✨Capítulo II- Os olhos sombrios✨
É horrível perder alguém que a gente chega a considerar da família. Minha relação com a Tia Leandra era forte, afinal ela foi minha coordenadora e passou-me grande parte dos costumes da nossa paróquia. Foi ela que me segurou nos braços quando minha mãe morreu, era a ela que garantia que tudo ia de acalmar. Naquele momento eu pensava que nunca cessaria a dor, hoje sou eu que tento passar o mesmo apoio a filha dela.
Rafaela Simões. A garota que eu tanto tentei ficar afastada nos últimos meses, apesar de sermos da mesma paróquia, do mesmo grupo de jovens e temos muitos amigos em comum. Apesar de todo o meu esforço de não aproximar, vê-la jogada em frente ao altar e gritando com Deus foi de apertar o coração. Por mais perigoso que seja ficar perto da presença dela, eu nunca negaria socorrer alguém em um momento deste. Nada se compara a dor da perda.
Depois que ela conseguiu acalma-se um pouco, o Senhor Padre chegou e conversou com ela por alguns longos minutos. No final observei ele abraça-la, falando com sua voz grave que ela não estava sozinha nessa. Direcionando um olhar significativo para mim, eu sabia sem precisar de uma palavra dita por ele para estender. Ele queria saber se eu estava bem com a situação.
Balançando a cabeça afirmativamente, o Padre Sebastião ofereceu uma carona a ela e eu logo intervir. Disse que a levaria com segurança, afinal o senhor Padre tinha um casamento para realizar dentre uma hora e meia. Apesar das dispensas do meu sacerdote, Rafaela concordou em dá-lhe uma carona até sua casa.
Faz poucos meses que finalmente tirei a habilitação, como comemoração de meu aniversário de 18 anos meu pai me deu um Jeep preto tão bonito que não pude recusar. Apesar de tentar não viver consumido pelos bens materiais, aquele carro era meu sonho de carne e unha. Odiava quando meu pai conseguia vencer o meu espírito.
No caminho todo até a casa dela, Rafaela fixa sua atenção para a paisagem através do espelho embasado. Deixando-a em paz, logo em alguns minutos estaciono em frente a sua casa. Ela morava apenas 20 minutos da paróquia, mas tive a sensação que foi pouco menos de 5. Desligando o motor, logo observo ela levar a mão até a porta. Estou tão estranho com a presença dela, que digo com a voz falhando:
- Se precisar de mim Rafa, você sabe onde me encontrar. Sua mãe era muito especial.
Seus olhos cor de mel encontram os meus, tão fortes e vivos que me sinto desconfortável por uma fração de segundos. Levo meu braço até a nuca, tentando apaziguar a onda de calor naquela região.
- Obrigada por tudo Felipe, minha mãe te adorava sabia disso?- Comenta ela por fim, com um sorriso triste de formando entre seus lábios canudos e rosados.
- Eu sei, eu também a adorava.- Digo fechando os olhos por um instante.
Aquela perda não era dolorosa apenas para ela, era doloroso para mim também. Eu tinha profundo amor e gratidão pela Tia Leandra, minha adulta feminina favorita. Ela foi uma grande amiga da mimha mãe, ambas levávamos a igreja desde de muito cedo.
- Tenho certeza disso. Obrigada por cuidar de mim, eu preciso entrar. Deus te abençoe Felipe.- Despede a morena saindo do carro.
- Amém. Que Deus te proteja nossa senhor te cubra com seu manto e jesus te acolha em seu coração misericordioso.- Falo sem ao menos pensar, ao mesmo tempo que ela fecha a porta na minha cara.
Essa garota é tão intrigante Deus!
No outro dia
Velório e sepultamento de Leandra Simões
Eu não sei se já mencionei, contudo eu vou deixar bem explícito aqui. Paulo Scolari é o cara mais ignorante e egoísta que eu conheço! A maioria dos pais ficam orgulhosos quando os filhos tomam duas decisões cedo e logo correm atrás de realizá-las. Só que meu pai não é assim.
