— O que meu irmão queria aqui? Ele mexeu nas minhas coisas? — O sorriso no rosto de Tata se desmancha assim que Pedro sai do quarto.

— Só veio dizer oi — Oscar mente —, não mexeu em nada. — Parte de sua fala ser verdade lhe trouxe um bocado de alívio de consciência. — Por quê? O que está escondendo? — sentou-se na cama enquanto mudava de assunto a mais rapidamente possível.

Julieta sentou-se ao seu lado, entregando-lhe o sanduíche e pensando no que responder.

— Camisinhas. — Escolheu a verdade escandalosa para ocultar a verdade sombria.

Oscar franziu o cenho. — Desde quando usa camisinha?

— Desde que decidi que, nesse ano, vou transar com muitas pessoas diferentes. Não quero pegar nenhuma IST — constrange-se com a ideia da última frase.

— Muitas pessoas? — o garoto perguntou, apenas para confirmar o que tinha escutado.

— Sim. Foi isso mesmo o que eu disse.

— Não é porque o Vitor terminou com você que você precisa sair por aí dando pra todo mundo, sabia? — Tinha ciência de que estava sendo um tanto cruel, contudo, sentia que a amiga precisava ser confrontada com a verdade, já que não parecia conseguir vê-la por si só.

— Eu sei que não preciso, mas eu quero. — Tata levou à voz aquela petulância com a qual Oscar já estava habituado. A partir daquele ponto, soube que seria inútil dissuadi-la.

— Você está completamente maluca — tentou mesmo assim.

— Eu não estou maluca. Tenho dezessete anos. Preciso começar a viver um pouco. Além disso, quem vai dar trabalho para os meus pais agora que o Pedro tá indo embora? Preciso assumir esse papel.

— Têm mil coisas erradas com o que você acabou de dizer, mas eu vou focar no seguinte: esse não é o papel que o Pedro quer que você assuma.

— E o que você sabe sobre o Pedro? Você não convive com ele, não sabe o inferno que ele anda causando nessa casa por causa dessa ideia de jerico de ir pro quinto dos infernos.

Oscar não sabia o que responder. Sentia que qualquer frase que saísse de sua boca seria incriminatória.

— Por que ele tá fazendo isso com a gente? — Tata perguntou, tão melancólica que causava pena.

— Como seus pais estão lidando com isso? — Pareceu seguro questionar.

— Não estão lidando. Minha mãe está apoiando. Acha que é uma boa ideia. É uma faculdade boa, no final das contas. Meu pai está puto da vida por ele ter mentido e está puto com minha mãe também, por apoiar essa palhaçada. Por que ele fez as coisas desse jeito, Oscar?

— Eu não sei... Eu realmente não sei.