Alycia sorriu para o recepcionista enquanto entrava no ambiente intimista do restaurante. Ele estava a meia luz e dava para ouvir o tilintar dos garfos e a conversa ambiente. Os garçons passavam de um lado para o outro com os pratos fumegantes e eles foram guiados até uma mesa perto da janela, mesmo que só houvesse uma brecha nas cortinas grossas do restaurante.

— Boa tarde, já sabem o que vão pedir? — Charlie ergueu o cardápio, mas Alycia foi vomitando todas as informações necessárias para o seus pratos veganos sem ao menos piscar. Ele notou que ela iria ali com certa frequência.

— Ahn... Vitela ao porto. — Disse e o rapaz se afastou com os pedidos. Alycia sorriu para o garçom que se afastava e Charlie se acomodou na cadeira. — Eu quero pedir desculpas de novo pelo meu comportamento. — Ele engoliu a seco e as orbes verdes de Alycia se voltaram para ele.

— Vai ficar se desculpando até quando? — Charles deu os ombros.

— Até você entender que foi sem querer. — Alycia bufou e se jogou no estofado da cadeira.

— Eu já entendi, Charlie. Tenho ciência dos efeitos da minha presença e eu quem peço desculpas. — Olhou para fora, observando a pequena fresta na cortina. — Não queria te causar problemas.

Charlie franziu o cenho. O que Alycia estava achando? Que aquilo era culpa dela? Tudo bem que ele havia insinuado isso, mas nunca lhe passou pela cabeça – não depois de tomar consciência da realidade – que ela poderia ser culpada dos atos da Roxanne.

Sua ex era mesquinha e isso não era culpa de Alycia. Ela era sua amiga.

— Alycia, o problema é a Roxanne e não você. — Falou firme, mas Alycia apenas assentiu olhando para baixo. — O que houve? — Perguntou um minuto depois.

— Heisenbolt, o foco aqui é você é sua ex namorada. Não eu. — Sorriu cruzando os dedos. — Me conte o que aconteceu?

Charlie queria insistir em saber o que estava acontecendo com ela, mas conhecia aquele olhar e sabia que não adiantaria tentar. Suspirando, ele contou sobre o convite e o e-mail.

— Eu não tô com ciúmes, Alycia, não mesmo. Mas to me sentindo traído, como se toda a consideração que eu tinha por ela fosse algo totalmente unilateral e nem um pouco digno de atenção. Vai ser no mesmo lugar que eu havia reservado para a nossa cerimônia, o lugar dos sonhos dela. — Ele fechou os olhos por um segundo e o garçom se aproximou servindo o almoço deles e se afastou depois de Alycia dizer o vinho que queria. — Eu achei sacanagem, principalmente quando até então eu achava que ela estava se relacionando com varias pessoas e nada sério o suficiente para um casamento. Demoramos anos para noivar e ela com oito meses de solteirice vai estar casada.

— Eu sinto muito, Charlie, mas se isso está acontecendo foi por que ela procurou. Você sabe com quem ela vai se casar?

— Com um cara do trabalho dela, então, sim, é bem capaz dela estar com ele há bem mais tempo e eu ter sido feito de palhaço durante todo esse tempo. — Charles abaixou a cabeça e Alycia se remexeu inquieta. — Eu me sinto um idiota por estar me sentindo assim.

— É totalmente compreensível esse seu sentimento. — Alycia suspirou, deixando seus ombros murcharem. — Eu sinto muito por isso, não queria te causar problemas. Mesmo. — Engoliu a seco e fechou os olhos.

— Eu que sinto muito por ter descontado em você. — Estendeu a mão, segurando seus dedos. Alycia pensou em tirar a mão, mas com a mão livre apenas esfregou a testa e tentou sorrir. — O casamento da Roxanne não tem nada haver com você, só envolve ela e o namorado dela. — Tentou sorrir e Alycia o observou com certa solidariedade. — Tem alguma coisa acontecendo com você? — Perguntou depois de um tempo, notando algo de errado em seus olhos.

Vanderbilt negou com a cabeça e tirou a mão de perto da dele.

— Apenas um problema com amigas, só isso. — Ele ergueu as sobrancelhas, quase como se tivesse pedindo para que ela continuasse e a mulher suspirou. — Natasha e Bellany brigaram por conta de Howard, e de alguma forma, a situação virou culpa minha. — Ele não pareceu entender.

— Natasha?

— Natasha Jones é uma das nossas melhores amigas. Ela trabalha com Howard de vez em quando e quando descobriu de Howard, tentou falar para a Bell que ele não valia a pena. Bellany não gostou e elas discutiram. Bellany está destruída e Natasha irredutível. Teríamos uma noite das meninas hoje, mas não sei se vai conseguir ser agradável quando deveria. — Suspirou. — Zoe decidiu que sou eu quem devo resolver esse impasse, mas eu realmente não estou achando uma solução cabível.

Charles ergueu a sobrancelhas e levou a tava recém servida do vinho aos lábios.

— Por que você? E não entendi como isso acabou se tornando um problema que envolva você diretamente. A vida amorosa da Bellany só tem haver com ela e mais ninguém, não que seja errado a Natasha dizer que não confia nele, até por que é a função dela como amiga avisar que pode haver algum problema. Enfim... Como isso se tornou um problema seu?

Alycia respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e começou a falar.

— Temos um acordo. Todas as vezes que a gente se desentender, uma de nós vai parar e tentar arrumar as coisas. Zoe disse que não pode resolver, já que tecnicamente seria a vez dela, por que não conhece Howard e não tem conhecimento de causa o suficiente para ter opniões realmente válidas. Não é como se eu tivesse! — Apontou para o próprio peito exasperada. — Eu não acho que isso seja motivo para elas brigarem! De repente, minha influência se tornou um problema e eu nem sei como isso aconteceu, mas... Elas ficaram chateadas por eu não ter me posicionado de toda forma, mas acho que... Nat está chateada por estar trabalhando como freelancer há um tempo e eu não ter lhe ajudado como ela esperava e então, acabou descontando ainda mais.

— Alycia, isso é egoísmo da parte dela. Você fez sua carreira totalmente sozinha, você lutou para ter tudo o que tem hoje, não é justo ela fazer isso.

Alycia abaixou a cabeça e esfregou o rosto.

— Eu sei, mas também sei que eu posso estar inventando essa birra da Nat por estar com isso na cabeça, então, meu julgamento no momento não é muito confiável. — Ele negou com a cabeça. Garotas eram engraçadas.

— Abre uma audiência de reconciliação. — Sugeriu dando os ombros.

— É o que faremos. — Assentiu freneticamente depois de erguer a cabeça. — Elas vão precisar se entender, independe do que acharem.

— Não deixe o caso ir ao tribunal. — Falou sério e Alycia concordou da mesma forma. Charlie levou a taça aos lábios e observou o olhar compenetrado de Alycia observando seu prato vegano e estranho.

Ele ficou assim por alguns instantes, segurando a taça com as duas mãos até ela perceber ser observada e o encarar de volta. Não demorou mais do que alguns segundos para que ele começasse a rir, sendo seguido por um riso contido e que foi crescendo gradativamente da mulher a sua frente.

— Meu Deus, Heisenbolt! — Falou colocando a mão na boca enquanto gargalhava.

— Vanderbilt, quem diria que hoje estaríamos aqui falando sobre nossas mágoas em tarde de quarta-feira como se fosse a coisa mais normal do mundo? — Questionou erguendo a sobrancelha.

— É a coisa mais normal do mundo. — Comentou dando os ombros. — A maior diferença é que é com você. — Charlie assentiu uma vez.

— Nem todos têm o previlégio de conviver comigo, então aproveite esse teu presente divino enquanto ele durar. — Piscou e Alycia ergueu as sobrancelhas para ele.

— Meu amor, eu sou Alycia Vanderbilt, o privilegiado aqui é você.

Charlie a encarou ainda com a taça na mão enquanto Alycia sorria de forma meiga para ele e, pensando bem, ela estava certa.

— Obrigado por hoje. — Ele falou depois de um segundo, pousando o copo sobre a mesa. — E, de novo, me desculpe por ser um babaca.

— Bem... Existem algumas coisas que poderia fazer para compensar sua babaquice, mas, por hora, está perdoado. — Enfiou o garfo no seu prato, comendo aquela gororoba legumenta como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo, e ele sabia bem que era.

— Algumas coisas? — Alycia assentiu e ele enfiou um pedaço de carne na boca. — O que teria em mente?

Alycia deu uma risada maquiavélica e ele se arrependeu de ter perguntado.

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Pessoal, mil perdões pela demora em postar. Voltei a trabalhar e estou em semana de provas, ou seja, está bem difícil conciliar algumas coisas, mas estou voltando com tudo!