09- Um lugar para ficar
A viagem até San Lorenzo foi tranquila e sem pressa. A Lamborghini deslizou pelas ruas calmas, e quando Gabriel finalmente estacionou em frente ao El Touro, o sorriso no rosto dele se alargou. Ele olhou para Laís, que estava quieta ao seu lado, e sentiu uma pontada de apreensão, mas também de conforto, como se a presença dela fosse o ponto de equilíbrio de sua vida.
Entraram no restaurante e seguiram até a mesa reservada por Rafael. Lá, o primo estava sentado, conversando animadamente com seus avós maternos, Paola e Alejandro, enquanto Giovanna, sua esposa, segurava a pequena Aurora nos braços. A garotinha estava adorável em um vestido azul bebê que destacava ainda mais seus grandes olhos claros.
— Boa tarde, pessoal! — disse Gabriel, chegando à mesa.
— Já estava na hora, hein? — Rafael se levantou, dando um abraço caloroso no primo, que estava com roupas mais casuais e confortáveis, enquanto Laís, de vestido preto básico, tentava se encaixar na atmosfera acolhedora da família.
— Sentem-se, bambinos — disse dona Paola, com seu jeito carinhoso. — Vou pedir a comida.
Antes de se sentar, Gabriel não resistiu e tomou Aurora nos braços, roubando-a gentilmente de Giovanna.
— Como está minha bonequinha de porcelana? — perguntou Gabriel, fazendo cócegas na barriguinha da criança. Aurora gargalhou, encantada com a brincadeira. — Fala, o titio é o mais lindo!
— Titio lindo! — disse a garotinha sorridente e mostrando a janelinha entre os dentes. Aurora a filha de Rafael e Giovanna estava com dois anos, e todos eram completamente apaixonado por aquele anjinho de cabelos loiros e olhos verdes igual o da mãe.—
— Pare de ficar dizendo mentira para a minhas filha... — Falou Rafael brincando e de forma divertida e Gabriel sorriu de volta, enquanto Laís observava a interação com um leve sorriso nos lábios, mas também sentindo-se um pouco deslocada, como se ainda estivesse tentando encontrar seu lugar naquela dinâmica familiar.—
— E então, qual é o motivo desse almoço surpresa? — Gabriel perguntou, pegando Aurora de volta nos braços de Giovanna e se sentando à mesa.
Rafael trocou um olhar significativo com Giovanna antes de responder, como se se preparasse para contar algo importante.
— Na verdade, temos duas notícias para compartilhar — disse Rafael, já mudando o tom de voz para algo mais sério.
— Duas? — Gabriel ergueu uma sobrancelha, curioso.
— Sim — começou Giovanna, com um sorriso terno enquanto olhava para Aurora. — A primeira é que estamos esperando outro bebê... Giovanna acabou de pegar o resultado...
— Mamma mia! — exclamou dona Paola, com as mãos no rosto, visivelmente emocionada.
— Parabéns, meu irmão! — Gabriel se levantou, abraçando Rafael com entusiasmo genuíno. — Isso é maravilhoso!
— E a segunda notícia? — Laís perguntou, agora mais curiosa e completamente envolvida na felicidade do amigo.—
Rafael sorriu e fez uma pausa, como se quisesse aproveitar o momento antes de revelar a surpresa.
— Queremos que você seja o padrinho do bebê — disse ele, olhando diretamente para Gabriel.—
O ambiente ficou em silêncio por um instante. Gabriel piscou, surpreso com o pedido, mas logo um sorriso largo surgiu em seu rosto.
— Eu ficaria honrado — respondeu ele, com a voz emocionada. Então, com um sorriso carinhoso, Gabriel perguntou, brincando.— Mas quem vai ser a madrinha, hein?
Rafael hesitou um momento, então seu olhar se dirigiu suavemente para Laís, como se já soubesse a resposta.
— O que você acha, Laís, de ser madrinha?
Laís engasgou levemente com a surpresa, olhando de um lado para o outro, como se tivesse entendido errado.
— Eu? — ela perguntou, com os olhos arregalados, sem saber como reagir.
