Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

CAPÍTULO 14 - O TERCEIRO-SARGENTO

Os trompetes, flautas e contrabaixos de uma sinfonia em ré maior vieram se mesclar aos sonhos de Keiton Lan Fer. Quando percebeu que era o toque de seu celular, ele acordou. Rolou e se arrastou na cama de casal para alcançar a mesinha de cabeceira. Ainda de olhos fechados, tateou até encostar na origem do som. Se estivesse no quartel, o aparelho teria que estar desligado àquela hora. Porém, como era domingo, Keiton pudera passar o dia em casa e dormir por lá.

Atendeu sem olhar quem ligava, já que o brilho da tela era forte para seus olhos recém acordados. Sua voz, enrouquecida pelo sono, tornava-se cavernosa. Ele limpou a garganta. Do outro lado da linha:

— Oi, Keiton, é a tia Laisa.

— Oi.

— Oi. Desculpa te acordar a essa hora, mas eu preciso muito falar contigo. É urgente.

Aquela última palavra acelerou o despertar do jovem sargento. Ele se sentou, acendeu o abajur sobre a cabeceira e obrigou o cérebro a abandonar a lentidão de quem flutuava em sonhos ainda no minuto anterior.

— O que aconteceu, tia?

— Desculpa, não dá pra falar por telefone. — Agora Keiton notava o tom sôfrego na fala dela. — Eu queria que você viesse aqui em casa. Quer dizer, se você puder.

— Sim, claro. Eu já tô indo.

Abandonando os lençóis e sempre em silêncio para não acordar o pai, que dormia no quarto ao lado, Keiton se vestiu, jogou um punhado de água fria no rosto, pegou a carteira, o celular e as chaves e saiu. Ainda em Orlestan, os colegas responsáveis pela ronda durante o toque de recolher o pararam. Ele foi reconhecido pelos capacetes, mostrou suas credenciais, disse que estava resolvendo uma emergência familiar e conseguiu prosseguir sem mais delongas. Os outros soldados colaram no carro de Keiton um adesivo que o autorizava a transitar naquele horário, válido até as seis da manhã.

Chegou, passou pelo hall de entrada. A sala estava toda acesa e a tia o esperava no sofá. Vendo-o, ela foi logo em sua direção, com a fisionomia abalada.

— Oi. — Ela o abraçou e deslaçou as lágrimas.

Keiton se sentiu uma criança de novo. Naquela época, a tia o envolvia nos braços toda vez que a dor a consumia. O pequeno sobrinho enxugava as lágrimas dela, realizando sua suposta obrigação de preencher o vazio que as mortes familiares haviam causado.

— Você é filho da minha irmã — argumentava tia Laisa naqueles tempos. — Tem que ficar comigo agora. Se você não fica comigo, eu fico sozinha.

Tia Laisa também havia chorado no dia seguinte à prisão de Ronan. Keiton a visitara pela manhã, quando as crianças estavam em suas aulas. No dia, ele conseguira se livrar da incumbência de reconfortá-la, pois saíra apressado (mais do que, de fato, necessitava) para o serviço. Agora, provavelmente teria que reassumir seu papel. Que ingenuidade a dele quando pensou que, em seu retorno, as coisas seriam diferentes de como haviam sido durante toda a vida com tia Laisa.

— O que aconteceu? — perguntou ele.

— A Kristina fugiu. Teve uma crise de revolta e foi embora. Ela falou tanta coisa pra mim, e dessa vez eu acho que foi de verdade.

— Calma, tia. — Ele a descolou de seu peito e a conduziu até o sofá, onde se sentou ao lado dela.

— Ela nunca entendeu as coisas que eu faço por ela. — Tia Laisa recuperava a compostura, enxugando as lágrimas e ajustando a respiração. — Ela me acha controladora e uma péssima mãe. Ela não sabe como eu amo e como eu me importo com ela.

Keiton contraiu os lábios. Como entendia o lado de Kristina! Até porque a ajudara a pensar daquela forma. Nunca expusera, de fato, tudo o que ele mesmo pensava (nunca ninguém conhecera 100% dos sentimentos de Keiton), mas não evitava tomar partido ao decidir o que algumas pessoas deveriam saber sobre as outras. Mesmo vendo a tia nas condições em que se encontrava, não se arrependia de ter tido aquela conversa com a prima, quando ela tinha doze anos e ele dezessete. Os dois estavam na adega do pai de Keiton, aonde tinham se acostumado a ir escondidos. Kristina acabara de brigar com tia Laisa, o que era tão costumeiro quanto.

— É claro que ela não me ama — Kristina havia dito. Então, ele confessara:

— Você foi um acidente. Eu ouvi a tia Laisa conversando com meu pai há muito tempo. Ela disse que você foi um acidente.

Na realidade, ele próprio fora o interlocutor da tia na conversa mencionada. Ela estava grávida. Keiton tinha cinco anos. Tia Laisa fazia dele seu confidente. Contava até casos que uma criança não deveria ouvir, e nunca lhe perguntava se ele queria saber daquelas coisas. Ele nunca pudera escolher brincar no quintal. Nunca soubera ter essa opção. Para ele, o normal era ficar sentado por horas ouvindo uma mulher depressiva chorar mágoas e mágoas e mágoas.

Kristina ficara inquieta com a notícia de ser um bebê indesejado.

— Então é por isso.

— A princípio sim — ele havia dito. — Mas depois ela aprendeu a gostar de você. Dá pra perceber.

O processo gradativo de aceitar e amar Kristina culminara em um processo gradativo de poupar Keiton. Isso era nítido para ele. Porém, não foi suficiente para fazê-lo ficar.

— Não, ela não gosta de mim — dissera a prima. — Posso tomar mais conhaque?

Keiton nunca imaginaria que aquele sentimento, alimentado pelo ciúme do bebê Eiden, pudesse evoluir a ponto de Kristina tomar a mesma decisão que ele. Mas ela poderia ao menos, como ele, ter se dado ao trabalho de ser discreta. Assim, ao partir, magoaria o mínimo possível alguém com quem, de uma forma ou de outra, tinha laços.

— Ela falou sobre uma coisa — continuou tia Laisa —, de quando ela tinha quatorze anos. Você não sabe disso. Eu bati nela. Ela deu pra falar um monte de bobagens sobre o governo, que o livro do Marechal só tinha mentira. Tudo o que eu queria era proteger ela, mas ela nunca me ouviu, nunca me entendeu. É tão perigoso falar as coisas que ela falou e ter o tipo de pensamento que ela tava tendo... Mas ela acha que tudo o que eu faço é por mal. Eu queria que ela visse como ela tava errada e parasse de falar aquelas idiotices. Ela parou. Mas ela não consegue ver como isso é um bem que eu fiz pra ela. Ela só vê a parte que eu machuquei ela. É claro que eu não queria machucar, mas machuquei, e ela usou isso contra mim quando fugiu.

— Eu sinto muito. A senhora não tem nenhuma ideia de aonde ela pode ter ido?

— Tenho. Desde quando ela foi embora, hoje de manhã, eu não falei com ninguém nem saí de casa. Na verdade, eu não sabia o que fazer. Eu falei pro Eiden que ela foi pra casa da Tiara, a amiga dela. Depois de um tempo, eu fui pro quarto dela e comecei a revirar as coisas. Eu achei isso no armário.

Ela tirou de um dos bolsos da camisola um envelope dobrado. Keiton o abriu. Tudo o que estava escrito era: Rua General Erson, 302, Centro, Melkan, Fígado.

— Um endereço — disse ele. — Essa letra é dela?

— Não sei. Mas eu acho que é pra esse lugar que ela foi. Não tem nenhum outro motivo de ter um papel com um endereço no armário dela.

— Pode até ser. Mas a senhora já ligou pros amigos dela, pra ver se eles sabem de alguma coisa?

— Eu não falei com ninguém. Não posso, Keiton. Ela disse que ia fazer uma besteira enorme. Eu acho que é alguma coisa ilegal. Eu não posso deixar ninguém saber, e muito menos isso pode vazar pro exército. Eu preciso ter ela de volta antes que dê alguma coisa errada. É por isso que eu te chamei aqui.

— Você quer que eu vá atrás dela? — Foi mais um pedido de confirmação do que uma pergunta.

— Por favor, Keiton, traz ela pra casa. Não deixa nada de ruim acontecer com ela. Eu sei que isso vai contra os seus deveres, mas eu tô te implorando. Eu não tenho mais em quem confiar, e eu não posso perder minha filha.

