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Argos


Sexto Paraíso observa à todos seus filhos com os mesmos olhos. A todo momento. Mesmo que nem todos percebam a grandeza do olhar da cidade, havia uma pessoa com um sentimento diferente sobre isso. Como se do meio das sombras um par de olhos estivesse prestando atenção apenas nele e não há o que se possa fazer. Olhos de cuidado podem ser confundidos por olhos de obsessão. Por causa disso, Rafael Lopes passou sua vida toda com um sentimento sempre presente.

Paranoia.

Rafael nasceu muitos anos antes de Sexto Paraíso ser a cidade que é hoje, até mesmo em seu misticismo fantasioso. A torre do relógio destacava bem o centro da cidade, os carros antigos e coloridos davam vida às ruas daquela cidade de interior. Milhares de moradores aproveitam sua manhã para fazerem compras, visitar amigos, fazer caminhada e viver no geral, mas Rafael...

Rafael é observado.

Mesmo que muitos busquem algo de extraordinário em suas vidas, essas pessoas sequer já imaginaram como seriam suas vidas sem paz? Se só você vive dentro de uma fantasia, como provar que aquilo que você está vivendo é real? Ou será que apenas a cabeça de Rafael que está criando uma ficção? Ele pensava bastante nisso quase todos os dias da sua infância e adolescência.

Quando Rafael tinha 13 anos, ele acabou se envolvendo em uma briga na escola. Um amigo dele acabou discutindo com um garoto de uma série acima, por causa disso, os dois iam acabar brigando depois da aula. Era a situação "te pego na hora da saída!" que muitos conhecem.

- E quem disse que isso é problema meu? - Rafael perguntou para Geraldo, seu amigo encrenqueiro.

Os dois estavam na sala de aula, mas era o intervalo, então podiam conversar sem nenhum problema. Alguns alunos ainda estavam na sala, normalmente eram aqueles que não conseguiam ser amigos de muitos, então ficavam na sala para não serem um incômodo para os outros... Pessoas que achavam que suas vidas eram comum demais para se enturmar.

- Você é meu amigo, você tem que me ajudar! - Geraldo falava quase lacrimejando.

Por mais que Geraldo tivesse um corpo mais forte que o de Rafael, ele era alguém muito mais sensível, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Rafael já havia perdido as contas de quantas vezes ele já viu Geraldo chorar por alguma besteira.

- E eu vou ajudar como? Mal consigo matar um mosquito! - Rafael disse ficando um pouco estressado. - Eu só vou acabar apanhando, como isso é ajudar?

- Assim eles vão dividir a surra entre eu e você, entendeu? - Geraldo pareceu bem sincero com a sua resposta.

Essa coisa de "porque você é meu amigo" não funcionava tão bem com Rafael, mas ele também não queria deixar o amigo apanhar sozinho. Rafael nunca havia brigado na vida, nem ao menos sabia como dar um soco ou chute sem cair, ele com certeza não havia sido feito para ser um pugilista, mas o maior problema dele nem era esse, mas sim os "Observadores".

- E se eles estiverem lá? - Rafael disse com um tom mais baixo. - Eu sinto que eles vão estar lá dessa vez.

- Aí você chama eles para nos ajudar, já que eles parecem seus anjos da guarda ou coisa assim. - Geraldo disse mais uma vez sendo bastante sincero.

- ELES NÃO SÃO BONS! - Rafael gritou batendo as duas mãos na mesa da escola. - Eles me assustam toda vez que aparecem e nunca dizem nada... Só ficam lá... anotando...

"Os Observadores" como Rafael diz são dois homens que aparecem em momentos aleatórios da vida de Rafael. Os dois homens estão sempre com um terno preto e ficam sempre um pouco afastados do jovem paranóico. Eles estão sempre com um pequeno caderno na mão e ficam fazendo anotações. Os dois homens acompanham Rafael desde pequeno e por causa disso o garoto ficou completamente paranóico por causa disso, afinal, só ele pode vê-los. Por várias vezes Rafael tentou ir até onde eles estavam, mas antes dele os alcançar, os homens simplesmente começavam a andar até virar uma esquina e desaparecerem completamente. Eles nunca falaram nada e não importa quantos anos passem, eles não parecem ter mudado nada, ao menos não que Rafael tenha percebido.

