Vida Dupla
Desde que cheguei do meu encontro com Jessica, estou inquieta, tentando fazer de tudo um pouco para distrair minha mente da ansiedade e o meu corpo da tensão.
Não está dando certo.
Resolvi vir pra cozinha com Carmem há alguns minutos e tentar a sorte por aqui. Enquanto ela finaliza o jantar, preparo uma quantidade quase obscena de brigadeiro com nozes. Adoro cozinhar. É um hobby que me acalma e me distrai, e eu preciso mesmo me distrair dos acontecimentos de hoje á tarde. Além do mais, a quem estou tentando enganar? Eu preciso de muito chocolate agora!
Enquanto preparo meu doce, minha mente me leva de volta à época quando eu e o Léo namorávamos. Costumávamos expulsar Carmem da cozinha para fazer invenções gastronômicas — a maioria delas desastrosas, claro — mas era sempre divertido. Era divertido estar com ele, leve, fácil. Ele não me pressionava e nem me cobrava, quase como se não tivesse nenhuma expectativa de que eu retribuísse o seu amor, como se apenas estar do meu lado bastasse.
Será que por isso achei que poderia dar certo com ele?
Eu aceitei o pedido de namoro do Léo porque era a coisa óbvia a se fazer. Ambos somos os líderes de nossos grupos — era natural e previsível que ficaríamos juntos, então eu apenas agi da maneira que todos esperavam. Ele é lindo, e eu tinha mais afinidades com ele do que com qualquer outro cara com que já me envolvi, mas nunca cheguei a amar ele, nem perto disso.
Pra falar a verdade, o amor nunca aconteceu comigo. Nunca amei ninguém, e ninguém nunca me amou. Bom, não o meu verdadeiro eu, que eu faço questão de esconder tão bem da maioria das pessoas que me cercam.
Não posso deixar de pensar que, se eu continuar me escondendo assim, nunca serei capaz de experimentar esse sentimento, o êxtase supremo de amar e ser amada, não de verdade.
Esse pensamento melancólico responde à pergunta que fiz a mim mesma há alguns instantes atrás. Não deu certo com o Léo, porque ele nunca me conheceu. Conheceu apenas poucas partes de mim, as partes que eu permitia que ele visse, como o meu hobby de cozinhar, por exemplo. O Léo amava quem eu finjo ser, não quem eu sou de verdade.
O Léo amava a Alice confiante e impassível, dona de si mesma e do próprio mundo; a Alice que controla tudo e todos ao seu redor. O Léo amava estar do lado da Alice Vega que, aonde quer que vá chama a atenção de todos apenas com a sua presença e arranca suspiros a cada passo que dá. O Léo admira o poder que a Alice que ele conhece exerce sobre as pessoas, sem se importar com seus sentimentos ou quais danos irá causar nelas.
Acontece que essa não sou eu. Essa Alice é apenas uma fachada, uma personagem, uma farsa.
Se não fosse pelo medo intenso de me sentir solitária de novo, eu jamais levaria esse tipo de "vida dupla". É cansativo fingir ser alguém que você não é, ainda mais alguém que você não gosta de ser, mas essa foi e ainda é a única maneira que encontrei de não me retrair novamente e me isolar no meu mundo particular de sofrimento.
O meu círculo de amizades consiste em, basicamente, meninas ricas, fúteis e muito mimadas, que não se preocupam com nada e nem ninguém além delas mesmas.
Agarrando-me com unhas e dentes á chance de pertencer em algum lugar — qualquer lugar —, mas principalmente, de não ficar sozinha outra vez, eu não só fingi ser uma delas para me encaixar, como também me tornei a líder do "bando". E eu faria qualquer coisa para que aquela dor lancinante de estar sozinha não me alcançasse novamente.
Eu não nasci rica, mas desde pequena, meus pais me ensinaram a agradecer o que ganhávamos e a dar valor ao que já tínhamos. O talento do meu pai como arquiteto lhe rendeu um bom dinheiro, e sua intuição para os negócios o levou a abrir uma empresa de construção civil e engenharia, que se expandiu por todo o país e se transformou em um verdadeiro império.
Eu tinha nove anos quando nos mudamos do interior de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Eu odiei quando nos mudamos para o Rio. Odiei com todas as minhas forças. Apesar de não me lembrar muito bem do motivo, me lembro da sensação: um vazio sem fim, uma solidão desmedida; como se eu tivesse perdido algo muito valioso e insubstituível, como se um pedaço do meu coração estivesse faltando.
Me fechei, me isolei. A única coisa que se fazia sempre presente, era aquela dor, aquela maldita dor desesperadora. Eu não queria ir pra escola, eu não queria conhecer outras crianças, eu não queria ver ninguém. Era como se eu soubesse que seria inútil, que nada mudaria a maneira como eu estava me sentindo.
Na minha reclusão, me tornei expectadora da vida das outras pessoas, sobretudo das garotas da minha escola. Observava como elas andavam sempre juntas para todos os lugares, como estavam sempre se divertindo e arrumando os cabelos umas das outras. Lembro-me de me sentir especialmente sozinha quando eu fazia isso. "Deve ser tão bom..." — eu pensava — "Deve ser tão bom ter do seu lado pessoas que se importam assim com você."
Do jeito que eu observava, parecia que elas eram ótimas umas para as outras, que se cuidavam, se protegiam. Alguma coisa se quebrou dentro de mim quando percebi a maneira como elas realmente agiam: enquanto estavam todas juntas, era tudo risos, diversão e amor, mas assim que uma delas se afastava do grupo, as coisas mudavam. Eu me perguntava o que agarota que tinha saído teria feito de errado para deixar todas as outras cochichando e rindo e, para ser justa com as garotas que ficavam, elas também acabavam se transformando em alvos dos cochichos e risadas. Acontecia com todas.
Eu tinha pena daquelas garotas. Eu me recusava a ser uma delas. Não era assim que a amizade deveria ser.
Mas meus pais começaram a ficar preocupados com o meu isolamento. Pensavam que eu estava tendo dificuldades para me adaptar à cidade nova, à casa nova, à escola nova. Por um tempo, pensaram que era uma fase, e que logo meu comportamento voltaria ao normal.
Mas não voltou. Eu não queria que voltasse.
Eu não conversava com eles, o que piorava ainda mais a situação. Até mesmo o meu pai, que sempre foi muito próximo a mim, eu não deixava se aproximar. Então eles acharam melhor procurar ajuda.
Tive encontros com uma psicóloga por um bom tempo, Tia Jane. No início nossos encontros eram bem improdutivos, mas com o tempo, consegui ir me abrindo. Aos poucos fui me reanimando, ganhando coragem, retomando a minha vida. Ela me ajudou muito.
Ainda me lembro do meu último encontro com ela, porque foi no mesmo dia que o papai me levou para conhecer o Teatro Municipal do Rio. Tive que esperar uma longa conversa que Tia Jane e meus pais estavam tendo, e como eu estava muito ansiosa com o passeio, a cada minuto ia conferir se a tal conversa já tinha chegado ao fim. "É como se Alice tivesse bloqueado parte das memórias como uma forma de se proteger do sofrimento que elas trazem..." — ouvi, durante minha última espiada antes de me sentar e esperar meus pais voltarem, mas nunca cheguei a entender o que aquilo significava.
Apesar dos meus encontros com Tia Jane terem sido muito bons para mim, foi meu pai quem acabou me trazendo de volta. Nosso vínculo de pai e filha — apesar de toda força que eu estava fazendo para mantê-lo afastado — acabou por se fortalecer, e foi com a ajuda dele que superei. Aproveitávamos qualquer oportunidade para passarmos algum tempo juntos, fosse num projeto, fosse na praia, no cinema ou em casa. Éramos inseparáveis.
Mas minha reaproximação com meus pais não foi suficiente para deixá-los despreocupados em relação a mim. Além deles, eu não tinha mais ninguém. Ninguém. A solidão continuava a ser minha companhia e eu sabia, só de olhar em seus olhos, que o fato de eu não ter amigos e estar sempre sozinha os incomodava pra caramba.
Foi quando eu comecei a mentir.
