18| Capítulo Dezoito - Itan
A minha intenção era apenas passar de série e terminar o ensino médio, arrumar um emprego e sair de casa, logo completaria meus dezoito anos e poderia dar no pé, nada mais me prendia a essa casa, pelo menos eu tinha a companhia da adorável Sônia, uma senhora que minha mãe conheceu na escola que dava aula e passou a ajudar aqui em casa, quando mamãe se foi, meu pai quis que ela ainda permanecesse aqui e começou a lhe pagar um pouco mais. Ela era sempre gentil e atenciosa, eu sentia como se ela fizesse parte da família. Uma tia, assim como Sabrina, mulher do meu tio.
Eu sabia também que se quisesse passar de série, não podia deixar minhas notas caírem, e eu estava completamente ferrado em Linguagem, por isso pedi ajuda a Sarah, ela tinha dito que a matéria era fácil, queria pensar assim também. Foi então que um dia na qual eu e meus amigos como de costume fomos na Darius criei coragem para pedir a ela.
Gostei de conversar com ela por mensagens. E na minha mente sempre vinha a pergunta por que ela e Derek tinham terminado, eu não sabia a razão, mas eu ainda podia chutar que foi por que Sarah não conseguiu suportar meu primo, eu que era parente, não conseguia. A distância entre nós era uma paz para mim, estava bem satisfeito dele estar fazendo faculdade bem longe de Paradise.
Sobre meu estudo que tinha marcado com Sarah, eu pensei que seria apenas nós dois, mas ela me contou que tinha uma espécie de clube dos estudos com seu melhor amigo, então os recebi aqui em casa, e
Sarah me passou dicas valiosas, e através de suas anotações a matéria parecia até mais fácil, estava espantado e ao mesmo tempo fascinado. Ela mandou que eu fizesse revisões para eu estar verdadeiramente preparado para realizar a recuperação.
Na hora de ir embora naquele dia, ofereci uma carona para Sarah e dessa vez ela aceitou. Era a primeira vez que estávamos assim tão perto um do outro e eu senti Sarah desconcertada, sem nem ao menos saber onde colocar as mãos quando subiu na garupa da minha moto, eu não podia negar, tinha me divertindo com a situação.
Hoje era sexta-feira, a semana já estava terminando novamente, após o almoço fui regar as flores no quintal, James tinha chamado para ir na casa dele, mas recusei, pois prometi a Sarah que estudaria.
Me acomodei na garagem lendo mais uma vez as coisas que tinha anotado em meu caderno, estava tão concentrado que nem vi Sônia aparecer.
— Trouxe um suco para você, de uva que gosta — ela sorri estendendo o copo de vidro. Sônia sempre esboçava um sorriso gentil em seu rosto marcado pela idade, ela era uma senhora alegre.
— Obrigado, Sônia — a agradeço com um sorriso.
— Está estudando para o vestibular? — ela pergunta curiosa ao me ver com caderno em mãos.
— Na verdade não, é só para uma prova de recuperação, eu nem me inscrevi no vestibular — digo.
— Mas você não quis fazer nada relacionado a desenho? — Sônia sabia da minha paixão assim como a da minha mãe.
— Não me vejo fazendo faculdade — digo a verdade, não era uma coisa que eu quisesse fazer. — E mesmo se quisesse tenho certeza que meu pai só iria me ajudar se seguisse o mesmo ramo que ele.
— Ele não pode te obrigar a fazer algo que não queira, sabe disso não é? — ela me olha séria.
— Claro — sorrio amarelo, concordando. Sônia me deixa sozinho e eu aprecio o doce suco de uva, enquanto lia as anotações.
Mais tarde ouvi o estacionar de um carro em frente de casa, provavelmente meu pai já tinha chegado. Estudei mais um pouco e subi para ir ao meu quarto.
— Estudando? — cruzo com meu pai ele estava terminando de descer as escadas. Ele arqueia as suas sobrancelhas. — Para o vestibular?
— Não vou fazer — digo sem olhá-lo pronto para passar por ele, mas ele fica entre eu e a escada.
— Pensei que tivesse dito para se inscrever na mesma faculdade do Derek?!
— E pensei que você tivesse entendido que não queria fazer faculdade, ainda mais uma que eu não tenho o mínimo de interesse. Não vou fazer só para te agradar — digo firme.
— Eu só quero o seu melhor, Itan. Mas se não quer fazer faculdade, acho bom pensar em alguma coisa para fazer se pensa que vai viver as minhas custas para sempre — ele fala, suas palavras fazem meu sangue fervilhar.
— Pode ficar tranquilo, não preciso da sua caridade, logo logo você vai se ver livre de mim — digo fazendo menção para subir, ele se afasta e eu passo batendo em seu ombro.
Quando chego ao meu quarto jogo o caderno em cima da cama. Meu peito subia e descia, eu estava com raiva, não sabia o que fazer da minha vida, me sentia perdido, sem rumo. E eu não tinha mais minha mãe ao meu lado, para me apoiar, para dizer que iria ficar tudo bem. Caminho de um lado para o outro do quarto, lutando para que nenhuma lágrima caísse, agarrei meu cabelos e os apertei com força. Respirei e inspirei tentando me acalmar.
Um, dois, três...
Contava devagar. Ouvi dizer que parar acalmar os ânimos temos que contar até dez, tentei colocar isso em prática. Cheguei ao número dez, mais ainda estava angustiado.
Remexi na gaveta tirando um maço de cigarros e o esqueiro de James que ele tinha esquecido aqui em casa um dia desses.
Fui até o telhado, no qual me sentei. Tirei um cigarro do maço que coloquei ao meu lado, liguei o isqueiro e acendi o cigarro. Dei uma tragada, e tossi logo em seguida.
Que droga estava fazendo?
Mesmo não querendo chorar, meus olhos transbordaram, fazendo minha visão ficar turva.
Apaguei o cigarro no telhado, pensando em como minha mãe abominaria essa minha atitude. E eu sentia que ela olhava por mim. Arremesei o cigarro longe, limpei meus olhos com as mãos, olhei para o horizonte, onde o sol se punha preguiçosamente.
De repente estou de volta ao pé da escada de casa, tenho dez anos e ouço meu pai e minha mãe discutindo, meu pai sempre com seu tom de voz mais elevado.
— Ele só quer sua atenção — mamãe repetia diversas vezes.
— Eu nunca quis ter filhos, você sabe, Berenice.
Aquelas palavras me quebravam mesmo depois de tempos.
Naquela época eu fazia de tudo para que meu pai me notasse, mas depois de ouvir aquilo, não fiz mais questão. Mas eu ainda tinha minha mãe, era ela que sempre estava nas minhas apresentações de escola, era ela que me dava sermões, mas também me aconchegava em seus braços. Era ela quem me amava e estava comigo.
Eu não queria ter que ficar em casa, eu precisava sair daqui, me distrair. Mas eu não podia ir na casa de James já que ele havia me dito que tinha um jantar em família. Meu melhor amigo era a primeira pessoa quem eu tinha a recorrer, mas hoje não dava. Então meu pensamentos caíram sobre uma garota de cabelos castanhos, em como eu queria vê-la outra vez, podia chamá-la para conversar e por um momento minha mente poderia espairecer ao seu lado. Sai do telhado decidido, afim de dirigir até a lanchonete Darius.
...
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