05- Você precisa descansar
Horas depois, Laís estava sentada em um dos bancos do corredor vazio do hospital. As luzes fluorescentes piscavam levemente, criando um ambiente ainda mais solitário. Seu olhar estava perdido, fixo em algum ponto indefinido, enquanto seus pensamentos giravam em um turbilhão de dor e lembranças.
Gabriel se aproximou em silêncio, observando-a de longe por um momento. Ele sabia que palavras seriam insuficientes para confortá-la, mas não podia deixá-la ali sozinha.
— Laís. — chamou ele suavemente, sua voz ecoando pelo corredor silencioso.
Ela ergueu os olhos lentamente, como se saísse de um transe, e viu Gabriel se aproximar. Ele se abaixou na frente dela, colocando uma mão firme, porém gentil, em seu ombro.
— Vamos para casa. Já está tarde, e eu cuidei de tudo por aqui. Você precisa descansar.
Laís piscou algumas vezes, tentando processar as palavras dele.
— Gabriel... eu não sei como agradecer por tudo isso.
Ele balançou a cabeça, um sorriso triste no rosto.
— Não precisa me agradecer, Laís. Estou aqui porque quero estar. Agora vamos, o enterro será amanhã cedo, e não temos mais nada a fazer aqui. Você precisa descansar, pelo menos um pouco.
Ela hesitou por um momento, mas finalmente assentiu, deixando-se levar pela calma que a presença de Gabriel trazia. Ele a ajudou a se levantar e, sem dizer mais nada, guiou-a até a saída do hospital.
O vento frio da noite os envolveu assim que atravessaram as portas automáticas. Laís encolheu os ombros instintivamente, e Gabriel, sem pensar duas vezes, tirou o casaco e o colocou sobre os ombros dela.
— Está frio... você não pode ficar assim.
— Obrigada... — murmurou ela, puxando o casaco contra o corpo.
Eles caminharam em silêncio até o carro, o som dos passos ecoando na noite tranquila. Quando entraram, Gabriel ligou o aquecedor e olhou para Laís antes de dar partida.
— Sei que hoje foi difícil, mas amanhã será um novo dia...
Ela o olhou, os olhos ainda vermelhos, mas com um brilho de gratidão.
— Obrigada por não me deixar sozinha, Gabriel...
Ele apenas sorriu, apertando de leve a mão dela antes de concentrar-se na direção.
***
Lais acordou aos poucos, sentindo o carro se mover suavemente sobre o cascalho. Quando abriu os olhos, viu que estavam entrando em uma propriedade privada cercada por árvores altas e uma cerca de ferro bem imponente.
— Onde estamos indo...? — perguntou, ainda meio confusa.
— Para a minha casa — respondeu ele, com uma calma que parecia esconder algum tipo de tensão.
O comentário a pegou de surpresa, e ela olhou ao redor, tentando entender o que estava acontecendo.
— Sua casa? — repetiu, sem esconder o espanto.
— Sim, minha casa — confirmou ele, dirigindo-se com firmeza pela estrada de cascalho.
— por quê?
Ele parecia hesitar por um momento, como se pensasse na melhor forma de explicar.
— Você acabou pegando no sono... E eu não sabia para onde te levar. Achei que seria mais seguro vir pra cá... — explicou, os olhos focados na estrada de cascalho que dava entrada para a sua propriedade, enquanto o carro continuava seu caminho. — Amanhã de manhã vamos ao enterro e depois resolvemos a sua moradia.
Lais sentiu um nó na garganta. Ela estava tensa, não só pela situação inesperada, mas também pela sensação de estar perdida em tudo o que estava acontecendo. A dor pela perda recente ainda pairava no ar, e o fato de estar ali, na casa dele, só acrescentava mais perguntas à sua mente.
À medida que o carro avançava, o som do motor potente cortava a tranquilidade do campo, ecoando pelas encostas de verdes intensos e campos de vinhedos que pareciam se estender até onde os olhos podiam alcançar.
A Lamborghini azul metálica, com seu design elegante e linhas aerodinâmicas, cortava o ar com uma precisão impecável. O reflexo das curvas e da pintura cintilante parecia quase dançar sob a luz morna do sol, como uma obra de arte em movimento. O motor ronronava suave, mas com uma presença imponente, cada rotação transmitindo poder e controle.
Gabriel dirigia com uma calma impressionante, seus olhos focados na estrada sinuosa à frente, mas sua mente, por um momento, estava distante. Laís, ao seu lado, olhava pela janela, observando as pequenas vilas que começavam a desaparecer à medida que se afastavam da cidade. A sensação de estar ali, em meio àquele cenário bucólico, parecia surreal para ela, como se estivesse entrando em um mundo paralelo. O contraste entre a imensidão tranquila do campo e o vigor da Lamborghini fazia com que a casa que se aproximava parecesse ainda mais isolada, quase intocada pelo resto do mundo.
À medida que o carro subia por uma pequena colina, a propriedade se revelou. A casa, moderna e imponente, era um espetáculo de arquitetura minimalista, com grandes janelas de vidro e paredes de concreto polido que refletiam o céu claro. O telhado plano e as linhas retas davam à construção um ar futurista, mas com toques que remetiam à tradição italiana, como as colunas discretas e o uso de pedra natural nas fundações. Ao redor, o terreno era vasto, com árvores esparsas e um jardim meticulosamente cuidado que se estendia para longe, dando a impressão de um refúgio distante, longe de qualquer agitação.