Ele baixou a cabeça, pensativo. Por uma infinidade de razões, aquele não era um pedido simples, e tia Laisa sabia disso. Mas, realmente, ela não havia mudado. Keiton ingênuo! Não podia se submeter a ela de novo. Não era mais uma criança confusa. Por outro lado, tratava-se também de Kristina em perigo. Mesmo tendo se afastado da prima por tabela (e ainda não sabendo como se reaproximar) ainda a considerava sua irmã caçula. E ela sempre fora um pouco irracional, mas agora, ao que parecia, essa característica a enfiara em um problema sério.

— Eu não sei, tia...

— Você não quer fazer o bem, manter a paz? — O choro dela recomeçava. — Não foi pra isso que você quis ser militar? E pela tua mãe. O que ela faria no teu lugar, agora?

Sempre o mesmo pretexto.

— Eu não sou minha mãe.

Tia Laisa abriu a boca para contra argumentar, porém a fechou novamente, com um aspecto frustrado. O silêncio sucedeu, transpassado por uivos e latidos dos cães da vizinhança.

Uma das únicas recordações que Keiton tinha da mãe, e a mais íntima, era o diário dela. Teresa Lan Fer havia o mantido durante seus últimos três anos de vida. Na morte, o caderno passara a Keiton, e além dele ninguém havia lido, nem mesmo o pai. Gregor não quis tirar do filho a exclusividade daquela conexão. Keiton tinha quatro anos quando a mãe se foi, e as memórias de menino eram frágeis; a única ligação particular sólida entre filho e mãe era o diário. Keiton o havia lido pela primeira vez aos nove anos, e desde então revisitava as páginas encardidas sempre que seu coração exigia.

A primeira página começava com um poema sobre Keiton, em homenagem ao seu primeiro aniversário.

Em sua boca pequena

Um sorriso de céu

Na cabeça um chapéu

De festa

(...)

A pergunta impertinente de tia Laisa penetrou suas reflexões. O que a mãe faria em seu lugar?

No meio do segundo ano de diário, ela escrevera: A gente vive com a cabeça ocupada por um aglomerado de fins inúteis: ter dinheiro, ter poder, ter sucesso. E tudo que a gente faz é em torno disso. Eu me pergunto o que aconteceria se a gente vivesse esquecendo disso, fazendo pequenas coisas que tivessem um fim em si mesmas...

Será que sua mãe fazia essas coisas? Era inconsequente assim? Era forte assim? No lugar de Keiton, levaria Kristina para casa? Ou seria orgulhosa demais, como Keiton começava a pensar que era seu próprio caso? Não, não era orgulho. Era autovalorização e a recusa de sofrer de novo.

Finalmente é o dia do show, escrevera Teresa nas últimas páginas do caderno. Vamos só eu e os meninos. Laisa não gosta de música alternativa, então se ofereceu para ficar em casa com o Keiton. Ela é um amor. Preciso pensar em uma forma de agradecê-la depois.

Keiton olhou para a tia. Ela o encarava chorosa, encolhida no sofá. A boca se movia em por-favores que não emitiam som maior que um sopro.

Essa noite vai ser ótima, dizia a última linha do diário. Quando eu voltar, conto os detalhes. Mas os terroristas explodiram uma bomba no meio da plateia naquele show. Teresa e o marido de Laisa morreram. O pai de Keiton, que tinha se distanciado para comprar água, sobreviveu com ferimentos leves.

— Você sabe — disse Keiton — que o dever primordial do exército é garantir a segurança e a ordem do país. Da nossa pátria. Pra proteger os cidadãos de bem. Não tem nada a ver com questões familiares.

— Eu sei, mas é só dessa vez.

— Calma. Se a Kristina for realmente fazer alguma coisa que vá contra a lei, ela pode ser um perigo pro nosso país. E, se ela não fizer nada nesse sentido, vai ser uma cidadã de bem em perigo.

— Então você vai trazer ela de volta?

— Vou. — Ele guardou o envelope no bolso da bermuda. — Eu vou me programar pra sair amanhã. Eu vou trazer a Kristina.

Não o faria por sua mãe nem pela tia, mas por Kristina e por si próprio. Levaria a prima de volta à segurança. Só uma alternativa específica o obrigaria a suceder de forma diferente, mas não era possível que fosse o caso. Mesmo que, nas palavras de tia Laisa, Kristina tivesse falado "bobagens" sobre o governo quatro anos atrás, ela nunca passaria daquilo.

Kristina nunca se rebelaria contra ogoverno.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro