17- Entre amigos
A tarde passou voando, e quando se deram conta, já estavam retornando à pousada. Ao chegarem ao quarto, Lais tomou um banho relaxante e começou a se preparar para o jantar daquela noite.
Ela escolheu um vestido longo e preto, com um decote sutil que realçava suas curvas de forma elegante. Decidiu deixar os cabelos soltos, criando um look suave e sofisticado. Sua maquiagem era leve, destacando suas feições sem exageros.
Enquanto ajustava o vestido diante do espelho, ouviu o som da porta do banheiro, sinalizando que Gabriel estava saindo. Quando ele apareceu, ainda com uma toalha enrolada na cintura e os cabelos molhados, estava tão à vontade que parecia não perceber a presença dela. Ele secava os fios com a toalha, inconsciente do olhar atento de Lais sobre ele.
Lais engoliu em seco, sentindo uma mistura de nervosismo e algo mais que ela não conseguia identificar. Seus olhos se detiveram por um momento no corpo de Gabriel, sua postura relaxada contrastando com o desconforto que ela sentia. Ela desviou o olhar rapidamente, tentando disfarçar o calor que subia em seu rosto.
Sua mente começou a reviver momentos íntimos que compartilhara com ele no passado, quando eram mais jovens... naquela época, Gabriel já era atraente, mas agora, ele parecia um verdadeiro deus grego.
— Você está deslumbrante para o jantar. — Gabriel comentou, trazendo Lais de volta à realidade. Ele parecia completamente à vontade com a situação, o que só acentuava a insegurança que ela sentia. Tentando se recompor, ela deu um pequeno sorriso e voltou a olhar para o espelho, ajeitando o vestido.
— Obrigada! — respondeu ela, com um tom um pouco sem jeito.
Gabriel se aproximou, ainda secando os cabelos, e seu olhar percorria Lais com um interesse discreto, mas perceptível. Ele parou ao lado dela, observando seu reflexo no espelho, o corpo ainda com a leve umidade da toalha que o envolvia, conferindo-lhe um ar natural. O silêncio entre os dois era carregado, mas não desconfortável.
Lais tentou manter o foco, mas seus pensamentos estavam acelerados, tentando ignorar a sensação de proximidade. Ela se sentia vulnerável, como se as memórias do passado estivessem prestes a tomar conta, mas ela se manteve firme. Gabriel sempre soubera como provocá-la com um simples olhar ou gesto, e parecia que isso ainda tinha o mesmo efeito.
— Vou me arrumar rapidinho — disse ele, quebrando o silêncio. Seu tom era leve e descontraído, mas havia algo mais ali, uma intensidade que Lais não sabia se era só impressão dela.
Ele se afastou para pegar suas roupas, mas antes de sair, soltou uma última frase, quase como uma piada, mas Lais sabia que havia algo mais por trás.
— Não fique nervosa. O jantar vai ser ótimo... e meus amigos vão adorar sua companhia.
Ela sorriu levemente, mas seus olhos continuavam fixos no reflexo dele. "Será que ele percebe?", pensou, tentando se acalmar enquanto ajeitava o vestido mais uma vez. O jogo silencioso entre os dois estava prestes a se intensificar, e Lais não sabia se estava pronta para o que viria.
A tensão no ar parecia aumentar a cada segundo que passava. Ela sentia um misto de excitação e receio, sabendo que aquela noite poderia ser um ponto de virada para o que existia entre ela e Gabriel.
Gabriel demorou alguns minutos para se arrumar, mas quando saiu do banheiro, Lais não pôde deixar de se impressionar com a transformação. Ele vestia um terno preto perfeitamente cortado, que parecia ter sido feito sob medida para ele. O tecido brilhava suavemente sob a luz do quarto, e o corte moderno destacava seus ombros largos e sua cintura fina. A camisa branca por baixo estava perfeitamente alinhada, com a gola discreta e a gravata preta, que adicionava um toque de sofisticação.
