Capítulo - 16
Foi complicado focar inteiramente na aula do professor Henry de matemática, quando a cada cinco minutos alguém virava em minha direção.
Aquilo estava me incomodando de uma forma estranha.
Para acabar de vez com meu sossego, Carson entrou na sala ao final da terceira aula, sentando ao meu lado e dormindo a aula inteira. Ridículo.
Ele sabia que após o término das aulas da professora Charlie, não precisaríamos mais dividir a mesma banca, mas ele insistiu em fazer, pois tinha prazer em me irritar, apenas isso, não havia outro motivo aparente.
Fiquei aliviada quando a quarta aula chegou ao fim, fui uma das primeiras a levantar e sair da sala. Fora do colégio, eu pude respirar ar leve e puro, nada comparado ao clima sufocante que se formava naquele cubículo fechado, chamado por sala de aula.
Do lado de fora, eu esperava por Noah, enquanto alunos passavam apressados por mim, e o lugar aos poucos ia ficando vazio. Olhei para o portão do colégio, e vi quando Julie saiu do lugar acompanhada por três garotas. Ao me ver, ela se aproximou.
— Cassie, ainda está aqui? As meninas vão me dar uma carona, vem com a gente? — ofereceu.
— Estou esperando o Noah, ele já deve está chegando, não se preocupe comigo. — respondi.
— Tudo bem. — disse, meio pensativa. — Então, até amanhã. — concluiu dando de ombros e indo até o estacionamento da escola com suas colegas.
Minutos depois o lugar já estava vazio por completo, havia só eu na frente do colégio.
Doze minutos haviam se passado, e nenhum sinal dele. Por um momento, eu pensei no pior, mas me repreendi em pensamentos por aquilo. Era apenas um atraso de meu amigo, apenas mais um.
Eu segurava as alças de minha mochila, enquanto mantinha minha cabeça erguida para o céu, com os olhos fechados, sentindo a brisa do meio dia passar por minha face, um sentimento de paz e tranquilidade me consumia, foi assim por breves segundos, até uma voz familiar me tirar do transe.
— A carona atrasou mais uma vez?
Olhei para Carson, que mantinha seu semblante debochado, e suspirei cansada.
Eu havia agradecido por ele não ter dirigido a palavra a mim durante toda aquela manhã, mas agradeci cedo demais.
Mudei minha atenção para o que tinha em mãos, e vi que se tratava de dois capacetes. Aliás, eu sempre me questionava sobre o porque de ele andar com um capacete feminino que continha adesivos da hello kit, no bagageiro de sua moto.
— Estava levando sermão de algum professor de novo? — retruquei, me esquivando da sua pergunta incoveniente.
— Desista, seu amigo não vem. — foi a vez dele de se esquivar da minha pergunta, em seguida me oferecendo o capacete feminino que tinha em mãos.
— Sugere que eu vá com você? — questionei, com o cenho franzido.
— Tem uma ideia melhor? ou pretende ir a pé para casa de novo? — indagou, com uma expressão brincalhona no rosto, o que me fez lembrar do dia no hospital.
— Por que se importa? — retruquei.
— Não me importo. — respondeu, dando de ombros, com aquele sorriso debochado ainda visível em seu rosto.
Naquele mesmo instante, um carro parou de frente para o colégio, e um sorriso involuntário se fez em meu rosto.
— Que ótimo! — ouvi Carson dizer, e o olhei de relance rapidamente antes de mudar minha atenção para o carro de volta.
Após descer do automóvel, Noah vinha em minha direção, e eu lhe lancei um sorriso, o mesmo retribuiu por breves segundos, mas logo notei seu sorriso se desfazer e mudar para uma expressão séria, assim que teve sua atenção voltada para Carson que estava próximo a mim. Virei para Carson, e vi que seu sorriso debochado de segundos atrás também havia sido substituído por uma expressão idêntica a de Noah.
— Me desculpa a demora, acabei perdendo a noção do tempo, vamos? — se aproximou dizendo, antes de segurar em minha mão, e me guiar até seu carro, ignorando completamente a presença de Carson.
Não fiz questão de me despedir de Carson, até porquê não tínhamos intimidade para aquilo. Entrei no carro, assim que Noah me abriu a porta, e coloquei o cinto de seguranças, enquanto meu amigo entrava e fazia o mesmo.
— O que ele queria com você? Estava te incomodando? — questionou, com sua atenção voltada para a estrada, após dar partida no carro.
— Nada de importante, não se preocupe.
— Tem certeza? — insistiu.
— Absoluta.
— De qualquer forma, eu não acho uma boa idéia você se aproximar dele. — advertiu.
— Eu não escolhi isso. — falei com um suspiro cansado, ao lembrar que teria que fazer dupla com ele até o final do ano letivo.
— Eu falto um dia e idiotas feito ele se aproximam de você. — disse, negando com a cabeça.
— Nenhum cara além dele veio falar comigo hoje, Noah. — corrigi.
Noah e Carson não iam com a cara um do outro. Foi no primeiro ano do ensino médio, quando Carson chegou como aluno novato no segundo bimestre daquele ano, mal encarado, ele não falava com ninguém e vivia sempre sozinho, mas em uma manhã de educação física, um dos amigos de Noah, estava treinando com a bola, quando sem querer arremessou no peito de Carson que estava se aquecendo num canto afastado da quadra. O garoto até tentou se desculpar, mas Carson por sua vez não quis saber de desculpas e partiu para cima dele, daí se iniciou uma briga entre os dois. Noah não estava lá no momento, mas por não simpatizar com Carson desde o início, teve esse acontecimento como mais um motivo para não gostar dele.
