! Eu sei como olha para mim! Acha que não sou corajoso ou ousado como você.
- Você não sabe como eu olho para você, não. –Rafael assume uma expressão tão séria que mal o reconheço. Seus olhos estão intensos e da cor de nuvens carregadas, e por um segundo temo que vamos sair no soco, aqui mesmo. –Você não sabe nada.
- Além de fraco, agora sou o inocente também. Tá.
- Para de distorcer tudo o que eu falo, pelo amor de Deus! Eu não acho você fraco. Não acho que seja nada disso. Eu amo você, Tyler! Você é meu melhor amigo por um motivo. Você é sincero comigo, de um jeito que mais ninguém é.
"Você é sincero comigo." Meu Deus. Ele não fazia ideia. A mínima noção. Como pode ser tão estúpido?
Minha vontade é gritar tudo o que eu sinto. Afinal, ele vai embora em poucos meses mesmo. Quem liga se eu estragar nossa amizade? Mas me seguro e respiro fundo, deixando de lado a minha Lua em Áries e Sol em Câncer que não sabe filtrar merda nenhuma do que falo.
- Desculpa. –Junto todas as minhas forças para falar isso. Droga, eu pareço tão orgulhoso quanto o Thomas. –Sério. Eu só estou... chateado com você. Porque você vai embora, e, foi tão do nada, entende? E você sabe que eu tenho dificuldade com mudanças e coisas novas...
- Eu sei...- Ele toca o meu braço, fazendo um carinho que me faz arrepiar inteiro.
- Não quero brigar com você. Não devemos desperdiçar nosso tempo assim.
- Concordo. Me perdoa, se essa é a impressão que te passo como amigo. Droga, devo estar sendo um péssimo melhor amigo... Vou ter que te compensar de algum forma.
- Não, que nada. Eu que estou exagerando. Sério.
E então nos abraçamos e tudo para. Me encosto no seu ombro e sinto o cheiro do amaciante de roupas e perfume masculino. Eu queria poder ficar abraçado nele o dia inteiro, porque sinto que os planetas se alinham quando nossos corpos estão juntos. Nenhum abraço se encaixa tão bem em mim quanto o dele e me pergunto se ele sente a mesma coisa. Ainda que fraternamente. Mas provável que não.
- Na verdade, tem algo que eu gostaria sim que você fizesse. Mas tudo bem se não quiser. Tem que ser antes de você viajar. –Uma ideia passou pela minha mente e parece loucura. Por que não? Eu só conseguiria com ele ao meu lado mesmo.
- O quê?
- Thomas vai surtar.
Ele solta uma risada leve quando nos afastamos. Meu peito se contrai. A voz dele fica tão mais gostosa perto do meu ouvido e abafada pelos meus cabelos.
- Eu topo.
- Quero visitar meu pai na prisão. E quero que você vá junto comigo.
Ele se afasta ainda mais de mim, e me olha duvidosamente.
- Tem certeza?
- Sim. –E vejo seus olhos brilharem e percebo que são lágrimas. Ao menos, um resquício de uma lágrima que cai solitária, mas ele limpa rapidamente e desvia o olhar.
Rafael chorando. Uau. Ele nunca chorava.
- Obrigado. –Ele tosse, como se para recuperar a compostura perdida por um milésimo de segundo. –Por confiar em mim.
- Eu sempre confiei em você.
- É, mas isso...Isso é bem pessoal, Ty. E, fico feliz que tenha me convidado. Você sabe que, eu nunca conheci meu pai.
Rafael nunca falava sobre o pai.
- Sei. Você nunca falou nada, mas a Raquel, sua mãe...
- Sim, eu sei que ela comentou. Mas, você ainda tem um pai. Um bem merda. Mas você ao menos pode vê-lo e...-Ele funga o nariz. –Não vou chorar. Tyler Oliveira Morais, você não vai me fazer chorar hoje.
Solto um risada e o abraço de lado.
- Só fale se você quiser.
O sinal toca, mas não nos mexemos.
- Tudo bem. –Ele respira fundo e olha para frente, vendo os carros passarem pela rua. Rafael não diz mais nada por um momento, então dou o assunto por encerrado e o chamo para voltar para a sala.
Quando estamos saindo de perto do estacionamento e indo em direção a quadra que está amontoada de gente, ele se vira para mim.
- Não está fazendo isso para se provar corajoso né?
Seguro uma resposta defensiva para evitar mais uma discussão desnecessária. Nem tudo gira ao seu redor, Rafael.
-Não. Claro que não.
É óbvio que estou.
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