Depois de mais de sete anos que tomei minha decisão, ele continua achando que eu querer levar a vida sacerdotal é um fase imatura. Apesar de eu enfatizar com todas as letras do alfabeto que essa já é a minha decisão e ponto final. As vezes falar com meu pai era uma cansativa brincadeira de ficar mudo e desligar os ouvidos por longos minutos, horas.
No entanto hoje eu não conseguia fazer isso. Estava mais de cinco minutos atrasado, meu carro estava na oficina e meu pai estava saindo para uma reunião de trabalho. Sim, apesar de ser Domingo meu pai sempre estará ocupado demais sendo um Homem de negócio. Batendo no vidro da janela, ele diz com sua voz levemente forçada e fingindo surpresa:
- Olá filho. Não sabia que você ia sair.
- É, não sei se você ouviu quando eu disse que tinha um velório para ir. Me dar uma carona?- Peço sem conseguir nos seus olhos.
- Claro meu garoto. Entra aí.- Concorda meu pai abanando a cabeça.
Abrindo a porta do banco do passageiro, sento-me já passando o cinto entre o meu corpo. Só quando está corretamente prendido, eu suspiro observando o carro ganhar movimento. Papai não diz nada, mas posso sentir seu olhar. Era tão constrangedor quando ele me olhava de modo, como se olhasse para uma criança e não um homem.
- Você está muito bonito Lipe.- Fala ele por fim, virando a esquerda.
- É, obrigada. Considerando que estou indo para um velório.- Digo com sarcasmo, meu humor era péssimo quando ele está por perto.
Não que meu pai esteja errado. Quando abrir meu guarda-roupa está manhã, quis escolher uma combinação que raramente uso. Então pegando uma calça jeans preta não muito justa, uma camisa social azul clara (que eu passei ferro) e meus all star pretos, eu esperava não está parecendo um adolescente. Odiava que as pessoas me olhassem deste jeito, afinal eu já tinha 18 anos e logo completaria 19 anos. Estava quase na hora de seguir meu próprio caminho.
- Eu sinto muito pela Leandra. Sua mãe ficaria arassada. Elas eram grandes amigas.- Comenta Paulo, também evitando contato visual.
- É, eu me lembro. Quero muito dar apoio a Rafaela neste momento. Infelizmente quem mais amamos morrem.- Digo sentindo a garganta apertar.
Eu poderia não assumir isso em voz alta, mas pensar em Rafaela sem me fazia querer pular de uma sacada. Para mim estava definido que iria seguir o sacerdócio, contudo aquela garota me fazia desejar no mais íntimo dos meus pensamentos nunca pisar o pé no seminário. Fazendo uma cara de nojo, fingo que olho para a janela para me pai não possa ver minha expressão. Já foi difícil demais assumir para o Padre Sebastião que eu sentia-me atraído por uma garota. Logo pela Rafaela Simões.
- Infelizmente. Espero que a Rafaela fique bem. Aquela menina é um doce de garota, tão gentil e carismática. É um menina de ouro.- Elogia ele, também parecendo com está bem longe com seus pensamentos.
Depois de longos minutos de tontura de silêncio, me pai estaciona em frente a casa da Rafaela e eu não espero um segundo para saltar do carro. Agradecendo pela carona, entro pelo jardim e logo avisto muitos conhecidos da Paróquia. Direciono até a sala de estar, onde o caixão foi posicionado e muitas pessoas estão em volta simplesmente ouvindo o louvor.
Demoro alguns segundos até avista-la, sentada no sofá ao lado de uma mulher negra e cabelo black power mantia seu colo entrelaçado no dela. Imaginei que fosse sua tia Kellyn, ao qual Tia Leandra sempre mencionava com grande humor. Quando dou um passo na sua direção, Padre Sebastião me avista e chama a minha atenção.
