10- Tour
Song: First Love
Valentina
Ao acordar, ainda de olhos fechados, estranhei o fato de meu quarto estar com um cheiro diferente do habitual. Um tic tac insistente de algum relógio em algum lugar, juntamente com a sensação de algo perfurando minha pele era ainda mais estranho. Abri meus olhos para tentar descobrir o que era, e então percebi que não estava no meu quarto, estava no hospital.
O que diabos estou fazendo aqui?
Com um baque, as últimas memórias vieram com tudo, e tudo que eu consegui pensar foi em Yoongi. Ao olhar para o lado percebi Sihyeon ali. Ela estava distraída com alguma coisa no celular.
— Sihyeonie, como vim parar aqui? — eu questionei, estranhando o fato de ela estar aqui.
— Tina! Ainda bem que você acordou, fiquei preocupada, todos nós ficamos. Jin trouxe você e eu vim junto com ele, eu estava saindo da gravadora na hora que ele estava te colocando no carro.
— Quanto tempo eu dormi? — minha maior preocupação era estar atrasada de alguma forma para a tour.
— Não muito, ainda estamos no mesmo dia. O senhor Bang disse que você pode ficar o resto da semana descansando e semana que vem você retorna para o começo da tour.
Depois disso, o médico veio me fazer algumas perguntas. Ele me perguntou se eu havia passado por algo ruim para desencadear a crise de ansiedade que tive, expliquei em partes o que tinha conhecido, ele só constatou o que eu já sabia: eu tenho que amá-lo demais para chegar a esse nível. Mas por via das dúvidas, ele disse que é bom eu não lembrar muito do assunto e evitar contato com a pessoa responsável pela crise, para não desenvolver uma nova crise, principalmente se for para brigarmos de novo.
Após receber alta, Sihyeonie me ajudou a ir para casa, ela disse que vai me ajudar em tudo que eu precisar, eu agradeci mas disse que queria ficar um pouco sozinha, então ela disse que no dia seguinte iria voltar para ver como eu estava, e realmente voltou.
Durante o restante da semana, eu recebi visitas de minha amiga, de alguns colegas de trabalho e dos garotos do Bangtan. Menos dele. Yoongi não veio me ver. J-Hope disse que ele não sabe o que aconteceu porque não deixou ninguém falar, ele não deixava ninguém dizer meu nome se ele estivesse perto.
Matias me procurou de novo, me ligou e mandou mensagens, mas eu não respondi nem um, nem outro. Decidi que não tinha o porquê esconder a crise da minha família, então contei a eles, obviamente omitindo a real pessoa responsável, e eles ficaram bem preocupados, mas eu os tranquilizei dizendo que já estava melhor e que eles não precisavam se preocupar.
No dia da viagem para o início da tour, eu consegui ver Yoongi de relance, de longe, ele nem olhou para a minha cara, e isso doeu muito. Já dentro do avião, eu evitava pensar muito nos meus problemas e me esforcei para pensar mais em meu trabalho. Eu estou prestes a viajar para diversos países e nem consigo ficar totalmente feliz com isso.
Depois da decolagem, fiquei tão imersa em meus pensamentos que nem percebi que meu celular começou a reproduzir First Love. Eu estava de fone, então não escutava nada à minha volta. Quando me dei conta da primeira lágrima escorrendo pelo meu rosto, mais do que depressa eu mudei a música, mas parece que nenhuma outra fazia sentido em ser escutada, eu queria ouvir a voz dele, mas me fazia mal, então eu não podia. Depois de tantas tentativas frustradas de achar uma música, eu desisti e larguei meu celular e fones de um lado. Agora, tudo estava silencioso demais, o tédio começou a reinar no avião, nem dormir eu estava conseguindo.
Mas que droga!
O que eu tenho que fazer para conseguir um pouco de paz na minha vida?
Meus olhos pousaram sobre o celular novamente. O que pode acontecer de tão ruim se eu ouvir aquela música? Não custa tentar, certo? Então, suspirei e peguei meu celular e fones de novo, logo colocando First Love para reproduzir novamente. Deixando meu corpo relaxar na poltrona, fechei meus olhos e fiquei só escutando a música.