Mentia que estava indo na casa de alguma colega fazer trabalho de escola; que estava indo ao cinema com alguma amiga. Desculpas não faltavam. Mas na verdade, eu só ia à praia. Ficava por horas olhando as ondas indo e vindo e o sol tocar o mar no horizonte, enquanto permitia que o barulho da água e do vento apaziguassem um pouco da dor no meu coração.
Percebi que as mentiras acalmavam meus pais e, com o tempo, elas começaram a fluir naturalmente e sem nenhum esforço. Se o fato de eu ter amigos tirava os olhares apreensivos de seus rostos, que fosse. Eu daria a eles uma filha com amigos.
Não era como se ninguém nunca tivesse me convidado para fazer um passeio depois da aula ou para participar de uma festa do pijama, porque isso acontecia com frequência; afinal, eu tinha os tais "pré-requisitos". Então, aos poucos, comecei a aceitar os convites para as festas de aniversários, os passeios, e todo tipo de festas; e foi assim que eu comecei a fingir ser outra pessoa, e me tornei mestre em esconder o que eu realmente pensava, o que eu realmente era; mostrava apenas o que eu sabia que as pessoas gostariam de ver em mim.
Com o tempo, as coisas foram ficando cada vez mais fáceis, e cada vez menos eu me lembrava daqueles dias sombrios e solitários. Decidi seguir os ensinamentos dos meus pais e ser grata pelo que eu tinha: eu não estava mais sozinha, eu não sentia mais aquela dor massacrando meu peito. Eu, de alguma maneira, me encaixava em algum lugar.
E eu faria tudo outra vez. Mil vezes, se necessário. Porque essa aflição enorme que é fingir ser outra pessoa, não é nada se comparado à tortura da solidão, ao purgatório de ter um coração rasgado ao meio todos os dias.
— Alice! Alice! — Carmem me chama, interrompendo meu monólogo interno.
— Desculpa, Carmem. Você tá falando comigo?
— O brigadeiro! Vai queimar! — Ela alerta com os olhos arregalados, e eu imediatamente me volto para a panela no fogão, mexendo rapidamente com a colher, tentando salvar meu doce. Carmem começa a rir e eu me pergunto onde é que está a graça, sendo que meu brigadeiro está praticamente arruinado.
— Você é mesmo como a Alice da história. Vive sonhando acordada! — Ela diz sorrindo, enquanto pega uma jarra de suco e uma de água de dentro da geladeira. — Você acompanha sua mãe e sua irmã para jantar?
— Meu pai ainda não chegou?
— Não, querida. Você sabe, dificilmente ele chega para o jantar... — diz, com o olhar cheio de pena que ela sempre exibe quando tem que me dizer esse tipo de coisa sobre meu pai.
— É... — Concordo, lembrando-me de nossa última refeição em família, anos atrás, e afastando a memória tão rapidamente quanto chegou. — Obrigada, Carmenzita, mas hoje não. Hoje eu preciso é de altas doses de chocolate — falo jogando um beijo para ela e tirando a panela do fogo. — Mas diz pra mamãe me esperar na biblioteca depois do jantar, por favor? Preciso falar com ela.
— Pode deixar, menina. — Ela diz e apanha a bandeja com as jarras, indo na direção da sala de jantar enquanto eu decido que não vou pensar em mais nada que não seja esse brigadeiro delicioso.
*
— Oi Jujuba, posso entrar? — Pergunto, enfiando a cabeça pela porta do quarto da minha irmãzinha.
— Claro, entra aí. — Ela responde, sem tirar os olhos do celular.
Minha irmã, Júlia, não poderia ser mais parecida comigo com seus cabelos castanhos claríssimos — quase um louro escuro — e sua pele clara cheia de sardinhas nas bochechas e perto do nariz. Suas sardas são suaves, mas, ainda assim, um pouco mais aparentes que as minhas; e os olhos dela têm um tom de verde mais escuro que os meus, que são claríssimos. Costumo brincar com ela que a melanina carioca a deixou um tom mais escura do que eu. As covinhas idênticas em nossas bochechas são nossa marca registrada.
Ela mais parece a minha miniatura, exceto pelo fato de que Júlia é superautêntica e segura de si, mesmo ainda sendo tão jovem. Sempre soube quem é e o que quer, e não se importa nem um pouco com o que as pessoas vão dizer ou pensar dela. E ela sempre, sempre é verdadeira, doa a quem doer. Eu invejo muito a personalidade da minha irmãzinha de apenas doze anos. Eu gostaria muito de ter me sentido tão confiante quanto ela quando eu tinha a mesma idade.