— Desculpa, eu sei que ele é seu colega de classe, mas não confio nele ao seu lado, espero que entenda que só não quero te ver machucada. — disse, me olhando por um momento.
— Eu sei, mas eu não vou me machucar, eu nunca me machuco, esqueceu?
Falei, e como eu queria que aquela frase fosse real.
— Sei que você é durona, mas para tudo tem uma primeira vez, Cassie. — ele disse, e eu mudei minha atenção para a estrada.
— Não vai mesmo me dizer o motivo de ter faltado aula hoje? — questionei, mudando de assunto.
— Eu fui na lanchonete da vovó Lupe. — respondeu.
— Na vovó? Por que não me chamou? — questionei mais uma vez surpresa.
— Eu sabia que se eu te dissesse que iria lá, você iria se sentir mal o resto do dia, pois não faltaria aula por nada nesse mundo, então não poderia ir comigo. — se explicou.
— Poderia ter esperado até o final das aulas, o que de tão importante tinha para falar com a vovó que teve de faltar aula? — perguntei.
— Eu não poderia esperar, eu tenho treino às uma da tarde, e vou levar a Julie para jantar à noite. — disse, fazendo uma pausa rápida, antes de responder minha pergunta - Fui falar com a vovó sobre o pedido de noivado.
Eu ainda não havia me acostumado com a idéia de que meu melhor amigo iria pedir a mão da namorada.
Então fiquei levemente surpresa com sua fala naquele momento.
— Entendi, foi dar a notícia a ela? — tentei soar o mais normal possível ao perguntar.
— Mais que isso, fui pedir a ela para que liberasse a lanchonete para o pedido ser feito lá. — respondeu, com um sorriso animado no rosto. — Pensa comigo, Julie já conheceu minha mãe, o tio e você, e nós temos a vovó como uma verdadeira avó para gente, eu e a Julie estamos juntos há dois anos, e até hoje ela não conheceu nem a vovó, nem a lanchonete, então seria perfeito comemorar seu aniversário lá, de quebra apresentar a vovó, a lanchonete, e pedir a mão dela.
Julie durante todos aqueles anos de amizade comigo, e namoro com Noah, nunca havia conhecido a lanchonete ou a vovó, ainda que soubesse sobre ambos.
Ela respeitava o nosso juramento de não levar mais ninguém além de nós dois, por mais que às vezes ficasse triste por não poder nos acompanhar.
Ouvir de meu amigo que ele estava pensando em levá-la até lá, me deixou extremamente surpresa. Mas eu não poderia deixar que Noah notasse.
— Bem pensado. — falei.
— Você acha mesmo? Eu fiquei preocupado por um momento, pensei que você não estaria de acordo, mas daí lembrei que vocês são amigas. — fez uma pausa rápida. — Vovó disse que vai ficar responsável por enfeitar o lugar, eu falei que não precisava ser nada muito exagerado, e ela pediu para que eu deixasse tudo por conta dela, sendo assim, eu preciso de você para uma coisa apenas.
— Pode falar. — permiti.
— Você só precisa segurar a Julie em casa, até que eu te dê um toque mandando você levar ela até a lanchonete, mas de forma discreta, você poderia?
— Claro! — falei, lhe dando o melhor sorriso que consegui naquele momento.
— Ótimo, então a gente se fala amanhã depois da escola, vou dormir na casa do Ítalo hoje. — anunciou, me olhando e eu assenti em concordância.
Quando dei por mim, nós já estávamos na rua de casa, logo Noah freiou, e eu desci depois de lhe dar um tchau rápido, e ele fazer o mesmo, indo embora em seguida.
Ao entrar em casa, eu senti um cheiro de perfume que exalava por todo o lugar, fechei os olhos por breves segundos, enquanto o cheiro percorria livremente. O cheiro era tão bom, que senti como se estivesse sido levada por ele, como se uma corrente de ar estivesse me puxando, mesmo eu permanecendo no mesmo lugar. Ainda que irreconhecível, aquele perfume não me era estranho.
— Querida. — ouvi papai me chamar, e voltei a realidade rapidamente.
— Oi, papai.
— Antes de subir pra se trocar, venha aqui dizer olá para os convidados. — chamou, e eu sem hesitar, mas curiosa, o segui até a cozinha.
Papai que chegou primeiro no local, anunciou a minha chegada antes mesmo de eu pisar os pés no lugar.
— Essa é minha pequena Cassandra.
Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios ao ouvir meu pai me apresentar daquela forma, entrei no lugar olhando para ele que estava próximo ao balcão, e rapidamente mudei minha atenção para o casal ao seu lado que não me era estranho. Mantive meu sorriso amigável no rosto, enquanto forçava a mente para lembrar onde eu havia visto eles, e ao lembrar, meu sorriso amigável foi se transformando em um sorriso apagado.
Aqueles eram os pais de Nicholas, e eles estavam em minha casa.
— Oi, Cassie.
Ouvi uma voz dizer atrás de mim, e já sabendo de quem se tratava, eu virei apreensiva, erguendo minha cabeça, e dando de cara com Nicholas que sorria alegremente para mim.
Não eram só os pais dele que lá estavam, mas ele também.
Nicholas Kahn estava em minha casa.
Exclusivamente em minha casa.
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