Ah, o clã dos ursos... Como isso me alegrava, como isso me fezia sorrir, não um sorriso falso, não... Um sorriso verdadeiro, um sorriso o qual sabia que faria o líder deles parar em minha frente e dizer:

- O que faz aí, parado como um idiota? - o lider do clã dos ursos perguntou como se zombasse de mim.

- Apenas testemunhando - permaneci no lugar - Quero presenciar o dia em que se cumprirá tudo o que guardião disse.

   O líder riu vagaroso, Bernard era seu nome, ele é um urso cor-de-canela, parrudo e severo, um bom líder sim, mas ao contrário dos outros líderes, era bom apenas para com os seus.

- Se me der licença, gato - Bernard desdenhou - meu clã e eu precisamos tomar nosso lugar na cerimônia - ele sorriu debochando-me com o olhar -mas nós podemos acompanhá-lo até o seu clã - seus olhos desafiaram os meus, então o que ele queria fazer ficou mais que explícito, logo após seguiu seu caminho com seu clã.

- Você pode rir agora, - o desafiei com a ousadia que sempre me acompanhou - mas quando o eclipse acontecer e a fênix surgir - meu sorriso orgulhoso tomou sua deixa - ninguém mais dará ouvidos às suas afrontas - pus em jogo a questão de que Bernard era um dos que desejavam o cargo de sr. Ruger.

- Veremos - ele rebateu com desdém, e seguiu com seu clã, e eu após eles, imaginando que deveria ficar atento ao urso marrom.

E a lua se aproximava do sol.

   Quando os ursos tomaram seu lugar, me acheguei ao lado de sr. Ruger, como sempre foi de costume; e estando todos já reunidos no imenso campo de Amarantos para a cerimônia, o líder da floresta de Amaranto enfim iniciou a cerimônia:

- Em uma das antigas lendas preservadas na floresta de Amaranto por nossos ancestrais, acredita-se que de cem em cem anos, o sol e a lua se encontram por uma única vez. Esse fenômeno se chama eclipse.

Lá vamos nós, outra vez.

   Esse discurso foi repetido tantas vezes em minha presença que cheguei a decorar.

- Quando assim se sucede, o anel do eclipse abre um portal em Claira de acesso aos jardins da fênix, a criatura lendária que deu origem à magia dos amarantos.

   Mas dessa vez, estávamos diante de todos os clãs da floresta, logo, a ocasião me emocinou.

- Quando a fênix pousar na floresta de Amaranto, ela derramará suas lágrimas sobre a terra, e a magia dos amarantos será renovada.

Em um gesto de sr. Ruger, todos nós elevamos os olhos ao céu; o sol e a lua começavam a se tocar.

- Quando a fênix surgir do eclipse - sr. Ruger bradou - tratem-na com respeito - a lua cobria o sol e o dia começou a escurecer - pois ela é a verdadeira regente do reino de Claira.

   A escuridão reinou por todos os lugares, como uma maldição assombrosa, manchando a luz do reino inteito, e todos os clãs temeram o que estava acontecendo e abaixaram o olhar diante do brilho fenomenal. Devo admitir que até mesmo eu fiquei nervoso com o eclipse, mas mantive-me firme olhando para o encontro do sol e da lua, e quando ambos finalmente se encontraram por inteiro, e o anel de luz se formou, meus olhos encantados pelo fulgor belíssimo não se atreveram a apreciar tamanha beleza, e senti como se o eclipse me chamasse, como se precisasse tocá-lo.

O eclipse me cativava de maneira curiosa, mal percebi quando sr. Ruger se aproximou a mim.

- É lindo, não é? - ele sussurrou ao meu lado.

- Belíssimo.

- Porém apenas nós dois temos a honra de admirar tamanha beleza - Ruger revelou algo que me entrigou.

- Apenas nós podemos ver o eclipse? - perguntei sem interromper o fitar no anel fenomenal.

- Sim, apenas nós - reconfirmou - Todos os outros animais estão com o olhar baixo, olhe para eles, Chest - pediu.

- Não, obrigado - neguei - Eu acredito no senhor - falei com a atenção ainda no eclipse hipnotizante.

   Se eu era o único a ser capaz de apreciar o eclipse, era muito grato por isso. Viver para testemunhar a olho nú tamanha raridade foi algo que nunca mais esqueceria, algo que me marcou para sempre e que deu início à minha nova jornada.

 O eclipse durou poucos minutos, porém, quando um vento forte invadiu o lugar, pude ver o momento em que uma pequena estrela cadente vermelha saltou no último instante, quase antes do eclipse chegar ao fim, e não compreendi à princípio. Entretanto, após a separação do rei sol e da rainha lua, após a promessa de que eles se encontrariam novamente, no próximo século, e tudo voltou ao normal, me dei conta de que algo estava errado, muito errado; todos também perceberam, e cochicharam entre sí, até o vantajoso Bernard bradar diante de todos:

- Não deveria haver uma fênix aqui presente?!