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Cidade do Nunca

Texto de acissacarvalho

Terceiro lugar no concurso "Suspense 16, Cidade Macabra".

Sinopse: Um cadáver misterioso foi descoberto e a única pista encontrada pela polícia foi a existência de um nome: A Cidade do Nunca. Quando um detetive renomado é convocado para resolver o caso, acaba por descobrir que há muito mais do que simples evidências humanas rodeando a morte da vítima.

*

Tenho orgulho de ostentar em meu currículo profissional a mais vasta e empolgante variedade de experiências, e confesso carregar tamanho apego àquelas linhas preenchidas que nada nesta vida me faria abandonar a hipótese de aumentá-lo. Nada, entretanto, uma história.

Essa foi enraizada no Distrito Policial de Lobeiros, local para onde fui encaminhado em novembro de dois mil e sete, influência de uma ocorrência na cidade nordestina que faz divisa com o estado da Bahia. E lembro-me como se fosse hoje do dia maldito em que pisei naquele posto, tomado pelo entusiasmo de um caso não-solucionado.

Sequer precisei registrar minha chegada na recepção. Um homem atarracado — que se apresentou como Inspetor Velarde — me saudou ainda à porta, comunicando-se com gestos ansiosos e exagerados antes de me guiar, sem mais dizer, até o local onde descansava a vítima.

E me permita dizer que "descansar" é eufemismo. Estava tão vivo quanto o Mar Morto, deitado em uma das camas de metal do necrotério. Além disso, não havia visto nada fora do comum no defunto. A pele fria era branca, agora pálida, mas com resquícios de queimaduras proporcionadas pelo sol escaldante da região. Seu cabelo era ralo e cacheado, com mechas enroladas como caracóis preguiçosos sobre a testa. Mesmo o corpo era robusto e não apresentava qualquer sinal de violência ou decomposição.

Franzi o cenho para Velarde, que estava parado à porta. A vítima de que fui informado por ligação estava morta há pouco mais de três semanas, e fiz questão de verbalizar este pensamento para ele. O homem, entretanto, nada fez além de curvar os lábios e dar de ombros.

— Exatamente, senhor — explicou, confirmando como se eu houvesse adivinhado a resposta para uma prova da quinta série. Me inquietei.

— E não apresenta nenhum sinal de decomposição? — a essa altura, já havia me aproximado do cadáver e exposto a pele rente ao abdômen, onde incisões foram feitas por algum médico legista anterior à minha chegada. — ou pistas?

Velarde confirmou, então estremeceu, recuando um passo rumo à saída. O gesto, que não passou despercebido por mim, foi apontado e ele balançou a cabeça.

— Nenhuma pista? — pressionei, apanhando luvas cirúrgicas em uma bancada próxima antes de voltar ao morto.

— Nenhuma... quer dizer — engasgou, desenhando uma cruz no ar antes de continuar. — é mais um boato, senhor.

— Então me conte — não tendo achado nenhuma evidência física de sua morte, abandonei temporariamente o trabalho e voltei minha atenção para Velarde, esperando que pudesse dizer algo útil.

— os outros médicos viram... algo — explicou. — dizem que o morto falou.

— Besteira, homem! — neguei, incrédulo, afastando o arrepio que percorreu o meu corpo conforme imaginava a cena. Mortos não falavam e disso eu sabia, entretanto, não podia negar que sua existência naquela sala era estranha.

— Está vendo? Está vendo? Cê não iria acreditar. O pessoal da capital é muito cético — Velarde bateu o pé e apontou um indicador, balançando a cabeça em indignação. Eu, que ainda não estava convencido, continuei:

— E o que disse o morto, inspetor?

Ele me encarou, como se pensasse se valia a pena ou não continuar a dar-me explicações.

— Ele disse sobre uma tal Cidade do Nunca — foi direto ao ponto, franzindo o cenho enquanto tentava se lembrar dos relatos — Os legistas disseram que abriu os olhos e começou a murmurar algumas palavras estranhas... como foi mesmo? Ah, sim, sim. Ele disse que deixou algo nessa cidade aí.

Observei enquanto estremecia novamente e pressionei os lábios para não rir. Aquilo tinha cara de trote, uma pegadinha entre os profissionais da delegacia local.

— Talvez fosse o Peter Pan? — ironizei, exibindo um sorriso zombeteiro. Velarde me lançou um olhar meio magoado e saiu, deixando-me sozinho para investigar o resto.