O contraste entre o azul vibrante da Lamborghini e a tranquilidade do local era marcante. Quando o carro finalmente parou diante da casa, o som do motor se desfez, e o silêncio que tomou conta do ambiente parecia imenso. O sol estava quase se pondo agora, tingindo o céu de laranja e rosa, e a casa se destacava como uma escultura moderna, iluminada pelas últimas luzes do dia.
Gabriel desligou o motor e olhou para Laís. A tensão no ar entre eles estava palpável, mas o lugar parecia ter uma quietude que convidava à introspecção.
— Chegamos. — disse ele, com uma leveza que contrastava com a complexidade do momento.
Laís olhou para a casa, sentindo a grandiosidade do lugar e o peso da decisão de ter vindo até ali. A Lamborghini, ainda parada diante da porta principal, parecia em perfeita harmonia com o cenário. Ela não sabia o que pensar, mas havia algo em Gabriel, algo no ambiente, que sugeria que, pelo menos por um momento, ela poderia encontrar um pouco de paz naquele lugar.
O vento fresco da tarde acariciava seu rosto enquanto ela saía do carro, sentindo a suavidade do ar no campo. Era como se o mundo lá fora tivesse parado, e ela, por um breve instante, fosse parte daquele cenário perfeito, porém solitário.
A propriedade parecia grande e isolada, longe de tudo. A casa, uma construção imponente de pedra e madeira, ficava no fim de um caminho arborizado, e o silêncio ao redor era profundo, quase abafado. Quando o carro finalmente parou, ele desligou o motor e olhou para ela.
— Eu sei que isso é complicado, mas vamos ficar aqui por agora. — Sua voz era suave, mas havia uma firmeza subentendida que não deixava espaço para mais questionamentos.
Lais respirou fundo, tentando reunir coragem. Ela não sabia o que esperava encontrar ali, mas agora não parecia ter escolha. As palavras do homem ecoavam em sua mente enquanto ela se preparava para enfrentar o que viria no dia seguinte, com a dor do luto ainda pesando sobre ela.
Gabriel foi até o outro lado do carro e, com um gesto silencioso abriu a porta para a morena e a guiou até a entrada da casa. O som de seus passos ecoava pela trilha de cascalho, e o farol do carro, agora apagado, deixava a noite ainda mais envolvente e misteriosa.
A porta da casa se abriu com um rangido suave, revelando um interior grande e silencioso. Havia um cheiro de madeira envelhecida no ar, como se o tempo tivesse impregnado as paredes com histórias e segredos. A iluminação suave das lâmpadas de teto criava sombras que dançavam pelas mobílias antigas e pesadas, que pareciam fora de lugar naqueles momentos tensos.
— Sinta-se à vontade para descansar aqui.
Laís não sabia o que responder. Estava exausta, física e emocionalmente, e a ideia de descansar parecia o único consolo possível. No entanto, a presença de Gabriel ali, tão próxima e ao mesmo tempo distante, despertava em Laís uma sensação de confusão. Ela não sabia o que pensar sobre tudo aquilo, sobre estar na casa dele, sobre a promessa de ele estar ao seu lado, e sobre o que aconteceria depois do enterro.
— Eu... — ela começou, a voz quase falhando. — Eu não queria ser um fardo para ninguém.
Gabriel a olhou, e pela primeira vez, seus olhos estavam carregados de algo mais profundo que a simples tranquilidade com a qual tentava consolá-la. Talvez fosse algo que ele tentava esconder até mesmo de si mesmo.
—Você não é um fardo. Eu prometi a sua avó que iria cuidar de você Laís, e eu irei cumprir a minha promessa.
Ela sentiu um aperto no peito, uma mistura de gratidão e tristeza. A sensação de estar sendo cuidada era estranha, como se ainda não soubesse como lidar com isso. Mas, ao mesmo tempo, sentiu-se em dívida com ele.
— Eu não sei como reagir a tudo isso. Tudo está tão confuso.
Gabriel, percebendo sua dificuldade, se aproximou com um leve sorriso, quase imperceptível, mas suficiente para lhe dar um pouco de conforto.
— Não precisa saber agora. Apenas descanse um pouco... Você precisa tentar dormir. — disse calorosamente a conduzindo até um dos quartos da casa.— Aqui, você pode ficar com esse quarto.— falou abrindo a porta para a morena entrar.— Tem toalhas limpa no armário caso queira tomar um banho... Eu vou procurar algo para você vestir. — Gabriel se retirou do quarto e retornou minutos depois com uma calça moletom e uma camisa e entregou para a morena que agradeceu prontamente.— Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar.
Laís assentiu, a cabeça pesada, e logo depois Gabriel saiu fechando a porta atrás de sí e deixando o local.
A cama grande e convidativa parecia um refúgio, mas, ao se deitar, o sono não veio imediatamente. A dor pela perda, misturada com a estranheza de estar ali, na casa de Gabriel, lhe roubava a paz. No entanto, o simples fato de saber que ele estava ali, pronto para apoiá-la, lhe deu um pouco de alívio.
O som distante da casa parecia envolvê-la, e em algum momento, ela adormeceu, os pensamentos dispersos finalmente cedendo à exaustão.
****
continua...
Não deixem de curtir e comentar... beijinhos e até o próximo capitulo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro