Prólogo: O anjo a Observar
Um ano atrás
Castelo do reino de Arcai
A visão de Angelo
Allan encarava em seu aposento o dia inteiro a vista da janela de seu quarto, sabia que ele não iria desistir de aguardar o momento em que os portões do castelo se abririam, dando passagem à Cléber; sabia que ele não desistiria da fé que ele tinha em seu amigo e também general, pois Cléber era um homem valoroso e de palavra, ele não falharia, ele era esforçado, Cléber não falharia.
Seu foco era manter-se em esperança, ele sabia que a flor imortal era sua única cura, sua única salvação, por isso, se manteve a aguardar naquela janela todos os dias, mantendo a esperança de que seu amigo regressaria bem e com o amaranto que o livraria de seu mal.
Faziam dez meses desde a nossa visita à Claira, e o mago, mesmo calado, estava impaciente, era ciente disso, conhecia muito bem o meu familiar, sabia ler em seus gestos e expressões quando algo o irritava assim como sabia que ele morria por dentro, e não havia muito tempo para impedir isso.
Allan morria de dentro para fora, e o amaranto era o que o salvaria.
Mas isso não significava que ele não tinha outro plano caso esse falhasse; ele não foi coroado rei à toa, sempre foi um excelente estrategista. Resolvi me aproximar dele. Me esfreguei da cabeça à cauda em seus pés, avisando que eu estva lá dando-lhe apoio, e que estaria com ele e o seguiria onde quer que ele fosse, ele entendeu isso e me retribuiu com um leve sorriso, se abaixou e deslizou seus dedos por meus pelos, ao fazer isso, percebi que estava mais magro que antes, suas roupas estavam mais folgadas em seu corpo, sua face mais entristecida, seu estado mais preocupante.
Em honestidade, o mago inteiro estava desnutrido. Ele sempre fora um homem bonito, com sua feição madura e seus cabelos azulados jogados ao ombro, e agora estava magro, muito magro, as maçãs de seu rosto estavam finas, seu olhar entristecido, seu aspecto quase cadavérico. Ousar falar de sua aparência não faria bem para ele, por isso permanecíamos em quietude, apenas trocando nossos olhares.
Seus olhos eram a única coisa que reconhecia em Allan.
Seus olhos azuis seriam a última coisa a desaparecer, em breve surgiriam dois pontos brilhantes no vago escuro de suas órbitas oculares, isso me entristecia. O mago voltou-se para a janela de seu quarto, ele precisava de esperança e nunca ousaria tirar isso dele e parece que nem mesmo o tempo conseguiu, ao longe, os portões foram abertos, dando passagem ao general de Arcai.
Sei que seria exatamente como Allan imaginou ser, se Cléber não estivesse acompanhado. Haviam duas pessoas com ele, estavam longe demais para que seus rostos fossem contemplados, entretanto percebia-se que era uma dama e um rapazote.
- Quem serão as pessoas a acompanharem Cléber? - a voz do homem estava fraca, quase um sussurro por estar tão rouca, até mesmo falar era uma dificuldade.
- Também estou curioso para saber - respondi por fim, notando sua alegria ao perceber que nas mãos do amigo se avistava uma muda de planta com uma única flor globular cor-de-lilás.
Um amaranto.
- Sabia que ele conseguiria - ele já não estava triste, estava animado como nunca mais o vi. Sem dúvida a esperança se manteve desde que seu mal se manifestou.
Com os olhos cerrados ergueu a cabeça ao céu, o vento fez seus cabelos celestes voarem brevemente em solenitude, mas isto não permitiu sua subnutrição se passar despercebida.
- Louvado seja o capitão da Real Arcano, por trazê-lo de volta em segurança - comemorou em seu orgulhoso sorriso satisfeito.
Em lentos passos, o mago caminha até a cama, od pés descalços, tão finos, passavam a impressão de que se quebrariam por aparentarem tamanha fragilidade; pegou a longa capa negra estendida em seu leito, sua favorita, a capa exuberante de detalhes prata que sempre usava para sair de seu quarto para qualquer outro lugar, a vestiu, escondendo a camisa e calça simples que costumava usar para dormir, e, cobrindo por completo sua fronte com o capuz, ganhou então seu ar misterioso. Entretanto sabia que o homem estava nervoso, pois o quarto estava com uma brisa gélida.
Allan havia piorado muito desde seu último encontro com Cléber, mas pretendia estar com a melhor aparência o possível para que nosso amigo não se entristecesse por ele, e abominava essa ideia, odiava com toda sua "frieza" imaginar que sentiriam pena dele.
- Vamos para a sala do trono Angelo - convidou-me com suavidade enquanto aproximava os dedos magros da porta.
Uma certa desconfiança caiu sobre mim. Eu, como todo animal familiar, não deixaria meu eleito conversar com pessoas estranhas sem supervisão, precisava me encontrar com os estranhos que acompanhavam Cléber, precisava saber o que havia através de seus olhos.
Precisava enchergar as suas lembranças marcantes.
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