Tive certeza de que teria algo que houvessem deixado passar, entretanto, nada achei e já era noite quando me preparei para partir de lá, cabisbaixo. Velarde, como era de se esperar, já havia cumprido o próprio turno e partido para casa ainda durante a tarde, então entrei no carro e comecei a dirigir até a pousada em que estava hospedado, pretendendo voltar ao amanhecer para obter mais respostas.

A estrada esburacada estava vazia, chocando-me imediatamente devido a memória da cacofonia insuportável do trânsito pesado da capital. Como uma boa cidade pequena, parte da rodovia ainda não possuía asfalto e era rodeada por folhagem densa de mata extensa e árvores finas nas bordas.

Indiferente ao limite e perturbado pela escuridão e história absorvida, pisei no acelerador e dirigi por alguns minutos antes de estranhar uma situação. O trajeto, que eu me lembrasse, levava cerca de quinze minutos para ser feito. Aquela volta, entretanto, parecia se prolongar por mais vinte.

Desacelerei, tentando achar placas. Nada. Meu corpo começou a suar frio e culpei a minha cabeça. Talvez estivesse enganado; talvez o relógio estivesse errado.

Para todos os efeitos, em certo ponto a estranheza aumentou. Vi na estrada névoa rala e esbranquiçada, dançando sob a luz do farol como o véu de uma noiva ao vento. Desenhei uma cruz no ar, tal como fizera Velarde mais cedo, e continuei, ponderando sobre a opção de dar meia volta e dormir na delegacia a cada minuto. E antes eu tivesse feito.

Mal percorri alguns metros e senti um baque na lataria do carro. O desespero cresceu quando a hipótese de ter atropelado alguém surgiu, entretanto, não havia uma alma viva naquela região por minutos então, torcendo para ter sido apenas um animal grande desavisado, saí do carro.

Nada, nem um arranhão no capô.

Enquanto entrava de novo, murmurei comigo mesmo o Salmos 91. No terceiro verso, fechei a porta. No quarto, ajustei o retrovisor. Na palavra seguinte, vi o que estava refletido no espelho e cada centímetro do meu corpo, sem qualquer exagero, se arrepiou.

— Deixei algo na Cidade do Nunca — entoou o defunto, os olhos arregalados, sentado no meu banco traseiro.

Não sei dizer que tipo de mal me assolou, mas o desespero foi tamanho que o grito que desejei soltar ficou emperrado em minha garganta. Minhas mãos trabalharam inutilmente na maçaneta até que consegui abrí-la e corri, deixando o carro para trás com força de vontade e velocidade que nunca imaginei poder ter na vida.

Já estava há alguns metros a frente quando a névoa se dissipou e percebi o meu erro. Mas havia chegado na área ocupada pelos prédios e o alívio quase me fez desmaiar. Alívio esse que se foi quando encarei o local. Aquela não era Lobeiros em aspecto algum.

O local, que a primeira vista parecia apenas mais uma cidade comum, possuía aspecto velho e sujo; prédios em ruína ocupando ponto a ponto da estrada principal com a mesma devoção de lápides em um cemitério. A mesma vegetação densa que vira antes no carro ocupava quase tudo ali, paredes de folhas espinhentas parecendo serem as únicas sustentações das construções de concreto e tijolos expostos.

Esfreguei os olhos na tentativa de afastar aquela visão, mas de nada adiantou. A Cidade do Nunca permanecia ali, tão sólida quanto meu próprio corpo. E se em algum momento entre o estupor causado pelo pavor pensei em dar meia volta, minhas esperanças foram esmagadas quando girei nos calcanhares e me deparei com mais e mais prédios, todos enfileirados próximos a pontos comerciais e de ônibus totalmente destruídos.

Minhas únicas opções eram sentar e esperar ou tentar achar uma saída. A primeira, visto a natureza da situação, era inviável, então comecei a caminhar, iluminado pela luz precária dos letreiros e dos postes de luz oscilantes nas calçadas.

Não esperava encontrar nenhum ser vivo no caminho, e logo vi que estava certo sobre tal suposição. Sequer um roedor se aventurava sobre os quilos de concreto e lama. Nenhum som além das batidas do meu coração, de meus passos e de minha respiração soava, exceto em raros minutos de gravidade, quando um pedaço de pedra ou tronco se desprendia e caía no chão, emitindo um ruído desagradável que gerava ecos e me seguia por longos metros antes de desaparecer, sabe-se lá se postergado por minha mente ou pela força sobrenatural que parecia rondar aquele local.

Atravessei uma rua e logo me vi ziguezagueando por um bairro, a vegetação diminuindo um pouco naquela religião. Porém, ainda, nenhum sinal de civilização era visível e, exausto, deixei-me cair no acostamento, soltando o ar pesadamente até que meus pulmões reaprendessem a respirar.