— Sim, você — Rafael confirmou, com um sorriso tranquilo. — Você sempre foi parte da nossa vida, Laís. E não consigo pensar em alguém melhor nesse momento... você é minha amiga, e como uma irmã para mim.
Laís sentiu seu coração bater mais forte. Ela olhou para Giovanna, que a observava com um olhar carinhoso e afirmativo, e para Paola, que sorria com entusiasmo. Ela conhecia Rafael a muitos anos, mas não tinha muita proximidade com Giovanna... Tinha encontrado com ela poucas vezes, e não sabia se poderia ser uma boa ideia.
— Nossa, isso é tão inesperado... — ela sussurrou, tocando a ponta dos dedos na mesa, tentando processar o que estava acontecendo. — Eu não sei se mereço algo assim... Talvez vocês tenha uma outra opção...
— Claro que merece.— Falou Giovanna de forma carinhosa.— Te conheço muito pouco, mas sei que você é importante para a família... e Rafael te adora, e te trata como uma irmã, então você é sim a pessoa certa...
— Então, o que me diz? Não vou me ajoelhar, mas se precisar, eu faço.— Rafael brincou, com um sorriso divertido para a amiga.—
Laís riu, um pouco emocionada, e olhou para Gabriel, que também sorria.
— Tudo bem... Eu aceito. — disse ela finalmente, com um sorriso genuíno e um brilho nos olhos.
— Perfetto! — exclamou dona Giovanna, com um sorriso imenso.
O riso e a alegria tomavam conta do ambiente, espalhando uma energia acolhedora entre todos. Os homens conversavam com risos altos, trocando piadas e histórias divertidas, enquanto Gabriel, com uma expressão carinhosa, segurava a pequena Aurora nos braços. A garotinha, com seus cabelos loiros como o ouro e os olhos verdes brilhando como esmeraldas, parecia um reflexo perfeito da mãe, Giovanna, que exalava uma beleza serena. Ela estava ali, ao lado de Rafael, com quem se casara há três anos. O casal formava uma imagem encantadora, e Gabriel sentia uma felicidade tranquila por ter sido parte dessa história que se desenrolava com tanto amor e harmonia.
Mas a tranquilidade daquele momento foi interrompida pela voz grave e acolhedora de Alejandro, que chamou a atenção de todos na sala. Ele olhou atentamente para Lais, esperando sua resposta.
— E você, bambina, o que pretende fazer agora? — A voz do senhor Alejandro cortou o burburinho, trazendo todos os olhares para Lais. — O que pretende fazer com a padaria? Sabemos que a obra vai ser demorada, e os danos tanto na casa quanto na estrutura da padaria foram significativos...
Lais suspirou profundamente, levando um copo de suco de laranja à boca antes de se pronunciar.
— Bom, por enquanto, a padaria vai ficar fechada... Preciso avaliar todos os danos causados e ver com a Milena o que pode ser feito. Minha avó não tinha muitos funcionários, eram apenas seis pessoas, então pretendo continuar pagando o salário deles até a reforma começar, a não ser que eles decidam seguir outro caminho... Também estou procurando um lugar para ficar, por enquanto. Consegui vender meu carro por um bom preço e pretendo alugar, o meu apartamento no Brasil, então estou me estabelecendo aqui em San Lorenzo...
Gabriel, que estava próximo, se intrometeu na conversa com uma leve provocação.
— Eu ofereci a minha casa para ela, mas ela é muito teimosa... Não aceita a ajuda.
— Eu disse a ele que não quero me aproveitar da boa vontade dele, — Lais rebateu com um sorriso, mas sua voz carregava um tom de firmeza.
— Você é mais teimosa do que Uma mula. — Gabriel riu, sem conseguir esconder a provocação.
— E você é tão insistente quanto um touro! — Lais respondeu, brincando com ele.
A risada de Rafael ecoou pela sala, fazendo todos se distraírem por um momento.
— Velhos hábitos não mudam, — Rafael comentou com um sorriso, observando a troca de provocações entre os dois. — Vocês continuam afiados, hein?