— O que você tá olhando aí? — Pergunto enquanto me aconchego bem perto dela na cama. Ela deixa de lado o celular para conversar comigo.
— Ah, nada demais. Só notícias, fofocas, você fazendo uma cena no meio da rua.... Essas coisas.
— Não! — Digo, me sentando de volta na cama com os olhos arregalados.
— Sim! — Ela começa a rir, e parece se divertindo muito com minha indignação.
— Não acredito nisso! Eu pensei que o paparazzo não tinha conseguido fotografar a gente!
— As fotos estão ruins pra caramba. Você deu trabalho pra esse aí.
— Ai, como eu odeio isso! Nunca vou entender porque eles ficam atrás de mim.
— Alice, você nunca assistiu Gossip Girl? Você está para o Rio assim como Serena está para Manhattan. De vez em quando eles vão querer cuidar da tua vida, mana. É melhor se acostumar, aceita que dói menos.
— Eles deveriam andar atrás de você! Sua vida é muito mais badalada e interessante que a minha. E você só tem doze anos! — Bufo, mas Julia faz o que ela mais gosta de fazer e ri de mim.
— É, até parece. Porque viajar pelo mundo e sair com os caras mais gatos do Rio não é nada interessante. — Ela revira os olhos com um sorrisinho no rosto — Mas me conta, vai. Qual foi o motivo do estresse no meio da rua? A versão do site é que você e Jessica estavam discutindo pra ver quem ficava com um vestido. — Julia conta com uma careta, como se não pudesse acreditar que alguém no mundo seria capaz de brigar por causa disso, e se senta de pernas cruzadas.
— Ai, meu Deus! Não foi nada disso. Eu nem estava brigando com a Jess! A gente estava fazendo compras, mas não levei nada da loja porque meus cartões foram recusados. O papai cancelou todas as minhas contas. Na hora que o paparazzo fotografou a gente, eu estava contando exatamente isso pra Jessica.
— Hmmm... Então isso explica os boatos de que estamos indo à falência. — Ela divaga, balançando a cabeça, mas ao perceber que eu não estou entendendo nada, me explica — O site também dizia que nossa fortuna se esgotou e que, por isso, seus cartões foram recusados na loja. — Ela esclarece e revira os olhos.
— Uau! Notícia de primeira classe! Quer dizer, quem vai querer saber sobre o que tá rolando na Síria se a saúde financeira da nossa família está em pauta? – Ironizo com uma cara séria, como se eu estivesse realmente impressionada com a reportagem.
— Vai mudar vidas. — Júlia entra na brincadeira.
— Depois me passa o link; é sempre bom ter um site com tanto enriquecimento cultural pra ler de vez em quando.
— Já é.
Quando terminamos com o sarcasmo, olhamos uma na cara da outra e começamos a rir feito duas malucas. Melhor rir dos problemas, do que chorar, não é mesmo?
— Estranho o papai ter cancelado suas contas. Você sabe por que? — Pergunta ela.
— Eu não sei, acho que é porque eu não quero ir trabalhar com ele na Vega.
— E por que mesmo você não quer? Você é uma arquiteta formada, agora. Sinceramente, não acho que exista outra empresa no país que valorize tanto a arquitetura. E você é filha do dono! Você podia muito bem deixar de onda e aceitar logo a proposta do papai, Alice. Ele já cancelou suas contas! Eu não pagaria pra ver até onde ele pode ir com essa história. Se ele chegar a tomar o seu carro, não quero nem imaginar o caos que vai virar o mundo jornalístico do Rio de Janeiro! — ironiza, e mais uma vez caímos na gargalhada.
— Onda, é? — Sorrio para a mini adulta na minha frente. — Vamos parar de falar sobre isso. Não é assunto para pré-adolescentes, de qualquer maneira. Como é que estão as coisas? Tudo bem?
