O ROUBO DO BANCO PROVIDENCE - com Tiler Beljin
História Escrita Por JoeFather.
*Como ele pôde ter descoberto tão rápido?
O inglês barbudo ouviu a questão e olhou para o telefone em sua mão.
Do outro lado do vidro reforçado da sala de visitas, o olhar questionador da moça se fixava no indivíduo, que não tinha resposta para aquela pergunta.
Ele queria inventar uma desculpa qualquer, era bom nisso, mas imaginou que se os papéis estivessem trocados, desejaria saber a verdade, por pior que fosse.
*Por enquanto são somente suspeitas, não existe nada provado.
*Está mentindo pra mim novamente? - gritou ela e o barbudo afastou o aparelho do ouvido e a encarou, de uma forma séria.
Ele fez um gesto pedindo calma.
*O senhor precisa me ajudar!
*Somos amigos, lembra? É isso que fazemos uns pelos outros – disse ele tentando sorrir.
*Me ajude, por favor! Não quero ficar trancada aqui...
Um alarme alto foi ouvido e uma guarda feminina apareceu, encerrando a visita. Enquanto era levada, o barbudo percebeu em seu rosto que ela não aguentaria a pressão.
Um rosto tão belo e agora, tão assustado. Ficou imaginando o que poderia fazer para ajudá-la.
A quilômetros dali, sentado numa poltrona confortável, um homem pálido e completamente calvo analisava os relatórios do seu último caso, ainda não solucionado, após receber uma rápida ligação de uma prisão local.
*É uma questão de tempo – disse para si mesmo e voltou para a primeira folha dos documentos, que continham os detalhes iniciais que lhe ajudaram a dar os primeiros passos na investigação daquele roubo premeditado, de quando visitou pela primeira vez a sede do banco Providence.
Deixou sua mente ser levada para aquele momento, quando foi acionado por um gerente bancário desesperado.
Viu a sua volta as paredes do banco se materializando e um homem baixo e bigodudo de nome Willian surgindo em sua frente, com a cara rosada.
*Eles levaram mais de quinhentos mil euros, detetive Beljin...
*Por quê me chamou aqui, Sr. Willian, já que existe uma investigação em andamento da polícia responsável por essa jurisdição. Sabe que eu não posso interferir numa ação deste tipo.
*Falei com a diretoria e queremos contratar os seus serviços. Precisamos descobrir o que aconteceu e rápido, antes da divulgação do balanço mensal para os nossos mais importantes clientes. Não poderemos omitir o roubo e se mostrarmos uma vulnerabilidade dessas no nosso banco, vamos ter prejuízos incalculáveis.
O detetive Tiler Beljin abriu sua pasta e retirou umas anotações que fizera anteriormente sobre o caso.
*Compreendo! - disse finalmente – Já encaminhei meus honorários através de um e-mail automático, que deve chegar agora no seu computador - concluiu o detetive olhando para o seu relógio de pulso.
O gerente o olhou surpreso e verificou que uma mensagem apitava na parte inferior do seu PC. Abriu e viu que continha uma planilha simples.
*O pagamento será calculado por etapas, como explico na planilha: encontrar o suspeito ou suspeitos multiplicado pela quantidade de suspeitos e pelo tempo levado; descobrir o método do roubo multiplicado pelo tempo; chegar ao dinheiro ou ao que sobrou dele, também multiplicado pelo tempo.
*Mas isso é insano, Beljin!
*Parece mesmo, mas faça algumas simulações e vai ver que o valor lhe parecerá justo.
O Sr. Willian assim procedeu e no final concordou.
*Muito bem! Quando o tempo começa a correr?
*Assim que eu assinar o contrato que o senhor tem na gaveta. Não ia esperar que eu viesse de Londres para formular um documento, não estou certo? Acrescente antes, de próprio punho, que o valor final será dado de acordo com a minha planilha de ações.
O gerente sorriu, fez as anotações rapidamente e lhe estendeu o contrato.
*Mande a minha cópia por e-mail. Agora vamos aos fatos: eu já sei os detalhes principais, como hora da constatação do roubo, valor subtraído, investigação preliminar da polícia que não levou a nada...
*Quem lhe passou estas informações?
*Quando o senhor me ligou eu me comuniquei com o inspetor responsável pelo caso. Já colaborei com ele em outras oportunidades.
"Agora quero conhecer o banco, mas antes solicite que um funcionário de sua plena confiança e que não tenha acesso direto as movimentações financeiras diárias, me enviei o cadastro completo de todos os funcionários do banco, inclusive do pessoal da segurança, que trabalhou para o Providence nos últimos 40 dias.
*Por quê 40...
*Sr. Willian, deixe que eu cuide dos detalhes. Não esqueça: tempo é dinheiro!