Dona Paola, que estava ao lado de Rafael, então, se virou para Lais com um olhar acolhedor.
— Querida, por que não trabalha conosco no El Touro até você se estabelecer e reconstruir a padaria da sua avó?
Lais a olhou surpresa, sem saber se estava ouvindo direito.
— Trabalhar com vocês? — Lais perguntou, ainda sem entender.
— Sim! — Paola respondeu com entusiasmo. — O restaurante está bem movimentado ultimamente. Estamos recebendo muitos clientes, e muito disso é graças ao Rafael. Ele fez uma cena de suas novelas aqui no restaurante no ano passado, e agora o El Touro virou um ponto turístico da cidade! E com as festividades da cidade chegando, vamos ter ainda mais turistas. Precisamos de mais funcionários... E recentemente ampliamos o restaurante, e temos muito espaço. Você e seus funcionários poderiam trabalhar conosco. Podemos pagar um salário, claro... O mesmo que pagamos para os nossos funcionários...
— A senhora está falando sério? — Lais perguntou, ainda um pouco incrédula.
— Sim, querida. Se você aceitar, temos até um quartinho desocupado nos fundos. Não é luxuoso, mas é bem confortável. Você pode ficar lá até encontrar um lugar para chamar de seu. Facilitaria muito a sua vida se aceitasse a proposta de trabalhar conosco no restaurante.
— E além disso... — disse o senhor Alejandro, com um sorriso gentil. — Sei, que você se formou em contabilidade... Talvez possa nos ajudar nessa área também.
Lais ficou em silêncio por um momento, sentindo os olhos se encherem de lágrimas. A emoção foi forte demais, e sua voz falhou ao tentar responder.
— Eu... Eu nem sei o que dizer?
— Apenas diga que aceita, querida... — Paola completou com um sorriso acolhedor.
Lais olhou para todos à sua volta, sentindo a generosidade e o carinho que emanavam daquele grupo. Era uma oferta difícil de recusar, e, mais do que isso, sentia que, ao aceitar, estaria se conectando ainda mais com aquela comunidade que já a havia acolhido tão bem. Com um sorriso tímido, ela finalmente falou:
— Eu aceito... Eu aceito, sim.
*********************
Depois de algum tempo, dona Paola levou Lais até os quartinhos nos fundos, com Gabriel a acompanhando para ajudá-la com as malas. Caminharam juntos pela pequena escadaria que serpenteava até o fundo da propriedade, passando por um jardim simples, mas cuidado, que já começava a florescer com as cores vibrantes da estação. Quando chegaram à porta do quartinho, dona Paola a abriu com um gesto gentil, e o que Lais encontrou fez seu coração bater mais forte de emoção.
Ela entrou e ficou parada por um momento, olhando ao redor, encantada. O espaço era muito mais do que ela havia imaginado. A sala de estar era pequena, mas acolhedora, com paredes de um tom suave que exalavam calor. Na lateral, havia um balcão que dividia a sala da pequena cozinha, equipada com o básico, mas com um charme rústico que tornava tudo ainda mais charmoso.
Dona Paola indicou com um gesto discreto o espaço logo abaixo da escada, com um sorriso simpático.
— O banheiro fica aqui, debaixo da escada. É simples, mas dá pro gasto. — Ela abriu a porta, permitindo que Lais visse o ambiente.
Lais se aproximou, curiosa, e deu uma olhada no pequeno banheiro. Era compacto, mas bem organizado. O piso de azulejos brancos contrastava com o tom quente da madeira da escada acima, criando uma sensação de aconchego. Havia um pequeno lavatório com um espelho simples, uma ducha que parecia muito funcional e um vaso sanitário. Tudo estava impecavelmente limpo e bem cuidado, com um toque rústico que fazia o ambiente parecer acolhedor e prático ao mesmo tempo.