Dando um aceno em concordância, aproximo-me do meu Sacerdote lembrando da minha missão. Padre Sebastião usava sua batina, estava com a bíblia sagrada nas mãos e preparava o discurso aos familiares. Parando a sua frente, puxo a face da sua mão depositando um beijo. Ele apenas sorrir.
- Pequeno Felipe. Que bom que você veio meu filho. Vou precisar da sua ajuda.- Cumprimenta o senhor de oitenta anos, com sua voz cansada e ao mesmo tempo carismática.
- Aos suas ordens senhor. Como posso ajudá-lo?- Pergunto oferecendo um sorriso.
Então ajudo meu senhor a preparar a cerimônia, onde lendo o evangelho de São João ele direciona um discurso impressionante e ao mesmo tempo significativo a família Simões. Eu o ajudo segurando sua Bíblia, pegando água para ele e o ajudando se movimentar pela sala de estar. O Seu Sebastião já é um homem de idade, contudo é tão sagaz que é impossível impedi-lo de pegar mais leve.
-"A morte é como um sono, não há lembranças, não há emoções e nem sentimos e sofrimento em que partiu, assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono". João 11:11,13.- Continua o Sacerdote, com seu talento nato de expressar o reino de Deus em um pequeno discurso.
O Padre demora mais alguns minutos fazendo algumas orações, enquanto toda a sala se comove com sua intercessão e o acompanham naturalmente. Observo Rafaela com seus olhos fechados, derramando involuntariamente algumas lágrimas e rezar com todo ardor do seu coração. Aquela menina era simplesmente um anjo de olhos cor de mel.
Enfiando esses pecosos pensamentos no fundo da mente, continuo meu trabalho ajudando o Padre Sebastião encerrar o velório. Quando todo mundo começa a se retirar para ir por cemitério, eu aproximo-me de Rafaela que agora estava sozinha no sofá e digo atraindo seu olhar:
- Oi. Como você está?
- Bem mal. Estou dopada, não consegui dormir a noite.- Conta Rafaela, comprovo através do sua voz sonolenta que ela realmente foi medicada.
- Vai ficar bem, eu juro.- Falo me sentando ao lado. Passando meu braço ao redor do seu corpo, prossigo sentindo seu perfume de rosas invadirem minhas narinas:- "E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas".
Apocalipse 21:4 um dos meus versículos favoritos.
- Obrigada Felipe. Você vai ser um ótimo sacerdote um dia sabia?- Comenta ela enquanto acaricio seus cabelos.
- É. E você vai ser um ótima mulher sabia? Sua mãe só vai sentir orgulho de você. Ela nunca desejaria vê lágrimas, choro e dor no seu rosto. Ela nunca via te abandonar, agora você tem mais uma pessoa protegendo você lá do Paraíso. Deus nunca quer ver seus filhos aflitos, você não precisa disso. Vai ficar tudo bem.- Prossigo lembrando da Tia Leandra na minha mente.
- Vai ficar tudo bem.- Concorda ela fungando.
Não me lembro quanto tempo fiquei entrelaçada nela, mas foi o abraço mais sincero que já dei em alguém. Como eu já tinha vivenciado aquela situação de perder a mãe, sabia muito bem que um abraço valia mais do que mil palavras. No fim daquele dia vi Rafaela despedi da mãe com um sorriso triste no rosto, um sorriso de gratidão e saudade. Ela era tão bonita, mesmo quando estava tão triste como naquele momento.
A noite não conseguir fechar os olhos. Toda vez que teimava em fecha-los, pensava como estaria a Rafaela e como ela poderia dormir nesta noite. Imaginei como seria a vida dela agora em diante, sem a presença da sua mãe querida. De alguma eu queria ajuda-la, mesmo sabendo que aquele descontrole do meu coração não significava outro coisa. Rafaela tinha o poder de fazê-lo disparar.
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