- Trabalho, muito trabalho. - Esbanjo um sorriso fraco e procuro alguma expressão em seu rosto.

- Está mentindo. - desvio o olhar para baixo - O que aconteceu, Carly? - Charles me olha com carinho.

- Não estava bem... - Admito em um sussurro. Não consigo olhar em seus olhos. Sinto-me envergonhada por dizer em voz alta. Me sinto fraca. Não por ficar mal, mas por me afastar dos outros quando isso acontece.

- Carly... - Sussurra e abaixa a cabeça. Meus olhos ardem e sinto eles lacrimejarem. - Não se afaste mais. - Me encara e pede em um outro sussurro suplicante. Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Deixe-me te ajudar, por favor.

Encosto nossas testas e fecho meus olhos. Seguro em seus braços ao sentir uma lágrima escorrer pela minha bochecha. Ele afasta nossos rostos e enxuga a minha lágrima.

Sorrio para ele e entro no corredor. Encontro a escova de dente e retiro a embalagem. Escovo os dentes e percebo que meu rosto ainda está manchado com o delineador preto que eu usei na noite anterior.

- Sua maquiagem estava linda ontem. - Zomba da mim assim que entro na cozinha.

- Como sabe da maquiagem? - Pergunto analisando tudo que está em cima do balcão para poder ajudá-lo em algo.

- Sua colega de trabalho - faz uma pausa para se lembrar do nome -, Kátia, postou mas redes sociais. - Acabo rindo me lembrando das ameaças que ela fez para eu aceitar sair de casa e ainda sair maquiada. - Por que continua trabalhando lá?

- Ainda não estou pronta para voltar a me envolver com os casos. - Digo preparando os sanduíches.

- Eu não disse isso. - Anuncia me dando um copo de vitamina de banana. - Quero que trabalhe comigo.

- Por que? - Pergunto lhe dando o seu sanduíche e logo mordendo o meu.

- Porque assim você não vai sumir. - Ele da um passo para a frente, ficando mais próximo a mim.

- Preciso ir para casa. - Deixo o corpo vazio no balcão e molho os lábios para limpar o bigode de leite em minha boca.

- Toma banho aqui, eu te empresto uma roupa. Depois podemos sair e você me explica o caso Watson. - Pega meu copo e vai em direção a pia para lavar a pouca louça que sujamos.

- Vai me emprestar suas camisas para serem meus vestidos? - Pergunto com humor e pego um pano para secar o que ele lavou.

- Não seria uma péssima ideia. - Solto uma leve gargalhada de seu comentário. - Acho que tem aqui aquela sua calça jeans que você esqueceu aqui. Então só preciso te emprestar uma blusa.

- Eu estava procurando essa calça a muito tempo! - Exclamo indignada pela minha incrível perda de memória. - Então eu aceito a proposta, senhor Davis.

- Perfeito, senhorita Johnson.

- Eu ainda não acredito que fez isso! - Exclamo rindo e segurando minha própria mão por dentro de seu braço entrelaçado com o meu.

- Eu fui obrigado! - Argumenta em sua defesa.

- Charles, você pediu um salto emprestado para a vizinha por não me deixar sair com meu tênis.

- Você está de calça jeans e uma blusa social branca, com os cabelos soltos e um óculos de sol. Se eu te deixasse sair com aquele tênis vermelho, eu iria estragar sua roupa de advogada.

Paro de rir e me concentro em alguns pontos da rua. Seu silêncio me mostra que já percebeu meu desconforto.

- Desculpa... - sussurra baixinho - eu não quis...

- Está tudo bem. - Não, não está.

Sinto ele apertar um pouco mais o braço contra o meu. Ele percebeu.

- Chegamos! - Avisa puxando a cadeira para eu sentar. Murmuro um "obrigada" e observo ele sentar. - Agora já pode me explicar o porquê de querer adotar a menina.

Suspiro frustrada e me ajeito na cadeira.

- Eu não sei. Talvez a briga, o acontecimento... Eles provavelmente me levaram a esse caminho. - Digo sem olhar em seus olhos.

- Mas o que despertou isso em você, Carly? - Me penetra com seu olhar indecifrável.

- Olhar nos olhos dela e ver ela me implorar para tira-la de lá. - Viro o rosto para o lado e ele entende que não quero mais falar sobre o assunto.

Pedimos a comida e Charles conseguiu me fazer conversar sobre assuntos aleatórios. Mas não consigo tirar Amber da cabeça. Sei que fui impulsiva demais ao querer adotar ela, mas ver ela implorando foi demais para mim.

Saímos do restaurante de braços entrelaçados como vinhemos. O guio até a casa branca. Compro dois jornais e entrego um para o advogado. O puxo para um banco e nos sentamos com os jornais abertos em nossos rostos.

- Você sabe que isso é crime, certo? - Pergunta olhando para mim ainda com o rosto dentro dos papéis.

- Estou em um local público lendo jornal, senhor detetive Davis, isso não é crime. - Afirmo fingindo ler o jornal.

- Perseguição é, senhorita criminosa Johnson. - O tom de humor em sua voz é perceptível.

Ficamos um pouco mais de uma hora e nada. Nenhum sinal de vida naquela casa. Provavelmente estão no trabalho ou em alguma sessão de fotos.

Levanto irritada e jogo o jornal no banco com força. Saio apressada em direção ao apartamento do homem que está atrás de mim tentando acompanhar meus passos.

Adentro a casa dele e me jogo no sofá. Charles senta ao meu lado. Ele tira os saltos dos meus pés e deixa do lado do sofá de couro.

- Eu estou desesperada, Charles! - Exclamo tirando as mãos que estavam escondendo meu rosto. Me sento em sua frente no sofá e ele segura meus braços. - Sei que posso estar sendo precipitada, mas foi um pedido, uma súplica! Eu não sei o que fazer!

Desabo em seus braços. Isso não deveria estar mexendo tanto comigo. Sinto Charles me envolver em um abraço apertado que era tudo que eu precisava agora.

Sinto lágrimas molharem meu rosto. Odeio me sentir fraca. Meu amigo me aperta ainda mais em seus braços. Me sinto segura. Em seus braços, é o único lugar em que me permito chorar.

Capítulo dedicado à _Shablau e a yadryanne, essas duas leitoras fantásticas!💖

Capítulo dedicado também a todos que leram a prévia e/ou a briga para opinaram!💖

Eu querendo transformar esse conto em livro: *emoji do palhaço*

Eu tive a ideia de tudo isso durar 1 ano (iria acabar no próximo Halloween), o que acham?

Esse casal exala química!😍💖

Beijinhos de luz da escritora flopada!💖