Sua voz é tão doce no início, tão leve, tão calma. Nossa, como sinto a falta dele. Ao decorrer da melodia, percebi como a velocidade da letra aumenta juntamente com o toque, como se tivesse algum tipo de desespero o envolvendo. Não consegui deixar de comparar com a minha vida; calma de início, ao decorrer do tempo, o desespero me envolvendo, como se nada de bom pudesse acontecer, e então, a calmaria, que é o que eu espero que aconteça depois da tempestade dos últimos dias. E quando a música acabou, eu não me senti mal, de maneira alguma, pelo contrário; eu me senti bem, com esperanças de que algum dia toda essa situação melhore, e que minha dor acabe.
O restante do voo passou tão rápido que eu nem vi. No dia do show, tudo aconteceu normalmente, e eu descobri como é tudo muito corrido. Depois do primeiro mês, eu acabei me acostumando. Durante os meses da tour, eu consegui assistir um pouco do show quando passava perto do palco, e é simplesmente incrível, inexplicável. Assistir a um show deles, mesmo que de relance, foi como realizar um sonho, porque com certeza isso se parecia com um sonho. Agora, finalmente, estamos voando rumo ao Brasil. Eu estou tão ansiosa, vou matar a saudade do meu país e da minha família! Claro, se eu tiver tempo.
Quando desembarquei no Brasil, eu respirei fundo, sentindo o ar brasileiro entrar em meus pulmões (não que o ar fosse tão diferente, mas é só um jeito de falar). Com um sorriso enorme, eu saí rumo ao portão de desembarque com as outras pessoas da equipe. Ao sairmos do aeroporto, fomos direto para o hotel onde todos iríamos ficar, que não era necessariamente o mesmo que os meninos iriam ficar. Na realidade, eu não sei qual o hotel deles, não quis saber.
Já em meu quarto — que estou dividindo com uma colega — eu peguei meu celular, a fim de avisar meus pais que já havia chegado. Então, disquei o número de minha mãe e não demorou muito para ser atendida.
— Omma! Enfim, estou no Brasil — eu disse, totalmente animada.
— Filha! Que alegria, quando vem nos ver?
— Assim que der tempo, provavelmente depois dos shows.
— Me explica direitinho seus horários, filha? Para eu saber quando você provavelmente virá, vou fazer um cafezinho. Vão ser quantos dias de show?
— Vão ser dois dias, omma. Hoje eu vou descansar para os shows que vão ser sexta e sábado, vou descansar um pouco domingo, depois de toda a correria, e segunda talvez eu consiga ir ver vocês, daí terça nós embarcamos para o próximo país.
— Poxa, como é corrido. Vou deixar você descansar. Boa sorte no trabalho, filha.
— Obrigada, omma. Até mais. Mande um beijo para o appa e para a Kett.
O restante do dia foi tranquilo, eu consegui descansar bastante, até. O show de sexta foi tranquilo, sem muitas coisas novas. No show de hoje, eu me sentia um pouco ansiosa, talvez pelo fato de que vou rever meus pais e minha irmã logo. Sinto tanta falta deles.
Agora, no camarim, estamos todos trabalhando juntos para deixar o Bangtan em perfeita ordem para o início do show.
— Tina! Preciso da sua ajuda urgente — euf virei para um de meus colegas, que parecia desesperado. Estávamos terminando de arrumar os meninos. — Eu tenho que ir no hotel buscar algumas coisas, vou tentar ser rápido, mas eu preciso que você termine de arrumar o Suga para mim, por favor, te imploro!
Porra, mais essa?
— Tá, eu termino, pode ir — eu estou, na verdade, muito desesperada.
Caminhando lentamente, fui até onde Yoongi estava, ele me olhou pelo espelho por fração de segundos. Respirei fundo antes de me pronunciar.
— Tudo bem para você se eu terminar de te arrumar? — eu perguntei, tentando não demonstrar o tamanho do meu nervosismo. Ele simplesmente deu de ombros, mostrando que não ligava.
Me aproximando mais da bancada e dele, eu comecei a fazer sua maquiagem. A cada detalhe novo que eu deixava em sua pele, eu tremia mais, ao ponto de ter que chacoalhar as mãos algumas vezes para ver se diminuía um pouco a tremedeira. Ver a forma como ele simplesmente me ignorava não estava me fazendo nada bem.
Depois que acabei, comecei a arrumar seus cabelos, olhando de vez em quando seu reflexo no espelho, vendo que ele agia como se eu não estivesse ali, sendo que, mesmo que não fosse tão próximo da pessoa que estava o arrumando, ele sempre dirigia a palavras, mesmo que curtas. Senti uma leve pressão em meu peito, um aperto no coração, eu sabia o que estava por vir. Tentando respirar fundo, mesmo que com alguma dificuldade, eu tentei me concentrar em meu trabalho, suando frio, sem prestar real atenção nas coisas em minha volta.
— Tina, você está bem? — eu ouvi Jungkook me chamar, parando atrás de mim, claramente preocupado.
— S-sim — eu disse simples, ainda sem respirar direito. Desistindo de tentar resistir, eu larguei a escova de cabelos em cima da bancada e me segurei nele quando senti minhas pernas falharem, eu não iria conseguir ficar em pé. — Não... N-não consigo respirar.
— Meu Deus. JIN! — ele chamou o hyung. Como Jin me levou ao hospital naquele dia, ele ouviu algumas recomendações do médico sobre o que fazer naquele momento. — Eu acho que ela está tendo aquela crise de novo.
Tudo aconteceu rápido demais. Seokjin chegou depressa, me ajudando a ir até o sofá que tinha ao fundo do camarim, me deitando cuidadosamente, enquanto eu nem conseguia manter meus olhos abertos.
— Tina, olha para mim — eu obedeci, com dificuldade. — Ótimo, acompanha comigo, inspira fundo e expira devagar — eu fiz o que ele pediu, umas três vezes, sentindo que talvez não fosse uma boa ideia. — Gente, mantenham distância, dêem espaço — ele pediu aos outros staffs, que logo foram se ocupar de alguma coisa.
— Não... acho que a pressão caiu — eu coloquei uma mão na testa e fechei os olhos com força, sentindo as lágrimas escorrendo devagar.
— O que está acontecendo? — depois de todos esses meses, eu ouvi a voz de Yoongi, e ele parecia preocupado. De alguma forma, os sintomas da crise diminuíram um pouco, porém, quase nada.
— O que está acontecendo é tudo o que você não deixou ninguém te contar nesses meses. Ela está tendo uma crise de ansiedade, de novo — Jimin disse, parecendo irritado com Suga.
Hora inapropriada, mas é impossível refrear o pensamento de que ele é muito adorável.
— De novo? Quando aconteceu a outra vez? — eu tenho quase certeza que ele sabe, mas tem medo de admitir a si mesmo.
— Quando você deixou ela no estacionamento naquele dia — Jimin disse novamente, dessa vez em um tom baixo, quase em um sussurro. Yoongi não disse mais nada.
— Yoon... — eu chamei, em um fio de voz, ainda sem conseguir respirar direito, tendo uma ideia que talvez funcione, torcendo para ele não me ignorar. — Canta... qualquer música, o-ou só continua falando, por favor — eu pedi em um sussurro, estava sendo difícil me manter totalmente sã.
— Por quê? — ele parecia confuso, mas se aproximou um pouco. Taehyung pareceu entender o meu pedido.
— Não questiona, só faz o que ela pediu, rápido! — ele disse, empurrando Yoongi para mais perto.
Mesmo a contragosto, ele se abaixou à minha frente e começou a cantarolar baixinho, num tom que provavelmente seria difícil entender se não estivesse tão perto. Não consegui entender qual música era de primeira, mas quando me acalmei um pouco, consegui entender a letra com perfeição.
First Love, ele estava cantando First Love.
Deixei um pequeno sorriso escapar quando entendi a letra, cada parte do meu corpo começou a relaxar, devagar, minha respiração voltava ao normal lentamente. Eu sempre soube o poder que ele tem sobre mim, mas não sabia que era tanto.
— Oito minutos para a entrada no palco! — um carinha abriu a porta rápido, disse e saiu com a mesma rapidez.
Todos pareceram acordar de um transe, e só aí percebi o silêncio que tinha se formado ali, enquanto Yoongi cantava baixinho para mim. Voltei meus olhos para ele, sussurrei um obrigada, que ele não respondeu, só se levantou e seguiu para fora com os outros garotos. Antes que eles fossem totalmente, eu pedi que eles não se preocupassem comigo porque já estava melhor, que eles não se distraíssem e arrasassem como haviam feito nos shows passados.
Passei metade do show ali, deitada no sofá, só lembrando do momento em que ele estava cantando, doce, como se não estivéssemos brigados, e como se eu não estivesse a um fio de ter um colapso. Ao final do show, depois de finalizar meu trabalho, eu fui para o hotel onde estava hospedada. Todos eles me diziam para ir a um médico, mas eu disse que não era necessário, pois já estava bem. No dia seguinte, eu pude descansar melhor, passei o dia praticante inteiro deitada e sob a supervisão de minha colega, quase amiga. E hoje, eu finalmente vou ver minha família.
Ao sair do quarto, entrei no elevador e desci até o primeiro andar, ao chegar no hall do prédio, encontrei todos os garotos ali. Todos vestidos de uma força em que não chamasse atenção e de máscaras, alguns estavam de chapéus, outros de óculos.
— O que estão fazendo aqui? — eu perguntei, confusa.
— Nós queremos conhecer mais do Brasil, então viemos chamar você pra sair com a gente — Namjoon explicou, atencioso.
— Poxa, eu estava indo ver meus pais agora — eu estava realmente triste, mas acabei tendo uma pequena ideia. — Vocês podem ir junto, se quiserem.
— Claro! — disseram em conjunto, menos o Yoongi, ele estava com cara de quem queria ter ficado dormindo, provavelmente queria, sendo o gatinho manhoso que é.
— Ótimo! Eu dirijo — disse e já fui saindo do prédio, indo em direção ao carro que estava na entrada. No carro obviamente cabiam todos nós.
Já no automóvel, depois de uma pequena discussão entre eles para decidir quem iria na frente (obviamente o Yoongi não participou), Jin se sentou ao meu lado, com o argumento de que é o mais velho e que precisa cuidar de mim.
Parando em frente à casa que eu morava até alguns meses atrás, meu sorriso aumentou no rosto. Desliguei o carro e desci o mais rápido que pude, praticamente correndo em direção ao portão, batendo palmas logo em seguida. A porta principal se abriu, revelando minha querida irmã.
— TINA! — ela gritou, andando até o portão, destrancando o cadeado e logo me abraçando, muito forte. — Eu senti tanto a sua falta, Tina.
— Eu também senti sua falta, Kett, muita — com algumas lágrimas de felicidade e saudade escorrendo por minhas bochechas, eu a soltei, olhando no fundo dos olhos azuis. — Você não mudou nada.
— Você não mudou também, só parece meio tristinha, o que aconteceu? — ela perguntou, me olhando com atenção.
— Não aconteceu nada... — menti. — Eu estou bem. Aliás, quero te apresentar algumas pessoas — eu virei para os garotos, pedindo para eles se aproximarem.
— NÃO! É o BTS? Mesmo? — ela estava a ponto de ter um treco, dava para ver. E a propósito, é compreensível.
— Sim, são eles. Eles queriam sair, então eu os trouxe para conhecer vocês.
— Ai meu Deus. Oi. Quer dizer, eles não me entendem, né? Meu Deus — ela estava dando alguns pulinhos no lugar, totalmente alegre.
— Meninos, essa é a Kettlin, minha irmã — eu apresentei, rindo da situação.
— Olá — eles cumprimentaram juntos. Em português, porque eles tinham aprendido algumas palavras para o show. Minha irmã respondeu com um acenar alegre.
— Vamos entrar, estou com saudades da omma e do appa — eu disse, entrando e puxando eles para entrarem junto. Eu espero que tudo dê certo hoje.
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Estamos na reta final :'(
Obrigado por lerem♥
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