Lais sorriu, satisfeita enquanto subiu a escada devagar, e ao alcançar o andar de cima, seu olhar se fixou na cama de casal, simples mas convidativa. Ao lado da cama, havia um pequeno guarda-roupa, uma sapateira e uma escrivaninha, com alguns livros espalhados, dando um toque pessoal ao ambiente. No canto da parede, uma janela ampla de vidro dava vista para a linda fonte do vilarejo, cujos suaves ruídos de água fluindo completavam o cenário encantador.
Tudo ali parecia feito sob medida para ela, como se o destino tivesse planejado cada detalhe. Era um espaço simples, mas com um charme que a fez sentir-se em casa quase que instantaneamente. A sensação era de estar dentro de uma casa de boneca, com cada cantinho acolhedor e repleto de boas energias.
Lais se virou para dona Paola, seu olhar repleto de gratidão e surpresa.
— Eu... eu não sabia que seria assim... — ela disse, a voz embargada pela emoção. — É perfeito. Muito mais do que eu poderia imaginar.
Dona Paola sorriu, com o coração leve, e deu um tapinha nas costas de Lais.
— Fico feliz que tenha gostado, querida. Espero que se sinta em casa. Você está entre amigos aqui... A sua avó era uma grande amiga minha, e já me ajudou muito... então deixe que agora eu possa estar retribuindo tudo o que ela já fez por mim em vida.
Gabriel, que observava a cena com um sorriso discreto, colocou as malas no canto e, com um aceno de cabeça, disse:
— Acho que esse lugar vai te fazer muito bem, Lais. Vai ser bom para você... Mas fique sabendo, que aquela proposta ainda estar de pé, caso um dia mude de ideia.
— Obrigada Gabriel, mas eu vou ficar aqui... Vai ser bom pra mim ficar perto do restaurante e fazer aquilo que eu mais gosto de fazer que é cozinhar... Eu preciso distrair a minha mente.
Gabriel sorriu para a morena com ás mãos no bolso.
— Bom, eu preciso ir agora... Estou feliz que esteja bem e confortável, mas, você sabe que pode me ligar a qualquer momento.
Lais olhou para ele, ainda sem acreditar no quanto tudo parecia tão acolhedor e gentil, e apenas assentiu com a cabeça. Pela primeira vez, ela sentiu que estava realmente começando uma nova fase em sua vida, e não poderia estar mais grata por estar rodeada por tantas pessoas boas e generosas. Dona Paola entregou ás chaves do quartinho para a garota enquanto Gabriel desceu até a varanda da casa dos avós... Dona Paola e o sr. Alejandro era avós de Rafael, mas eles o tratavam como se fosse neto... Gabriel e Rafael praticamente viviam ali no restaurante quando não estavam na floricultura, ou na casa de campo.
***
— Então, o que está esperando? — Rafael foi logo falando assim que o primo se aproximou e parou próximo a Lamborghini azul parada na entrada da propriedade.—
— Não sei do que está falando. — Gabriel respondeu, enfiando as mãos nos bolsos, mas havia um brilho em seus olhos.—
— Você sabe, sim. O destino não costuma ser tão generoso duas vezes.
— O que você quer que eu diga, Rafael? — Ele desviou o olhar, passando a mão pela nuca em um gesto descontraído, mas que denunciava um leve desconforto.—
— Que tal começar com o que realmente sente? — Rafael insistiu, um sorriso sutil nos lábios.— Já está na hora de deixar o passado para trás, e viver o presente... construir o seu felizes para sempre.
— Faz tanto tempo... Não sei nem se ela ainda me vê como antes... Não sei se seria a mesma coisa.
— Só há uma maneira de descobrir. — Rafael apertou o braço do primo gentilmente. — Mas não demore muito. Às vezes, o destino nos dá uma segunda chance, mas é preciso coragem para agarrá-la.
Ele ficou em silêncio por um momento, perdido em pensamentos. A memória de outros tempos, quando Gênova era seu lar e Laís fazia parte de seus dias, voltou à tona como um filme antigo. Talvez, como Rafael havia dito, aquela fosse sua oportunidade de reparar erros e se reconectar com o passado.
*************************
Não deixem de curtir e comentar caso estejam gostando da historia... Esse é o sexto livro da serie Amor na Itália com a família De Luca.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro