Capítulo 1
Dia anterior ao início das aulas no 1º ano do Ensino Médio
Thomas estava me irritando.
Meu irmão mais velho estava com seus longos cabelos negros presos em um coque samurai, a barba por fazer, dois buracos negros irados no lugar dos olhos, e um avental vermelho repleto de corações rosados. Ele seria assustador, se não estivesse tão cômico.
- Você precisa começar a me ajudar com as coisas da casa, Tyler!
- Aham.
Não dei muita bola, estava muito concentrado em uma partida de Fortnite.
- Tyler.
- Thomas.
- Preste atenção em mim, estou conversando com você.
- O jogo é online.
- Tô pouco me fodendo para jogo.
- Aham.
Então, a televisão ficou preta.
- MAS QUE PORR...
- Se não por bem, vai ser por mal. – Thomas disse com a tomada da televisão em mãos.
- Se a televisão tiver queimado, ou o Xbox estiver com algum problema... –Já falei me exaltado de raiva.
- O problema vai ser unicamente meu porque sou eu que pago as contas e você vai chorar sozinho sem seu videogame. Buhuu. Chora mais.
- Eu te odeio.
- Tá. Agora, lave a merda da louça suja do almoço que está criando bicho e vem que hoje você vai aprender a lavar suas próprias roupas.
- É o último dia de férias, Tom... –Implorei.
- Ah, coitadinho. O meu também, então que tal nos ajudarmos para fazer essa merda se tornar mais suportável?
- Tá bom. –Bufei, me levantando e me direcionando a cozinha.
Botei o álbum Trench, da banda Twenty One Pilots para tocar e as músicas me acalmaram enquanto eu lavava a louça do almoço e a que acumulara depois, enquanto Thomas lavava o pequeno banheiro do nosso apartamento também cantando pelos cantos.
Apesar das desavenças de ter um irmão mais velho te criando eu amava demais Thomas. A nossa família era... complicada demais, e ele sempre esteve ali. Batalhando cada dia mais para não só me criar, mas também seguir seu sonho.
Eu esperava um dia que meu irmão fosse um grande astro do indie rock. Ele era talentoso demais e estava para entrar no último ano da faculdade de Música. Só Deus sabe o que ele enfrentou para estar aqui hoje.
Mas eu e o meu mau humor conseguíamos estragar tudo. Porém Tom, incrivelmente, parecia ter uma tolerância quase inumana à mim. Eu poderia botar fogo na casa e ele ficaria "Ah, ok. Daremos um jeito nisso." Acho que talvez seja pela "minha condição", sei lá.
Parei de lavar a louça. Eu estava tremendo de novo.
Droga.
Aqueles remédios estavam me ferrando. Eu os odiava.
- Tom.
- Oi -Ele gritou de volta.
- Vem cá.
Então, em um milésimo de segundo ele estava ao meu lado. Tocava My Blood.
- Tô tremendo de novo.
Ele parou e pegou as minhas mãos molhadas com carinho e suspirou.
- Vamos na Dr. Lucia amanhã depois da escola. Não os tome mais, ok?
Assenti, engolindo em seco.
- Deixa essa louça ai, depois eu termino. Vem cá ver a máquina de lavar.
Merda.
Ele explicava alguns termos e apontava para alguns botões na nossa pequena área de serviço, enquanto eu quase morria de tédio.
"Washing machine confuses me", já dizia a música Fool do Cavetown. Nunca algo fez tanto sentido. Meu Deus.
- Ty.
Thomas mexeu no meu ombro e eu quase cai no chão, pois estava encostado na quina da porta.
- Droga... Oi.
- Você prestou atenção em um "A" do que eu disse?
- Aaaah... o botão verde, ele é de ligar né? E o vermelho é... desligar...? –Ele me encarava furioso. –Para alguma emergência? –Dei um sorrisinho nervoso.
-Ok, está tarde. Vai dormir, chega por hoje. Amanhã eu pego no seu pé.
Agradeci aos céus mentalmente, já me direcionando para o meu quarto.
- Ei, Tyler! Falei sério sobre ajudar aqui em casa. Você vai começar o Ensino Médio amanhã!
- O que isso tem a ver? –Parei, e o encarei.
- Tudo muda no ensino médio. –Thomas disse chegando mais perto de mim, assim nos sentamos no sofá.
- Tipo o quê? A única coisa que vai mudar para mim é o horário. De manhã agora. Já é problema suficiente considerando que eu não consigo dormir.
- Não é só isso. E logo seu sono regula, você vai ver. –Ele comenta suspirando olhando para o teto, cansado. –Sei lá, é uma vibe diferente. Ao mesmo tempo que as pessoas podem estar mais maduras, elas mostram também seu pior lado, ou quem vão ser no futuro, como adultos.
- Tom, adolescentes vão ser adolescentes. Vão ser uns idiotas de qualquer forma.
- Só quero que tenha cuidado e não se deixe se atingir por comentários maldosos sobre você ou... nossa família, entende?
Ah.
- Entendo. –Não digo mais nada. Não sei se quero conversar sobre o papai com ele. Ou sobre a mamãe, ou a vovó e o vovô. Não agora. Estou cansado e prestes a ficar deprimido de novo.
- Fica junto do Rafa, tá? Ele está na mesma sala que você, não é?
A menção ao Rafael, meu melhor amigo desde que me entendo por gente, me deu um embrulhozinho gostoso no estômago e me fez esboçar um sorriso idiota no rosto.
- Vou ficar. Somos o pacote completo. Ou é eu e ele, ou não é ninguém.
Thomas sorriu de volta.
- Já contou para ele?
Devo ter ficado vermelho igual um pimentão e nem quis olhar para a cara dele, já me levantando do sofá.
- Não quero falar sobre isso e não é da sua conta.
- Ty, já faz tanto tempo...
- Boa noite, Thomas.
Me tranco no meu quarto.
Merda, merda, merda.
Ele me fazia sentir aquilo tudo de uma vez. Querer chorar e não parar de sorrir. Eu o odiava tanto.
Ter 14 anos era um saco. Mal esperava por fazer 15.
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