Mesmo Rafael não tendo ideia disso, Sexto Paraíso lembra bem que os dois homens de preto estavam presentes até mesmo no parto do jovem. Eles testemunharam cada pequena conquista que o bebê Rafael fazia enquanto mal conseguia andar... Sempre anotando. Não houve um momento importante da vida de Rafael em que eles não estavam fazendo suas anotações de uma distância segura. Eles o conheciam até mais do que a cidade.

Já na primeira vez que Rafael percebeu que aqueles homens sempre apareciam em algum momento, ele perguntou para a sua mãe sobre eles e então ele descobriu que só ele os enxergava. A família o tratou como se ele tivesse alguma deficiência ou coisa do tipo, já que era a segunda coisa realmente estranha que o filho tinha, a primeira coisa era um medo imenso que Rafael tinha de andar de carro.

Mas diferente dos dois homens, Rafael não poderia desaparecer diante do pedido de "socorro" de seu melhor amigo. Depois do intervalo e durante todo o resto da aula, Geraldo continuou tentando convencer Rafael a ajudá-lo, mas Rafael ainda não estava totalmente de acordo com a missão suicida. Entre sair sem nenhum ferimento, mas sem melhor amigo ou dar sua vida à sorte e continuar com o melhor amigo. Ele não conseguia pensar em qual das duas escolhas seria a menos pior.

Na saída da escola, haviam três alunos mais velhos esperando Geraldo sair da escola, para então começarem com o massacre.

No momento que Rafael pôs os pés do lado de fora da escola, ele percebeu os três ogros que ele talvez teria que enfrentar. Uma multidão de outros alunos estavam ao redor, fofocando, cochichando e fazendo diversas piadas sobre o que iria acontecer. Na cabeça de Rafael aquilo parecia quase uma cena de alguma série de comédia, mas os risos da plateia rapidamente seriam trocados por suspiros de surpresa. Na esquina do outro lado da rua, à plena vista para evitar que Rafael não os percebesse, lá estavam "Os Observadores", do mesmo modo que de todas as outras vezes. Eles não tinham nenhuma expressão no rosto, apenas ficavam anotando o que precisava ser anotado naqueles cadernos, como se estivessem observando um animal que havia sido injetado com alguma droga nova.

Eles conheciam Rafael tanto quanto o mesmo. Os homens de preto aguardavam uma reação... E uma reação eles teriam.

- Se é um show que eles querem ver, é isso que eu vou mostrar! - Rafael disse para si mesmo, antes de sair correndo até um dos garotos mais velhos e dar um soco na cara redonda e cheia de espinhas dele.

A explosão de Rafael pareceu uma surpresa para todos em volta, mas não para Sexto Paraíso e nem para os "Observadores". Aquilo era o que anos de paranoia criaram na cabeça de uma criança beirando a adolescência. Talvez se aquele soco não tivesse acontecido, Rafael teria enlouquecido de vez.

Porém, os fatos não mudaram, Rafael era bastante fraco, então ele apanhou tanto naquele dia que ele ficou estirado no meio da rua. "Os Observadores" já haviam ido embora e Geraldo mal havia apanhado, já que ele fugiu assim que teve a chance. Rafael não havia sido mais que um escudo para Geraldo, mas ao menos a amizade dos dois não foi abalada.

A amizade dos dois começou ainda na infância, pouco tempo depois que Rafael começou a visitar uma psicóloga. Os pais dele o colocaram na terapia para o ajudar com o medo de carros, mas o foco acabou mudando totalmente quando ele contou sobre os homens de preto. Mesmo com toda a ajuda que podia, a sensação de que eles poderiam aparecer a qualquer momento aterrorizava Rafael de uma maneira que ele nem ao menos conseguia ir para a escola. Certo dia os pais de Rafael o levaram em um parque perto de casa, para que ele respirasse ar livre depois de tanto tempo. Foi naquele dia que os dois melhores amigos se conheceram. Também foi a primeira vez que Rafael não percebeu os "Observadores" ao seu redor.

Poucos anos depois da briga, quando Rafael estava com 16 anos e no último ano da escola, ele havia decidido que iria seguir o exemplo de um tio e virar artista. Ele queria se tornar um desenhista quando terminasse a escola, mas durante um certo momento, tudo que ele conseguia desenhar eram "Os Observadores", até mesmo os desenhos em que eles não eram o foco, ele acabava por desenhar eles de fundo.

- Já faz um tempo desde que eles não aparecem, mas porque não consigo tirar isso da minha cabeça?! - Rafael reclamou enquanto amassava o seu desenho mais recente.

Em momento algum, desde que teve conhecimento da existência desses homens de preto e que apenas ele os via, Rafael se esforçou em pesquisar sobre eles. Ele queria saber se mais alguém no mundo já havia testemunhado e registrado algo sobre eles. Diversas vezes depois da aula, Rafael ficava na biblioteca da escola procurando por algum livro que enfim saciaria a sua curiosidade sobre eles, nem mesmo que fosse algum tipo de lenda, ele queria saber se ele era realmente o único.

E era.

A última vez que "Os Observadores" haviam aparecido foi no dia da briga da escola, o que acabou sendo mais um problema do que uma dádiva. A paranoia dele havia aumentado cada vez mais, ele os via em lugares aleatórios, só para então perceber que era só a cabeça dele pregando peças... Mas eles sequer eram reais desde o início? Rafael não sabia mais no que acreditar, era um desconforto tão imenso que ele sentia que em certo momento ele enlouqueceria por completo, mas algo o fez mudar de ideia, ou melhor... "Uma" alguém.

Por causa de uma amiga em comum, Rafael conheceu uma garota de outra turma. Os dois não precisaram conversar muitas vezes antes que o jovem se apaixonasse, mas ainda não havia acontecido nenhum tipo de declaração, então por enquanto eram só amigos.

- Fora tudo isso na minha cabeça, ainda tem o Geraldo... - Rafael pensou enquanto ia jogar seu desenho no lixo.

Poucos dias antes, Geraldo contou para Rafael que estava apaixonado pela mesma garota, o problema é que Rafael nunca havia falado sobre ela para Geraldo. Ele estava em um impasse, deixar a garota para Geraldo, já que ele havia deixado os seus sentimentos claros primeiro, ou ainda assim lutar pela garota.

Já havia tanta coisa na cabeça de Rafael que ele não tinha certeza se precisava mesmo de uma namorada. Se ele abrisse mão do seu primeiro amor, seu melhor amigo ficaria com ela. Geraldo era a pessoa em quem ele mais confiava, então deixar alguém tão especial com alguém em quem Rafael tanto confiava, não devia ser tão ruim...

- Isso se um de nós conseguir ficar com ela. - Rafael relaxou um pouco e riu. - Seria tragicômico eu estar acabando com a minha sanidade com isso e no fim ela ficar com alguma outra pessoa.

Rafael começou a considerar o estado de sua própria sanidade. Mesmo com ela o ajudando tanto e o fazendo mais feliz, ele sabia que não estava pronto para um relacionamento. Pelo o bem dela.

Mas e para o bem dele?

Ele estava no pátio da escola afastado de todos... Ou eram todos que se afastaram dele? A cabeça de Rafael mal conseguia focar em apenas uma coisa sem criar suposições, mas dessa vez ele queria resolver algo. A garota estava com um olhar preocupado após ter sido chamada tão às pressas por Rafael, mas assim que ela o viu, ela percebeu que era algo importante.

Seu primeiro amor estava na sua frente. Ele podia sentir o leve toque de limão do perfume dela, ele podia ver o quão perfeito era seu cabelo encaracolado e toda a beleza de sua pele morena. Ele sentia como se pudesse sentir a maciez da pele dela só de olhar, mas toda a paixão em seus olhos foi desaparecendo. O sorriso no seu rosto sumiu. O brilho nos seus olhos sumiu. Sua calma sumiu. Era como se sua vida tivesse sumido.

Após três anos, eles ressurgiram na frente de Rafael, mais uma vez de uma distância onde ele não poderia os alcançar. Mesmo tantos anos sem os ver, Rafael mais uma vez sentiu como se estivesse sendo observado por toda a sua vida.

- Rafael? Está tudo bem? Você está passando mal? - A garota disse passando a mão no rosto de Rafael e conferindo sua temperatura. - Acho que é melhor eu ir chamar uma inspetora.

- Não vai... - Mesmo com a voz fraca, Rafael disse enquanto a segurou pelo braço. - Eu só preciso te dizer uma coisa logo.

Mesmo que ele tenha focado em seu plano inicial, a partir dali ele não olhou mais nos olhos da garota. Seus olhos eram totalmente dos "Observadores". Agora que estava um pouco mais velho, Rafael entendeu que aquela era a vida dele. O inferno dele. E ele teria que lidar com aquilo de uma forma ou de outra.

- Eu gosto muito de você... Muito mesmo. - Rafael manteve sua voz firme enquanto falava, mas sem tirar os olhos dos "Observadores".

Mais breve que o de costume, os dois homens de preto fecharam seus cadernos e começaram a dar as costas para Rafael. Eles já haviam tido a reação que precisavam daquele dia. Era como se aquele episódio da vida de Rafael tinha acabado e eles estavam saindo assim que os créditos começaram a subir.

- Mas...

Os dois homens pararam em seus caminhos.

- Mas eu não acho que devemos perder essa amizade que temos. - Rafael tremia e a garota percebia. - Criamos algo muito legal para arriscarmos perder só por causa de alguns beijos.

- Você está me deixando na friendzone sem eu nem dizer se gosto de você antes? - A garota disse com um sorriso envergonhado.

- Sim... Eu acho que é isso mesmo.

Toda a tensão de Rafael desapareceu e tanto ele quanto sua ex-primeiro amor riram bastante. Era difícil de se imaginar, mas ele achou ter visto os dois homens de preto rindo também enquanto anotavam mais coisas.

Sexto Paraíso abençoou a garota com um ótimo namoro seguido de casamento com uma pessoa totalmente diferente dos melhores amigos. A amizade entre os garotos foi mantida e a solidão amorosa também. Caso Rafael decidisse ficar com a garota, infelizmente para ambos, o relacionamento não duraria por conta da saúde mental dele. O adolescente se culparia por anos por ter machucado seu primeiro amor psicologicamente e se prenderia em casa de uma vez por todas, desistindo da vida.

A cidade então presenteou Rafael com um relacionamento incrível. Suas paranoias já haviam diminuído quase que por completo aos 32 anos. Ele havia aceitado que aqueles dois homens faziam parte da vida dele, mesmo ainda não sabendo o que eles são e se realmente são algo. Sua nova parceira era formada em Psicologia e o ajudou ainda mais a superar todos os seus medos.

O dia do casamento pareceu chegar rápido, mesmo ambos tendo ficado juntos por 6 anos antes do grande dia. Geraldo se manteve como o melhor amigo de Rafael, mesmo os dois tendo tido uma briga grande alguns anos atrás, mas uma amizade sincera é uma amizade forjada em confiança, então o homem que antes foi um garoto covarde agora era o padrinho de casamento da pessoa em quem ele mais confiava. A cerimônia foi pequena, mas cheia de felicidade e paz... As coisas que Rafael achou ter perdido quando mais novo.

Conforme os convidados chegavam, o noivo podia ver sua cerimônia se tornando uma grande reunião de pessoas queridas para o casal. Anos atrás ele jamais imaginou que poderia um dia ter um dia tão pacífico quanto aquele, era algo que, para ele, era tão irreal quanto tudo sobre aqueles homens.

Lá estava Rafael - o homem mais feliz de Sexto Paraíso em sua opinião - casando com a mulher mais linda de Sexto Paraíso - também em sua opinião. Tudo estava perfeito e aquele local era o paraíso para aquele que um dia foi atormentado por sua própria cabeça. Ele ainda tinha toda uma vida pela frente, mas já sabia que aquele era o pico da sua felicidade e nem mesmo aquelas duas cadeiras vazias diminuiriam aquilo.

Aquelas duas cadeiras foram escolhidas pessoalmente por Rafael e ele pediu que elas ficassem um pouco mais afastadas das outras, mas elas obrigatoriamente precisavam estar lá. A futura esposa concordou, mesmo sabendo o que aquilo significava e também por ela ter escolhido todo o resto sobre o casamento.

O grande momento chegou e não havia mais lugar no rosto de Rafael onde o sorriso dele pudesse caber. Seu coração não estava mais pulando fora da garganta, era como se o coração já tivesse saído por completo e agora assistia a cerimônia assim como todos ali. Assim como os "Observadores".

Rafael percebeu a presença deles assim que chegaram, mas longe do medo que já sentiu, agora era um sentimento como o de amigos se reencontrando após anos, como se uma pessoa que sempre se importou com você finalmente estivesse de volta.

Ternura.

Após um pequeno gesto direcionado aos dois homens de preto pouco afastados da cerimônia, os dois se sentaram nas cadeiras separadas para eles, ainda com seus pequenos cadernos em mãos, mas com um pequeno sorriso no rosto. Eles estavam lá mais uma vez na espera de uma escolha de Rafael, mas dessa vez era uma que não precisou de muito tempo para ser pensada. A resposta de Rafael seria "Sim".

A vida de casado foi como se todos os dias fosse o dia de seu próprio casamento para Rafael. Anos se passaram e a felicidade do casal nunca diminuiu, mesmo tendo suas brigas e suas inseguranças, tristeza foi algo que nunca reinou naquele lugar, muito menos depois que as duas crianças nasceram. Claro que nenhum dos dois filhos via os "Observadores", aquilo era algo que pra sempre seria de Rafael e ele já havia aceitado isso.

No ano em que a torre do relógio de Sexto Paraíso foi demolida, Rafael estava com 62 anos, mas ainda tão feliz e de bom humor como era em seus anos de adulto. Naquele dia ele estava em um restaurante conversando com Geraldo, pois mesmo após tantos anos e tantas discussões idiotas, a amizade deles prevaleceu. Rafael não via os dois homens de preto desde o casamento, então foi um espanto ainda maior quando Rafael viu um ponto negro no céu pela primeira vez.

- Eu achei que eram só os Observadores que eram exclusivos seu. - Geraldo disse brincando.

- Então você também não vê aquilo? - Rafael estava boquiaberto ao ver aquela anomalia, mas sua atenção foi tomada totalmente por aquele par de homens do outro lado da rua. - Eles estão aqui!

Aquele momento foi talvez o mais importante para toda Sexto Paraíso. Todas as peças se encaixavam naquele exato momento, era o que faria tudo caminhar do jeito que a cidade queria.

Sexto Paraíso faz com que as coisas aconteçam conforme elas precisam acontecer.

O som de carros acelerando como se fugissem de algo podia ser ouvido por Rafael e Geraldo, mesmo ambos estando tão longe do que o que quer que estivesse acontecendo. Eles podiam sentir que algo estava acontecendo, só não faziam ideia do quê. Nem eles e nem aquele garoto no meio da rua que havia machucado a perna enquanto corria pela rua. Um dos carros que vinham da direção da torre do relógio estava em uma velocidade muito acima da permitida naquele lugar. Ele jamais conseguiria parar antes de atropelar o garoto e Rafael percebeu isso.

Rafael viu aquela cena e seu medo de carros voltou à tona. Foi aquele momento que o traumatizou pela vida toda, a ação que ele tomaria naquele momento é o que o marcaria e o que faria aqueles dois homens o observarem do momento de seu nascimento até agora. Aquilo já havia acontecido uma vez e Rafael entendeu isso.

- Por isso estou vivendo tudo isso de novo. - Rafael falou baixo para si mesmo. - Eles me guiaram até esse momento para ver seu eu faria o mesmo.

Os olhos dos dois homens de preto cruzaram com os de Rafael. Aquela era a última anotação que eles fariam, eles só estavam esperando uma reação... E uma reação eles teriam.

- Se é um show que eles querem ver, é isso que eu vou mostrar!

Assim como da primeira vez, Rafael se jogou na frente do carro para salvar o garoto, mesmo se sacrificando no lugar. Enquanto ele corria até o garoto, Sexto Paraíso lhe deu tempo de pensar no quanto sua vida mudou de ontem até hoje. Ele tinha toda a felicidade que uma pessoa poderia querer, mas mesmo assim ele deu prioridade a vida de um estranho qualquer. O que ele quis até o último momento é que aquele garoto também pudesse ter a chance de ter uma vida incrível como a dele.

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O quarto branco de hospital afetou rapidamente a vista de Rafael quando ele acordou. Era um quarto bem espaçoso, mas parecia menor com os dois homens de preto próximos da cama daquele senhor de idade que foi atropelado à alguns dias.

- Esperaram bastante para que pudessem me levar... - Rafael disse com um pouco de dificuldade. - Mas ao menos já se decidiram se irei para o céu ou para o inferno?

- Acho que você nos entendeu errado... - Um dos homens disse.

- Somos juízes como você esperava, sim, mas não é isso que decidimos. - O outro falou.

- Você foi digno, Rafael, durante toda a sua vida.

- Precisávamos estar lá para nos certificarmos de tudo isso, para sabermos se você vale a pena.

Aos poucos o quarto de hospital ia ganhando cores, como uma pintura feito por um artista inspirado. Cada cor nova que aparecia aquecia o coração de Rafael de uma maneira diferente, ele ainda não sabia o porquê daquilo, mas ele se sentia...

- Você ainda está vivo. - Os dois homens falaram ao mesmo tempo. - E nós te observamos para sabermos se deveríamos te levar conosco, ou se te deixamos voltar para a vida e sua família.

Vozes familiares vinham do lado de fora do quarto, todos falando sobre o quão preocupados estavam com Rafael. Era sua família, no aguardo para talvez ver aquele senhor mais uma vez.

- Fizemos você reviver sua vida, para sabermos se mesmo com alguém lhe julgando a todo momento, você continuaria digno. - Um dos homens disse fechando o caderno e se afastando de Rafael.

- E continuou. - O outro homem fez o mesmo.

Após anos pensando no que poderia dizer para esses homens caso ele tivesse a chance, Rafael decidiu ficar em silêncio enquanto eles iam embora mais uma vez. Toda a vida eles foram como Argos na vida de Rafael, como cem olhos o vendo e o julgando a todo momento, mesmo quando aquele jovem garoto assustado não os via, eles observaram. Agora com um sorriso no rosto, Rafael os observou indo embora de Sexto Paraíso, mas antes que pudessem desaparecer de vez, disse:

- Obrigado.

A porta do quarto se abriu ao mesmo tempo que o sorriso de Rafael em ver sua família mais uma vez. De longe, os "Observadores" o assistiam uma última vez, sabendo que a cidade o daria tudo que ele merecia pelos anos de vida que ele ainda teria.

Porém, a história de Rafael começou como uma história de paranoia e assim continuaria. Ele ainda era o único a ver o ponto negro no céu, que ele jurava que estava chegando mais perto a cada ano que passava e também por ser o único a ver a torre de relógio, mesmo depois dela ter sido demolida.

Diferente de como ele precisou lidar com os "Observadores" no começo de sua vida, agora Rafael tinha toda sua família ao redor para ajudá-lo e apoiá-lo sempre que ele tinha uma crise. E ele sempre as teria, pois sua segunda chance de vida estava amarrada à algo.

Amarrada à Sexto Paraíso.

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