O gerente deu um rápido telefonema e saíram para conhecer primeiramente toda a infraestrutura de segurança do banco. Visitaram a sala de monitoramento, os corredores de acesso ao cofre principal e o detetive perdeu alguns minutos conversando com os seguranças do plantão.
Após, foram em todos os caixas físicos e ficaram por um momento observando o trabalho junto aos clientes. Beljin se posicionou ao lado de cada um dos 12 funcionários por algum tempo, depois foram visitar o anexo de atendimento VIP dos clientes especiais e o setor administrativo.
Por fim, retornaram para a sala do gerente.
*Um excelente banco o senhor tem aqui – comentou enxugando uma gota de suor que corria pela sua testa – A propósito, notei que está um pouco quente num dos corredores.
*Tivemos um problema com um dos aparelhos de ar-condicionado no mês passado. Vou pedir uma revisão para os próximos dias.
*Ótimo! Mas me diga, enquanto eu espero um e-mail: por que 11 caixas femininos e um masculino? Ele ficou nervoso quando notou a minha presença.
*O Sr. Rosseuau? Veio da França há poucos meses. É de nossa filial e trabalha mais com movimentações bancárias. Está preenchendo uma lacuna, enquanto treinamos uma funcionária para a função. Ele deve estar nervoso também por saber da função do senhor, pois adverti todos os funcionários da sua qualidade de detetive, como me pediu antes.
*Pode ser. Mas notei só mais um tipo de nervosismo por lá, mas por enquanto prefiro me ater aos dados que acabam de me chegar.
Um bip foi ouvido e Beljin retirou de um dos bolsos do casaco um smartphone padrão.
Fez rápidos movimentos de toque na tela, depois encarou o Sr. Willian.
*Deixe-me fazer alguns comentários, que são as primeiras conclusões da polícia: ninguém teve acesso ao cofre principal?
*Nenhum acesso.
*A falta do valor foi percebida na manhã de ontem. Como isto ocorreu?
*Temos um pré-balanço do nosso valor total do cofre.
*E o desfalque veio de algum caixa específico?
O gerente sorriu.
*Sei aonde o senhor quer chegar, foi o raciocínio do inspetor que aqui esteve. Mas ainda não temos como saber se o valor saiu de um lugar só, pois somente no balanço que faremos daqui a 5 dias este dado nos será fornecido...
*Eu já entendi! - interrompeu o detetive – Mas esse balanço geral vai causar problemas para a imagem do banco, então pretendem adiá-lo, não estou certo?
*O senhor tem toda razão. E não podemos parar tudo para focar nesta questão, pois os serviços continuam no mesmo ritmo elevado de sempre.
Beljin o encarou seriamente por alguns segundos.
*Quero que me envie todas as movimentações bancárias via e-mail imediatamente, para que façamos uma análise prévia.
*Isto pode levar horas...
*Quero também um relatório de todos os serviços de manutenção que o banco recebeu nos últimos 40 dias, de todos os tipos – prosseguiu Beljin sem se dar conta da interrupção do gerente.
"Designe o Sr. Rosseuau para isso, pois pelo meu relatório, já tem uma nova caixa aguardando a liberação do senhor para iniciar o trabalho. Faça isso já, por gentileza, enquanto redijo um e-mail.
O gerente ficou estupefato. Meia hora depois retornou.
*Tudo acertado. Rosseuau já está preparando os relatórios...
*Quanto tempo?
*Até o início da tarde ele lhe enviará os relatórios.
*Ótimo! Podemos sair então para tomar um chá fora do banco? Tem um local excelente que eu vi aqui ao lado.
*Mas e a investigação?
*Ah, ela já está correndo, meu caro Willian, tenho um colaborador expert trabalhando comigo. Se tudo der certo, amanhã a polícia já prenderá uma pessoa suspeita. Provavelmente esta pessoa pensará em faltar ao trabalho para não chamar a atenção, ainda mais porque acredito que o roubo não foi concluído.
*Como chegou a essa conclusão?
*Discutiremos durante o chá...
A duas quadras do banco, sentaram-se num pub agradável. Apesar do clima fechado, parecido com o da capital londrina, a temperatura estava amena.
Conseguiram ficar em silêncio por quase 15 minutos, até o gerente se manifestar.
*Perdoe-me a minha ansiedade, Beljin, mas em que linha de investigação segue?
O detetive pousou a xícara no descanso e fez um gesto de mão.
*É normal, Sr. Willian. Eu estaria me sentido da mesma forma no seu lugar. Vamos esclarecer mais uns pontos: o Sr. Rosseuau não está substituindo nenhuma funcionária que foi demitida. Ao contrário, uma das caixas foi promovida a supervisora geral.