— Sim, tudo bem. No sábado é aniversário da Melissa, e vamos comemorar em um Spa. Vai ser muito legal! Vamos fazer as unhas, esfoliação, massagem e mais um monte de coisas! — Ela diz tudo com um sorriso enorme, mostrando o quanto está empolgada com o aniversário da amiga. Ela tem várias amigas, por sinal. Amigas de verdade, que gostam dela pela pessoa que ela é.
— O que aconteceu com as festas do pijama? Não é isso que garotas de doze anos fazem para se divertir? Spa é um pouco... adulto demais, não acha? — Pergunto, franzindo o nariz.
Julia me encara por alguns segundos, indignada, e depois revira os olhos.
— Relaxar e ser paparicada não são coisas só para adultos, Alice! E a gente vai ficar na sessão infantil. Não podemos entrar na sessão das adultas. — Ela bufa, cruzando os braços. Não admite de jeito nenhum que ainda é uma criança.
Sou capaz de apostar que ela vai liderar o grupo numa tentativa de invadir a sessão de adultos do spa, com uma alta possibilidade de subornar algum funcionário.
— Mas bem que você queria, não é, sua danadinha? — Provoco ela com cócegas, e ela se debate embaixo de mim, implorando pra eu parar. Quando sua respiração volta ao normal, ela senta na cama e se vira para mim. — Nada de garotos na festa da Melissa, então? Achei que você já teria um paquera.
— Ai Alice, ás vezes você parece a mamãe falando. Não se fala mais "paquera" hoje em dia. É crush! — Ela revira os olhos mais uma vez. Deve ser uma mania de família ou algo assim. Mas ela fica ainda mais fofa quando faz isso, apesar de ser um gesto bem indelicado. — E não, nenhum crush... ainda! Mas tem um garoto que entrou agora no colégio e está uma série na minha frente. Ele é tão lindo! Tipo, eu podia passar o dia inteiro olhando pra ele.
— Nossa! Deve ter rolado algum tipo de milagre genético nessa última década, porque eu realmente não me lembro de garotos lindos aos treze anos de idade. Tudo de que me lembro são de acnes, vozes mudando e pelos começando a nascer. — Falo enquanto jogo uma almofadinha de Júlia para cima e para baixo. — E muitas piadinhas idiotas sobre garotas. Era bem nojento na verdade, numa visão geral da coisa. — Faço uma careta ao me lembrar daquela época e agradeço aos céus pelo tempo ter passado.
— Você obviamente não teve sorte, porque no meu colégio tá cheio de garotos lindos. Não que eu vá namorar nenhum deles, lógico. Só vou assumir um compromisso sério assim quando encontrar meu amor verdadeiro. — Afirma, com a convicção de alguém que já viveu muitos anos.
— Que por um acaso seria o tal garoto novato do seu colégio? — Pergunto erguendo uma sobrancelha, só para ver se pego ela na mentira, e também porque não compro muito essa história de "amor verdadeiro".
— Não. Não rolou "aquela coisa" quando olhei pra ele. — Me diz com muita tranquilidade e segurança, como se soubesse perfeitamente do que está falando.
— "Aquela coisa"? Como assim? — Pergunto, contendo um sorriso. Como uma garota de doze anos poderia saber alguma coisa sobre isso? Nem eu sei, e eu tenho vinte e quatro anos.
— Ah, você sabe. Não tem como explicar. Quando você encontra seu amor verdadeiro, você sente algo mudando dentro de você, como se tudo que você passou e fez na sua vida fosse por aquele momento, e então tudo faz sentido. Tipo um clique, sabe? E então você sabe que o encontrou.
— E quando foi que você se tornou uma expert em assuntos do amor, senhorita Julia? Você é apenas uma criança, nem deveria estar pensando sobre isso.
— Eu não sou criança! — Insiste — E também não sou nenhuma expert, mas li livros suficiente pra saber como é. E também sei que leva tempo pra essas coisas acontecerem. Então, enquanto meu príncipe não me encontra, eu me contento em ficar olhando os garotos lindos do meu colégio. Aparentemente, nem todo mundo teve essa sorte. — Ela me olha com o canto do olho com um sorrisinho implicante quando diz a ultima parte.
— Ah, você vai ver só, sua pirralha! — Vou pra cima dela e dou início a mais um ataque impiedoso de cócegas.
*
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