Quando voltei a caminhar, senti um movimento que não parecia advir de troncos, folhas ou pedras às minhas costas. O som seco e ritmado foi ignorado por mim no início, mas logo tornou-se mais nítido, e o desespero me fez disparar em uma corrida, incerto de que os passos eram reais ou imaginários.

Precisei de apenas alguns metros para que a própria criatura confirmasse a sua existência, surgindo das sombras de um beco escuro como um pesadelo materializado.

Era, na falta de palavra para descrevê-la melhor, absolutamente nefasta. E cada canto que meus olhos alcançavam enviavam um tipo diferente e mais profundo de terror, como se ele viesse não só de dentro, mas de todos os lados. O ser inspirava medo tão palpável que desejei despejar todo o conteúdo de minha bexiga nas calças.

Cinco segundos, marcados pela batida do meu coração, se passaram. Por cinco segundos, tomado pela paralisia de sua forma, eu o encarei. E não sou tão bom descrevendo aparências, no entanto, aquela ficou marcada como ferro em minhas memórias.

A criatura tinha cerca de dois metros e meio, sua pele cinza hora saliente e hora esticada sobre os membros magros e longos. Dos dedos finos se projetava uma garra tão grande quanto o cumprimento de uma faca, parecendo tão afiada quanto. E o pior talvez fosse o seu rosto, uma massa de carne distorcida com olhos dourados brilhantes que pareciam poder tocar a minha alma. Apenas quando se moveu, tive forças o suficiente para correr novamente, e foi nessa hora também que emitiu o primeiro grito. Era estridente como vidro sendo estilhaçado e vazio como o vórtex da morte, reverberando em meu crânio antes de se dissipar avenidas afora.

Coloquei todo o meu equilíbrio em prática, desviando de galhos e destroços com tanta ansiedade que parei de perceber formas à minha volta. O ser, que agora sabia não estar mais invisível aos meus olhos, não decepcionou quando a perseguição se deu início.

E maldito seja a terra de onde veio, pois era rápido como um demônio. Não tardaria até que me alcançasse, e então seria eu na cama de um necrotério.

Não senti além de aflição naqueles poucos minutos em que corri, talvez dois ou três. Ultrapassei fachadas de casas, varandas de prédios e os resquícios de uma praça; tudo isso com aquilo no meu encalço.

Estava quase perdendo as esperanças quando avistei uma luz no fim do túnel. Quase literalmente.

A orbe luminosa se acendeu, então se apagou. Quando acendeu novamente, ocupava um ponto distante virando a próxima esquina. Mais uma vez, temi por minha sanidade, mas a segui quando o dourado dos olhos da Besta me alcançou e suas garras cortaram o ar em minha direção.

Continuei seguindo quando a orbe apontou mais a frente, iluminando a entrada de um posto de gasolina abandonado. Invadi o estabelecimento e me escondi entre as prateleiras, mas não era o suficiente. A luz piscou novamente, desta vez, mais forte e mais clara, e fui atraído até o balcão de atendimento semi-soterrado.

Não entendi o que queria até perceber um pacote bem embrulhado no solo, coberto por uma grossa camada de poeira. Estava prestes a abri-lo quando a criatura irrompeu, arrancando as duas portas de metal como fatias de manteiga.

Arrastei o corpo para baixo das prateleiras e assim segui até a última, onde reuni a pouca coragem que tinha e corri para fora, onde a orbe já me esperava.

Pensei que estaria livre, que me levaria de volta até o final daquele pesadelo, entretanto, minhas espectativas foram por água abaixo quando senti o toque gélido das garras da criatura nas minhas costas, dor aguda e extraordinária consumindo cada mínimo sulco de minha alma. Então o mundo se dissolveu em trevas e eu despenquei no vazio.

Quando acordei novamente, estava no carro, luz do sol adentrado pelo vidro e cabeça apoiada no volante. Meu telefone tocou e eu, ainda absorto pelo sonho, o atendi. Quem falou no outro lado foi o Inspetor Velarde, voz fúnebre anunciando que não precisavam mais de minha ajuda na delegacia. O corpo apodrecera da noite para o dia, o peso de todas aquelas semanas recaindo sobre sua existência.

Confuso e apavorado, olhei para o meu colo e minha consciência ameaçou ir-se embora quando vi o pacote. Tremendo, comecei a abri-lo e, quando finalmente pude vislumbrar o conteúdo, gritei.


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