Gabriel se aproximou do espelho para ajeitar os detalhes. Seu cabelo ainda estava um pouco molhado, mas ele parecia intencionalmente desarrumado, como se tivesse feito um esforço para parecer despreocupado, mas com um charme irresistível. Quando ele se virou para Lais, ela teve a sensação de que ele sabia exatamente o efeito que causava. Seus olhos escuros a fixaram por um instante, e um sorriso pequeno, mas cheio de significado, apareceu em seus lábios.
— Pronta? — perguntou ele, com a voz profunda e tranquila, ainda sem perder o tom de brincadeira.
Lais sorriu, sentindo o calor aumentar em seu rosto novamente. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura.
— Sim, vamos — respondeu, com um toque de insegurança, mas decidida a não demonstrar.
Eles saíram do quarto e caminharam pelo corredor até o hall da pousada, onde o clima aconchegante contrastava com a tensão crescente entre os dois. O ar fresco da noite envolvia-os enquanto caminhavam até o carro, que os aguardava em frente à pousada. Gabriel abriu a porta para Lais, um gesto gentil, mas com um toque de cavalheirismo que parecia quase irônico, dado o contexto da noite.
Durante o trajeto até o restaurante, o silêncio entre eles foi quebrado apenas pelo som suave da música tocando no carro. Gabriel olhava para a estrada, mas Lais notava que seus olhos frequentemente se voltavam para ela, como se estivesse estudando cada movimento, cada reação. Ela sentia a tensão entre eles, mas também uma curiosidade crescente sobre o que aconteceria naquela noite.
O restaurante era elegante e refinado, conhecido por sua comida italiana impecável e ambiente acolhedor. Quando o carro finalmente parou diante da entrada iluminada, Lais sentiu um aperto no estômago, talvez pela antecipação ou pela sensação de que aquela noite poderia ser um divisor de águas para o que havia entre ela e Gabriel.
Eles entraram no restaurante e foram recebidos calorosamente. O som do burburinho dos outros clientes e o aroma delicioso dos pratos italianos preenchiam o ar. À mesa, já os esperavam os amigos de Gabriel, um casal simpático e extrovertido. A mulher, Clarice, estava usando um vestido vermelho vibrante, e o marido, Marcos, estava de terno cinza escuro, com um ar descomplicado, mas sempre bem arrumado.
Marcos levantou-se ao ver Gabriel e Lais, com um sorriso largo.
— Que bom que chegaram! — disse com entusiasmo cumprimentando o loiro com um abraço caloroso de amigo.— È bom ti ver parceiro.
— Igualmente Marcos...
— Quem é a bela dama.
— Essa é Lais. — Respondeu Gabriel calorosamente.—
Marcos se virou para Lais com um sorriso encantador, seus olhos brilhando de simpatia.
— Um prazer conhecê-la, Lais! — disse ele, estendendo a mão de forma gentil. —
Lais sorriu, um pouco surpresa pela reação calorosa, e apertou a mão de Marcos, sentindo a simpatia genuína que ele emanava.
— O prazer é meu, Marcos. — respondeu Lais, com um sorriso tímido, mas educado.
Enquanto isso, Clarice, que estava sentada à mesa, levantou-se também, vindo ao encontro de Lais. Ela estava vestida com um vestido vermelho vibrante, que realçava sua personalidade extrovertida e animada.
— Olá, Lais! Que bom te conhecer finalmente! Gabriel falou que traria uma acompanhante brasileira, e eu fiquei super curiosa. — disse Clarice, dando-lhe um abraço apertado. — Acho que poderemos ser boas amigas, e ter muito assunto para falar do Brasil, enquanto eles falam de negócios.
Lais se sentiu imediatamente à vontade com a energia positiva de Clarice, retribuindo o abraço com um sorriso mais largo.
— O prazer é todo meu, Clarice. — respondeu Lais, sentindo a pressão diminuir um pouco.—
Gabriel observava a interação com um sorriso discreto, mas algo em seu olhar parecia mais atento do que o normal. Ele se acomodou ao lado de Lais, puxando a cadeira para ela se sentar, um gesto cavalheiro que não passava despercebido Por Clarice e Marcos.
Clarice e Marcos logo se sentaram novamente, e a conversa começou a fluir com facilidade. O ambiente do restaurante parecia mais acolhedor, os risos e a troca de histórias tornando a atmosfera leve e descontraída. No entanto, para Lais, havia uma tensão sutil que não conseguia ignorar, como se o tempo todo estivesse ciente da presença de Gabriel ao seu lado. Ela tentava se concentrar nas conversas com os amigos deles, mas seus pensamentos frequentemente voltavam para ele, seu olhar, o jeito como ele se inclinava para ela de vez em quando, a energia que parecia vibrar ao redor deles.
O vinho foi servido, e a conversa se expandiu para vários temas, mas Gabriel continuava a fazer pequenos comentários ou piadas direcionadas a Lais, o que parecia trazer uma sensação de privacidade no meio da conversa animada. Marcos e Clarice estavam totalmente à vontade, falando sobre suas últimas viagens e planos para o futuro, mas Lais sentia os olhares de Gabriel a perseguindo de vez em quando, e a tensão, embora disfarçada por conversas casuais, era palpável.
O ambiente ao redor da mesa estava animado e descontraído, mas quando Marcos se inclinou ligeiramente para frente, seu tom de voz mudou para algo mais sério, embora ainda mantendo o sorriso fácil que sempre carregava.
— Você disse que queria me falar algo... sobre o que seria? — perguntou Marcos, olhando para Gabriel com uma expressão curiosa, mas também cautelosa.
Gabriel, que estava relaxado em seu lugar até aquele momento, parecia ponderar por um instante. Seus olhos passaram por Lais e os outros, que estavam entretidos em uma conversa paralela, antes de ele responder com um leve sorriso.
— Sim, eu queria conversar sobre alguns projetos. — disse Gabriel, pegando a taça de vinho e dando um gole, como se quisesse ganhar tempo para organizar seus pensamentos. — Tenho algumas ideias que gostaria de discutir com você, mas não queria te incomodar enquanto estivéssemos em boa companhia.
Marcos acenou com a cabeça, claramente interessado, e se ajeitou na cadeira, sinalizando para Gabriel continuar.
— Não é incômodo. — Marcos respondeu com um sorriso amigável. — E você sabe que pode me chamar a qualquer momento. O que você está planejando? Algo grande, certo?
Gabriel deu uma risada baixa, já começando a se abrir um pouco mais.
— Eu preciso de um arquiteto talentoso para me ajudar num projeto de patrimônio histórico... E você é o melhor arquiteto e urbanista que eu conheço — disse Gabriel, olhando fixamente para Marcos, com um olhar sério e decidido, como se já soubesse que essa conversa seria importante.
Marcos levantou as sobrancelhas, já percebendo que a situação estava mais pesada do que o habitual.
— Por que eu? Sua prima não é uma arquiteta renomada também? — Marcos perguntou, jogando a conversa para um campo mais leve, mas com uma pitada de curiosidade, e Gabriel suspirou, dando um leve sorriso ao ouvir a pergunta, mas logo voltou a adotar um tom mais sério. —
— Sim, ela é... mas Milena está grávida, e esse projeto vai ser um pouco demorado. Ela já fez alguns esboços iniciais, e ficaram perfeitos... mas o problema é que não podemos seguir em frente sem resolver algumas questões burocráticas primeiro. Preciso de alguém com sua experiência, alguém que entenda de preservação e restauro, mas também de um projeto que seja viável para o futuro. E você é o melhor para isso, Marcos.
Marcos fez uma pausa, digerindo as palavras de Gabriel. Ele sempre respeitou o talento e a visão do amigo, mas o que estava por vir parecia mais desafiador do que o habitual.
— Então me conta, o que seria exatamente esse projeto? — Marcos perguntou, interessado, enquanto começava a juntar os detalhes na sua mente. Gabriel se inclinou para frente, como se estivesse se preparando para falar de algo muito pessoal.—
— É uma padaria. Um patrimônio histórico na cidade onde meus pais nasceram. A primeira padaria da cidade, que passou de geração em geração. Ela sempre foi um símbolo para a nossa comunidade. Mas, infelizmente, houve um incêndio devastador, e boa parte da estrutura foi destruída.
Marcos permaneceu em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras de Gabriel que explicava detalhadamente sobre o projeto. Ele sabia o quanto os projetos de preservação podiam ser delicados, especialmente quando envolviam memórias afetivas tão profundas para uma comunidade.
— Isso é... uma grande responsabilidade. — disse Marcos, olhando para Gabriel com mais intensidade. — Você está falando de um patrimônio, de algo que está no coração da cidade e de tantas famílias. O incêndio é uma tragédia, claro, mas eu entendo o peso que tem tentar restaurar algo assim, sem perder o que ele representa.
Gabriel assentiu, sentindo o peso da responsabilidade.
— Exatamente. Eu... eu gostaria de preservar o que é possível, mas ao mesmo tempo garantir que o espaço seja funcional e seguro para o futuro da proprietária, dos clientes e funcionários... É por isso que preciso do seu olhar como arquiteto urbanista... Nós já passamos por algo similar em Tóquio, e achei que com a sua experiencia, poderia chegar em uma solução menos dramática... Não é apenas uma questão de reconstruir, é entender como honrar a história e, ao mesmo tempo, criar um ambiente que seja útil para as gerações que ainda vão passar por ali. Não podemos deixar a história morrer, mas também não podemos ignorar o fato de que a estrutura original não pode mais suportar tudo o que era antes.
Marcos pensou por um momento, tocando a taça de vinho com os dedos enquanto analisava a situação.
— É um projeto desafiador, sem dúvida. Mas, ao mesmo tempo, tem o potencial de ser algo incrível. A preservação de um patrimônio histórico não é apenas sobre reconstruir, mas sobre respeitar a alma do lugar. Podemos trabalhar juntos para criar algo que tenha a identidade do original, mas que também seja capaz de atender às necessidades de um novo tempo. Podemos integrar o antigo e o novo de forma harmônica. Restaurar a estrutura sem perder a identidade... Eu preciso avaliar a estrutura e ver ás plantas originais... Só assim poderia dar um parecer com clareza.
— Meu pai acha que devemos demolir tudo e começar do zero, por ser um patrimônio histórico e antigo... E de certa forma eu entendo o que ele quer dizer, mas eu queria que desse para salvar algo, me entende...
— Sim, entendo... Mas eu preciso avaliar a estrutura antes de tomar um parecer a respeito, só assim poderei dar um veredito... Preciso ver o local, e as plantas originais antes de chegar em uma conclusão...
— Isso quer dizer que você está dentro...
— Sim... Eu vou te ajudar com isso, é o mínimo que posso fazer por um amigo depois de você ter me ajudado naquele projeto em Quioto.
Gabriel sorriu, visivelmente aliviado com a resposta de Marcos.
— Eu sabia que podia contar com você. — disse ele, já mais confiante. — Eu sei que será um processo longo e cheio de desafios, mas tenho certeza de que, com a sua visão, podemos encontrar a melhor solução...
Marcos levantou sua taça de vinho, oferecendo um brinde.
— À preservação, então. E que esse projeto seja o começo de algo memorável para nossas carreiras.
Gabriel sorriu e ergueu sua taça, sentindo a tensão diminuir enquanto a conversa fluía novamente para o terreno da amizade e da confiança.
Marcos sorriu, um sorriso cheio de respeito pela paixão e dedicação de Gabriel.
— Vamos fazer isso acontecer. A história desse lugar merece ser preservada, e eu adoraria ser parte disso. E, além disso, podemos garantir que esse espaço não apenas sobrevive, mas se reinventa, se adapta às necessidades da cidade e das pessoas.
Gabriel olhou para seu amigo, sentindo que, naquele momento, havia encontrado o parceiro ideal para esse projeto tão importante. Ele sabia que Marcos não era só um arquiteto talentoso, mas alguém que compartilhava da mesma visão de valorizar a história sem abrir mão do futuro.
— Obrigado, Marcos. Eu sabia que você diria isso. Vamos em frente, então. Temos um grande trabalho pela frente.
Marcos levantou a taça de vinho, agora com um brilho nos olhos.
— À história e ao futuro. Vamos restaurar esse legado da melhor maneira possível.
Gabriel sorriu, levantando a taça também.
— À história e ao futuro.
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