"Nenhuma soma alta tal o do roubo foi movimentada pela sua equipe de finanças, pois seria mais fácil de verificar, então o dinheiro saiu dos caixas, de uma forma contida e calculada.
"As caixas não podem fazer movimentações bancárias, enviando dinheiro para outras contas, a não ser para aquelas que são fornecidas diretamente dos clientes que elas atendem.
"Não é possível que alguma das caixas tenha levado o dinheiro para casa, pois tudo que carregam é revistado na entrada e na saída do banco.
"Todo o fechamento diário dos caixas é responsabilidade do supervisor das caixas, que detém este controle. Contudo, esse profissional também presta conta ao subgerente, que deve conferir tudo.
"Creio que o nosso enigma se resolva aí...
O gerente o olhou boquiaberto.
*Como o senhor sabe todos estes detalhes?
*Trabalho com informações, meu caro. Elas facilitam a nossa vida.
*Então onde imagina estar o dinheiro roubado?
*Estou trabalhando nisso.
*E o senhor já tem algum suspeito?
*Sim! Mas posso estar enganado! Preciso ainda da confirmação de um último cruzamento de dados e – um novo bip foi ouvido - Veja o senhor, que coincidência, pois a confirmação chegou.
Beljin navegou por alguns minutos em silêncio, enviou vários e-mails, depois sorriu para o Sr. Willian.
*Desculpe a minha grosseria, mas o meu celular é uma extensão do meu escritório.
Guardou o aparelho e se dedicou a pedir outra xícara de chá, para substituir a gelada que se encontrava a sua frente.
*Acredito que não vai me contar mais nada, Sr. Beljin.
*Posso lhe adiantar que a minha suspeita se consolida a cada minuto, mas eu estava enganado numa coisa...
*Em que?
*Provavelmente a prisão preventiva ainda ocorra hoje...
***
A detenta foi conduzida para uma cela especial e perto do fim da tarde, recebeu outra visita, sendo desta vez do seu advogado.
*O cerco se fechou – disse ele simplesmente – Precisamos fazer um acordo até amanhã cedo. Pense nisso durante a noite.
Foi o que ela fez!
Pensou em tudo em que havia feito e como poderia evitar ir para uma prisão federal. Calculou que o seu papel naquela trama era o mais importante, portando deduziu que teria uma pena maior.
O medo de perder a liberdade e os sonhos que planejava junto ao amante a sufocou e entrou em delírio.
Os pensamentos iam e vinham e ela não conseguia deixar de conjecturar um futuro sombrio.
Pensou muito sobre isso. A noite toda...
Pensou tanto que teve uma convulsão e morreu engasgada com o próprio vômito. Mesmo na aparência grotesca com a que foi encontrada, parecia sorrir, como se, pelo menos, algum dos seus sonhos se houvesse realizado. Provavelmente o de estar livre...
Beljin foi informado do fato pela manhã e tomou mais algumas providências, tudo através da rede de computadores.
Um dia depois, mais um suspeito foi preso e todo o dinheiro roubado foi recuperado, sem alarde para a imprensa, a pedido do banco, para manter o seu prestígio de segurança junto aos clientes.
O detetive Beljin se encontrava justamente com o gerente, para receber seus honorários, plenamente calculados pela sua planilha, com o semblante sério de sempre.
*Eu ainda não sei como posso lhe agradecer...
*Já está me agradecendo bem! - respondeu ele olhando para o valor do cheque – Vou depositar aqui mesmo no seu banco, na conta que abri naquele dia, após tomarmos nosso chá.
Preparava-se para levantar, quando o gerente o segurou pelo braço.
*Beljin, eu preciso saber. Como teve certeza de que era ela?
*Suas mãos tremiam quando ela pegou os meus documentos para abrir a minha conta.
O gerente o encarou sério, até que o detetive sorriu.
*Estou brincando com o senhor. Ela realmente parecia nervosa, mas não mais que o Sr. Rosseuau naquele dia, quando me posicionei ao seu lado. Parecia ser uma excelente moça. Senti a sua morte, tão jovem.
"Descobri tudo através do cruzamento das informações.
*Pode me contar os detalhes.
*Infelizmente não! Segredos profissionais...
Beljin se levantou e sorriu novamente, apertando a mão do gerente.
*Estou mesmo brincando com o senhor. Já lhe enviei um e-mail ontem a tarde, com a descrição dos fatos, mas acredito que na correria o senhor ainda não o leu.
"Agora preciso ir. Tenho um cheque para depositar... Passar bem!
O detetive nem bem saiu da sala e o Sr. Willian foi conferir sua correspondência eletrônica.
Abriu o e-mail recebido na véspera e correu os olhos pelos fatos que já conhecia, até chegar ao trecho do relatório que lhe interessava:
"A minha suspeita recaiu sobre a Srta. Sander, quando meu associado descobriu uma relação amorosa dela com o ex-supervisor das caixas, o Sr. Morten, que pediu demissão um mês antes.
"Tive a confirmação do fato após ele visitá-la na prisão e na mesma tarde, tentar adquirir uma passagem área para a França.
"Este momento da investigação foi muito delicado, pois ainda não sabíamos onde se encontrava o dinheiro. Então acionei meus contatos e dificultamos de todas as formas a sua saída do país, fazendo de tudo para que ele não desconfiasse, mas ele é muito inteligente.
"Por sorte a última etapa do roubo estava prevista para o dia seguinte, no dia em que infelizmente a Srta. Sander veio a falecer.
"Nossa suspeita estava focada em dois pontos: o dinheiro estava ainda no banco e havia sido escondido em algum lugar, provavelmente um objeto que passaria por uma manutenção periódica. Restava descobrir como ele sairia do banco.
"Essa certeza do dinheiro ainda no banco se deu pela descoberta do método: quase todos os dias a Srta. Sander, no fechamento do seu caixa, informava um saldo maior do que o real. Isso levava a crer que este valor era guardado em algum lugar.
"Suspeitei do ar-condicionado, mas pelas filmagens dos corredores, que o senhor me encaminhou depois, foi fácil constatar que ninguém se aproximou deste aparelho, a não ser a mulher da faxina.
"Nas gravações da Srta. Sander também não foi possível detectar onde ela escondia o dinheiro, então só poderia estar oculto em algum lugar próximo a ela.
"No cruzamento de nossas informações, descobrimos que o Sr. Morten foi o responsável por solicitar a manutenção dos computadores das caixas. Não vi nenhum problema nisso, pois era sua responsabilidade. Mas o fato dele marcar todas as manutenções preventivas para quando ainda era funcionário do banco e deixar apenas uma manutenção programada para o computador da Srta. Sander, nos chamou a atenção.
"Assim quando o técnico veio buscar o computador fechamos o cerco, como o senhor sabe, com os seguranças, e descobrimos que o equipamento era preparado para conter uma substancial quantidade de maços de notas de 500 euros.
"Não dava para notar que a Srta. Sander colocava o dinheiro dentro do computador, pois a ação era muito rápida, no momento em que ela se abaixava para desligar a CPU. Uma portinhola foi preparada para facilitar essa ação.
"A última lacuna que resta é a prisão do idealizador de todo o plano, que desapareceu no dia em que o dinheiro foi encontrado, mas posso lhe afirmar, Sr. Willian, que nos próximos dias verá uma manchete relativa a isso nos jornais.
***
Existem tantas formas de sair da Inglaterra que é quase impossível que a polícia monitore todas elas, quando o assunto é impedir que um fugitivo saia do país.
Além disso existem diversos "profissionais" que, por uma boa soma, conseguem facilitar esta fuga.
O que o Sr. Morten não esperava, pela sua inexperiência no mundo do crime, era que esses mesmos profissionais também recebiam por informações prestadas para a polícia, sendo melhor ainda remunerados por investigadores particulares.
Conseguiu um carro para o levar para a França, durante uma madrugada chuvosa.
O motorista era um homem forte e calvo, com cara fechada, que lhe abriu a porta do passageiro e tocou a viagem, na direção da fronteira.
Já se aproximavam do local onde, pelo que havia sido acertado, deveriam trocar de carro, quando o Sr. Morten, com a típica educação de bancário, quis puxar conversa com o motorista.
*Por que o senhor faz este tipo de trabalho?
*Para sobreviver... - respondeu o motorista sério, mas depois exibiu um sorriso suave – Mas é somente um extra, tenho outra profissão.
*É sério? Eu também tinha, mas coloquei tudo a perder...
*Por quê?
O Sr. Morten ponderou um pouco, antes de responder.
*Foi ganância mesmo. Meu salário só dava para o básico. Depois conheci uma mulher e queria ter uma grande aventura com ela.
*Onde ela está? - questionou o motorista.
*Ela morreu! Não aguentou a pressão e acabou me ferrando.
*E o que pretende fazer?
*Ah, vou começar vida nova e arranjar uma francesinha linda. Ainda não sei!
O motorista reduziu a velocidade e parou. Outro carro com as luzes apagadas aguardava a poucos metros a frente.
O fugitivo fez a volta no carro e parou ao lado da porta do motorista, com uma nota de 50 euros na mão.
*Muito obrigado pela sua ajuda. A propósito, sou Morten.
*Muito prazer, senhor. Me chamo Tiler.
Ele coçou a cabeça enquanto o veículo se afastava. Foi somente quando os homens de sobretudo do outro veículo pararam ao seu lado que ele se lembrou onde havia visto aquele nome, mas já era tarde demais para tentar fugir.
FIM
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